Cursed escrita por Creature


Capítulo 6
IV - Our sensei is a turkey-man


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEEEEEEELLO FOLKS.
Eu sei, eu sei. Eu demorei. Bastante. ~le desvia de uma maldição ~le usa o Sirius de escudo humano
Sorry. Sério. É que eu não estava tendo muito tempo, então tinha esse capítulo basicamente na metade esperando para ser terminado e postado. Prometo tentar acelerar o processo da próxima vez. Eu a do ro dar nomes aos capítulos. Faço bem no estilo Percy Jackson, porque a Lily é sarcástica o bastante pra dar os melhores nomes.
Anyway, eu estou em choque. Sério. Imagina minha surprise face quando entro no Nyah e vejo que Cursed ganhou não uma, não duas, mas TRÊS recomendações em apenas cinco capítulos. Eu quase tive um infarto. Saltei pelo quarto, pisei na minha cadela e até beijei o focinho dela em uma explosão de pura alegria. Cara, três reviews em cinco capítulos é uma emoção. Dá uma sensação maravilhosa no estômago, de estar fazendo a coisa certa. Então quero agradecer a Sangue Ruim, Liv e Jedi Morta e Ordem 66 por suas recomendações maravilhosas. You make me emotional, folks. Como sou uma pessoa extremamente generosa e vocês são três, vou emprestar um maroto pra cada pela próxima semana. Podem escolher. Sem brigas. Qualquer coisa podem cortar um ao meio com um serrote ou algo do tipo. Your call.
Anyway, cap novinho em folha. Enjoy!



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Our sensei is a turkey-man*

*"Nosso sensei é um homem-peru". Tradução livre. 

Lily Evans

Cafés da manhã na minha família sempre foram recriações de ambas as guerras mundiais. Normalmente, Túnia e eu estaríamos tentando nos matar pela última panqueca ou algo do tipo, enquanto Mamãe estaria tentando acertar o gato com um garfo por ter arranhado o sofá e Papai sentaria calmamente na cabeceira da mesa e leria o jornal. Então, eu acertaria Túnia com bacon, Mamãe se viraria para ver o que estava acontecendo, o gato arranharia o sofá de novo e Papai continuaria a ler o jornal. Se eu achava que o café da manhã lá em casa era estranho, era porque eu nunca havia tido café da manhã com lordes ingleses antes.

Sirius e Remus haviam passado os últimos dez minutos discutindo sobre um waffle que Remus hipoteticamente teria roubado ao pedir a Sirius para olhar para trás porque ”aquela garota que você beijou naquele baile em 1715 está bem ali.”. Lene apenas bufava em uma quantidade absolutamente impressionante por segundo enquanto murmurava algo sobre cães não poderem sentar-se na mesa com humanos, enquanto Dorcas narrava um dos seus sonhos esquisitos (algo sobre elefantes rosa e uso de entorpecentes?) e Sir Dumbledore pacificamente bebia uma xícara de café, visivelmente imperturbável. Como eu admirava a paz interior daquele homem. Quando James apareceu na enorme sala de café-da-manhã ao ar livre, Sirius e Remus estavam se mordendo. Não, literalmente. Com caninos afiados, rosnados e tudo. James apoiou-se contra a parede com os braços cruzados contra o peito (e que braços. Tipo, sério. Ele era realmente muito forte. Mas isso não tem relevância pra história, eu só queria ressaltar mesmo) e um sorriso maroto no rosto antes de falar.

— Cavalheiros, não acham que seria imprudente desperdiçar tão preciosos minutos do dia como humanos brigando por um waffle como dois cães brigariam por um pedaço de carne?

Sirius soltou o braço de Remus e bufou.

— Oh, não. De repente ele resolveu ser britânico. — Ele murmurou, largando a orelha de Sirius que até então ele mordia.

James riu.

— Bom dia pra você também, Pads. Ah, e pro resto da mesa, especialmente pra você, Lily. – Não pude conter o som de surpresa que escapou dos meus lábios. – Já te disse o quanto você fica estonteante de pijama? Adorei a estampa de pinguins. Muito original.

Rolei os olhos, mas sei que enrubesci porque tive o infortúnio de nascer ruiva.

— Parece que alguém acordou afiado hoje.

— Afiado como chifres de cervo. - Remus retrucou com um sorriso convencido, fazendo com que Sirius cuspisse seu café e o rosto de James brilhasse em tons de vermelho.

Sorri vitoriosa, mas o príncipe apenas me fuzilou com o olhar. Ah, como é bom causar discórdia logo de manhã cedo. O som leve da risada de Sir Dumbledore ecoou pelo salão.

— Muito bem, meus jovens. Não vamos querer recomeçar a guerra de 1707, vamos?

Sirius e Remus se entreolharam antes de rir, acompanhados por James.

— Guerra de 1707? – Perguntei, confusa.

— Nunca ouvi falar. – Dorcas murmurou, com a boca cheia de bacon.

Sir Dumbledore riu.

— Provavelmente porque a guerra não durou mais do que algumas horas. Foi um simples equívoco do príncipe regente na época. – E então ele olhou para James, como se ainda o repreendesse trezentos anos depois.

Sirius soltou uma risada-latido.

Equívoco? O rei Fleamont estava na França negociando paz e resolveu deixar um James de sete anos de idade como regente. Quando um dos serventes disse que ele não poderia comer lagosta no almoço porque os carregamentos ainda não haviam chegado, ele declarou guerra contra todos os países que forneciam lagosta à Inglaterra. Quando a rainha descobriu, ela colocou James e toda a marinha britânica de castigo por uma semana.

E de repente, eu simplesmente não conseguia parar de rir. Fiquei imaginando um James de sete anos de idade frustrado porque não teria sua comida preferida no almoço, tentando equilibrar a coroa na cabeça de uma forma que não caísse nos seus olhos enquanto ordenava à marinha atacar e pegar todos os carregamentos de lagosta da costa da Europa. 

Sir Dumbledore riu, sacudindo a cabeça.

— Eu o deixei sozinho por cinco minutos... – Sua risada cessou. – De qualquer forma, não estamos aqui para recordar do passado. Acredito que tenhamos uma maldição a quebrar. James, algum sucesso com os pergaminhos que te dei?

A face de James foi tomada por um ar sério. Nobre, de certa forma.

— Grande parte ainda é um mistério e meu grego anda meio enferrujado, mas sei que nosso primeiro passo é encontrar um mago chamado Cyprian.

Sir Dumbledore pareceu pensativo por um momento.

— Cyprian, sim. Ele saberá o que fazer.

— Conhece ele, vovô? – Lene perguntou, afastando a cadeira da mesa.

— Sim, sim. Cyprian é um velho aliado. Devo avisá-los, no entanto, que ele pode ser um tanto... Exótico. Saberão do que estou falando quando o virem. E devem tomar cuidado. Não há ninguém no mundo que entenda de profecias e maldições melhor que Cyprian, pois ele possui a Visão. Caso ele se ofereça para prever o futuro, vocês devem recusar. O futuro é incerto e assim deverá prosseguir. Houve um tempo em que homens matavam a si mesmos e uns aos outros por causa de tais profecias. Cyprian chegou a ser banido do reino por muitos anos por causa de suas visões. 

Senti meu estômago revirar, e de repente eu estava prestes a vomitar tudo o que havia acabado de comer. Príncipes amaldiçoados, magos imortais, videntes... Eu realmente estava tendo uma péssima semana.

De acordo com o feitiço de localização que Sir Dumbledore havia feito, Cyprian morava não muito longe dali, ainda na região de Oxford. James, Sirius e Remus estavam novamente em suas formas animais, economizando seu tempo como humanos. Éramos um grupo bem estranho. Uma ruiva, uma morena e uma loira, acompanhadas de perto por um cão, um lobo e um cervo – a cena era tão estranha que Sir Dumbledore havia insistido em nos levar de carro, para escapar dos possíveis olhares curiosos. Eu já havia dividido o banco do carro com um animal, porque Petúnia e eu sempre íamos no banco de trás, e também já tive que sentar ao lado do namorado dela em algumas ocasiões, mas nunca com animais de verdade. O carro era enorme, e, ainda assim, Dorcas e eu estávamos apertadas com um cão negro enorme em um dos bancos de trás, enquanto o lobo e o cervo tentavam desajeitadamente dividir o outro e Sir Dumbledore e Lene iam confortavelmente nos bancos da frente.

O carro parou no meio do nada. Um monte de mato, um lago de aparência esquisita e, em frente a ele, uma casa. Não era muito grande, pintada em tons excêntricos de roxo e verde. Um corvo nos observava de maneira assustadora do telhado.

Credo. — Lene murmurou. – Me sinto em um filme de terror dos anos oitenta.

Sir Dumbledore destravou as portas do carro.

— Não poderei entrar. Um mago deve respeitar o território dos outros, é a regra. Lembrem-se do que falei. Boa sorte, crianças. 

Pulei para fora do carro assim que a porta se abriu, porque metade de Sirius estava sentada em mim e apesar dele não cheirar tão mal assim, ainda era grande e pesado. O cachorro pulou depois de mim, e de repente me senti em um episódio de Scooby-Doo. Nós seis paramos em frente à casa, meio que tentando decidir quem seria o primeiro a entrar. Dorcas deu um passo à frente e bateu na porta. Por um segundo, nada aconteceu. E então, a porta se abriu sozinha. Engoli em seco antes de entrar, porque mais ninguém parecia disposto a tomar a iniciativa. O que era isso, um episódio perdido de Stranger Things? Se fosse esse o caso, gostaria de saber em que momento conheceria o meu Billy. 

O interior da casa era ainda mais estranho que o exterior. Havia caveiras espalhadas por prateleiras, livros em línguas que provavelmente estavam mortas há séculos espalhados por todos os cantos, objetos esquisitos pendurados no teto. E no fundo da sala, sentado em uma poltrona cujo formato parecia tentar imitar a cabeça de um dragão, estava o cara que eu assumi ser o tal Cyprian.

Nenhum de nós falou nada por alguns segundos, até Sirius se pronunciar.

— Bom, isso é definitivamente exótico. – E nenhum de nós ousou discordar.

Porque o homem sentado na poltrona pareceria perfeitamente normal, não fosse pelas roupas excêntricas ou pela cabeça de peru. E quando eu digo cabeça de peru, eu quero dizer exatamente cabeça de peru. Tipo, penas, bico, tudo.

Estávamos lidando com algum tipo de homem-peru.

— Mas é claro que ele é metade peru. É claro. Eu devia ter imaginado. – Murmurei antes que pudesse me controlar, porque eu realmente estava tendo um dia ainda mais esquisito que o anterior e não me considerava uma pessoa muito paciente.

O homem-peru fez uma careta de frustração – ou pelo menos algo que parecia com uma careta de frustração, já que eu claramente não tinha experiência com expressões faciais de perus.

— Ora, ora, jovenzinha. Sabe qual a característica em comum entre magos e perus?

— A cabeça? – Perguntei, porque estava me sentindo afiada e ondas de sarcasmo como aquela não poderiam ser desperdiçadas. Seria um crime contra a minha personalidade.

O homem-peru não pareceu nem um pouco ofendido. Na verdade, ele parecia estar se divertindo.

— Não. Ambos possuem ótima audição. Aprenda a controlar sua língua, ou um dia acabará sem ela. – Seus olhos negros faiscaram na minha direção, e de repente percebi que eram olhos humanos, e não de peru. O que não o deixava nem um pouco menos assustador. Na verdade, era bem o contrário. Senti alguém se mover atrás de mim e de repente James estava parado na minha frente, os braços cruzados contra o peito, funcionando como um tipo de barreira humana entre eu e o homem-peru. Seus olhos castanho-esverdeados faiscavam de maneira furiosa, como se ele desafiasse o mago a me ameaçar novamente. Percebi que mesmo sem as galhadas de cervo ele conseguia ser extremamente ameaçador. Talvez até mais. 

 Apesar de ter sido um ato absolutamente fofo (Dorcas passou as duas horas seguintes suspirando e murmurando “Awn”s, o que fez com que James passasse as duas horas seguintes sorrindo de maneira convencida e eu passasse as duas horas seguintes rolando os olhos até eles saírem das órbitas) e extremamente cavalheiresco e século XVII da parte dele, eu ainda era uma garota do século XXI. Não precisava de uma barreira humana. Se eu podia encarar minha irmã híbrida de cavalo com humana, eu poderia encarar um homem híbrido de humano com peru, então dei um passo à frente e me coloquei ao lado de James, mas não antes de lançar a ele o meu melhor olhar de agradecimento.

O homem-peru nos olhou como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

— Ah, sim. É claro. – De repente, ele levantou-se, e por um minuto pensei que ele fosse nos bicar enquanto fazia sons de peru ou algo do tipo, mas ele apenas abaixou a cabeça e fez uma reverência. Por um segundo, me perguntei o que havia feito para ser reverenciada, mas então eu lembrei. Eu estava acompanhada da realeza.— Perdoe-me pelos meus modos, Alteza. Nunca foi minha intenção ofender a sua dama.

Dama dele? Eu? Lily Evans?

Ao que parece, homens-peru tinham um ótimo senso de humor.

Antes que eu pudesse protestar (porque eu não era a dama dele [!!!!!!!!!!111111!!!!1]), Sirius cobriu minha boca com uma das mãos e me encarou com um sorriso convencido, como se estivesse explodindo de alegria por ter um motivo para me mandar calar a boca.

James o encarou, ainda com os braços cruzados.

— Você deve ser Cyprian, eu suponho. O mago.

O homem-peru assentiu.

— Precisamente. Eu imaginava que uma hora ou outra você procuraria por mim. Está aqui porque quer que eu o diga como quebrar a maldição. Por sorte, chegaram bem ao tempo para o chá. Juntem-se a mim, e eu lhes direi tudo o que sei.

Não parecia a melhor hora para tomar chá, mas James parecia estar no comando da situação, então no momento em que ele sentou-se em um dos sofás em frente ao mago, o resto de nós o imitou.

— Pois bem. – Cyprian suspirou, e aquela crista vermelha esquisita que os perus tinham debaixo do bico balançou de maneira engraçada. Tive que me segurar muito para não rir. Não parecia apropriado. O mago encarou James, Sirius e Remus. – A maldição que os prende é antiga e poderosa. Mais antiga do que qualquer mago que já tenha existido nestas terras ou em outras, ainda mais antiga do que os dragões que trouxeram a magia para o nosso mundo.

Remus franziu a testa.

— O que quer dizer?

— Quero dizer – O homem-peru prosseguiu, enchendo as xícaras com um chá que tinha um cheiro esquisito. – Que é uma maldição criada por deuses, e como tal, só poderá ser quebrada com a ajuda de deuses.

Epa, epa, epa. Peraí. — Interrompi. – Maldições e homens-peru já são inacreditáveis o bastante. Quer mesmo que eu acredite que deuses existem?

O mago me encarou friamente, e tive a sensação aterrorizante de que ele não gostava muito de mim.

— Não estou pedindo a ninguém para acreditar em nada. Estou apenas dizendo o que sei. – Ele desviou o olhar da minha direção. – Como eu dizia, a maldição apenas poderá ser quebrada com a ajuda de deuses. Especificamente, com a ajuda dos deuses que a criaram.

Sirius bufou.

— Se é que esses caras existem, e quem sou eu pra julgar de qualquer forma, sou um homem-cachorro, mas se eles existem, como podemos saber quais deles criaram a maldição?

Cyprian o encarou.

— Acredito que, quando o mago das trevas tentou amaldiçoá-los, meu velho amigo Albus pediu aos deuses para que intervissem em seu favor. Mas negociar com os deuses sempre tem um custo. A maldição a que estão submetidos foi criada por deuses diferentes, de mitologias diferentes, países diferentes e épocas diferentes. Posso sentir o dedo de Morrigan, entidade celta da guerra, assim como sinto o dedo dos lobos Lupa, da mitologia romana, e Fenrir e seus filhos gêmeos, Sköll e Hati, da nórdica. Não sou capaz de deduzir todos os deuses que se envolveram na maldição, mas isso será trabalho seu. Vê, a maldição funciona como um grande quebra-cabeça. – Ele passou a mão pela mesa e um quebra-cabeça magicamente ocupou o espaço antes tomado pelas xícaras de chá. Ele ergueu uma peça, como se tentasse fazer uma demonstração. – Cada peça funciona como uma chave para um cadeado. Cada cadeado representa um aumento no número de horas que podem passar como humanos. É como se a maldição fosse quebrada em partes, não de uma vez só. De certa forma, cada chave deverá permitir-lhes uma quantidade maior de horas como humano, até a última chave, a última peça, que deverá libertá-los por completo.

Cyprian parou como se esperasse por sinais de compreensão. Aos poucos, todos assentimos, e ele prosseguiu.

— Cada deus guarda uma peça, porém não necessariamente uma chave em si. Na maioria dos casos, a peça é uma informação, uma missão, que eventualmente os levará até a chave. – De repente, senti certo mal-estar. Estávamos tão longe de quebrar aquela maldição que chegava a ser desanimador. – Sua primeira tarefa será achar os deuses, o que não deverá ser difícil. Eles são bem excêntricos. - Isso vindo do homem com cabeça de peru. Será que ele não tinha um espelho? - Por outro lado, deuses são seres... Complicados. Não esperem que eles facilitem o processo. A maioria deles os testará, até mesmo os atrairá para armadilhas e tentará de qualquer forma matá-los, para que vocês provem ser merecedores da peça que eles guardam.

Lene soltou um muxoxo de desânimo. O homem-peru a encarou antes de falar novamente.

— Não posso ajudá-los com a localização dos deuses. Tudo o que sei é que Hades guarda a primeira peça, e que ele se esconde no subterrâneo, em algum lugar entre a Inglaterra e a França.

Sirius rosnou.

— Não sei como a Europa funciona atualmente, mas na minha época existia muita coisa entre a Inglaterra e a França.

Os olhos de Cyprian faiscaram perigosamente.

— Então sugiro que comecem a procurar. Hades lhes dirá onde encontrar o próximo deus, se sobreviverem ao teste. – Ele levantou-se, correndo os olhos por cada um de nós. – Essa maldição liga todos vocês, de uma maneira ou de outra. Nenhum de vocês está aqui por acaso. Para alcançar o sucesso, é preciso aprender a confiar naquele ao seu lado. Ah, e mais uma coisa. Hades só os atenderá após a meia-noite. Caso tenham sucesso em descobrir precisamente onde ele se esconde, entenderão o porquê.

James assentiu, levantando-se e apertando a mão do mago.

— De qualquer forma, estamos gratos por sua ajuda, Cyprian. Nos deu mais informações do que poderíamos ter conseguido sozinhos. Foi meio Yoda da sua parte, mas ajudou de qualquer jeito.

Bufei, repentinamente arrependida por ter deixado Prongs assistir Star Wars comigo quando levei o notebook para o zoológico. O homem-peru sorriu – e perus ficavam absolutamente estranhos sorrindo.

— É uma honra poder servi-lo, Alteza. Tudo que posso desejar ao senhor e aos seus amigos é sorte na sua perigosa jornada.

É, talvez ele fosse meio Yoda mesmo.

— Alteza? – A voz de Cyprian ecoou assim que eu me levantei. James virou-se para olhá-lo. – Apenas um último pedido. Gostaria de falar a sós com o senhor e garota ruiva, se não houver problemas.

James voltou o olhar para mim, quase que imperceptivelmente. Discretamente, assenti com a cabeça. Assustei-me por entendê-lo ao ponto de ser capaz de me comunicar com ele sem o uso de palavras.

— Tudo bem, então. – Ele voltou-se para os outros. – Esperem por nós lá fora.

Quando todos saíram da casa, exceto por James e eu, o homem-peru nos encarou criticamente.

— O laço que os une é antigo e forte. Não compreendo o desejo dos deuses para vocês dois. – A voz dele era quase que um sussurro. James e eu trocamos um olhar. Parecíamos ter percebido a mesma coisa ao mesmo tempo. Se ele realmente era um tipo de vidente, ele teria que tirar as profecias de algum lugar. Havia uma razão para ele conhecer os deuses tão bem. Ele comunicava-se com eles.

O homem-peru suspirou.

— Lofn, Afrodite, Hera. Até mesmo Thor e Odin. A própria Morrigan grita em minha cabeça. Vocês estão conectados de uma maneira que não compreendem. Estavam conectados antes mesmo de terem nascido. – Senti minha expressão alterar-se para completa confusão. – Seus destinos eram conhecer um ao outro. Vocês precisavam conhecer um ao outro. Por isso é ela a chave para quebrar a maldição. Apenas uma conexão com a alma do amaldiçoado poderia salvá-lo. 

Ele soltava frases e palavras aleatórias de uma maneira que o deixava ainda mais assustador.

— Seus corações batem como um. Suas almas estão entrelaçadas. Seus destinos se chocam. São magnéticos, eternamente atraindo um ao outro. Por isso ela libertou seu lado humano. Foi ela. Tudo por ela. Mas eu vejo tristeza. Muito sofrimento. Eu vejo... Não. 

Eu o encarava de maneira confusa, incapaz de produzir qualquer tipo de reação. James parecia pensativo, como se realmente estivesse considerando as palavras daquele homem-peru maluco. Um tempo se passou sem que Cyprian dissesse mais nada, então simplesmente imaginamos que ele não tivesse mais nada a dizer. Quando estávamos quase na porta, a voz do mago soou uma última vez.

— Cuide bem dela, Alteza. Não achará outra garota como esta neste século, ou em outro.

James assentiu.

— Cuidarei.

Assim que a porta bateu atrás de mim, encarei o príncipe ao meu lado.

— O que você acha que ele quis dizer?

Ele deu de ombros.

— Acho que ele estava delirando. Pra mim, parecia mais que ele estava falando consigo mesmo do que com a gente.

Apesar do sol ainda brilhar, senti frio de repente.

— E todo aquele papo sobre destino e coisas entrelaçadas?

Ele não me olhou nos olhos quando respondeu.

— Não importa. Temos mais com o que nos preocupar do que qualquer opinião que a ceia de Natal tenha sobre os nossos destinos.

Apesar de ainda não estar convencida, sorri.

— Príncipes amaldiçoados, magos, deuses, e ceias de Natal falantes. Só mais um dia na vida de Lily Evans.

Ele me lançou um sorriso maroto.

— Tem uma vida bem interessante, ruiva. Já pensou em dividir ela com alguém?

Rolei os olhos.

— Já pensou em cortar fora a sua língua com uma daquelas espadas espalhadas pelo seu quarto?

James riu.

— Ah, aí está. Eu estava me perguntando quando o abuso verbal ia começar.

Rolei os olhos mais uma vez, mas não fiz questão de segurar minha risada. Tínhamos muito com o que nos preocupar, e talvez não tivesse outra chance de me divertir. Afinal, nós não havíamos nem começado. Ainda precisávamos descobrir onde Hades estava escondido – se é que ele realmente existia – e sobreviver a algum tipo de teste suicida idiota.

Caminhamos até onde os outros nos esperavam, e senti que havíamos saído da casa do mago com ainda mais perguntas do que tínhamos quando havíamos entrado.


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Notas finais do capítulo

ლ (╹ ◡ ╹ ლ)