Os dias que se seguiram foram um dos mais sombrios. Bella estava isolada de tudo e de todos. Já não queria mais ficar em companhia de ninguém, principalmente do seu pai e seu humor sempre feliz.

O que ela não sabia era que além de tentar acalentar o sofrimento apenas para sim, esqueceu-se que o Sr. Charlie também estava sofrendo com a mudança súbita de atitude da moça. Ele já havia percebido que Bella estava estranha nos últimos dias, evitando falar, como se estivesse escondendo algo dele. O pai da jovem Swan não era o mais indicado na questão de delicadeza de sentimentos, mas sua percepção era infalível, e sem ao menos fazer perguntas sobre o assunto, o Sr. Swan descobriu o que a filha tinha: a jovem estava sofrendo por amor.

De primeiro momento, o senhor Swan cogitou que fosse apenas uma fase passageira, que logo iria passar e Bella voltaria ser como antes. Porém, os dias se seguiam e nada da melhora da moça, pelo contrário, ela só piorava no silêncio e olhos inchados.

Certa noite, através de muita insistência e resistência, Bella desceu para o jantar a mando de seu pai. Este tinha um plano de arrancar da filha o motivo de seu sofrimento.

O jantar de início estava silencioso. Bella mantinha os olhos somente no seu prato, enquanto o Sr. Charlie comia olhando de relance para a filha, censurando-a.

Depois de vários minutos de silêncio, com o jantar ainda pela metade, o pai de Bella quebrou o silêncio perturbador, suspirando pesaroso:

-Bella, quer me dizer o que está acontecendo?

A jovem continuou mexendo na comida desanimadamente, de cabeça baixa. A Sra. Dolores alternava o olhar de pai para filha, preocupada. O olhar do Sr. Charlie dizia claramente que não ia tolerar mais o comportamento infantil da filha.

- O que houve menina? Arrancaram sua língua? Ficou muda?

Bella relutante levantou o olhar para o pai, e respondeu sutilmente, sem emoção:

- Deixe-me em paz.

Aquele foi o estopim para a fúria do Sr. Charlie. Ele se levantou, quase derrubando a mesa, olhando indignado para a filha ousada.

-Não tolero esse tipo de comportamento em minha casa, Isabella Swan – começou ele, asperamente, quase gritando: – Estou farto do seu jeito mesquinho! Você pensa que o mundo precisa parar para todos lamentarem sua dor?! Está muito enganada! Eu lamento que você esteja sofrendo, de verdade, mas já chega!

Pai e filha se fitavam um com a expressão sombria e o outro com a expressão vazia. Bella estava apática a tudo ao seu redor, a única coisa que tinha consciência era sua dor, e o resto ela não se importava. Poderia estar alguém morrendo em sua frente, mas ela não demonstraria socorro ou piedade. Por isso, sua resposta foi seca, cheia de amargura, sem ao menos se importar se feriria o pai:

- O senhor não tem o direito de se intrometer nos meus sentimentos. O senhor é tão insensível quanto a eles, e eu tenho motivos para acreditar nisso, porque o senhor não se importou em nenhum momento de me tirar do meu lar para virmos morar aqui, nesse lugar que não me acolhe, no meio de pessoas hipócritas e repugnantes. Eu é que estou farta do seu comportamento mesquinho, meu pai.

A expressão do Sr. Charlie ia do choque para o remorso. Era o mesmo que tivessem lhe dado a notícia da morte de alguém. A boca se abriu como se tentasse puxar o ar para os pulmões, sua testa pingou suor. Sentou-se como se acabasse de tirar um peso invisível das costas, suspirando pesadamente.

Bella voltou a fitar o prato intocado, mexendo a comida com a colher, apática, fria. Sem emoção. Sem perceber que machucou os sentimentos do pai. E ela não parou por aí, sussurrando de forma bem audível:

- O senhor nunca se importou com nada. Só consigo mesmo e com o seu trabalho estúpido. Talvez seja por isso que mamãe ficou doente, de tanto desgosto que tinha do marido.

A crueldade das palavras de Bella foi uma punhalada no coração do Sr. Charlie. Este a olhou com os olhos esbugalhados e a boca escancarada. Lágrimas se formaram, seu lábio inferior tremia, enquanto sua filha continuava com os padrões de círculos e mais círculos na sopa incólume.

O Sr. Charlie se levantou devagar, caminhando com passos pesados para a cadeira da filha, postando-se atrás dela, com a voz embargada pelo choque:

- Sua avó tinha razão. Você é muito mal intencionada, Bella. Não recebeu uma educação de verdade. Ainda não é tarde para consertar o seu mau caráter, querida. Você vai para o colégio interno para meninas de Dartmouth, em New Hampshire. É um lugar bonito – sua voz naquele momento mostrava piedade – Você vai gos...

O Sr. Charlie não teve tempo de terminar sua frase. Bella se levantou abruptamente, estendendo a palma da mão raivosa para a taça de vinho, derrubando-a com força, esparramando o líquido no linho branco que cobria a mesa. Fuzilou o pai com o olhar sem dizer nada, então saiu pisando duro para o quarto, batendo a porta. De lá de dentro, pode-se ouvir um choro desesperado, que se transformaram em gritos de desespero.

A Sra. Dolores presenciou a cena, chocada demais para falar. Chamou os empregados para limparem a sujeira, olhando sempre receosa para o patrão, com medo do que ele poderia fazer com a sua pobre menina, pois este ainda se mantinha parado atrás da cadeira.

Como se estivesse acordado de um transe, olhou em sua volta, com os empregados arrumando a mesa, enfurecido e gritou para todos saírem. Todos obedeceram, e antes que a Sra. Dolores saísse ele berrou:

-Arrume todas as coisas de Bella imediatamente! Ela vai embora amanhã mesmo!

Com o coração partido, ela obedeceu e saiu.

O que se segue depois não é bom dizer.

O tempo pode ser tão caridoso como a curar feriadas, mas também pode ser cruel em apenas torná-las mais dolorosas, em verdadeiras cicatrizes.

Cicatrizes de guerra. Inevitável. Edward Cullen seguiu o seu destino, sem olhar para trás.

As súplicas, as lágrimas e os berros da mãe não foram o suficiente para convencê-lo do contrário, nem mesmo a conversa séria com o pai e desespero da irmã mais nova, Srta. Alice. Semanas depois de Bella ter ido para Dartmouth, Edward partiu.

E não foi só isso que partiu ainda mais o coração da jovem Cullen: o Sr. Jasper Hale também partiu para a Europa.

Duas perdas de uma vez. Era demais para a pobre menina.

Bella por sua vez ficou exilada do mundo em New Hampshire. O colégio era repugnante. As pessoas eram cruéis, não havia tolerâncias para qualquer desobediência, e se ocorresse, a palmatória voava descontrolada para as mãos. Sem piedade. Assim como era a guerra.

Chegou o inverno, mais doloroso, mais terrível para os soldados nos campos de batalha. Edward passou fome, frio, viu o horror na sua frente e a maldade humana.

Bella passou solidão, reclusão, levou palmatórias, passou fome nas salas de castigos, escuras, passou medo.

O tempo passa. 1915... 1916...

Outono, Inverno, Verão, Primavera...

Folhas caindo, o mundo em branco, o sol renasce, as borboletas voltam. Sempre voltam.

Estamos em 1917.

Nada mudou.

Nem mesmo o amor que Bella e Edward sentiam um pelo outro.