Os olhos de Lisbon corriam rapidamente entre as palavras descritas no relatório e comparava o original com o modificado de Fortier. Negava furiosamente com a cabeça por se deixar enganar por ele, e pensou em Davis como um anjo que caíra dos céus. Jane apareceu em sua porta e ficou por lá, encostado, observando Lisbon.

— Muito concentrada, não? — Ele deu um meio sorriso. Lisbon deu um pulinho e colocou a mão em cima do peito, com a boca aberta, logo essa expressão foi substituída por um olhar enfurecido. — Desculpe, não queria te assustar. O que está lendo?

— Os relatórios do caso Human, de Davis e Fortier... Fortier modificou muita coisa quando o reescreveu, escuta essa: "A vítima em questão, estava com os pés e mãos amarrados indicando violência constante antes do ato. Apresentava sintomas de estrangulamento. Entre meus estudos, indico que tal vítima era sadomasoquista e que, numa fantasia sexual qualquer, perdera a vida, como também perdera a razão. Att; Trevis Y. Fortier.", essa é a de Fortier, agora escute a original: "A vítima foi encontrada, inicialmente, pelo agente-chefe Fortier, e em seguida por Davis. As mãos e os pés sangravam indicando tortura — provavelmente fizera algo que não agradara seus sequestradores. Apresentava uma forte hemorragia, provavelmente causada pelas pancadas de recebera. Estupro seguido de tortura e em seguida, homicídio, sem dúvidas. Att; Julie Davis". — Por um segundo, os dois pareceram pensar na mesma coisa, e a voz de Jane cortou o silêncio.

— É muita diferença... Chega a ser suspeito. 

— Acha que Fortier é nosso cara? — Lisbon se levantou. — Quer dizer, ele é um agente, e agentes são obrigados a jurar pela segurança e pela integridade. Nós sabemos melhor que ninguém que ele tem a obrigação de ser melhor do que a maioria das pessoas! Ele tem que ser humano!

— Se todos pensassem como você, Lisbon, certamente o mundo seria um lugar melhor. — Ele deu as costas para ela. — Vamos, Lisbon. 

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 Enquanto dirigia até a casa de Fortier, Lisbon sentiu Jane queimar sua nuca. Isso estava a deixando irritada, ela parou o carro no acostamento, e olhando para frente, imóvel. 

— O que está fazendo? — Jane perguntou, arregalando os olhos. — Toda a equipe está te esperando. Vamos pegar o Fortier, não quero perder o momento. — Lisbon continuou quieta. — O que você tem? Vamos lá!

— Quero sua ajuda. 

— Com o que quiser. Só falar. Mas tem que ser agora? — O celular de Jane bipou indicando que havia chego uma nova mensagem, ele olhou rapidamente "GRACE VANPELT says: Pegamos Fortier, estamos indo para o depósito onde ele mantém todas as outras vítimas. Onde estão? Nunca vi você ou Teresa perderem um caso, ainda mais como esse, onde envolva agentes federais. Quando puder me liga, preciso de ajuda no relatório. xoxo GV.", Jane encarava Lisbon pelo retrovisor. — Pegaram Fortier sem nós.

— Eu sabia que iriam o pegar. — Os olhos de Lisbon pareciam vidrados. — Tenho que te contar uma coisa. Blake me pediu em casamento.

Parecia que Jane tinha levado um soco em seu estômago, aquelas palavras o faziam pensar sua vida toda e a procura da mulher ideal. Ele ergueu as sobrancelhas e abaixou os olhos, Lisbon o encarava pelo retrovisor. 

— Nossa... Quer dizer, tão rápido? Vocês nem tem tanta coisa em comum, quer dizer, pode até ser que tenha, mas não acha que é muito cedo para isso? — Ele forçou um sorriso. — Eu estou me metendo em uma coisa que eu nem sei bem, me desculpe e parabéns, Teresa. Que você seja feliz.

Teresa Lisbon abriu a porta do carro e o fechou com força, ficou encostada no carro e admirava o céu estrelado com uma lágrima presa em seus olhos. Jane fez a mesma coisa e ficou do seu lado, tentando a decifrar.

— Era por isso que você me encarava? Você sabia? — Ela não olhava para Jane.

— Desconfiava. — Jane colocou sua mão no bolso da calça. 

— E por que não me disse? 

— E estragar a surpresa? Não, não, para acreditar teria que ouvir de você... E você? Aceitou? — Ele deu um sorriso triste.

— Eu pedi um tempo para pensar, não quero tomar qualquer decisão precipitada. Afinal, você está no meio disso tudo. — Os dois viraram para se encarar.

— Como assim?

— Blake insiste em sair com você e comigo, e pediu para que eu o convidasse para ser nosso padrinho e ficar do seu lado na igreja... Só não consigo entender a fixação que ele tem por você. Tudo que me envolva, quase que obrigatoriamente, ele quer que você venha junto. Estou começando a achar que ele está apaixonado por você. — Lisbon soltou um riso fraco. — Vamos, está começando a ficar tarde. 

Lisbon se virou para entrar no carro e sentiu uma puxada em seu braço. Era Jane. Ele puxou seu corpo contra o da agente e lançou-lhe um beijo. Lisbon o empurrou rapidamente e colocou uma mão em sua boca, assustada.

— Me desculpe. — Foram as únicas palavras que saíam de sua boca.

— Isso nunca aconteceu, prometa que não vai contar para ninguém! Prometa! — Lisbon o fuzilava com o olhar.

— Eu prometo.