“You can't hear me cry

See my dreams all die

From where you're standing

on your own

It's so quiet here

And I feel so cold

This house no longer

Feels like home”

(So Cold - Ben Cocks)

Percy POV

Há certas coisas na vida que simplesmente acontecem. Não podemos remediar, não podemos evitar, não podemos escolher, não podemos… E assim foi o meu amor por Annabeth e a nossa trajetória. Até agora. Até hoje. Completamos 2 meses desde que assumimos estar namorando de verdade, sem aquela mentira idiota. Mas aparentemente isso não importava mais. Nada importava mais. Pois como eu disse. As coisas simplesmente aconteceram.

— Me solta! - Annabeth gritava. - É mentira! Vocês não está vendo que essa vadia só quer nos prejudicar? Ela não pode ver uma felicidade perto dela que decide arruinar!

— Cala a boca, Annabeth! Chega! - Afrodite se alterou pela primeira vez naquela sala repleta de familiares, prontos para ouvir uma notícia de Atena e meu pai, quando Anfitrite entrou com Rachel e jogou uma bomba, facilmente digerida pela família, sem questionamentos. - Nunca achei que você e Perseu seriam capazes de fazer isso comigo! Conosco! Vocês fingiram este tempo todo estar namorando! Até aquele dia em que os flagrei na cama!

Minhas bochechas rosaram de raiva e vergonha, subitamente me lembrando de minha primeira vez com Annabeth. Tudo estava tão bom nesses meses para ser verdade!

— Ouça, Anfitrite. - Atena respirou fundo, ainda segurando Annabeth longe de mim e meu pai me segurando do outro lado do cômodo. - Não vai ficar assim. Eu sei que você fez isso para se vingar, mas eu também sei jogar. ENTENDEU? - ela terminou gritando e Anfitrite só sorriu revirando os olhos. Idiota!

— Pai, você precisa me ouvir. Acredita em mim! - meu pai nem me olhava nos olhos, apenas me segurava forte. - Não é possível que vocês acreditem! - gritei e todos me encararam.

Rachel apertou um botão em seu celular e sorriu em minha direção. Tudo o que eu falara para Annabeth sobre o namoro falso, exceto as partes boas, apareciam no maldito áudio. Eram provas dela, contra eu e Annabeth. Então eu simplesmente me soltei e encarei cada rosto daquela sala. Cada familiar. Cada amigo. E por fim encarei Annabeth, sorrindo para ela, fraco como eu me sentia por dentro.

— Eu te amo, Annie. Que pena que nossa família não acredita. E repete-se a história dos Jackson e dos Chase. Graças a essa daí.

E saí da casa de Zeus, batendo a porta, enquanto ouvi a algazarra lá dentro começar.

Annabeth POV

Eu já tinha desistido de falar qualquer coisa para aquelas pessoas que se diziam minha família. Imaginei que pelo menos a minha própria mãe acreditaria em mim, ou Poseidon, por terem passado por uma situação ruim no passado. Mas eles foram os piores. Eu e Percy seríamos trancados em casa pelo resto das férias, sem poder nos ver, além deles terem terminado o nosso relacionamento.

Portanto, eu caminhei sozinha para casa, já que minha tia Afrodite, nem nenhum ser daquele ambiente queria realmente conversar comigo. Exceto…

— Rachel. - murmurei ao ouvir passos atrás de mim.

— Oi, oi, Annie! Como vai? - ela gargalhou e parti para cima dela, jogando-a no chão. - Me larga, sua vadia! - ela grunhiu e apertei seu rosto nas minhas mãos, deixando minhas unhas furarem suas bochechas.

— O que você quer? Você quer o Percy? Porque se você ouviu bem aquele dia, depois dessa babaquice que você gravou pra todo mundo ouvir, deve ter notado meus gemidos. Os gemidos dele. Nossos beijos.

Ela se remexeu e sorri, cuspindo na sua cara em seguida. Então, ela me desequilibrou e conseguiu ficar em cima de mim. Meus cachos prenderam em seus dedos e lágrimas correram pelos meus olhos.

— Ele vai ser meu. Ainda hoje. Quando você estiver deitada na sua casa, vai sentir a angústia de não saber o que está acontecendo com o seu namorado. E aí, não vai poder sair. E vai aprender finalmente, que mentir é feio Annabeth. Mentir… - ela passou as unhas e gritei sentindo um corte na minha bochecha. - É muito feio.

Rachel se levantou e me puxou pelos cabelos, até que vi alguém vindo, sentindo uma vertigem, meus olhos embaçados e um enjoo horrível. Meus olhos focaram Anfitrite, que sorria meio cansada e me encarava como se fosse lixo.

— Pare com isso, Rachel. Vou levá-la pra casa, você segue com o plano, ok?

— Vai acontecer? - a ruiva perguntou quase maligna enquanto eu me levantava, mas caía novamente pela tonteira, sendo segurada pela madrasta idiota de Percy, que me impediu de gritar quando tentei.

— Vai acontecer. Quando terminar, me encontre na minha casa. Estaremos protegidas lá.

Rachel sumiu em um segundo e tentei falar.

— O que vão fazer? - perguntei e Anfitrite ouviu, sorrindo.

— Você vai ver, Annie. Ou melhor, vai sentir.

Atena POV

— Afrodite foi checar se eles estão em casa. Devem estar, coloquei seguranças para ficar de olho neles. Ainda não acredito, Poseidon. - deixei as lágrimas que eu segurava há horas caírem. Meu namorado rapidamente veio me abraçar.

Todos tinham ido para suas casas, depois de saírem incrédulos.

— Nem eu, Atena. São nossos filhos e não os criamos assim. Mas vamos acertar isso agora. Fique tranquila.

— Eu fiz o maldito jantar para contar a grande notícia e todos saíram sem saber, Poseidon! - eu chorava mais do que antes. Andava muito sensível. Chorando por nada, me irritando facilmente com Annabeth, com muita fome, enjoos e tonteiras. Achei até que fosse uma gripe, pois Annabeth estava do mesmo jeito, mas…

— Não se desespere, meu amor! Não é o fim do mundo. Você quer que nosso filho fique bem?

— Você sabe que sim. - funguei e sorri, enquanto ele secava minhas lágrimas. - Ei, pode ser uma menina.

— Ou… pode ser uma menina e um menino. - ele se aproximou de mim no sofá e ri.

— Ou duas meninas. - o beijei e suas mãos foram para minha cintura, passando pleo meu corpo e me pegando no colo.

— Ou dois meninos. - completou e nos beijamos, até alguém pigarrear.

— Pelo amor de Deus. Depois dessa noite, vão pra casa, transar lá. Não na minha sala. - Hera apareceu e resmungou, nos fazendo rir, mas sair correndo pela porta da frente.

De primeira, estranhei o Condomínio. Estava quieto demais, silencioso demais. Eu podia ouvir as batidas do meu coração e minha respiração misturada a de Poseidon. Mas notando minha preocupação de gestante, ele me abraçou e me fez andar.

— Está tudo tão quieto. - comentei e ele deu de ombros.

— Você esqueceu que todos estavam gritando há pouco. Devem estar chocados, apenas isso.

— É. Impressionante Annabeth não estar me ligando o tempo todo, ou me xingando, ou coisas do tipo.

— Talvez ela saiba que você não deve se estressar estando grávida, amor. Fique calma. Está tudo bem.

Paramos no meio da rua e ele me beijou. Mesmo estando há um tempo com Poseidon, cada beijo parecia o primeiro. Cheio de paixão, desejo, carinho e conforto. Era sempre incrível. E agora, carregando o filho dele na barriga, mesmo com poucos meses, eu sentia parte dele em mim. Como se para cada lado que eu fosse, tivesse certeza do amor de Poseidon e isso era maravilhoso para mim. Depois de tudo que passamos, era quase como casar com ele. O que eu planejava em segredo, já.

— Acho… que… devíamos… - ele disse entre os beijos.

— Ir para sua casa. - completei e ele riu, me colocando nas costas.

— Espero que Percy esteja dormindo.

Narradora POV

Tudo estava quieto no Condomínio. Exceto pelas cabeças dos moradores, cheia de problemas, angústias, amores, etc. Rachel, a ruiva e rival de Annabeth Chase, entrava na casa de Anfitrite. O plano estava ativado. Tudo começaria em 4… 3… 2… 1…

— Está ouvindo? - Anfitrite gargalhou, com uma roupa especial preta. Um revólver vinha em sua cintura, estava literalmente “pronta para matar”.

— Sim. Não posso ir assistir não? - Rachel pediu e a adulta negou, lhe revirando os olhos. - Pelo menos filme e me mostre. Quero ver a queda das Chase ao vivo. POR FAVOOOOOR! - implorou a ruiva, cheia de veneno em seu corpo.

— Não pode ir, Rachel. Quer estragar tudo? Filmarei com certeza. É a cena que imagino desde que os separei da primeira vez. Poseidon e Perseu são idiotas de não nos valorizarem. Amam as problemáticas das Chase, enquanto nós estamos aqui. Mas hoje, tudo vai mudar, Rachel.

As duas riram, Anfitrite deixou a casa, mas seu erro foi deixar a porta destrancada. Afinal, Rachel sempre fora incontrolável.

O telefone de Perseu tocou antes que seu pai chegasse em casa. Ótimo, pensou. Agora ele poderia atender sem ter de passar pela inspeção do castigo. Mas nada ouvia na chamada com Annabeth. Apenas uma respiração forte do outro lado da linha, que o amedontrou mais que tudo. Colocou uma roupa decente e desceu as escadas correndo, largando o celular na cama, com a chamada rolando.

Quando ia sair, ouviu o pai com Atena e correu para a porta dos fundos, o mais rápido que pôde. Chegou a rua e caminhou vagarosamente. Teria piorado a gripe de Annabeth? Se aproximava da casa de Annabeth, quando um som alto e forte o fez arrepiar. Percy nunca tinha escutado aquilo antes, mas sabia que era perigoso. Olhou em volta procurando a fonte do barulho e não encontrou. Não até ouvir um grito conhecido: Annabeth!

O garoto correu o máximo que pôde, mais recuou ao ver uma figura toda de preto dentro da casa. E na porta da casa estava ela. Cabelos cacheados caídos espalhados no chão ensanguentado, expressão fria e assustada. A ruiva. Rachel E. Dare. Tão morta quanto estaria Annabeth em breve, ou todos daquele condomínio.

Mas Anfitrite tinha avisado a Rachel para não sair. A garota não ouvira e seu plano não podia falhar. E não falharia. Todos os atiradores já estavam dentro do Condomínio. Perseu estava certo. As coisa simplesmente… acontecem.