Lovely Skye. escrita por wonderland


Capítulo 7
Sete.


Notas iniciais do capítulo

OI TO DE VOLTA FOI MAL A DEMORA



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— Jemma, você acha que o Fitz tem namorada? - perguntei após o engenheiro sair da sala depois de receber um telefonema.

A cientista tirou os olhos da TV, onde estávamos assistindo a segunda temporada de Grey's Anatomy. Jemma não era muito o tipo de garota que assistia séries de TV, sempre estava ocupada com todas as suas pesquisas para a S.H.I.E.L.D, mas há duas semanas, tinha pedido para assistir CSI comigo. Eu não tinha reagido de uma forma muito positiva, porém não cheguei a gritar ou a quebrar algo.

— Por que você acha isso? - perguntou franzindo o cenho.

Revirei os olhos. A situação era toda bem óbvia. Fitz tinha passado o ultimo mês saindo de fininho das salas e falando sussurrando ao telefone. Quando alguém - eu, May ou A.C - arriscava perguntar, o engenheiro ficava vermelho e desconversava. Mas Jemma era próxima demais dele e às vezes, quando se é muito próximo de alguém, não se percebe o que está acontecendo. Eu sabia e era especialista nisso.

— Ele acabou de sair da sala como se essa não fosse a operação* de Denny Duquette** e do Dr. Burke***, Jemma! - respondi obviamente. - Ele tem recebido muitas ligações esse mês e nunca fala perto da gente.

— Skye, você lembra do vídeo que o Clarividente colocou na internet, certo? - Assenti. - Então, a mãe dele viu e provavelmente me odeia muito mais do que antes. - Ela riu de algo que eu não sabia. - Ela tem ligado pra ele tantas vezes esse mês que ele está enlouquecendo.

Mordi o lábio e assenti, aquilo foi uma deixa para que Jemma voltasse a prestar atenção no final do episódio. Fazia dois meses que o time tinha caído numa armadilha feita pelo Clarividente. Eles tinham filmado toda a ação no casarão na floresta da Itália e colocado na internet, para que as pessoas começassem a duvidar do ideal da S.H.I.E.L.D. 

A destruição causada pela missão da Itália ainda estava presente em mim. Não tão forte quanto antes, mas ainda sim doía. Lembrar de todos aqueles homens mortos na explosão me deixava enjoada. Além disso, tinha existido uma destruição muito maior que o meu emocional. Fomos obrigados a depor, um a um, sobre o que tinha acontecido. Depois disso, Coulson e May me proibiram de ser uma agente de campo.

"Você tem muita raiva e isso é a ultima coisa que precisamos em uma missão", foi o que Coulson disse e Melinda concordou. Concordei em partes. Eu realmente tinha muita raiva, mas isso tinha me ajudado na missão.

Estralei meus ossos do pescoço, dos dedos e dos pés, sentindo a dor dos treinamentos matinais com minha O.S. Ainda havia raiva, ainda havia muita dor guardada e eu ainda não sabia como libera-lá sem estragar a missão.

O ultimo episódio da segunda temporada começou, mas voltei a prestar atenção nos meus pensamentos. Desde sempre, eu tinha criado barreiras em volta do meu coração e escondido minhas dores e meus segredos bem lá no fundo. As rejeições dos pais adotivos, Milles indo embora do orfanato, não descobrir nada sobre meus pais biológicos e atualmente, ele deixando a equipe. Eu conseguia ser feliz, realmente conseguia, por que eu esquecia de verdade todas as minhas dores.

Mas agora era diferente. Eu não conseguia ser feliz depois que ele foi embora. A ida dele tinha me causado coisas que eu nunca pensei que algo causaria. Eu sentia raiva das freiras dos orfanatos, das crianças do orfanato, daquela garota que disse que eu nunca seria amada e que eu nem lembrava o nome, dos pais adotivos que me devolveram mesmo com todo o esforço que eu fiz para eles gostarem de mim, de não descobrir nada sobre quem eram os meus pais. E principalmente, muita raiva dele por ir embora.

Os treinos com May ajudavam muito, de fato. Mas eu ainda não conseguia controlar a raiva ao meu favor. O problema não era sentir isso e sim não saber como usar os sentimentos no momento certo e ao meu favor.

Fitz voltou para a sala e sentou-se entre eu e Jemma no sofá.

— Denny está bem, certo? - perguntou Fitz.

Jemma respondeu que sim e os dois começaram a prestar atenção na TV. Incrivelmente, FitzSimmons conseguiam ficar quietos enquanto assistiam a série.

Às vezes, penso se não teria sido mais fácil não me envolver tanto. Se eu tivesse continuado com o ideal da Maré Enchente e infiltrada na S.H.I.E.L.D, não estaria tão quebrada assim. Mas o ideal da ME a muito tempo já não era mais o mesmo que o meu. Após Milles vender informações que deveriam ser livres, eu tinha percebido que aquilo não era mais pra mim. Mas se eu pudesse, eu continuaria. Talvez isso evitasse que eu tivesse...

Eu não podia pensar nele desse jeito. Depois da missão da Itália, onde eu tinha percebido o quando sentia falta dele, também percebi que ele não voltaria. O que eu sentia atualmente era raiva, mas isso só era um reflexo que eu me importava. Eu queria ser uma agente e não deveria me importar. Só... Só não queria sentir mais nada. Nunca mais.

Mordi o lábio inferior. Ser agente dupla no inicio tinha sido tão fácil, mas agora parecia tão difícil. Informar os movimentos do time, para que a ME pudesse divulgar na internet e sempre estar um passo a frente tinha sido muito fácil na época. Eu realmente concordava com os ideais da S.H.I.E.L.D e sorri ao perceber isso.

Meu coração disparou quando percebi.

Era isso.

Levantei-me depressa do sofá, sujando Jemma e Fitz e pipoca e sai correndo, sem explicar o que tinha acontecido. Ainda escutei Jemma reclamando com seu perfeito sotaque inglês.

Bati na porta do A.C e quando ele disse que podia entrar, eu entrei. Poderia ter revirado os olhos ao perceber que obedecia regras agora se o assunto não fosse tão sério.

— Tá tudo bem? - perguntou A.C. - May não está pegando muito pesado com você? - perguntou ao perceber uma marca roxa no meu braço.

— Tá tudo bem sim e com isso - apontei para a marca - eu me acostumo. Mas não estou aqui para falar sobre meu treinamento.

Coulson riu.

— Imaginei - respondeu. - Então, sobre o que é? - ele abriu o único botão do paletó, jogou a caneta que segurava em cima dos papéis na mesa e relaxou na cadeira.

Não seria fácil explicar como eu tinha chegado a essa conclusão, mas eu tinha certeza de que era isso.

— O Clarividente não tem poderes verdadeiros. - Aquilo já não era uma novidade. - Mas mesmo assim, ele sempre está um passo na nossa frente, A.C. E eu sei como. - Mordi o lábio inferior, tomando coragem pra falar meu pensamento em voz alta. - Tem alguém do time do Clarividente infiltrado na S.H.I.E.L.D.

Coulson ergueu a sobrancelha, passou a mão sobre o queixo e apoiou o cotovelo na mesa. Meu coração estava tão acelerado que eu imaginava que ele poderia ouvir.

— Você sabe, quando eu era da Maré Enchente... Eles sempre estavam um passo na frente da S.H.I.E.L.D, divulgando informações secretas, por que eu falava sobre isso a eles. - respondi. - Então, eles tem alguém na S.H.I.E.L.D, passando informações a ele e ai ele pode agir, nos colocando em uma armadilha, como na missão na Itália.

A.C. deu uma risada nervosa.

— Passamos tanto tempo preocupados se existia algum poder ou não, que não pensamos. - Ele balançou a cabeça negativamente. - Skye, você foi ótima. Obrigado, agente. - deu uma risada, por que sabia que ser chamada assim me agradava.

Meu coração disparou. Eu tinha certeza que estava certa, mas saber disso em voz alta me deixava nervosa. A partir disso, tudo mudaria.

— Como iremos agir agora? - perguntei nervosa.

— Primeiro: avisarei ao time. Segundo: nossas missões não vão ser mais informadas a Central. Não acredito que nenhum de nós seja o informante, mas alguém com poder na Central é.

— Devo chama-los agora...? - perguntei.

Coulson negou. Ele queria falar algo, mas estava hesitando. O que poderia ser? Talvez ele quisesse me vigiar de novo por eu ter falado da ME? Meu coração estava disparando e me odiei por não conseguir ficar calma em um momento não tão calmo.

Respirei fundo e repeti pra mim algumas vezes que tudo ficaria bem.

— Terceiro e ultimo: precisamos do Ward de volta.

 

Tranquei a porta e encostei-me nela. Meu coração estava disparado desde que tinha saído correndo da sala do A.C., sem deixa-lo falar mais nada. Agora eu tinha entendido o porque dele ter hesitado em falar.

Precisamos do Ward de volta.

Precisamos.

Do Ward.

Ward.

De volta.

Coloquei as duas palmas das minhas mãos na minha cabeça. Aquilo não podia estar acontecendo. Faziam seis meses desde que ele tinha ido embora. Faziam seis meses que ninguém do time falava o nome dele ou falava sobre ele. Então, sem aviso nenhum, Coulson jogou o nome dele na minha cara.

Ward.

Com toda a raiva que eu estava sentindo, eu não podia imaginar que ouvir o nome dele iria doer tanto quanto estava doendo agora. Minha visão ficou turva e comecei a escorregar. Cheguei ao chão percebendo que minha respiração estava falhando e que meus batimentos cardíacos continuavam acelerados.

A ultima vez que tive um ataque de pânico foi naquele maldito dia em que tudo de ruim aconteceu. Eu vou ficar bem, eu vou ficar bem, eu vou ficar bem. Era meu mantra. Minhas mãos começaram a parar de tremer, mas não abri meus olhos e nem desabracei meus joelhos.

Havia algo molhando minhas bochechas e só depois percebi que eu estava chorando. Eu não tinha superado, mas eu estava tentando. Realmente tava tentando. Talvez de toda essa raiva, o próximo estágio fosse o esquecimento.

Eu estava mentindo pra mim mesma. Eu o odiava agora, mas não tinha esquecido dele e nem do que sentia. Mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não estava preparada para encontra-lo. Nunca estaria.

Duas batidas na porta me fizeram levantar. Corri até o espelho para me olhar, limpei minhas lágrimas com a manga da minha blusa e falei pra quem quer que fosse entrar no quarto. Antes da porta abrir, eu sabia que era Coulson.

— Está tudo bem, eu só... Só fui pega de surpresa - falei.

Sair correndo do escritório dele não tinha sido muito profissional e fiquei feliz em saber que Fitz e Simmons estavam distraídos demais para perceber que eu tinha saído correndo pelo avião. Agradecia por May não ver aquilo.

Ele sentou-se na minha cama e deu duas batidinhas, e eu me sentei ao seu lado.

— Eu sei que você e o Ward tiveram seus problemas. - ele começou. - E apesar de ter ido embora, ele ainda faz parte desse time. Deixei ele trabalhando sozinho por tempo o suficiente, Skye, mas agora nós precisamos dele.

— Ele é o especialista - falei rouca e abaixei a cabeça.

Ele sorriu de lado como sempre. Aquele era o sorriso que dizia que tudo ficaria bem. Eu não sabia se ficaria, mas eu tinha certeza que Coulson iria fazer tudo para que ficássemos bem. Ele já tinha feito tanto por mim, tinha prometido me ajudar com meus pais e salvou minha vida. Ele tinha minha confiança.

— Sim, ele é o especialista. - Ele suspirou. - E apesar de May ser ótima em campo, não podemos ter só nós dois, enquanto você está fora do campo. E além disso, ele é o especialista - riu, porém dessa vez sem achar graça.

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu ficaria bem, por que sempre ficava bem. Tinha conseguido ficar, de certa forma, bem, quando ele foi embora. Comecei a me envolver mais nos treinamentos com May, apesar de toda a raiva e problemas na missão de campo, comecei a seguir as regras e conseguia me divertir com Fitz e Simmons assistindo séries.

Eu vou ficar bem.

— As ligações que Fitz recebe praticamente todos os dias? - ele fez uma pergunta retórica. - Quem quer que você pense que é: não é. É o Ward.

Meu coração disparou. Fitz estava conversando todo dia há um mês com Ward. Não sabia de que forma aquilo me incomodava, mas me incomodava.

— Ele muda de número a cada missão. A cada missão: um país. Cada país: um número novo de pré-pago. Estive falando com Maria Hill e ela me disse que o máximo de dias que ele passa nas cidades das missões são três dias.

— Eu sei o que preciso fazer. Grampear e hackear o celular do Fitz, pra que eu possa hackear o celular do W... - engasguei. Respirei fundo. - Do Ward. E ai, encontraremos ele e o traremos de volta pra casa.

Ele assentiu.

— Vou falar com os outros sobre o que você sabe. Não contarei nada sobre o Ward. Essa é sua missão, Skye. Não conte para ninguém.

Então ele saiu do meu quarto.

Deitei-me na minha pequena cama no pequeno compartimento da área de dormitórios do "bus" e agarrei meu cobertor. Ouvir o nome dele tinha sido péssimo, mas falar o nome dele... Não parecia que tinha saído da minha boca. A sensação que eu tive é que tinha me rasgado por dentro pra poder falar o nome dele.

Mas eu o encontraria.

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Informações:

*Episódio 2x26 - Deterioration Of The Fight or Flight Response.

 **Denny Duquette: paciente de grey's anatomy que se envolve com uma médica e precisa de um transplante de coração. 

***Dr. Burke: chefe da cirurgia cardiotorácica do Seattle Grace Hospital. 

 


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