Vida e Morte de Zachary Walker escrita por Florels


Capítulo 8
Capítulo VII




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As decorações de Halloween começavam a mudar a atmosfera da cidade, junto com o laranja das folhas das árvores que se amontoavam pelas ruas e calçadas. Sempre que via um monte de folhas, Zac sentia um prazer imenso em pular bem no meio delas, e correr em seguida porque provavelmente quem havia juntado antes o perseguiria furioso por alguns quarteirões.

Ele e Andrew pediam doces durante toda a semana que antecedia o feriado, muito embora a brincadeira consistisse mais em ir direto para as travessuras. Zac estava ansioso pelo seu primeiro festival de Samhain, o qual havia lido muito sobre nos livros de mitologia celta. Blue Falls era muito ligada às antigas tradições, ainda havia magia antiga escondida por entre aquelas montanhas e florestas, o que ele constatava mais a cada dia. Nos anos anteriores, durante a década de oitenta, um surto de interesse pelo ocultismo e pelo conhecimento antigo havia se espalhado pelas pessoas, período em que muitos livros e lendas começaram a se difundir para outras parcelas da população. Muito embora as celebrações existissem na cidade desde sempre, não havia um número tão grande de adeptos ao Samhain desde o fascíneo pela morte durante a Era Vitoriana. O século XX trouxe a racionalidade e o pessimismo junto com às guerras, o que afastou as pessoas do caminho do místico. Somente nas últimas décadas a magia retornou ao coração das novas gerações.

Naquela noite após conseguir alguns doces - e arranjar alguns problemas - , Zac e Andrew assistiam à velha tv de Sr. Parks, que iluminava fantasmagóricamente a pequena sala de estar. Estavam vendo Edward Mãos de Tesoura, filme comumente reprisado naquela época do ano.

—Andrew, o que acha de eu me vestir assim nesse Halloween? - perguntou Zac sem tirar os olhos da tela.

—Eu acho que você precisaria crescer uns centímetros a mais para isso, Zac - respondeu Andrew irônico.

—Cara, esse Edward mais parece uma tentativa frustrada de imitar o vocalista do The Cure - comentava Zac observando Johnny Depp na tela.

—Verdade, aposto que daqui há uns anos ninguém mais vai lembrar desse cara.

O filme chegou ao fim e os dois foram até o pátio dos fundos, onde havia uma cesta de basquete instalada na parede. Zac adorava jogar com Andrew, que embora muito mais alto e melhor - afinal, ele estava no time -, ainda perdia muitas bolas para a velocidade e agilidade do pequeno Zac. O barulho agudo das solas dos Converses arrastando pelo paviento ecoava na noite. A partida chegou ao fim e os dois se sentaram no chão de concreto, exaustos e suados.

—Você deveria pensar em entrar no time sabia? - disse Andrew arfante.

Havia sido uma partida acirrada, Andrew ganhou com pouca diferença de pontos. Zac havia prendido o cabelo em um coque e ainda respirava aceleradamente.

—Não faz bem o meu estilo - respondeu rindo.

Zachary se deitou no chão frio e fitou as estrelas. Em poucos dias seria Samhain, o dia tão esperado. Alex viria para o festival, ele ainda estava na sua obcessão de encontrar algum feiticeiro misterioso - ou espírito de um. Andrew se deitou ao lado do amigo, e os dois compartilharam um silêncio confortável.

—Andrew - disse Zac.

O amigo se virou para ele. Zac ainda olhava para o céu.

—Já se sentiu como se você fosse a criatura mais sozinha do planeta?

Andrew não entendeu o que o amigo queria dizer.

—Isto é, você está aqui comigo, nós vivemos coisas legais e tudo mais. Meus pais pagam minhas contas. Mas quando deito minha cabeça no travesseiro a noite, eu sinto que tudo o que tenho é apenas a mim mesmo.

—E não é assim com todo mundo? - respondeu Andrew.

—Sim mas, parece que só eu lido dessa maneira. Eu me sinto constantemente deslocado, é como se eu não me encaixasse em lugar nenhum ao certo. Meus amigos de Bloomfield certamente me esquecerão com o tempo, e lá deixará de ser o meu lar.  Meu pai me vê apenas como um delinquente. Minha mãe só me defende porque sou seu único filho, mas certamente não sou o que ela gostaria de ter.

—Se você fosse o filho que ela queria ter, ele certamente iria ser como você é hoje.

Zac sorriu triste. Não sentia orgulho do que era.

—Mas ela sofre pelo que sou. E eu nem sei porque sou assim, eu só.. Sou. Acho que no fundo estão certos quando me dizem que eu não sei me controlar e todas aquelas coisas. Vai que eu tenha algum problema mesmo.

—Zac, você tá precisando é de uma garota - riu Andrew, o que fez Zac dar novamente seu sorriso triste.

—Quem sabe, Andy. Mas no fundo eu sei que toda criatura vivente morre sozinha, e isso me atormenta. 


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