Lovely Skye. escrita por wonderland


Capítulo 9
Nove.


Notas iniciais do capítulo



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05h37min.

Grant Ward acordou com uma sensação. Ele não era o tipo de homem que tinha fé e acreditava nesse tipo de besteira, mas por alguma razão, aquela sensação fez com que ele quisesse não sair da cama.

No dia anterior, tinha ligado para Fitz de uma rua perto do hotel onde passaria apenas mais uma noite hospedado. Talvez essa sensação ruim tivesse causa na ligação. O engenheiro tinha dito que a hacker estava bem.

Ela estava bem. Realmente bem.

Não queria ser egoísta, nem nada. Ah, foda-se o egoísmo, pensou levantando-se da cama. Skye estava bem e ele deveria ficar bem com isso, mas como ela poderia estar bem se ele estava tão danificado? Ela tinha dito que o amava e agora estava bem.

Balançou a cabeça negativamente. Existem dias bons e dias ruins. Era uma pena, por que para o especialista não existiam dias bons. Os dias passavam tão devagar, que às vezes, Grant imaginava que estava vivendo em um universo paralelo.

Para o especialista, existiam dias ruins e dias muito ruins. Nesses dias muito ruins, tinha vontade de voltar correndo para qualquer que fosse o lugar que o "bus" estava. Mas depois, lembrava o porque tinha ido embora.

Ele estava quebrado... Tão quebrado quanto fosse possível alguém quebrar. Quebrado em tantos pedaços que ninguém, nunca, conseguiria colar.

Mas nos dias ruins, ele conseguia sentir-se um pouco melhor. No ultimo mês, tinha ligado todos os dias para Fitz e conversavam por pouco tempo, no máximo dez minutos, por que não queria dar esperanças ao amigo. Não voltaria.

Mas a noite anterior tinha sido um daqueles dias muito ruim. Nas ligações, evitava perguntar dela, mas ontem, ele precisou fazer. Na primeira vez que ligou, depois de quatro meses, perguntou sobre a missão na Itália e teve a desculpa para falar nela. Nas outras vezes, só queria saber se ela estava bem, mas não perguntava. Se você deixasse Fitz falando por um bom tempo, ele falaria o que você queria ouvir sem que precisasse perguntar.

Enquanto tomava banho, se perguntava quando aquela sensação ruim passaria.

 

Dez horas depois.

A sensação ainda não tinha passado. Tinha completado a missão tão facilmente que sentia-se idiota por terem mandado-o para ela. Depois da missão, seguiu para a central da S.H.I.E.L.D., onde tudo estava movimentado como sempre, para entregar o objeto resgatado na missão.

O especialista passou três horas na academia com o seu antigo O.S, que estava na central, resolvendo alguns problemas que não quis contar. Garret ainda não estava totalmente de bem com seu ex-aluno, pois o soco que ele tinha levado tinha quebrado seu nariz.

Havia muita raiva, ele sabia disso. Queria poder voltar a ser quem ele era antes de conhecê-la. Ela tinha o transformado em quem ele não era há muitos anos.

Odeio ela, pensou quando socou o saco de areia.

Garret ergueu a sobrancelha, não o julgando, mas questionando. Ward tinha sido assim no início do treinamento, havia muita raiva e ele tentava desconta-la o tempo todo, mas depois, com a disciplina, ele sabia lidar com ela.

Não, não odeio ela. Me odeio, pensou novamente e socou tão forte o saco de areia, que seu ex-treinador o empurrou.

— O que porra está acontecendo com você? - Garret perguntou estressado. - Ainda aquela garota?

Ward passou a língua no lábio superior. Garret era a única imagem paterna que ele tinha e ainda não tinha superado o fato de que, tinha o socado no rosto. Mas não tinha pedido desculpas.

— Não vou falar disso com você. - O especialista passou o pano, secando o suor no rosto.

Depois disso, tomou banho no vestiário da academia da S.H.I.E.L.D. Grant sentia-se estressado e com raiva por estar com tanta raiva, o que era bastante irônico. Entrou no carro alugado para a missão, jogou a bolsa que estava a roupa que tinha usado na missão e depois na academia e seguiu para o hotel.

No corredor do andar do seu quarto, sentiu o cheiro dela. Parou, tentando entender se aquele cheiro era real ou apenas sua imaginação pregando peças. Naquele momento, era como se estivesse em um universo paralelo. Estava parado do corredor, não sabia se por minutos ou por horas.

Entrou no seu quarto, jogando a bolsa azul no sofá, distraído, ainda em um universo paralelo, com suas defesas abaixadas. Não tinha percebido que o cheiro dela tinha permanecido e só percebeu que não estava sozinho no quarto, quando alguém o trancou no quarto. O barulho da chave tinha acordado Grant.

Enquanto virava para olhar quem estava li, tirou a arma que estava na sua cintura e apontou para o intruso.

Não abaixou a arma quando percebeu que o intruso, na verdade, era Skye.

******************************************************

Fitz, Simmons e May estavam alheios ao meu nervosismo e a minha missão. Em menos de duas horas, sairia do hotel onde estávamos em NY, em direção ao hotel dele. Os cientistas estavam lá embaixo, conversando enquanto provavam vários pratos vegetarianos do hotel.

O avião não tinha pousado na central da S.H.I.E.L.D. Na verdade, o avião estava em uma das bases, em Austin, no Texas. Não estávamos mais informando a central os nossos passos e o ultimo relato que tínhamos dado, era que estávamos no Texas. E além disso, estávamos praticamente roubando um agente deles.

Eu tinha hackeado o sistema de segurança do hotel e observava as câmeras de segurança. Ele tinha saído às sete da manhã e até agora não tinha voltado. Torcia que ele não chegasse antes de mim.

A situação não estava fácil de ser mantida. A minha missão era segredo e só Coulson sabia. A equipe sabia que não estávamos mais "obedecendo" a central e eu ainda não sabia qual a mentira A.C. tinha inventado para que estivéssemos em NY.  

Como se ouvisse meus pensamentos, A.C. entrou no meu quarto espaçoso do hotel. Eu poderia me acostumar com esses luxos, mas sabia que isso era raro.

— Falei que era um caso pessoal meu - disse ele nervoso, encostado na porta do quarto. - Em uma hora, você vai sair usando a desculpa de que Milles está com problemas.

Não era hora e nem o momento, mas gargalhei.

— Não falo com Milles desde que... Você sabe muito bem - disse achando graça.

A.C. revirou os olhos, nervoso demais com "seu assunto pessoal". Eu sabia que aquilo não era uma total mentira pelo jeito que ele estava. Não sabia o que era e agora, não era, exatamente, o melhor momento para perguntar.

Eu estava nervosa e não tinha como negar. Mas havia uma parte de mim que queria rir muito do que estava acontecendo e eu sabia que isso era meu maldito sistema nervoso, que me fazia rir em momentos inapropriados.

Assim que Coulson saiu do meu quarto, olhei novamente para o espelho, para checar como estava. Usava uma bota preta, calça preta e uma blusa azul escura de mangas curtas. Parecia uma agente da S.H.I.E.L.D. Por que era isso que eu era.

Nível um, mas ainda sim, uma agente.

Sentei-me na cama, assustada e nervosa. Encontra-lo e trazê-lo de volta seria muito difícil e eu não sabia se era capaz de fazer isso, por causa de tudo que nos envolvia.

 

Uma hora depois.

— Pra onde você vai? - Fitz me perguntou assim que me viu na recepção do hotel.

Eu não gostava de mentir para os meus amigos, mas não podia negar que era fácil. Tinha passado boa parte da vida mentindo sobre tudo, escondendo todas as verdades pra si. Sorri e disse que Milles estava com problemas e que eu me sentia mal por tê-lo abandonado apesar de tudo.

Meia parte mentira. Eu realmente me sentia mal por tê-lo abandonado. Ele nunca tinha feito isso comigo, mesmo depois de ter saído do orfanato ao completar a maioridade. Precisava procura-lo para que pudéssemos conversar, mas isso era para outro dia.

O carro que eu usava não tinha símbolo da S.H.I.E.L.D e percebi que fazia meses que eu não dirigia um carro. Também percebi que, apesar de ter uma família agora, eu sentia falta de viver na minha van. Não era muito e na época, me agradava muito viver assim. Viajando e morando dentro de uma van.

Coloquei o endereço da rua onde ficava o hotel no GPS e cada vez que a voz feminina me dava ordens, meu coração palpitava. Eu estava perto demais. Perto demais para desistir. Uma rua antes do hotel, estacionei o carro, para que pudesse me acalmar.

— Eu consigo fazer isso - falei em voz alta.

Minhas mãos que ainda estavam agarradas ao volante tremiam e percebi que a minha respiração estava falha. Implorei a Deus - mesmo sem ser religiosa - que me ajudasse nesse momento.

— Eu... - gaguejei, sem certeza do que falaria. - Eu consigo fazer isso.

Liguei o carro novamente e em menos de um minuto, estava entregando a chave do carro e entrando na enorme recepção do hotel. A arma estava latejando por baixo da jaqueta de couro que tinha decidido colocar antes de sair.

Enquanto passava meus falsos documentos para a recepcionista, Coulson havia me mandado uma mensagem pelo celular. A mensagem apenas dizia: "Ele não chegou ainda e já posso ver você na recepção. C.".

Enquanto andava pelo corredor do andar dele, meu coração batia tão forte que eu tinha certeza que alguém podia ouvi-lo. Parei em frente a porta de número 407, olhando de um lado para o outro enquanto tirava um grampo do cabelo para abrir a porta.

Arrombar portas não tinha sido algo que tinha aprendido na S.H.I.E.L.D. Apesar de ter sido uma criança bastante solitária, não tinha sido nada comportada. Milles tinha me ensinado a arrombar portas quando descobri minha paixões pelos computadores e eles ficavam trancados em uma das salas do orfanato.

O quarto era exatamente como eu imaginava. Branco, iluminado e com uma mobília extremamente elegante. Não gostei de saber que a S.H.I.E.L.D costumava dar os melhores quartos aos agente individuais.

Outra mensagem. "Aviso quando ele chegar. Vai dar tudo certo. C.".

Havia uma parte de mim que queria bisbilhotar nas coisas dele, mas havia outra parte que me mandava ser profissional. Poucos segundos depois, abria as gavetas do guarda-roupa dele, onde não tinha nada. Não tinha roupa pendurada no guarda-roupa.

Claro, ele não se incomodaria em desfazer a mala pra depois fazê-la de novo. Inteligente. O que me fez ficar incomodada. Ele não podia fazer missões o tempo todo, ele tinha que parar em algum momento. Onde será que ele parava?

Olhei a mala azul que estava em cima de uma cadeira e fui até ela. Abri lentamente e percebi que as roupas estavam dobradas e que havia uma arma debaixo de toda aquela roupa. Do lado da cadeira, havia um cesto de lixo, onde haviam embalagens de cerveja e uma embalagem de preservativo aberto.

O mundo parou por alguns instantes e depois voltou ao normal. Ri. É claro que ele não deixaria de se relacionar com outras mulheres por muito tempo. E eu pude perceber que o que quer que tenha acontecido com a gente, não significou nada. Era só um cara se divertindo com as bobagens de uma menina. Nunca tínhamos nos beijado ou algo perto disso.

Antes que pudesse olhar a carteira que estava em cima da mesa ao lado da cama, o celular vibrou novamente, avisando que ele estava na recepção do hotel. Não tive tempo para pensar, apenas deixei tudo como estava antes e fiquei ao lado da porta.

O plano era: assim que ele entrasse, eu deveria trancar a porta evitando que ele saísse. Depois disse: era livre. Eu tinha que decidir o que falar e agora eu nem conseguia lembrar muito bem como falava.

Talvez eu estivesse em universo paralelo, mas tudo estava passando extremamente lento. A mensagem, ainda queimava no bolso traseiro da minha calça e isso tinha sido a cinco minutos. Não podia demorar tanto assim para subir até o quarto andar.

Então, a porta abriu e eu parei de responder. Ele não demoraria muito para me ver, mas eu esperava que o tempo fosse o suficiente para tranca-lo. Tentei não reparar como ele parecia estar magro e cansado e aproveitei que ele estava com suas defesas abaixadas e tranquei a porta do quarto, o que fez com que ele virasse para mim, rapidamente, apontando uma arma.

Meu coração falhou. Batia tão forte e rápido que eu pensei que ele poderia ouvir. Nos encaramos por algum tempo, não sei se passou um segundo, um minuto ou uma hora.

Doía olhar para ele depois de tanto tempo. Ele realmente estava magro e cansado, com um ferimento na sobrancelha e com olheiras profundas. Reparei que ele usava barba e percebi que nunca tinha visto ele de barba. Ele também me encarava e apesar de ainda apontar uma arma pra mim, eu o observava de volta.

— O que você faz aqui? - ele perguntou, voltando a usar uma mascara já conhecida por mim.

Percebi que meus treinamentos com May estavam funcionando quando não corri para bater nele e sim, consegui ficar tranquila. Na verdade, eu só parecia tranquila pra ele, por que por dentro, eu queria mata-lo e sair correndo chorando.

— Você sabe o que eu faço aqui - disse, erguendo o queixo, encostando-me na porta e cruzando as pernas.

Ele riu irônico pra mim, como muitas vezes já tinha feito.

— Você sabe muito bem que não vou voltar - ele disse, abaixando a arma e colocando em cima da mesa na frente do sofá.

Percebi que os nós dos dedos dele estavam vermelho e deduzi que ele tinha passado muito tempo socando algo. Talvez alguém que estivesse atrapalhando sua missão e que tinha lhe dado esse machucado na sobrancelha.

— Não voltar não é uma opção - respondi mostrando os dentes pra ele.

Seu maxilar estava trincado. Eu sabia que ele não tinha gostado de ouvir aquilo. Ward não gostava de receber ordens antes e agora parecia que tinha se acostumado novamente.

— Skye... - ele falou ameaçador. - Eu não vou voltar. Não importa o que você fale. Você sabe muito bem o que eu fiz pra não querer voltar - ele disse, me olhando nos olhos.

Era fácil saber o por que chamavam Ward de especialista. Ele era forte, rápido, ágil, intimidador, sério e ameaçador. E era por isso que precisávamos dele pra descobrir o que porra o Clarividente quer de nós.

Mas o jeito que ele falou meu nome, mesmo em tom ameaçador... Cristo, eu tinha sentido falta disso e isso fez com que meu coração falhasse.

— Você parece uma agente agora - ele disse erguendo a sobrancelha.

Ele queria me provocar, me irritar. Talvez esperasse que eu perdesse a cabeça e simplesmente deixasse ele ir embora e nunca mais voltasse a procura-lo.

— Seis meses foram o suficiente para a May me tornar uma - menti. - E eu não me importo com o que você fez. Você deveria parar de ser egoísta e pensar no seu time pelo menos uma vez.

Ele se aproximou, mas ainda existia uma longa distância entre a gente e eu agradeci por isso. Ele estava irritado com o que eu tinha falado, mas ele precisava saber que se, ele podia provocar, eu também podia.

— Egoísta? - quase gritou. - Eu quase matei você. E eu também gostei de quase matar você, Skye.

— É, você quase me matou. Quase.— repeti. - Você acha que só você se sente mal pelo que aconteceu?

— Acho que me sentir mal não é exatamente o que eu sinto e você sabe disso - ele disse se aproximando.

Desencostei-me da porta, com tanta raiva que não me importei o que estar perto dele me causaria. Os treinamentos com May não serviam de nada agora e eu não conseguia lembrar de nada que me fizesse voltar a ficar tranquila. Que se foda.

— Você por acaso sabe o que eu senti quando você foi embora? - empurrei ele. - Ou o que o Coulson sentiu? - empurrei novamente. - Fitz ou Jemma? - novamente. - Até a May?

Mas antes que eu pudesse empurra-lo novamente, ele segurou meus pulsos. Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo assim que nossas peles se tocaram e pude perceber que ele sentiu também. Mas isso não me importava agora. Nossos rostos estavam tão próximos um do outro que eu podia sentir a respiração quente dele e podia observar como seus olhos demonstravam raiva.

— E nem por isso nós fugimos - sussurrei e isso foi o bastante pra que ele me soltasse com força.

Não cambaleei.

Ele encostou-se na parede, na entrada do quarto e encostou sua cabeça na parede. Observei seus movimentos enquanto massageava meus pulsos, que tinham ficado doloridos.

— Só... Só me escute. - falei seriamente, voltando ao fingimento de tranquilidade. - Nós estamos com um problema e precisamos de você. Você pode nos ajudar e se quiser, quando acabar, pode voltar a se esconder.

Ele desencostou a cabeça da parede e me encarou.

— Qual o problema? - perguntou.

Meu coração disparou só em saber que existia a possibilidade dele voltar, mesmo que quando acabasse, ele voltasse a se esconder.

— Clarividente. Ele tem alguém infiltrado na S.H.I.E.L.D e bem... A partir de agora, estamos mentindo pra central e não informando as nossas missões. - informei.

Ele ficou em silêncio, analisando suas possibilidades. Não sei quanto tempo estava ali naquele quarto com ele, mas queria voltar o mais rápido possível para o meu quarto no outro hotel.

Os danos que isso estava me causando ainda não estava totalmente sendo sentido. Mas é como se meu corpo estivesse com tanta adrenalina que eu não sentisse a dor.

— Ok, eu vou voltar com você - ele disse e entrou no quarto, batendo a porta com força.

Mordi o lábio e sentei no sofá, esperando ele arrumar as coisas que ele tinha.

"Consegui. Skye."


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