A Lenda de Luttern escrita por Arabella


Capítulo 2
Capítulo 2 - A carta


Notas iniciais do capítulo

2o. Capítulo!!! Espero que gostem!



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Avery acordou com a irmã abrindo a porta nada delicada. Ainda era cedo demais para a aula, o dia nem havia clareado e o relógio ainda marcava 05;30.

Era incrível como seu quarto estava ileso, como se nada tivesse acontecido no dia anterior.

– Já terminou de arrumar suas coisas?! - perguntou Laureen, não tinha um pingo de voz de sono e ao invés de pijama usava casaco e botas, o que indicava que devia ter acordado há um bom tempo, ou nem dormira a noite.

Avery bocejou, colocou o travesseiro no rosto e se enrolou nas cobertas, e falou com voz de sono:

– Se eu já arrumei minhas coi-... ESPERA AÍ, O QUÊ?!!

– Achou que estava brincando?

– Achei! - disse Avy, se sentando na cama - Quem é a maluca que diz de uma hora para outra que vai deixar a cidade?!

– Eu. Eu sou essa maluca.

Avery beliscou a si mesma para ter certeza de que já estava acordada. Sinceramente, não estranharia se um dragão entrasse pela janela no momento.

– Não, Avy, você não está sonhando - A irmã disse abrindo o armário da caçula - Que mochila você vai levar?

– Por que está pensando em deixar tudo para trás? Laureen, você não está bem. Essa é a coisa mais maluca que você disse em 22 anos!

– Pode ser mesmo a coisa mais maluca que eu vou fazer, mas é preciso... Olha, nós não vamos nos mudar para sempre, eu quero apenas te mostrar algo que você precisa saber.

Avery queria interrogá-la mais, mas sabia que não teria resposta e que em nada adiantaria. Pelo menos ficou aliviada em saber que não mudariam. Não que ela tivesse uma vida perfeita em Nova York, mas não estava preparada para uma mudança.

– Então eu vou para esse tal lugar e depois volto para cá?

Laureen pareceu distante e preocupada.

– Você voltar?... talvez...

– TALVEZ?

A irmã se recuperou de sua viagem imaginária piscando os olhos, se levantou e saiu do quarto, deixando uma mochila marrom de couro falso para Avy se ajeitar.

– Coloque o máximo de roupas que conseguir... - disse ela na porta - Tenho que checar o carro.

Nada daquilo fazia sentido algum, assim como a vida de Avery.

Para onde elas iriam? Por que iriam? O que Laureen sabia que Avy não sabia? Tudo estava tão confuso... De qualquer maneira, a garota tinha a forte impressão de o que quer que fosse, tinha a ver com o que aquele garoto dissera à irmã.

A menina trocou-se, vestindo seu típico traje: suéter bordô, jeans e botas marrons de cano alto. Na mochila colocou alguns itens pessoais, e roupas no mesmo estilo. Em seguida caminhou até a cozinha, procurando algo para comer. Perto da bancada, havia uma mochila de Laureen.

Enquanto Avery checava os armários em busca de seu cereal, algo arranhou a porta pelo lado de fora, depois ouviu-se um latido.

Abrir, ou não abrir? Depois do que acontecera da última vez que ficara sozinha em casa, ela se dava o direito da dúvida.

Outro latido e mais arranhões.

Provavelmente era um cachorro que sabe-se-lá-porque queria que ela abrisse a porta. Apesar de questionar-se um pouco, seria muito pouco provável que um monstro se disfarçasse de cão. Aliás, era um cão, e Avy NUNCA rejeitaria um cão.

Ela abriu a porta.

O que viu em sua frente ao olhar para baixo, foi um Husky Siberiano de pelo acinzentado e olhos caramelos a olhando piedosamente. Quando a viu, ele latiu feliz e abanou o rabo.

– Ei, garoto! O que está fazendo aqui?! - perguntou ela, checando se ele tinha alguma coleira ou qualquer outra coisa que o identificasse.

Nada.

Do final do corredor, surgiu Laureen balançando as chaves do carro, quando viu o cão, parou rapidamente e o encarou, fazendo uma cara meio irritada, o que era ligeiramente estranho, primeiro, porque ela também amava cães; e segundo, porque pareceu que ela o conhecia.

o husky latiu para ela, soando como um "oi".

– O que ele está fazendo aqui? - perguntou a irmã mais velha.

– Conhece ele?

Laureen empalideceu por um segundo.

– Éerr... Não! Não que eu saiba...Eu só achei estranho, você não acha? Um husky! Cachorros dessa raça sempre têm donos, e esse não parece ter.

– Realmente... ele não tem coleira, mas sorte a nossa... Ele parece querer dizer algo.

O husky latiu novamente, quase querendo dizer "Sim!"

Laureen suspirou.

– Temos que ir logo - disse ela, entrando e pegando as mochilas - tá pronta?

– não - respondeu Avy.

– Se arrume logo então!

– Eu já terminei de me arrumar, só acho que não estou pronta para o que quer que seja que vamos fazer.

Laureen revirou os olhos.

– Estou descendo, ainda tenho que conversar com a síndica. Vá ao banheiro, tranque a casa e desça também.

– Tá bom, mas... e o cão? - indagou Avery.

– Ele vai também.

Avery fez careta.

– Sério?!

– Sério... Te encontro lá em baixo - respondeu Laureen

–--

– E se ele tiver dono? - perguntou Avy, referindo-se ao cão, que estava sentado ao lado dela no carro, no banco de trás. Quanto mais o observava, maior a sensação de que o conhecia.

Elas já haviam saído de Nova York e agora se infiltravam cada vez mais no interior dos Estados Unidos. O clima era frio e os primeiros raios de sol surgiam no meio de plantas rasteiras de beira de estrada.

– Você vê alguma coleira nele?

– Ahm... Não, mas..

– Então ele não tem dono.

– Não pode dizer se ele tem ou não dono apenas por uma coleira e se...

– Avy... Ele não tem dono!

– Argh... isso tudo é muito estranho...

O carro virou em uma curva e pegou uma estrada rodeada de barrancos.

– Pode pelo menos me dizer onde estamos indo?

Laureen suspirou.

– Avy, eu já disse que...

Ela parou quando o Husky latiu.

– Ok. Estamos indo para uma casa antiga na zona ural de kentucky. .

– O que vamos fazer em uma casa antiga no meio do nada?

– Vai saber quando chegar.

– Não pode me contar agora?

Laureen balançou a cabeça.

– Você nunca entenderia.

A maior parte da estrada era composta por paisagens de plantas rasteiras, e às vezes pinheiros ou eucaliptos, o cheiro de verde era constante, algo que nunca se sentia na cidade de pedra que era Nova York.

Avery rabiscava com o dedo o vidro úmido, enquanto o husky ao seu lado descansava deitado, a olhando e encarando constantemente. E cada vez mais, a sensação de que o conhecia gritava mais alto.

Nos fones de ouvido ouvia uma de suas músicas favoritas.

♫ ♪ I'm not afraid of anything, I just need to know that I can breathe

I don't need much of anything, but suddenly, suddenly

I'm small and the world is big, all around me is fast moving,

Surrounded by so many things, suddenly, suddenly...

How does it feel, to be... Different from me, are we the same?

How does it feel? ♫ ♪

–--

A viagem foi longa e cansativa, elas fizeram 3 pausas durante 7 horas, estradas e centenas de desenhos no vidro embaçado.

Avy já havia cochilado com a cabeça no canto frio da janela e a música ainda ligada nos fones de ouvidos, e acabou acordando com o impacto do carro sobre algo.

Laureen havia entrado em uma estrada estreita de pedras, rodeada por pinheiros altos que produziam um frio e forte vento e bloqueavam toda a luz do sol, deixando tudo escuro.

– Boa notícia: Chegamos. - anunciou ela.

O husky agitou-se e começou a querer andar de um lado para o outro no carro.

– Ei, ei! Conhece esse lugar? - perguntou Avy.

O cão botou a pata sobre o botão, abriu a janela do carro, e colocou a cabeça para fora. Na verdade, ele era bem inteligente para um cachorro.

– Ele parece conhecer esse lugar - repetiu a garota.

Laureen não respondeu, como se fosse novidade ela fazer isso.

Conforme o carro avançava estrada adentro, a imagem de um velho e abandonado casarão de fazenda foi se formando. A madeira já estava podre pela chuva, as janelas quebradas e aos pedaços, e era impossível contar quantas teias de aranha lá existiam.

A estrada de pedra terminava bem na entrada da casa abandonada, a qual era rodeada de pinheiros e via-se colinas em seu horizonte.

Laureen estacionou o carro bem em frente a entrada, desligou o rádio e abriu a porta, preparando-se para descer e pegar as malas e mochilas.

Quando Avy abriu a porta, o cão a atropelou e desceu correndo, como se a vida toda estivesse esperando por aquele momento.

O ambiente cheirava a terra molhada e verde, mas quanto mais se aproximavam da casa, mais o cheiro de mofo e poeira aumentava.

As escadas e o piso rinchavam a cada passo, como se fossem quebrar a qualquer momento, Laureen levou a mão a velha maçaneta prateada quando...

– Espera!- gritou Avy.

Laureen e o cão voltaram um olhar confuso à ela.

– Podemos entrar aí? E se ela tiver um dono? Não pode invadir casas no meio do nada.

– Avy, podemos entrar nessa casa... Nós meio que somos as donas dessa casa - disse a irmã mais velha, em seguida abriu a porta com um rinchado, deixando a pouca luz do sol iluminar a poeira que vagava no ar.

– Nós meio que... O QUÊ? NÓS?! - exclamou a caçula.

– Vai começar a entender melhor as coisas a partir de agora... eu espero.

– Eu também.

O cão correu pela casa, empurrando as janelas e as abrindo.

A casa foi se iluminando, tornando-se visível os pouquíssimos móveis que lá haviam: Na grande sala, um sofá estampado com flores pastéis rasgado e desbotado, uma prateleira vazia com portas de vidro quebradas e uma pequena mesa de centro de madeira toda empoeirada.

No canto esquerdo do local, uma escadaria tão antiga quanto o resto do casarão levava à um segundo andar.

– Uau... - suspirou Laureen, enquanto dava voltas pela sala - esse lugar já esteve bem melhor, envelheceu tanto em alguns anos.

– Já esteve aqui?! - interrogou Avy.

A irmã assentiu.

– Há bons anos atrás, sim. Essa casa era da nossa mãe, antes de, bem, você sabe. Ela comprou pois alegou que passar muito tempo em uma cidade como Nova York não faria bem para nossos pulmões, precisávamos de um pouco de verde.

– O quê?! Então quer dizer que sempre tivemos essa casa... Porque eu só descobri isso agora? Esse poderia ter sido um ótimo lugar para passar as férias de verão. por que escondeu isso?

Laureen suspirou.

– Porque... Porque esse lugar não é seguro, é perigoso, é pior do que imagina.

A confusão voltou a cabeça da garota.

– Perigoso?! Porque seria perigosa?!

– É para explicar coisas como essas que eu te trouxe aqui. - ela fez uma pausa, enquanto olhava em volta. - mas faz tanto tempo... Mal consigo lembrar de onde ficava...

– Onde ficava o quê?

Antes de Laureen poder responder, o husky latiu enquanto subia as escadas, as chamando para junto com ele.

– É claro!- exclamou ela - No segundo andar! - e seguiu o cão, enquanto subia as escadas, o mesmo rinchado podre soava.

Avy balançou a cabeça.

– Com certeza há algo de errado com esse cão. - disse para si mesma.

O segundo andar era tão velho e acabado quanto o primeiro, e cheirava a poeira e mofo. Um corredor central, com papel de parede floral desbotado e manchado, fazia surgir quatro portas de madeira fechadas.

Laureen levou a mão na fechadura de ferro da primeira porta a esquerda, mas antes de abrir, conferiu se Avy estava atrás dela. Assim que confirmou, respirou fundo, como se fosse algo que esperou sua vida toda para fazer.

Ela abriu a porta. Não havia nada no quarto além de um acabado armário retrô que parecia ter saído de um filme medieval, e uma janela com vidros quebrados.

– Avery Holtz - Laureen a chamou. A irmã nunca a chamava pelo nome inteiro, a não ser que estivesse brava, ou a não ser que algo muito sério ou importante tivesse acontecido.

Um frio percorreu a espinha da caçula.

Laureen estava ajoelhada em frente ao armário o observando, complexa. Mas sua preocupação não estava ligada à ele, e sim nas palavras que estava prestes a dizer.

Avery notou o estado da irmã, e se ajoelhou ao seu lado, confusa.

– Você está bem? - ela perguntou. Nesse momento notou o que o olho da irmã estava cheio de água.

– Estou, eu estou. - A caçula pôde sentir uma pitada de indireta na voz. Laureen balançou a cabeça e secou o olho, suspirando.

– Antes de tudo, eu quero dizer que... Eu sinto muito. Não queria que tivesse de ouvir isso.

Avy fez careta.

– Do que é que você está falando? Sente muito por o quê?

Laureen mudou a posição, sentando-se abraçando as pernas, contra o armário.

– Isso é tão difícil, e você é tão nova para compreender... Avy, você sente que as coisas que você enxerga, nem sempre todos vêem, certo?

Essa era a pergunta que ela esteve esperando os últimos três meses. Pela primeira vez, realmente sentiu que Laureen também conseguia ver o que ela via, e isso dava uma sensação de conforto, isto é, saber que não era a única.

– Os animais, o Rodrick-monstro... É isso que você quer dizer?

A irmã assentiu.

– Isso não é por acaso. Você... você tem um destino, e esse destino é... Surpreendente.

Avy estava confusa.

– Do que é que você está falando? Você... Você também vê essas coisas?

Laureen se levantou e empurrou com força o armário para o lado, o estrondo do empurrão parecia corroer a casa e seu piso apodrecido.

– Não. Apenas você vê. Você foi a filha que nasceu com o dom.

O local onde o armário ficara deixara uma marca mais clara em comparação ao piso do restante da casa. E nessa marca havia uma portinhola.

– Sempre acreditou que a mamãe havia partido em um acidente de carro, não é mesmo? - perguntou Laureen.

Avy assntiu.

– Bem, eu não vou dizer que é de fato mentira, mas eu simplesmente não consigo acreditar - Laureen empurrou a portinhola, e debaixo dela havia um baú pequeno trancado com senha. Laureen o destrancou, sussurrando: 2016.

– O ano em que estamos. - comentou Avy.

– O ano em que muita coisa está destinada a acontecer. - completou a irmã.

O baú se abriu, e dentro dele havia uma caixinha retangular e estreita com três estrelas e um espectro, e um cilindro marrom. Laureen pegou o cilindro.

– Sei que a vida toda eu te disse que nossa mãe morreu em um acidente. Não quero que fique brava comigo por que foi o que sempre me disseram, mas sinceramente, nunca acreditei.

– Nossa mãe não morreu em um acidente? - Avy estava se alterando.

– Eu não sei. - Laureen respirou fundo - Nós morávamos aqui, antes de você nascer, você morou também, mas era um bebê com menos de um ano. Eu não acredito no acidente porque alguns dias antes dela "morrer", quando eu tinha sete anos, ela me chamou nesse quarto, queria conversar comigo. E foi a conversa mais estranha que eu já tive... Ela disse que não pertence exatamente a esse universo, e que uma de nós teria a mesma essência. Eu ainda não sei o que ela quis dizer com isso. Tudo o que ela me disse é que quando completassem 15 anos, eu ou você iríamos notar coisas estranhas acontecendo.

– Estranhas como monstros e criaturas? - perguntou Avy.

Laureen assentiu.

– E como não fui eu... - Ela balançou a cabeça - Então naquela noite ela escreveu uma carta e guardou neste cilindro - Laureen entregou o cilindro a Avy - para entregar-lhe quando completasse 15 anos. Boa sorte, eu não faço ideia do que está escrito aí. Depois ela me disse que sentia muito pelo o que estava prestes a fazer, e que com sorte nos encontraríamos de novo.

Avery balançou a cabeça, não acreditando.

– Como, como a mamãe pode fazer isso com a gente? Como ela abandona duas crianças sozinhas no mundo? Ela ao menos tem ideia de como é difícil para nós termos apenas uma a outra? Eu não quero vê-la novamente. - a garota afastou o cilindro.

Laureen suspirou.

– Eu sei que é difícil. Acho que ainda não a perdoei totalmente pelo o que ela fez, Avy. Mas precisa ler o que está escrito.

– Por que? Laureen, você acredita mesmo nessa história? Isso é ridículo! Se era para inventar uma desculpa para se livrar das filhas que inventasse algo que fosse real pelo menos.

Laureen bufou.

– É você que vê criaturas fantasiosas o tempo todo. Avy, você sabe que há algo diferente em você, algo que não é desse universo. Realmente é difícil para você acreditar que existe um porquê por trás de tudo isso?

Avery deu de ombros.

– Eu não queria ser diferente. Só queria ter uma vida normal - ela passou a mão no rosto - o que acontece se eu não ler e deixar tudo para lá?

– Olha, Avy...

Laureen foi interrompida por um garoto magrelo de cabelos encaracolados e óculos que aparecera na porta.

– Matt - disse ela - o buscador de Verídion.

– O o quê - espantou-se Avy - Q-Quem é você? Da onde você apareceu? Laureen você conhece ele?

– A pouco tempo, mais conhece sim. Você também me conhece, Avery Holtz. Aliás, sei bastante ao seu respeito. - A voz pareceu estranhamente familiar.

– Eu estou começando a ficar assustada - disse a menina. Depois se lembrou de onde a voz era - Ei! Você é garoto que conversava com a Laureen ontem!

– Você ouviu nossa conversa?! - Assustou-se a irmã.

– Sim, sou eu. - disse Matt - Também sou o husky, todos os animais que você vira durante os últimos meses, e o dragão que tentou te ajudar durante o incêndio ontem.

– Você é maluco.

Nesse instante, Matt se transformou em todos os animais por vez de forma rápida.

Os olhos de Avy se arregalaram. Como era possível aquilo estar acontecendo? Como ele fazia aquilo? Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Matt a interrompeu.

– Eu sei que parece loucura, mas relaxa. Eu vou te explicar detalhadamente mais tarde. Mas antes você precisa ler a carta.

– Por que é tão importante que eu leia a carta?

– Por que isso pode ajudar a decidir o destino do meu universo. Pode nos salvar ou nos destruir. É uma era que está em jogo.Você não deve estar entendendo nada, então leia a carta.

Tudo o que Avery queria era estar em sua cama dormindo, queria acordar na sua vida normal. Sem animais , sem monstros, sem irmã esquisita, sem menino estranho sobrenatural. Ela ainda estava tentando convencer a si mesma de que era um sonho maluco.

Ela abriu o cilindro e desenrolou a carta. O papel era velho e amarelado, mas o mais surpreendente era o que estava registrado nele: Símbolos e mais símbolos estranhos, linhas curvas e desenhos, como uma escrita desconhecida.

– O que é isso?- indagou ela - não posso ler isso, eu.. eu não consigo.

Matt aproximou-se e ajeitou os óculos.

– É uma escrita secreta.

– Não entendo isso, não consigo ler.

Matt espremeu os olhos.

– Tem certeza mesmo?

Avy fez careta e voltou a encarar a carta. De forma impressionante, ela percebeu que na verdade entendia exatamente todos os símbolos. Na cabeça dela, era como se já tivesse os visto em algum lugar, eles se juntavam e formavam palavras completas.

– Eu..eu entendo- ela disse, surpresa com si mesma. - Como?

– Está no seu sangue. - respondeu Matt.

Avy assentiu e leu em voz alta:

Cara Avery ou Laureen,

Se alguma de vocês estiver lendo isso, deve ter acabado de completar 15 anos. E junto a isso deve ter percebido coisas estranhas acontecerem. Provavelmente tem visto criaturas místicas o tempo todo, o típico jeito Verídion de aprovar alunos. E talvez eu não esteja com você.

Eu vou explicar melhor: Existe um universo paralelo a esse, um universo em que os humanos nem imaginem que exista. Eu pertenço a esse universo, e uma de vocês pertencerá também, e terá um grande destino pela frente.

Talvez você tenha herdado poderes, mas ainda não tenha os descoberto. Seus poderes serão muito fortes, está no seu sangue, você será incapaz de controlá-los sozinha, e por isso, precisará estar em Verídion antes que seja tarde.

Talvez você ache que ainda está cedo, aliás, você nem tem poderes ainda. Mas não é cedo. Você possui um destino importante em Verídion, precisa vivê-lo. Além disso, a essa altura as sombras já devem tê-la descoberta, e elas irão até você, e para sua segurança precisa estar em boas mãos.

Existe um castelo chamado Verídion. Ele é a escola de adolescentes guardiões. Adolescentes com poderes fantásticos, onde os treinam e vivem em segurança, e para lá que você irá.

Talvez você nunca precise ler essa carta. Prometi a mim mesma que estarei contigo quando esse momento chegar. Mas por precaução, resolvi escrevê-la.

Estou indo agora por meio de convocação ajudar um reino em perigo. Um monstro deve ser jogado no abismo. Você e sua irmã estão dormindo no quarto. Prometo voltar antes do amanhecer.


Com amor, mãe.


– Ela não voltou antes do amanhecer. - disse Avy. Mal tinha percebido os olhos cheios d'água.

– Ela morreu lutando para salvar outras pessoas. Tenho orgulho disso - completou Laureen.

Matt respirou fundo.

– Sinto muito....Bem, eu vou deixar vocês sozinhas, depois nós conversamos mais - disse Matt, vendo o clima e o estado delas.

– Não - disse Avy, levantando e secando as lágrimas - ela queria que eu fosse para Verídion o quanto antes, pois então é o que será feito.

– É legal você pensar assim, Avy - disse Matt - mas teremos que deixar para ir amanhã de manhã, a essa hora as portas já se fecharam.

Avy olhou para a janela do quarto. Ela nem percebera que já era noite.

– Ótimo - disse Laureen - então dormimos aqui e vocês saem amanhã de manhã.

Eles assentiram, e depois de um tempo, Matt disse:

– Assim teremos tempo para esclarecer algumas dúvidas.

– E eu tenho muitas.


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