Stars And Butterflies escrita por Lieh


Capítulo 10
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para os meus queridos leitores e leitoras.

Espero que ninguém sofra depois desse capítulo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/66775/chapter/10

Era uma escuridão devastadora no coração de Bella.

Todos os espectros mais sinistros tilintavam os seus horrores, escandalosos com suas gargalhadas medonhas, dançando em espirais, desorganizando, bagunçando, se misturando a penumbra da noite, assustando as pobres almas mortais como algum tipo de demônio saindo de sua aconchegante profundeza dos infernos para orquestrarem os gritos da humanidade.

Assim estava aquela noite e o coração despedaçado de Bella. Caos completo. Parece no contexto, estranho que uma jovem que nunca teve alguma experiência amorosa, já sinta no primeiro amor as dores de uma decepção. Não estava com raiva de Edward, seu amor era grande demais para guardar rancor dele. Estava frustrada consigo mesma e com a vida.

Quantas vezes ela não ouviu que a vida não era justa? Quantas vezes ela não ouviu dizerem que nem tudo é como queremos ou planejemos? Que o ser humano é imprevisível? Que as pessoas tomam atitudes impensadas?

Bella foi acostumada numa vida “perfeita” (excetuando a morte da mãe), sem preocupações financeiras, e sem preocupações com seu futuro em todos os sentidos (acadêmico, matrimonial, material, etc.) sem se preocupar se no dia seguinte teria tudo o que fosse necessário para uma vida confortável. Foi extremamente mimada, tanto do pai como da mãe; estes não ensinaram as provações da vida, a correria cotidiana e os problemas das pessoas que não tinham as mesmas boas condições que ela.

Ela não tinha idéia por que esses pensamentos ocorreram em sua mente, mas logo desconfiou do motivo: ela não estava preparada para conhecer os altos e baixos da vida. Ela nunca esteve e provavelmente nunca estará pelo menos até aquele momento estava convicta disso.

Lembrou do desejo da irmã mais velha de Edward, Sra. Rosalie McCarty que ele se casasse com a Srta. Tanya King. Desde o dia que a senhora em questão a visitou, Bella sabia que este desejo era só dela, pois na festa da casa dos Cullen’s Edward não demonstrou nenhum carinho particular pela senhorita King, nem ao menos chegou a dançar com ela, isso antes dela chegar e é claro que ficou sabendo por Jéssica. Não gostou nada de lembrar-se daquele dia, pois sofria mais. A noite em que juraram amor um ao outro... Tudo aquilo foi em vão, nada daquela noite tinha validade.

Nesses devaneios lembrou-se também de um pequeno episódio que teve a infelicidade de presenciar com Jéssica (não tinha tanto respeito como antes pela prima, por isso a chamava por seu nome de batismo): o dia que encontraram Edward saindo de uma joalheria, no qual ela passou a ter as primeiras suspeitas, e a tristeza da frieza do jovem cavalheiro para com ela mais a rispidez para com Jéssica. Que tola! Escreveu uma carta defendendo a prima e tomando as dores de sua vergonha, sendo que ela nunca mereceu tal carinho! Que cega ela estava! Além do mais a perturbação que teve nos dias que se seguiram perguntando-se o que Edward estaria fazendo numa joalheria... Era claro que ele estaria comprando alguma aliança, até aquele dia ela tinha esperança que ele chegasse a sua casa pedindo-lhe em casamento. Porém passaram-se dias, semanas e nada de Edward. Somando a tudo isso, o pior de tudo era o silêncio do rapaz. Ele nunca mais mandou uma carta se quer para Bella, uma visita, era como se ela não existisse mais! Quando refletiu sobre isso, a jovem sentiu frustração e até raiva, com o seu conceito sobre o jovem cavalheiro caindo gradativamente, enquanto a verdade se entranhava cada vez em seu coração.

A possível aliança que Edward estava comprando naquele dia, era para Jéssica, a primeira verdade que concluiu, dando a primeira apunhalada em seu coração. A segunda se tratava da atitude dele na festa na casa dos King’s de não vir falar com ela e a cena que presenciou de Jéssica cochichando com um rapaz no jardim, que ela concluiu sendo Edward, dilacerando mais a ferida do seu coração. E a última, a pior de todas era: nunca conheceu os sentimentos de Edward, este serão sempre um mistério que ela carregaria até o túmulo.

Edward nunca a amou.

O golpe final foi fatal. Como numa batalha que o vencedor dá a sua última cartada cruel no adversário. A dor foi insuportável, dilacerante.

E assim, Bella não lutou mais. Estava derrotada pelos golpes da Vida, e entregou-se a Dor, corajosamente, sem esperanças de dias melhores.

Foi uma longa noite...

A manhã nasceu na cidade, acordou para a mesma rotina diária. Antes mesmo de o sol despontar no horizonte, brilhando as águas do Lago Michigan, as ruas já estava tomada por pessoas circulando apressadas para suas ocupações. Tudo voltou ao normal, aparentemente, mas não para Bella. Aquele verão estava sendo o mais triste de sua vida. A estação do ano que ela mais ansiava estava amarga e sem brilho.

Estava parada contemplando a paisagem da cidade sentada em um dos bancos da praça. Levantou cedo da cama, saindo para a sua caminhada matinal. No entanto estava cansada demais devido a noite mal dormida, então resolver parar.

Mesmo o dia não foi capaz de trazer um alívio para o coração de Bella, como ela queria que tudo não tivesse passado de um pesadelo onde ela acordara e tudo estava na maior paz. Quem dera. Não comeu nada desde o chá da casa da Sra. Helen ao qual ela tenta esquecer com todas as forças e mesmo agora não sentia fome.

Estava num estado de completa apatia, nada a sua volta a distraía, nem mesmo a corrida dos pombos por pipocas jogadas pelas crianças que rodeavam e brincavam na praça. Bella invejou as crianças por não terem preocupações, serem livres de sofrimentos e também os pombinhos por irem e fazerem o que quiserem.

“Vir a Chicago foi o maior erro que cometi na minha vida. Eu deveria ter insistido e ficado no Arizona, onde eu agora eu estaria feliz...”

Sua mente vagava distante de tudo aquilo, transportando-a para o Arizona, para a sua casa agora vazia, mas cheia de boas lembranças... Para o jardim de sua mãe, Renné... Pensar nela foi pior ainda porque se ela não tivesse morrido não precisaria se mudar, Bella e seu pai, e continuariam sendo uma família feliz e próspera. Bella teria se casado com algum rapaz da vizinhança de mesma condição social que ela, sem problemas por parte das duas famílias, porque ela era muito cortejada enquanto morava lá pelos jovens cavalheiros e muitas senhoras sonhavam em que seus filhos se casassem com a linda Srta. Swan. Tudo isso era passado, mas Bella continuou vivendo aquele sonho, tão bonito, tão distante...

- Bella querida graças a Deus a encontrei.

A jovem deu um salto, despertando bruscamente. Aquela voz saiu do túmulo ao qual ela cavou tão dolorosamente noite passada. A voz que ela sempre responderia onde quer que esteja como estivesse.

A voz de Edward.

Bella o encarou amedrontada, mas bem no fundo de seu coração, este dava saltos de alegria ao vê-lo, mas as lembranças da noite anterior sufocaram esses sentimentos, ficando apensa a tristeza.

Edward a fitava aflito, com muita ansiedade.

- O que quer Sr. Cullen comigo? – O tom da moça era hostil, pior ainda com o “Sr. Cullen” cheio de ironia.

- Bella, precisamos conversar...

- Não há nada para conversarmos, Sr. Cullen. Está tudo muito bem claro entre nós e o senhor demonstrou isso. Por favor, me chame de Srta. Swan, pois o senhor não tem mais direito de me chamar pelo o meu nome de batismo. – Naquele momento ela se levantou, fitando sarcasticamente o seu interlocutor.

Edward a encarou de volta espantado. Os olhos exageradamente verdes demonstravam mágoa, como se as palavras de Bella os tivessem ferido.

- Srta. Swan, eu sei que eu tenho sido muito negligente e nem um pouco cavalheiro com a senhorita nas últimas semanas, mas entenda que foi devido a uma situação grave em que eu me encontrava. Receio que a senhorita tenha recebido a visita de minha irmã Rosalie... – Ele parou, encarando o chão furiosamente, com os olhos faiscando – Preciso informá-la que foi um equívoco, jamais em todos esses anos em que conheço a Srta. King, nunca pensei em me casar com ela. Isso tudo foi invenção de minha irmã ambiciosa.

O rapaz olhou Bella esperançoso que ela relaxasse e lhe desse um sorriso de compreensão, mas não aconteceu. Bella continuava séria no seu lugar, encarando-o. Ele continuou:

- Não consegui responder a sua carta e muito menos vir vê-la devido ao tumulto em que estava a minha casa quando minha mãe descobriu o que Rosalie fez e também por outros problemas. E depois na casa dos King’s... – Ele suspirou frustrado, como se estivesse reprimindo alguma lembrança ruim com o olhar implorando que Bella disesse alguma coisa.

- Isso não justifica todos os seus erros para comigo, Sr. Edward. Estou extremamente decepcionada com o senhor. Jamais esperava que o senhor fizesse isso comigo: Trair-me! E com a minha prima, Srta. Jéssica! – A voz dela falhou na última frase.

Edward arregalou os olhos para Bella, chocado com a declaração da moça, seu rosto se enchendo de desespero, parecendo que estava perdido sem saber o que dizer.

- Afirmo que essa história é passado...

- Então o senhor admite que esteve e está compromissado com a Srta. Stanley? – cortou Bella bruscamente.

O rapaz a olhou profundamente e a resposta saiu arrastada com um toque de tristeza:

- Sim eu já estive comprometido com a Srta. Stanley.

Foi mil vezes pior ouvir a verdade da boca de Edward do que da própria prima, fazendo assim outro buraco no coração de Bella, pois tolamente ela alimentou a esperança de que tudo fosse blasfêmia.

- Então não temos mais nada a discutir, pois o senhor deve honrar o compromisso que fez com ela...

Bella abafou a voz tentando engolir as lágrimas que brotavam em seus olhos, tamanha era a desgraça. Edward ainda a fitava com a tristeza no olhar.

-Bella você não sabe a história, quem lhe contou omitiu muitas verdades, eu pensei que eu não precisaria lhe dizer isso, pois eu já coloquei o assunto como encerrado.

-Como? A mesma coisa que fez comigo? Desaparece, não dá notícias e depois corre para pedir perdão? Essa parte o senhor não fez ainda ou já fez?! Ela está esperando! – Bella já estava gritando atraindo olhares curiosos de alguns passantes.

Edward continuava com uma calma artificial e o semblante triste.

- Você precisa saber o que realmente aconteceu... Não é o que você está cogitando, foi há tanto tempo...

- Por favor, Sr. Cullen não diga mais nada... Adeus!

Ela saiu da presença do rapaz a passos firmes, no entanto ele a segurou desesperadamente.

- Por favor, senhorita não vá, eu preciso lhe contar a verdade, me dê um tempo para eu raciocinar com calma...

Bella desvencilhou-se dele irritada pelo contato, pois as mãos quentes de Edward a arrepiava.

- Eu não quero mais saber disso, senhor. Deixe-me em paz, eu suplico – Ela não conseguiu segurar mais as lágrimas e ele a soltou, olhando-a mais tristemente.

- Por favor, Bella – sussurrou ele.

- Adeus Sr. Cullen.

As palavras saíram apáticas como se ela não quisesse dizer aquilo, mas estava feito. Ela o encarou pela última vez e se virou indo em direção para a casa, tendo a leve impressão de ter visto uma lágrima escorrer dos olhos de Edward.

Era 28 de Junho de 1914. A Grande Guerra explodiu na Europa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!