Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 4
Pau Para Toda Obra


Notas iniciais do capítulo

E começou o espírito de ajuda incontrolável ahahahah Boa leitura :3



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Ainda me recuperando do choque que foi a despedida de Ken, deixei minha mochila e o ursinho na cadeira e sai da sala.

De início eu achei que fosse minha cabeça inventando a cena, mas quando eu vi a diretora correndo pelo corredor, tive noção de que eu realmente vira um cachorro correndo pela escola.

— Senhorita. – O pesadelo de infância estava virando verdade. A diretora deu um berro. – Por que você não faz algo de útil e me ajuda ao invés de ficar ai parada?

Nerm respondi nada, só sai correndo atrás da bolinha de pelos. Apesar das perninhas curtas, ele conseguiu entrar numa moita quando já estávamos perto da estufa, e de lá ele sumiu.

— Caramba. – Cheguei a deitar no chão, esperando ver o cão, mas nada. Fiquei de pé e voltei para o pátio, caçando o cachorro. Já tinha arrumado um problema pra cabeça.

Ok, eu precisava de um plano. Primeiro de tudo, encontrar o cachorro. Depois tentar atraí-lo no lugar de tentar alcançá-lo. E depois devolver o cachorro para a dona.

Agora, onde eu ia conseguir achar aquele bicho? Foi quase imediato. O cachorro passou correndo no meio do pátio. Eu até pensei em segui-lo, mas ia acabar cansada à toa. Foi Castiel quem me viu e percebeu a situação. Estava receosa em falar com ele desde a discussão no corredor, mas foi ele quem puxou assunto.

— A nova vítima do Totó. – Ele riu, cruzando os braços. – É bom pegá-lo antes da aula começar.

— Tenho quinze minutos, deve dar. – Ou assim eu esperava. Não queria que a diretora ficasse com raiva de mim. – Castiel, já teve cachorro?

— Eu tenho um. Pastor de Beauce. Por que?

— Como o pega quando precisa?

— Com comida. Ou um brinquedo. Um graveto, sei lá. Não preciso muito disso.

— Brinquedos, boa. – Murmurei. – Licença.

— Vou estar aqui, vendo sua novela. – Ele riu e se sentou no banco, pegando os fones de ouvido. Fui atrás da diretora, pensando num plano.

— Achou?

— Não, senhora. Você teria algum pertence dele com a senhora? – Perguntei, nervosa.

— Deixei a guia e os brinquedos na minha sala. Venha, vamos buscar. – Ela ainda estava irritada, mas falava baixo de novo. Ela abriu sua sala e pegou a guia roxa e o bonequinho de borracha, me entregando.

Agradeci e sai correndo. O cachorro estava de novo no jardim, cavando um buraco no gramado. Fui me aproximando por trás, lentamente. Ele me percebeu e continuou quieto.

— Vem cá, Totó. Bom cachorro, vem. – Eu estava quase pegando a porcaria do cachorro, quando ele decidiu sair correndo de novo. Que saco. Próximo passo, comida.

— Ainda não conseguiu? Sete minutos.

— Você podia ajudar, ao menos. Não tem um biscoito daqueles pra cachorro ai não?

— Você viu algum cachorro meu por ai? – Ele falou, com o sorrisinho irônico. Retribui o sorriso e comentei.

— Você não parece o tipo de cara que tem uma mochila para passear com o cachorro. Muito menos que desarruma a mochila. Tem ou não?

— Eu vou buscar. Espera aqui. – Ele ficou de pé e entrou no corredor. Eu fiquei lá, de pé, esperando. Ele voltou com um pacotinho com aqueles biscoitinhos em formato de osso. – Aqui. Dez dólares.

— Como?

— Dez dólares.

— Sério? – Ele estendeu a mão, esperando. Respirei fundo, querendo dar um tapa nele. Se eu tivesse tempo eu não pagaria, mas como não tinha. – E depois eu penso que você não deve ser tão horrível.

Entreguei o dinheiro que eu, por sorte, tinha no bolso e fui atrás da porcaria do cachorro. Assim que ele se aproximou, mostrei para ele os biscoitos. Sem o menor medo, ele parou bem do meu lado e ficou esperando o petisco. Peguei-o e fui até a sala da diretora.

— Aqui, senhora. – Devolvi o cachorro e todos os seus pertences. E bem na hora. Assim que a diretora agradeceu, o sinal bateu. Corri de volta para a sala, guardando os biscoitos de Castiel na mochila.

Apesar de prestar atenção na aula, me distraí em alguns momentos, por simples tédio. Riscava as bordas da página do caderno e então voltava a prestar atenção.

Nesse jeito meio distraído, o dia se passou sem maiores acontecimentos. No fim das aulas, eu fui checar meu clube. Era um dos dias de encontro. Não estava muito animada, mas fui.

E fiquei até feliz de ter ido. Tinha um rapaz lá, checando o ponto onde Totó cavara mais cedo. E ele parecia, além de muito bonito, bem irritado.

— Licença. – Aquele menino era da escola? Podia ser, ele era realmente bem bonito. – Posso ajudar?

— Ah, oi. É você quem cuida desse jardim?

— Não, mas eu sou do clube de jardinagem. E sei até qual cachorro fez isso.

— Esse lugar está mal tratado. Espero conseguir ajudar. – Ele murmurou, apoiado na pá que segurava. – Qual seu nome?

— Anna. O seu?

— Jade. Estou de passagem pelo colégio num estágio. Cuidando do seu jardim.

— Ah. – Então não era aluno. Que pena. Eu ia adorar passar um tempo com aquele cara. E até seria possível. – Então, acho que eu tenho o dever de ajudar, sendo parte do clube.

— Hum, ajuda sempre é bem vinda. Sabe, eu conversei com a mãe de uma aluna, uma antiga conhecida, para ela me mandar algumas sementes. Pode procurar a filha dela? Iris, eu acho.

— Claro, vou ver se a encontro. – Por sorte, Iris estava na sala, tentando resolver um exercício do dever. Bati na porta e entrei, chamando sua atenção. – Ei, Iris.

— Oh, oi, Anna. Precisa de algo?

— É, tem um cara no jardim me pedindo pra pegar umas sementes com você...

— Oh, minha mãe me disse. – Ela mexeu na mochila e pegou um saquinho de veludo. – Toma.

— Obrigada. – Peguei o pacotinho e voltei para o jardim. Na verdade, parei no pátio quando vi um caderno sobre um banco. Abri a capa e vi JADE, escrito em preto nele. Peguei também.

Ele estava concentrado em abrir buracos na terra, com as mãos cobertas pelas luvas. Estendi o saquinho e o caderno para ele, atraindo o olhar distraído.

— Oh, obrigado. Poderia fazer mais um favor?

— Claro.

— Hum, poderia ir ao mercado e buscar mais sementes? É de outro tipo. – Ele pegou um pedaço de papel em seu caderno e anotou para mim depois de limpar as mãos no avental. – Aqui.

Ele me entregou uma nota de dez dólares também, voltando a cavar. Em silêncio, peguei a encomenda e fui até o mercado, murmurando a música que tocava nos fones.

Em menos de quinze minutos, eu estava de volta e com as sementes e o troco. Ele não quis aceitar o dinheiro dele, mas pegou as sementes e voltou a se concentrar.

Comecei a ajudá-lo a cavar também, sentindo a terra entrando debaixo das minhas unhas. E era uma sensação estranha, ruim e boa ao mesmo tempo. Ele parecia achar graça daquele meu contato desajeitado com sua adorada terra.

— Você leva jeito.

— Não muito. – Ri, nervosa com a terra debaixo das unhas. Tentei tirar o cabelo solto dos olhos jogando-os sobre o ombro, mas não funcionou muito. Ele tirou as luvas e, com as mãos limpas, pegou uma gominha na mochila e prendeu as maiores mechas para mim. E para tirar a franja, ele os prendeu atrás da orelha com uma flor.

— Ficou ótimo. – Ele sorriu, calçando as luvas de novo. Eu dei um sorriso meio besta, voltando a cavar. A tarde ia passando naquele ritmo, com o perfume de terra úmida, o som dos assobios de Jade, a sensação de estar sendo útil...

Começava a escurecer quando ele disse que tínhamos terminado. Fiquei de pé, limpando a terra dos joelhos. Ele riu quando devolvi a gominha, deixando a flor. Me despedi e, tentando limpar as mãos, fui embora para casa.

Quando cheguei em casa, meus pais não tinham chegado ainda. Deixei a calça no cesto de roupa suja e fui tomar um banho. Deixei a florzinha em cima da mesa de estudo e entrei pro banheiro.

Era tanta terra que saia de debaixo das minhas unhas que parecia até que eu tinha carregado um vaso de planta comigo. Fiquei olhando a água levar a sujeira embora pelo ralo, pensativa.

Pensando em que? Eu também não sabia direito. Era tanta coisa que passava pela minha cabeça que eu não registrei nem metade. Respirei fundo e desliguei o chuveiro.

Troquei de roupa, prendi o cabelo, deixei meu novo ursinho de pelúcia sobre a cama e desci para a sala. Liguei a TV em um dos canais de música e fui ver os vídeos em alta, esperando meus pais chegarem.

Eles demoraram mais meia hora até chegarem. Pelo menos, pareciam de bom humor. Sorri, desligando a TV. Meu pai foi fazer o jantar, e eu fui pôr a mesa de jantar, já com fome. Tanta que quando ele pôs o macarrão no meu prato, eu comi tudo quase de uma vez.

— Nossa, tem alguém com fome mesmo. – Minha mãe riu, limpando molho da minha bochecha. – Fez muito hoje?

— Ajudei um menino lá na escola, por causa do clube de jardinagem. Fiquei cavando. Hum, por falar em fazer, eu podia voltar para o boxe aqui.

— Hum, claro. – Meu pai concordou. – Procure alguma academia por aqui e nos informe quando achar.

Concordei, voltando a atacar o macarrão, calada. Não há muito que contar dai pra frente. Acabei de comer e subi pro meu quarto, liguei para Nathaniel. Ele atendeu no segundo toque.

— O que foi?

— Você sabe de alguma academia por aqui que tenha boxe?

— Sei. Eu tenho praticado naquela academia perto da escola, lá é muito bom. Você paga a mensalidade e pode usar o material quando quiser, e tem o instrutor. Quer o telefone?

— Seria legal. Não sabia que você treinava. – A gente tinha começado a gostar da luta ainda crianças, brincando no quintal. Sempre acabava sendo só chute nas canelas e socos fracos nos braços.

— É bom pra me ocupar. E eu sempre gostei. Ajuda a manter o físico.

— Preocupado com seu corpo, é? – Ri, enquanto ele continuava em silêncio. Provavelmente revirando os olhos. – Bom, me manda por mensagem o telefone. Obrigada.

— Ok. – Ele desligou e, em menos de um minuto, eu recebi o número. Enviei para minha mãe e falei que era da academia. Parecia meio absurdo mandar mensagens estando na mesma casa, mas eu a conhecia. Ela ia esquecer se não tivesse a mensagem.

Depois disso, eu simplesmente deitei por cima das cobertas, mexendo no celular. Acabei dormindo daquele jeito, com a claridade da rua atravessando a janela e iluminando o centro do quarto.


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Notas finais do capítulo

Sugestões? Bjs



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