Stars And Butterflies escrita por Lieh


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

A partir desse capítulo, as coisas vão ficar mais tensas...



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Como a boa prima que era mais obrigada do que por prazer, Bella acompanhou, em certa tarde ensolarada, a Srta. Jéssica às compras. Não era o seu hobby preferido, ainda mais como a prima (além de tagarela e sem escrúpulos) era indecisa, não sabendo o que queria comprar; decidia-se por um vestido, porém acabava encontrando outro mais bonito, e mudava de idéia; acontecia que no fim, não levava nenhum vestido, indo para outra loja.

 As ruas de Chicago estavam movimentadas naquela tarde, o que não era comum naquele horário. Todas as pessoas pareciam com pressa ou receosas. Como um formigueiro, Chicago previa dias ruins: a temperatura estava caindo gradativamente, e apesar do tímido sol daquele dia, sentia-se uma violenta ventania; havia previsões de que cairia uma forte nevasca nos próximos dias. O inverno estava chegando mais devastador naquele ano.

As duas primas saíram da terceira loja que visitaram, deixando a pobre vendedora frustrada com a Srta. Jéssica. Elas passaram a caminhar sem saber ao certo para onde irem.

- Oh Deus, Srta. Bella! O que vamos fazer? Não encontro o que quero nada me agrada!

“Nada lhe agrada, pois você não tem opinião e nem poder de julgamento”, pensou Bella. Porém respondeu:

- Sinceramente prima: acho que devemos parar por hoje e voltar a procurar o vestido outro dia. Está cada vez mais frio e seria muita imprudência de nossa parte ficar perambulando sozinhas enquanto já começa a escurecer.

- A senhorita acha? Bem, concordo. Já está ficando tarde... Mas eu gostaria tanto de levar pelo menos um xale...

Bella suspirou. As duas moças resolveram entrar em mais uma loja pela última vez, só para satisfazer o desejo da prima.

Na calçada em que se encontravam, ainda com alguma certa distância delas, havia uma joalheria e uma loja de vestimentas. Não estava perto o suficiente das duas lojas, para avistarem com clareza, provavelmente saindo do joalheiro, um rapaz de porte elegante, vindo na direção delas. Não demoraram muito para reconhecerem que se tratava do Sr. Edward.

O coração de Bella deu pulos ao vê-lo, o quão elegante estava, e também de saudades, pois fazia dias que não se viam, até porque a comunicação por cartas não é a mesma coisa de uma comunicação diretamente com a pessoa amada.

Logo ele já estava perto o suficiente para vê-las, contudo sua reação ao reconhecê-las foi de completo estranhamento: ao invés de sorrir e demonstrar sua alegria natural como era de seu costume, Edward ficou estático na calçada, com um semblante sombrio, nunca visto antes.

Foi uma questão de segundos, no entanto os segundos mais estupefatos de Bella. O que estava acontecendo ou aconteceu para Edward estar tão esquisito e completamente o oposto de seu comportamento normal?

O clima entre os três também era algo de suspeito. Um estava desconfortável na presença do outro, o que não era no todo comum.

E mais a frieza de Edward em relação à noiva.

Bella tinha total consciência que Edward jamais demonstraria seus reais sentimentos na frente da prima desta, entretanto era de se esperar que olhasse para ela, pelo menos uma vez, oferecendo um sorriso. Nem isso. Parecia que não estava na presença da futura esposa, mas sim de uma mera conhecida; tratava-a do mesmo modo que tratava a Srta. Jéssica, o que deixou Bella ofendida e triste por tal atitude.

Mencionando a Srta. Stanley, esta apesar do desconforto, tentava ao máximo manter a conversa, mesmo deixando Bella irritada com suas perguntas fúteis. Além do mais, havia algo estranho no ar que perturbava o coração da jovem em relação à prima e Edward.

Tentou ignorar esses maus pensamentos e suas emoções, demonstrando maior naturalidade possível, mesmo estando com os sentimentos em turbulência.

- Como se passa sua família, Sr. Edward? – perguntou ela de forma calma, apesar de sua voz ter falhado.

- Bem, obrigada – o jovem respondeu, sem olhar diretamente para ela, deixando Bella ainda mais decepcionada e confusa.

- O que o traz aqui, Sr. Edward? – perguntou a Srta. Jéssica com sua voz irritante.

- Só estava de passagem... – ele calou-se, e com essa afirmação deixava a dúvida se queria dizer mais alguma coisa.

- Me parece que o senhor estava comprando algo – continuou a prima de Bella – Se não for de impertinência de minha parte, diga-nos o que fazia em uma joalheria.

Edward olhou com frieza e desprezo para sua interlocutora, dirigindo também um rápido olhar para Bella, desviando no mesmo instante.

Ela não sabia que significado tirar daquele olhar, pois era diferente de tudo que notou na presença de espírito do jovem cavalheiro. Aquele não era o seu Edward. Nunca.

Tentava em vão conter a enxurrada de pensamentos que invadia sua mente e seu coração. Queria guardar suas reflexões para quando estivesse sozinha. Voltou à atenção novamente naquela estranha conversa.

- Na verdade, Srta. Stanley – respondeu Edward – Não estou saindo de uma joalheria, como a senhorita erroneamente supôs. E não sou muito de dizer a alguém o que faço ou o que deixo de fazer. Digo da forma mais respeitosa possível.

O constrangimento que se apossou da Srta. Jéssica naquele momento foi de dar pena. Ela simplesmente calou-se, tão humilhada se sentiu.

Quanto a Bella, seus sentimentos já estavam consumindo-a. Somando a essa carga no que se passou naquele instante, um sentimento de revolta tremenda com a grosseira resposta de Edward cresceu nela. Estava tão desesperada e confusa que queria fazer tudo ao mesmo tempo: sair correndo dali ou desmascarar o comportamento nada amistoso dele.

- Se me dêem licença, senhoritas – disse o rapaz – Preciso ir. Até logo.

Mantendo ainda a constante frieza, e sem olhar para Bella, muito menos para sua prima, Edward atravessou a avenida e tomou o caminho oposto ao delas, sumindo no meio da multidão. Em sua despedida, Bella percebeu uma estranha emoção em sua voz, como se ele estivesse tão desesperado para sair dali quanto ela própria.

No caminho para casa, as duas moças não trocaram nenhuma palavra sobre o quê se passou, mas mesmo assim a Srta. Jéssica tinha um ar triste devido ao seu ego ferido.

Em casa, Bella trancou-se no quarto e deixou-se cair na cama. Estava um verdadeiro caos dentro de si, lutando constantemente contra as lágrimas, que teimavam em brotar.

Precisava agir com a razão e não com os sentimentos naquela difícil situação. Levantou-se decidida a escrever uma carta ao Sr. Edward, pedindo no mínimo, uma explicação daquele infeliz encontro e também o censurando por seu comportamento desaprovador.

Estava tão agitada que nem sabia por onde começar; se falaria de si e seus lamentáveis sentimentos ou da Srta. Jéssica. Pensando nela, Bella achou que seria bom começar falando na resposta seca do rapaz.

Por mais que a Srta. Jéssica seja tola, impertinente e suas conversas não sejam nada agradáveis, ela não merecia ter sido maltratada de maneira tão rude. Moça nenhuma, por pior que seja não merece receber algum tipo de grosseria, por menor que seja de rapaz nenhum. Isso ia completamente contra os valores empregados pela maioria dos pais de boa índole a seus filhos, e tal erro pode ser tão cruel e imperdoável quanto uma traição, colocando as duas situações na mesma balança.

Bella conhecia casos de jovens senhoritas romperem um noivado por terem sido ofendidas (ou se sentirem ofendidas) por seus noivos. Claro que no seu caso, não foi ela a vítima da ofensa, mas mesmo assim tomava as dores da prima, como se ela tivesse sido ofendida.

Este era só um ponto que a perturbava, pois mesmo não ter sido ela a receber tal grosseria, acabou por ganhar algo pior: a frieza dele e sua total indiferença.

A última vez que recebeu uma carta de Edward foi quase uma semana atrás, e esta, como todas as outras cartas, eram cheias de amor e dedicação. Tentou ver se havia algum indício ou premonição de seu comportamento na rua, mas não havia nenhum. Só constava que continuava trabalhando com o pai e às vezes se sentia entediado e impaciente para desposá-la o mais rápido possível. Nada que deixasse Bella com suspeitas. Algumas delas constavam:

“Minha querida Bella, a cada de dia que passa, sinto-me mais angustiado por não tê-la ao meu lado a todos os momentos em que eu gostaria. Eu sei, minha querida, teremos que ter um pouco de paciência, entretanto ‘espera’ não existe no vocabulário de um apaixonado...”

“Estou ajudando meu pai no hospital, aprendendo a minha futura profissão. Sinceramente, minha querida, salvar as pessoas, ajudá-las é realmente o que eu quero para mim. Você tinha razão naquele dia em que nos encontramos pela primeira vez no baile na casa de sua avó: eu não deveria ter largado a faculdade”.

Esta era a última carta que recebeu do rapaz, a qual Bella ainda não havia respondido. O seu conteúdo aliviou-a do receio de Edward continuar com seus planos de ir à guerra, deixando-a feliz no momento em que a leu. Não se diz o mesmo daquela releitura da carta.

Trêmula, de olhos marejados, ela tentava distinguir as palavras no papel, quando foi avisada por sua governanta que havia uma senhora esperando-a na sala de visitas para ter com ela.

Bella, confusa e irritada por ter que interromper sua carta, foi receber a visita, sem antes arrumar-se para estar apresentável. Enquanto descia, ela esqueceu-se de perguntar para Dolores quem era a senhora que a esperava.

Estava com esses pensamentos quando adentrou a sala de visitas, ficando estática: era a Sra. Rosalie McCarty, em pé, com aquele olhar penetrante e repulsivo que Bella tão bem conhecia, pois era sempre assim que olhava para ela. Naquele momento foi pior, devido à agitação no coração da jovem Swan.

De início não trocaram nenhuma palavra, só que em primeiro lugar vem os bons modos do que uma versão. Então as duas damas cumprimentaram-se com extrema frieza.

Bella tentava ao máximo conter sua agitação e controlar sua voz, pois tamanho era o seu sentimento de histeria. Tentava demonstrar amabilidade com a visitante, mesmo não gostando de sua presença, mas a enxurrada de perguntas que a consumia.

- Aceita uma xícara de chá, ou um café, senhora? – perguntou ela.

- Definitivamente não.

Mesmo com a secura da reposta da Sra. McCarty, Bella não se intimidou. Estava na sua casa.

Esta senhora olhava em volta com completa indiferença, mas suas feições demonstravam também desagrado no que via. Por fim comentou:

- Esta sala é muito pequena.

Bella, completamente desconfortável nada respondeu.

As duas damas continuaram a se fitarem, enquanto a Sra. McCarty olhava Bella de cima a baixo.

- Srta. Swan, não quero que se ofenda no que irei dizer... – ela parou a olhar para a moça e continuou – Não, a mim não me importa suas opiniões... Srta. Swan devo- lhe dizer que seu vestido é muito ultrapassado e fora de moda.

Como prevenida, Bella se sentiu ofendida. Quem era aquela senhora e que direito tinha ela de criticar suas vestimentas? Por isso, respondeu a provocação de forma convicta, segura de si mesma:

- Gosto desse vestido.

A jovem senhora simplesmente deu de ombros, deixando explícito que as opiniões de Bella não lhe afetavam.

- Srta. Swan acho que você já sabe por que eu me dei ao trabalho de vir até aqui.

- Não, senhora. Não sei o motivo de sua honrada visita.

- Mentirosa! Não se faça de tola, Srta. Swan. Comigo não se brinca e a senhorita está se intrometendo na minha família de tal forma que coube a eu intervir essa ruim influência.

Ela calou-se. Bella a muito custo se esforçava para manter a tranqüilidade, já adivinhando porque a Sra. Rosalie a censurava. Esta continuou:

- Chegou aos meus ouvidos, senhorita, e não se precisa ter ouvidos para se sucumbir a falatórios, só os olhos bastam para enxergar tamanho escândalo, que a senhorita com sua ambição sem limites, pretende se unir ao meu irmão caçula, Edward, único herdeiro da família Cullen.

- Minha vida não é de seu interesse, Sra. McCarty – retorquiu Bella.

- Blasfêmia! Interesseira! Já lhe avisei que comigo não se brinca, Srta. Swan! Acha que permitirei que você, uma moça de classe inferior, vinda do Arizona, aquele lugarzinho de pessoas rudes, com um dote pouco recomendável, uma avó que é referência em falta de elegância e bons modos, e o mesmo se aplica às primas, se case com meu irmão, manchando sua reputação e seu nome? Acha que a senhorita será bem aceita no seio da minha família?! Pelos céus! Caso a senhorita não saiba, Edward já possui um casamento arranjado há anos com a Srta. King.

Aquilo foi uma punhalada no já tão frágil coração de Bella. Isso explicava boa parte de suas dúvidas.

- A fortuna da família Cullen e King – continuou a jovem senhora – finalmente irão se unir num casamento que agradará a todos, com muitos benefícios – Bella já imaginava esses “benefícios” – E não vai ser uma moça interesseira na fortuna de meu irmão que vai lhe estragar o futuro. Se o ama realmente senhorita, deixe Edward seguir seu destino e deveres para com sua família, do contrário, além da senhorita sofrer humilhações, terá que passar por cima do meu cadáver se quiser ser feliz com ele. O que me diz?

- Não vou permitir – respondeu Bella, com toda a dignidade e elegância que recebeu como herança maternal e não pelo dinheiro – Que a senhora me coloque contra a parede decidindo o meu futuro por mim. Jamais farei uma promessa para agradar aos outros, que me fará sofrer, e já deixo bem claro para a senhora: Cuide de sua vida e do seu bom marido, que sinceramente lamento por ele ter uma esposa tão mesquinha e egoísta. A senhora ofendeu não só a mim, mas também toda a minha família e na minha própria casa. Concluo que já está satisfeita. Peço que se retire imediatamente.

- Ingrata! Menina egoísta! Jamais fui tão ofendida de maneira tão rude! Vim com intenções de poupar seu sofrimento e veja como sou respondida! Pois bem, senhorita. Depois não diga que eu não avisei.

A Sra. McCarty saiu pisando duro, batendo a porta. Sozinha, Bella não agüentou a enxurrada de emoções e deixou-se cair no sofá, aos prantos. A quantidade de seus tristes sentimentos poderia ser comparada ao dia do velório da Sra. Swan.


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Notas finais do capítulo

*N/A: Esse capítulo foi inspirado em “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, no momento em que a Elizabeth Bennet enfrenta a temível Lady Catherine de Bourgh, tia do Sr. Darcy. Aviso isso ao caro leitor, para aqueles que leram este belo romance de Austen não pensarem que eu simplesmente roubei este trecho do livro.