Cursed escrita por Creature


Capítulo 7
V - How to train your three-headed hellhound


Notas iniciais do capítulo

YOOOOOOOOOOOOO. Como vão vocês?
Esse capítulo é dedicado a todos os fãs de mitologia grega &&&& de Percy Jackson que, como eu, amam o Hades e seu jeito único de ser. A-do-ro escrever sobre os deuses, porque gosto de dar personalidade a eles e são personagens muito abertos. Dá pra fazer qualquer coisa.
Anyway, apenas pra tirar uma dúvida que eu imagino que algumas pessoas possam ter, eu fui fazer as contas certinho, e já que na fic o James nasceu por volta de 1700, ele tem uns 318 anos. Na verdade, a idade dele é só número. A maldição conservou ele com 18 anos de idade, então ele nem ao menos sente que é velho. Parte da maldição é que ele só pode voltar a envelhecer como uma pessoa normal quando a maldição for quebrada, mas então ele envelheceria para 19 anos, e não 319, porque a juventude dele foi congelada no tempo quando ele tinha 18. Basicamente, a idade do James é teórica. Na prática, ele é jovem.
Queria eu ser amaldiçoada pra ficar bonita, rica e famosa pra sempre. Eh, whatever.
Enjoy!



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How to train your three-headed hellhound*

*"Como treinar seu cão infernal de três cabeças". Referência a HTTYD (Como treinar seu dragão). 

Lily Evans

Eu estava exausta. Havíamos passado a maior parte do dia enfiados na biblioteca da casa tentando descobrir onde Hades poderia estar localizado. Apesar de todas as informações que Cyprian havia dado, a localização de Hades ainda era muito vaga. Algum lugar entre a Inglaterra e a França poderia ser literalmente qualquer lugar.

Lene bufou, jogando um livro antigo sobre mitologia grega pra cima, atingindo o focinho de Sirius na sua forma canina.

— Vocês fazem ideia de quanta coisa existe entre a Inglaterra e a França? Hades poderia estar em qualquer lugar.

— Cyprian disse que ele estava escondido no subterrâneo. – Dorcas falou, analisando um dicionário Inglês-Francês Francês-Inglês como se a conversão das línguas fosse nos ajudar em alguma coisa.

— Brilhante. – Murmurei, frustrada. – Podemos passar os próximos vinte anos escavando todo o caminho entre a Inglaterra e a França.

— Não todo o caminho. – Dorcas deu de ombros. Lene e eu a encaramos como se ela fosse maluca. – Só precisaríamos escavar daqui de Oxford até Folkestone.

Franzi a testa.

— Folkestone? Por que Folkestone?

Dorcas rolou os olhos.

— Em que século vocês duas vivem? Folkestone, Kent, na costa do Reino Unido? – Ela rolou os olhos mais uma vez quando percebeu que eu e Lene parecíamos ainda mais confusas. Senti algo molhado encostar em mim, e percebi que James havia tocado o focinho no meu braço. De repente, o cervo, o cão e lobo começaram a prestar atenção na conversa. – O Canal da Mancha, gente. Há um trecho já escavado que liga Folkestone a Calais. Basicamente, liga a Inglaterra à França. Vão me dizer que vocês nunca ouviram falar do Eurotúnel?

James me cutucou com o focinho, como se tivesse se dado conta de algo. Eu o encarei, e de repente percebi, também. O Eurotúnel. É claro. O túnel ferroviário que ligava a Inglaterra à França, com o maior trecho submarino de todos os túneis do mundo. As palavras de Cyprian ecoaram na minha cabeça. Hades se esconde no subterrâneo, em algum lugar entre a Inglaterra e a França.

Fácil como tirar doce de criança.

Estalei os dedos de repente, chamando a atenção de todos na biblioteca.

— O Eurotúnel. Dorcas, você é um gênio.

Dorcas inclinou a cabeça.

— Eu sou?

O cervo e eu nos entreolhamos antes que eu começasse a falar.

— Cyprian falou que Hades se escondia em algum lugar entre a Inglaterra e a França, certo? Ele também falou que era no subterrâneo.

O corpo do lobo cinzento tremeu antes que Remus tomasse o lugar antes ocupado por ele. Os olhos dele brilhavam de maneira curiosa.

— Sei onde quer chegar. Faz sentido. Esse tal Eurotúnel é no subterrâneo, e, pelo que a Dorcas falou, liga a Inglaterra à França. No subterrâneo, em algum lugar entre a Inglaterra e a França. Bem pensado, Lily. Brilhante.

Lene levantou-se de repente, como se tivesse se dado conta de uma coisa.

— Cyprian disse que Hades só nos atenderia depois da meia-noite, e que nós entenderíamos o porquê quando descobríssemos onde ele se esconde. Dorcas, você por acaso tem alguma ideia de até que horas o trem no Eurotúnel funciona?

Dorcas sorriu, compreendendo a linha de raciocínio.

— O último trem parte à meia-noite.

Senti algo tremer perto de mim e de repente James estava humano de novo, sentado ao meu lado.

— Faz sentido. Hades não apareceria por lá antes de o túnel fechar. Ele não correria o risco de ser visto.

Sirius transformou-se em humano também.

Brilhante. Eu disse para o James que você aparecer foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, ruiva, mas é claro que ninguém nunca me ouve e-

O que quer que ele fosse falar foi interrompido, porque James jogou um exemplar de Mito ou realidade? Descubra se tem um deus vivendo perto de você! na cara dele, fazendo com que ele caísse para trás.

— Faça um favor à humanidade e cale essa boca uma vez na vida, Sirius.

Passamos um bom tempo rindo antes que voltássemos a focar na missão. Talvez fosse porque havíamos superado o primeiro obstáculo, ou talvez porque ali, no meio daquelas pessoas, me sentisse mais viva do que nunca, mas por alguma estranha razão, eu estava feliz.

***

Partimos para Folkestone naquela mesma noite. Com James, Sirius e Remus limitados às suas formas animais, não tínhamos chance alguma de pegar um avião, então demos sorte de Folkestone estar a apenas duas horas e dezenove minutos de Oxford, se fossemos de carro. Pra falar a verdade, não fizemos nada de muito produtivo durante o percurso. Lene, Dorcas, Sir Dumbledore e eu jogamos Eu nunca, e foi assim que Lene descobriu que seu tataravô havia se recém-descoberto gay.

Chegar a Folkestone não foi difícil. Muito menos achar o terminal do Eurotúnel. O problema seria entrar acompanhadas de três animais, então Sir Dumbledore sugeriu que montássemos acampamento em umas árvores não muito longe do terminal e só entrássemos a meia-noite, o que significava que teríamos que arrombar e driblar a segurança.

Ou pelo menos era o que eu queria ter feito. Sempre acreditei que arrombamentos fossem parte importante de aventuras, mas Sir Dumbledore não pareceu concordar quando nos teleportou para dentro do terminal. Apesar de estar ligeiramente (bastante) desapontada por não poder usar minhas (ótimas) técnicas de arrombamento ou meu charme (incrível) com os seguranças, me conformei certo tempo (dois anos) depois.

Não havia luz nenhuma ligada no lado de dentro do terminal, então Lene acendeu a lanterna para que pudéssemos olhar em volta. Aparentemente, estávamos naquela parte da estação em que supostamente deveríamos esperar pelo trem, logo de frente para os trilhos. Mas isso era tudo o que havia lá. Horários de embarque e desembarque pendurados nas paredes, trilhos de trem sem trem nenhum e uma lojinha de conveniência cujo slogan era Compre aqui, não na França.

— Ao que parece, algumas rivalidades nunca morrem. – A voz de Sirius soou, e só então notei que os meninos haviam voltado para a forma humana.

— A sua com o Remus, por exemplo. – James soltou, antes que Remus o atingisse na cabeça com uma lanterna. – Ouch.

Rolei os olhos antes de olhar ao redor novamente. Apesar da ideia parecer absolutamente brilhante mais cedo, agora não tinha mais certeza se estávamos no lugar certo. Não parecia haver indicação alguma de onde Hades pudesse estar. Uma placa Olá! A morte é por ali não faria mal algum.

— E então, o que nós devemos fazer agora? – Sirius perguntou, enquanto saía pela porta de vidro da lojinha de conveniência segurando uma camisa que dizia Eu amo a Inglaterra.

Definitivamente não deveríamos estar assaltando a loja, Padfoot.

James me olhou como se dissesse É disso que eu estou falando. Rolei os olhos, mas sorri.

Cara – Sirius falou, e de repente ele se parecia com um filhotinho que tinha caído do caminhão de mudança. – Ninguém ama tanto a Inglaterra quanto eu. Meu melhor amigo é a Inglaterra. Não acha injusto que eu não tenha uma dessas? Quero dizer, eu nem ao menos estaria aqui se não fosse pela Inglaterra.

Remus rolou os olhos, mas antes que pudesse falar alguma coisa Dorcas soltou um gritinho.

— Vocês ouviram?

— Ouviram o quê? – Perguntei, enquanto observava James tentar separar Sirius e Lene, que pareciam estar entretidos em uma brincadeira de cabo de guerra com a camisa roubada.

Remus aproximou-se de nós, e de repente sua orelha tremeu e foi substituída por uma orelha pontuda e peluda. Uma orelha de lobo. Ele inclinou a cabeça, tentando escutar.

— Dorcas tem razão. Parece ser o barulho de um trem.

Ergui uma sobrancelha.

— Um trem? Mas não era para o terminal estar fechado?

— E está. – Dorcas falou, apontando para o trem com uma expressão de puro choque.

Apenas entendi quando olhei.

Definitivamente não era um trem normal.

O trem era completamente preto, quase impossível de ser visto no meio daquela escuridão. Uma névoa estranha o envolvia, e então percebi que o trem não estava nem ao menos encostando nos trilhos. Ele estava andando na névoa. Quando ele chegou mais perto, pude ler as palavras Morte Express UK. A última viagem da sua vida! gravadas na lateral. Um slogan criativo, mas eu duvidava que atraísse muitos clientes.

O Morte Express parou bem na frente de onde estávamos, e a porta da cabine se abriu, revelando um homem alto, coberto por uma capa cinzenta e com uma expressão claramente entediada.

— Meu nome é Caronte. Vocês têm uma audiência com o deus da morte. Meus parabéns.

Sirius inclinou a cabeça como o cachorrinho que ele era.

— Caronte? Tipo, o Caronte? – Quando o cara assentiu, Sirius fez uma expressão duvidosa. - Cara, você não conduzia um barco?

Agora que ele havia mencionado, me lembrei da lenda. Caronte era o barqueiro do Mundo Inferior, então porque diabos ele estava conduzindo um trem?

— Não aqui. Trens são muito mais econômicos.

Sirius ergueu uma sobrancelha.

— Em que mundo um trem é mais econômico que um barco?

Caronte bufou.

— Na Inglaterra. Vamos logo, não tenho a noite toda. Vão entrar ou vou ter que matar vocês para que não tenham escolha a não ser vir comigo?

E como nós gostávamos muito das nossas vidas, entramos no Morte Express UK conduzido por seu maquinista do mal.

Olhando pela janela, tive certeza de que o trem se movia pela névoa, e não pelos trilhos. Lene, Dorcas e eu nos entreolhamos, e senti um arrepio percorrer todo o meu corpo.

O trem parou tão rápido quanto havia começado a andar, e quando as portas se abriram, Caronte nos deu um último aviso.

— Não o irritem. Hades está tendo um dia muito ruim.

— Se eu morasse aqui, também estaria tendo um dia muito ruim. – James murmurou, fazendo com que eu rolasse os olhos e socasse o braço dele.

Então entendi a que ele estava se referindo. A entrada para o esconderijo de Hades era assustadoramente fora de moda. Não que eu entendesse muito sobre o assunto, mas Lene fez questão de ressaltar que estalagmites e estalactites não combinavam com aquele lustre feito do que eu achava serem ossos humanos, e que ela esperava pelo bem de Hades que algum designer de interiores se juntasse ao mundo dos mortos logo, logo.

O salão central do esconderijo era imenso, com esqueletos armados com lanças, espadas e, estranhamente, sabres de luz guardando cada canto do salão. E sentado em um trono feito de ossos, usando uma camisa com os dizeres Jet’aime France ("eu te amo, França") e com dois cães imensos e assustadores deitados aos seus pés, estava o cara que eu assumi ser Hades.

— Ele se parece um pouco com o Mick Jagger. – Lene falou, dando de ombros.

— E não tem cabelos que pegam fogo. Sinto-me enganada. – Dorcas bufou, referindo-se à versão de Hércules da Disney.

Hades soltou um muxoxo.

— Então suponho que ninguém vá se ajoelhar e beijar os meus pés ou algo do tipo.

— Cara – Sirius falou, e eu tive o súbito desejo de mandar ele calar a droga da boca. — Isso aí embaixo do seu pé é uma caveira?

Hades olhou pra baixo, como se só tivesse se dado conta do fato naquele instante.

Oh, esse é o rei Louis, da França. Ou o que restou dele, pelo menos. Pobre Louis separou-se do corpo quando foi decapitado.

A caveira bateu os dentes, como se concordasse com o que o deus da morte tinha a dizer. Hades abriu os braços, e seu sorriso era tão frio que senti um arrepio percorrer minha espinha.

— Eu sou Hades, governante do Mundo Inferior, deus da morte, pai e marido nas horas vagas, etc. – Ele piscou, e seus olhos eram completamente negros e desprovidos de qualquer emoção, apesar do seu senso de humor ser admirável. – O que acharam do meu lar temporário?

— É pra ser honesta? – Lene sussurrou, e Remus lhe deu uma cotovelada nas costelas.

Antes que Hades pudesse falar qualquer coisa, um homem materializou-se no salão. Era baixo, não chegava aos 1,70 de altura, usava uma camiseta com os dizeres Hades é irado e um chapéu esquisito na cabeça. Não percebi de cara quem ele era até Hades falar seu nome.

— Conhecem meu novo melhor amigo, Napoleão?

Engasguei.

Napoleão Bonaparte.

O melhor amigo do deus da morte era Napoleão Bonaparte.

Yo, H. Yo, amigos do H. – Napoleão falou, e só então percebi que ele usava óculos escuros, apesar da caverna ser quase que completamente escura e estarmos no meio da noite.

Hades sacudiu a mão com desdém.

— Ainda estamos trabalhando nisso. Eu expliquei a ele que bonjour estava fora de cogitação. Nem mesmo os franceses ainda usam o bonjour.

James, Sirius e Remus olharam para mim em busca de respostas, e de repente me dei conta de que eles não tinham ideia de quem era Napoleão. Quando Napoleão nasceu, eles já haviam sido amaldiçoados.

— Napoleão Bonaparte foi um líder político e militar durante os últimos estágios da Revolução Francesa. – Dei de ombros, porque eu realmente não achava que Napoleão houvesse sido grande coisa.

— Franceses. – Sirius murmurou em meio a um rosnado. – Nunca estão felizes.

Remus parecia prestes a falar alguma coisa, mas então uma exclamação de pura tristeza ecoou pelo salão e Napoleão caiu no chão em posição fetal, abraçando os joelhos em encontro ao peito e balançando-se de um lado para o outro enquanto murmurava Avant-garde avant-garde avant-garde touché! Avant-garde avant-garde avant-garde.

Hades levantou-se do trono, e só então me dei conta de que ele tinha pelo menos uns cinco metros de altura. Seus cães se levantaram de repente, e senti meu coração parar ao perceber que os olhos deles pegavam fogo.

— Olhem só o que vocês fizeram com ele. – Hades rosnou, frustrado. – Toda essa coisa da Revolução ainda é um assunto muito delicado. Ah, por eu mesmo, se não quisesse quebrar essa maldição tanto quanto vocês, os incineraria aqui mesmo.

Ele começou a andar de um lado para o outro enquanto falava.

— Suponho que o peru já tenha lhes dito como a maldição funciona. Pois bem, a peça que tenho deve indicar a localização do próximo deus. Agora, quanto à chave... – Um sorriso malicioso brilhou em seu rosto, e de repente desejei que nunca tivesse entrado naquele trem. – Vocês terão que pegá-la.

Quando ele ergueu os braços, fomos envolvidos pela mesma névoa que envolvia o Morte Express, e de repente estávamos em uma caverna muito mais apertada e o deus da morte tinha desaparecido.

Se sobreviverem, poderão pegar a chave, a peça e prosseguir com a missão. - A voz de Hades ecoou pela caverna, ainda que ele não estivesse em nosso campo de visão. - Se falharem, no entanto... Bom, suponho que passaremos um bom tempo juntos. Mas o que é a eternidade quando se é imortal, não é mesmo?

O cão de três cabeças apareceu antes mesmo que a risada de Hades desaparecesse junto com sua voz. Ele devia ter uns dez metros de altura, e cada uma das três cabeças parecia mais furiosa que a outra. Era algo como um Rotweiller gigante com duas cabeças de brinde. Os olhos vermelhos brilhavam quase tanto quanto os dentes, e as bocas dele espumavam como se estivesse com raiva. O pescoço do meio tinha uma enorme coleira de couro vermelha com um pingente dourado em formato de ossinho em que se lia o nome dele. 

— Cérbero. – Murmurei, talvez um pouco mais impressionada do que assustada, devo admitir. Cara, era um cachorro de três cabeças. Qualquer um ficaria ligeiramente impressionado.

— Ali. – Dorcas apontou para o pescoço do cachorro. Foi só então que eu notei a brilhante chave dourada pendurada na coleira da cabeça do meio.

Lene suspirou, dando de ombros.

— É, foi divertido enquanto durou. Boa sorte, meninos. Espero que achem um zoológico confortável para viver.

Antes que ela pudesse cogitar a possibilidade de fugir, eu a segurei pela blusa e bufei.

Uh-uh. Se eu fico, você fica.

Ela agarrou minha mão e começou a me arrastar para a saída da caverna.

— Tudo bem, então nós duas vamos.

Antes que ela pudesse dar um passo para fora, Napoleão (já recuperado do seu choque emocional, fico feliz em ressaltar) e dois esqueletos vestidos como oficiais franceses bloquearam a saída.

Non. — Ele falou, mas eu não me sentia capaz de levar a sério qualquer um que usasse uma camisa Hades é irado, mesmo que fosse Napoleão Bonaparte. – Vocês non escaparrr. Vocês lutarrr, oui?

Lene rosnou tão bem que o próprio Sirius fez uma careta de orgulho. Até mesmo Napoleão Bonaparte se encolheu. 

— Eu vou quebrar a sua cara se não me deixar passar, monamour.

Napoleão sacudiu a cabeça freneticamente e apontou para o cachorro.

Non. Vocês lidarrr com Cérrrberro. Enton poderron escaparrr.

Lene bufou, mas eu apenas a arrastei até onde os outros estavam e lhe fuzilei com o olhar.

— Não podemos desistir agora. A chave está bem ali. Tudo o que temos que fazer é enfrentar um cão gigante de três cabeças. Cérbero sempre é o monstro fácil nos filmes.

Dorcas rolou os olhos.

Nos filmes, Lily.

James ergueu a mão para nos silenciar.

— Lily tem razão. Estamos perto demais para desistir. Ele pode ter três cabeças, mas nós temos seis. Só precisamos trabalhar juntos. Além disso, não acho que ele esteja tentando nos matar.

Cérbero rosnou, como se dissesse Do que esse idiota está falando? É claro que eu estou tentando matar vocês!

Sirius bufou.

— Sabe o que eu acho? Que Hades é maluco. Ele nos tranca aqui com seu bichinho de estimação de três cabeças e não nos dá nem ao menos uma arma?

Remus estalou os dedos, como se tivesse se dado conta de algo.

— É isso. Talvez isso seja parte do teste. Talvez violência não seja haja a resposta. Hades quer que usemos a inteligência para vencer Cérbero, não a força.

Os olhos castanho-esverdeados de James brilharam, e por um momento ele estava exatamente igual ao meu cervo, mesmo que na forma humana.

— Bem pensado, Moony. Não precisamos ser mais fortes que ele, só mais inteligentes.

— Bem, sinto muito por decepcionar vocês, mas essa coisa é muito mais inteligente do que vocês pensam. – Sirius falou, encarando a cabeça do meio de Cérbero.

— Como sabe disso? – Perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Porque eu sou um cachorro também. Entendo o que ele está dizendo. – Ele rolou os olhos, e de repente a resposta me iluminou como aquela lâmpada que aparecia nos desenhos animados.

— Já sei! – Exclamei, e todos os outros me encararam. – Sirius, porque você não tenta conversar com ele? Peça a ele pra te dar a chave. Ele deve ouvir você.

Sirius rolou os olhos novamente.

— Oh, claro. Com licença, Cabeça nº 2, será que você poderia, por favor, me entregar essa chave pendurada no seu pescoço? Realmente brilhante, Lily.

Antes que eu pudesse retrucar, James deu de ombros.

— Vale à pena tentar. Estamos abertos a sugestões.

Sirius o encarou como se ele tivesse algum tipo de demência, e eles pareciam travar uma discussão através de olhares. Sirius parecia irritado. Me senti levemente culpada, porque sabia que não era a primeira vez que eles brigavam por algo que eu tivesse dito. Por fim, Sirius suspirou derrotado e andou até o cão de três cabeças, transformando-se em cachorro no caminho. Sirius latiu alguma coisa para Cérbero, e as três cabeças se entreolharam e pareceram debater o assunto por um segundo antes de sentar-se no chão. Sirius latiu mais uma vez, o olhar focado na chave pendurada no pescoço da cabeça do meio. Cérbero latiu de volta, e quando Sirius retrucou, as três cabeças rosnaram. Sirius ergueu as orelhas, alarmado, e rosnou de volta. Quando percebi que aquilo estava prestes a dar muito errado, já era tarde demais.

A cabeça da esquerda avançou para cima de Sirius, que se esquivou por pouco. À minha esquerda, James começou a escalar a parede de rochas da caverna. Não tinha ideia do que ele pretendia fazer, mas parecia uma ideia estúpida. E era. James pulou de cima de uma pedra e aterrissou em cima do cachorro infernal, agarrando-se firmemente aos pelos da cabeça do meio. Cérbero – que havia conseguido encurralar Sirius contra uma parede – voltou toda a sua atenção para James.

Corri para onde Sirius estava e o ajudei a se levantar – aparentemente, a Cabeça nº 1 havia conseguido arrastá-lo por uma das patas traseiras, e por isso ele não teve como fugir. Remus transformou-se em lobo e pulou, agarrando a orelha de uma das cabeças com os dentes. Cérbero começou a sacudir-se com ainda mais força, tentando livrar-se de James e do lobo. Eu senti que precisava fazer alguma coisa. Não faça isso, há maneiras melhores de morrer. Mas eu ignorei a voz da minha consciência e joguei um urso de pelúcia em Cérbero – porque todos nós havíamos eventualmente pego algo da lojinha de conveniência, e o urso usava uma camisa Team UK com a bandeira do Reino Unido estampada. O cachorro parou de se sacudir e todas as três cabeças olharam para mim, e me perguntei se era normal sentir vontade de urinar nas calças.

Huh, senta? – Minha ordem soou mais como uma pergunta, mas eu não achava que ele fosse obedecer, de qualquer maneira.

Antes que Cérbero me comesse, no entanto, ele pareceu incomodado com alguma coisa, então começou a se sacudir mais uma vez. Remus conseguiu continuar firme e forte, mas James infelizmente não teve a mesma sorte, e foi arremessado para longe, aterrissando em cima de Sirius.

— James! – O grito preocupado escapou antes que eu pudesse conter minha própria boca.

Só então percebi que Dorcas segurava um espelho pequeno, e parecia estar refletindo a luz para os olhos da cabeça do meio de Cérbero. Brilhante. A do meio controlava tudo, claro, então se ela estivesse com problemas, as outras duas estariam também. Cérbero continuou se sacudindo, e eventualmente Remus soltou a orelha dele e jogou-se no chão. Como Dorcas parecia estar lidando muito bem com a situação, corri para onde James havia caído.

Sirius encarava o amigo de maneira preocupada. Apesar de a queda ter sido amortecida, James não parecia muito bem, então eu fiz a pergunta mais estúpida que poderia ter feito.

— James, você está bem?

Sirius me encarou como se eu fosse idiota. James abriu os olhos e sacudiu a cabeça lentamente.

— Vou sobreviver. – Então, ele sorriu maliciosamente. – Preocupada, Lily?

Rolei os olhos. Ele tinha que estragar o momento.

Antes que eu pudesse recomeçar a agressão verbal, Sirius apontou para onde Cérbero estava. O espelho não parecia mais estar fazendo efeito algum, e ele começou a avançar na direção de Dorcas, as bocas espumando de raiva. Me levantei e tirei um canivete do bolso – realmente uma arma útil quando se estava lidando com um cão de cerca de dez metros de altura – mas meu plano de ataque/suicídio foi interrompido pela voz de Lene.

— Senta, Cérbero. – Ele a encarou como se ela fosse o jantar, mas Lene não pareceu sentir a mínima pontada de medo. – Cachorro mau, muito mau. Muito feio, Cérbero. Você deveria se envergonhar.

Imagine a minha surpresa quando, ao invés de devorá-la, Cérbero apenas abaixou suas três cabeças e soltou um choro, como se estivesse realmente envergonhado.

— Menino mau. Sabe o que acontece com cachorros malvados, Cérbero? Eles vão pro canil. Você não quer ir pro canil, quer Cérbero?

O cão de três cabeças latiu em negação. À medida que Lene avançava, Cérbero recuava, como se ela o assustasse. Não, era diferente. Era como se ele a respeitasse. O resto de nós apenas encarava a cena com expressões de choque relativamente cômicas.

— Senta, Cérbero. – Ele rosnou. – Eu disse senta, Cérbero. – Ele rosnou novamente, mas dessa vez ele sentou. – Bom menino. Agora fica. Fica, Cérbero.

O cão de três cabeças não moveu um músculo. Lene se aproximou, perigosamente ao alcance da boca do meio, mas Cérbero apenas abaixou as cabeças e a encarou. Ela ergueu a mão e o acariciou atrás da orelha, e o cão gigante de três cabeças apenas abanou o rabo.

— Você não é um mau menino, é? Não, não é não. Só é incompreendido, não é, Cérbero? – Lene olhou para Sirius como se o culpasse. – Não sei o que aquele cachorro mau falou pra você, mas não ligue pra ele. Você é um bom menino, Cérbero.

Cérbero abanou o rabo, enquanto Sirius emitiu um meio-rosnado e James e eu nos entreolhamos, em uma tentativa de segurar o riso. A expressão de pura traição de Sirius era simplesmente hilária. De repente, Lene ergueu a outra mão, que havia estado atrás das costas esse tempo todo, e ergueu um osso imenso. Tive quase certeza de que se tratava de uma perna. Cérbero latiu, animado.

— Muito bem, Cérbero. Eu sugiro uma troca. A chave pelo osso, o que me diz?

Pffft. — Sirius murmurou. – Não tem chance alguma de que isso vá realmente funcion-

E funcionou. Cérbero levantou a cabeça do meio para que Lene pudesse pegar a chave, e então ela lhe entregou o osso. O cão de três cabeças desapareceu em uma nuvem de fumaça, muito mais feliz do que quando havia chegado.

Lene rodou a chave no dedo e sorriu, porque todos nós a encarávamos com expressões decididamente idiotas.

— Eu sei lidar com cachorros. Cresci com o Sirius, lembra?

Sirius rolou os olhos, mas James e Remus riram. Dorcas e eu nos levantamos e pulamos em cima de Lene, a esmagando em um clássico abraço de ainda bem que um cão gigante de três cabeças não te engoliu!

De repente, algo me ocorreu.

— De onde surgiu aquele osso?

Lene apontou para trás, onde Napoleão e seus guardas se encontravam. Percebi que um deles só tinha uma perna, mas segurava orgulhosamente um kit de maquiagem. Lene deu de ombros.

— Eu propus uma troca.

Ainda rindo, ela me entregou a chave. Por instinto, eu a entreguei a James. Nos entreolhamos, porque honestamente, nenhum de nós tinha a menor ideia do que fazer com aquilo.

— Muito bem. Vocês sobreviveram ao teste.— A voz de Hades ecoou pela caverna. — Não posso dizer que estou surpreso, no entanto. Não era nem de longe um teste difícil. Cérbero é um amor de cachorro.

Sirius bufou, rolando os olhos, antes que Hades continuasse.

Mas trato é trato, e, portanto aqui está a peça que procuram.— Fomos cercados por aquela névoa estranha de novo antes que um pedaço velho de pergaminho se materializasse na minha mão. - A peça ativa a chave. Suas horas diárias como humanos acabam de aumentar para 4. Parabéns. A deusa que procuram é Lupa. A peça dirá onde encontrá-la. Espero que não planejem juntar-se ao meu reino tão cedo. Sua presença aqui agita o Submundo. Napoleão, pare de vangloriar-se para um esqueleto sobre essa batalha idiota e venha para cá. Achei que fosse me levar para comer croissant.

E com isso, fomos envolvidos pela névoa uma última vez antes de sermos transportados para o lado de fora do terminal, em frente às árvores onde havíamos nos escondido mais cedo. James ergueu a chave e a examinou com cuidado.

— Padfoot, Moony, venham aqui. Acho que pra isso funcionar, nós três precisamos estar tocando nela.

A chave se dissolveu em pura fumaça dourada, que os envolveu por alguns segundos antes de desaparecer, tão rápido quanto havia surgido.

— E então? – Dorcas perguntou. – Funcionou?

James deu de ombros.

— Não faço ideia. Eventualmente, vamos descobrir.

Encostei-me contra uma árvore e observei o Sol começar a surgir.

— E então, alguém sabe de algum lugar onde se tenha um café da manhã decente em Folkestone?

Ah, nada como enfrentar um cachorro gigante de três cabeças para trazer à tona a minha fome matinal.


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Notas finais do capítulo

(。-_-。 )人( 。-_-。)



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