Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 26
Capítulo 26: Wild Horses


Notas iniciais do capítulo

Escrito por João R. C. Melo.



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Childhood living is easy to do

The things you wanted I bought them for you

Graceless lady you know who I am

You know I can't let you slide through my hands

As férias estavam passando em uma velocidade assustadora. Fazia bastante tempo que Mia não conseguia se distrair assim. Sem que todo o peso que carregasse começasse a afundá-la. Por isso tinha muito a agradecer sua amiga.

Ellen havia forçado a garota a ir numa viagem com ela e o irmão para um hotel fazenda no meio do nada. Não esperava uma ideia tão aleatória de outra pessoa.

As duas se aproximavam do rancho agora, para poderem cavalgar e correr por aí. Elly já estava de olho no rapaz que cuidava dos cavalos e Mia não conseguiu evitar revirar os olhos.

— Queria saber se passa alguma coisa na sua cabeça além de machos. – Falou, fazendo com que Elly sorrisse e voltasse o foco para a amiga.

— Olha, em minha defesa... – A garota parou e pensou por um instante. – Na verdade não tem defesa. Sou muito promíscua sim. E com orgulho. – Respondeu por fim, sorrindo. Mia apenas bufou em resposta e continuou seu caminho.

Ao chegarem ao local, a garota obviamente já engatou em uma conversa com o rapaz. Quando o mesmo saiu para buscar os cavalos, Elly se virou para Mia, com um sorriso desafiador no rosto.

— Advinha qual eu quero montar primeiro...

— AI. MEU. DEUS. – Mia respondeu sem conseguir conter sua risada. – Você precisa de Jesus na sua vida, amiga.

— Ei! Eu não tenho culpa se você não está interessada. Talvez seu lance não seja rapazes... – A garota disse com um olhar pensativo. – Se um dia quiser se descobrir, me liga. – Elly piscou para a garota e então se dirigiu ao cavalo.

Mia adorava sua amiga, ela conseguia ser sempre engraçada e idiota até. Em muitos momentos isso foi o que ajudou Mia a esquecer de seu passado.

Wild horses couldn't drag me away

Wild, wild horses couldn't drag me away

***

Duas horas após a morte de Renan

O grupo havia conseguido escapar após a queda do avião. Puderam usar o acidente como distração e fugir. Reuniram-se em uma pequena praia afastada em um dos cantos da ilha e por lá ficaram. A maioria tentava descansar um pouco - depois de tudo que passaram nesse dia – e dormir. Aqueles ainda acordados permaneciam em silêncio.

***

Quatro horas após a morte de Renan

— Não vamos conseguir escapar disso não é? – Natasha perguntou, próxima a Alisson, encarando o chão e evitando contado visual.

— Natasha... – A morena começou.

— Olha, eu não preciso que você tente pegar leve! – Natasha a cortou. – Eu sei que você já passou por isso antes, só quero que me responda honestamente. Alguém já sobreviveu?

Alisson não respondeu.

***

Sete horas após a morte de Renan

— Eu já estou cansado desse silêncio.  – Max disse. – Ele não conseguiu salvar ninguém. Tudo que ele fez foi afundar a vida de todos nos salvando do acidente no túnel.

— Max! – Alisson gritou, não conseguindo acreditar no que ouvia.

— Ele está certo... – Thiago começou. – Até agora, só provamos que toda nossa luta foi em vão.

— Eu não consigo acreditar em vocês... – Débora sussurrou, segurando sua raiva.

— Se vocês pretendem ficar aqui só se lamentando, okay. – Stein se levantou. – Mas eu vou atrás da minha irmã e dos meus amigos.

— Eu vou com você. – Débora respondeu, também se levantando. – Se vão desistir tão facilmente, já podem cair mortos.

***

Dez horas após a morte de Renan

A morte ainda não havia feito nenhum movimento indicando a chegada da hora de sua próxima vítima.

***

Mia observava Elly e Erick conversando agora, os dois rindo provavelmente das próprias piadas. Pareciam tão inocentes e indiferentes quanto a tudo que acontecia. Stein estava a seu lado, também observando.

Eles haviam adotado Erick com todo carinho que tinham e o garoto retribuíra com a mesma intensidade, sendo o que eles precisavam durante todo esse caos. A garota se lembrava de conversar com ele sobre seu passado, se abrindo sem nenhum motivo aparente. Ela simplesmente confiara nele e se entregara.

E ele havia feito o mesmo, pensou enquanto olhava de Elly e Erick para Stein. Ele ajudou a manter esses dois com o pé no chão, mesmo que também se tornando uma grande preocupação. Lembrou-se do garoto indo conversar com Elly no dia em que a garota perdera o pai, em como Stein olhava para ele... Estava feliz pela luz que Erick trouxe ao grupo.

E era incrível como tudo estava acontecendo tão rápido. O acidente que mudou a vida deles parecia ter acontecido vidas atrás. E aqui estavam eles, depois de muitas peças do tabuleiro caírem, ainda lutando. Despedaçando e desmoronando uma vez ou outra e sendo levantado por um de seus.

— Queria conseguir ficar como eles. – Mia falou sem fazer contato visual com Stein. – Tão bobos, mesmo com toda tensão no ar.

— É o jeito deles de lidar. – O rapaz respondeu. – É a mascara deles. Mas nós já vimos elas caírem muitas vezes nos últimos dias.

— Stein então se virou para Mia. – Quero te agradecer.

Mia sorriu sem jeito e sem entender muito bem.

— Pelo que? – Perguntou.

— Por cuidar da Elly, e estar lá pra ela quando eu não pude. – Ele disse. – Não só agora. Mas todos esses anos.

A garota sorriu ainda mais e o rapaz a puxou para um abraço. Stein também havia sido um grande amigo durante esses anos. A admiração entre eles era mútua e os dois apreciavam a calma, paciência e maturidade que tinham para lidar com Elly na maioria das vezes.

Porém, havia um pequeno pensamento mórbido em sua mente.

Ela não conseguia afastar a ideia de como tudo isso parecia uma despedida.

I watch you suffer a dull aching pain

Now you decided to show me the same

No sweeping exits or offstage lines

Could make me feel bitter of treat you unkind

***

— Acho que ouvi algo. – Débora comentou, parando de andar e tentando escutar os sons ao seu redor. – Parece a voz das garotas.

Encontravam-se no meio da floresta, a visão era bastante dificultada pela quantidade de árvores ao redor. Stein também não conseguia ouvir muito com os sons diversos da ilha.

— Elas devem estar por perto. – Stein respondeu.

Débora concordou e começaram a andar mais cautelosamente tentando seguir a origem das vozes. Mas logo foram surpreendidos por um som um tiro e passos rápidos vindo em sua direção.

Os dois se prepararam para se defender, quando Erick surgiu em meio às árvores.

— Erick?! – Stein indagou enquanto corria para abraçar o garoto. Erick o abraçou de volta, segurando-o firme.

— O que está fazendo sozinho? – Foi a vez de Débora perguntar.

— Eu estava procurando a Elle e a Mia e então ouvi o som de tiro e me desesperei. As duas se separaram do grupo e acho que se perderam na floresta.

— Temos que correr, elas podem estar em perigo.

— Se você estiver certa sobre as vozes, elas não devem estar muito longe daqui. Vamos!

***

— Elly, acho que-

— Não! Nós não estamos perdidas. – A garota respondeu com convicção. Só estamos levemente fora do trajeto original... Talvez.

— Elly... – Mia amava sua amiga com todas suas forças, mas não confiava nenhum pouco em seu senso de direção. – Não sei se você se lembra, mas já ficamos perdidas numa floresta antes.

— Lembro. E também me lembro de que foi ideia sua. – Elly respondeu, zombando. – “Se continuarmos pela floresta vamos checar a costa da ilha, vai ser mais fácil de se guiar por lá”, ela disse.

— Okay, mas eu estava certa. – Mia rebateu. – A gente só se perdeu por estar fugindo de um infectado.

Elly então parou de andar ao chegarem a uma clareira. Não havia muito mato por esse lado, apenas algumas árvores baixas e um paredão de pedra. O sol já se encontrava em seu posto de dificultar as coisas e o calor se tornava cada vez mais insuportável.

— Estou cansada. E não me refiro só a andar.

— Saudades de quando nossos problemas eram só os infectados? – Mia se aproximou sorrindo.

— Saudades de quando nossos problemas eram a faculdade, trabalho... – Elly parou por um segundo. – E de como eu alivia meu estresse com sexo.

Mia riu e sentou-se ao lado de uma pedra grande, esticando as pernas. Sua amiga seguiu a ideia e se aproximou, sentando-se na pedra. Quando fez isso, a pedra se afundou e um pedaço da parede de pedras se abriu, revelando uma passagem secreta.

— Você só pode estar de brincadeira... – Elly murmurou.

As duas se aproximaram da entrada, não enxergando nada do lado de dentro da passagem. Entreolharam-se por alguns segundos e resolveram entrar.

Depois de alguns passos no escuro, luzes se acenderam, revelando um salão enorme, com paredes feitas de placas brancas e brilhantes.

— Meninas, esperem! – Ouviram o grito e se viraram. Débora, Stein e Erick estavam correndo em direção à porta, indo de encontro a elas. Porém, a porta de pedra começava a se fechar nesse exato momento.

Débora, que vinha na frente dos rapazes conseguiu entrar no salão enquanto eles ficaram trancados do lado de fora.

— DROGA! – Stein gritou.

— Ei, calma. – Erick começou, tentando acalmar o rapaz. – Tem que haver alguma outra passagem aqui por perto. Vamos acha-la.

***

— Me digam como entrar em um lugar desconhecido e escuro através de uma passagem secreta, em uma ilha que até agora se provou mortal, pareceu uma boa ideia pra vocês duas? – Débora indagou ao se deparar com as garotas. Elly respondeu dando de ombros apenas.

As três olharam ao redor do salão. O lugar estava completamente vazio. As paredes brancas e brilhantes refletiam luzes, deixando difícil enxergar alguns pontos. O teto não era visível, parecendo chegar à altura da grande parede de pedra.

Começaram a andar procurando por alguma saída, ou qualquer coisa mesmo, mantendo-se juntas.

Ao chegarem ao meio do salão, uma parede desceu em cima do chão, bloqueando elas de refazerem o percurso. Encararam umas as outras por um momento e então um bloco branco caiu ao lado delas.

Alguns segundos se passaram e outro bloco caiu, dessa vez um pouco mais distante delas.

— Mas que merda tá acontecendo aqui? – Elly disse.

Mais alguns segundos se passaram e então dois blocos atingiram o chão, um seguido do outro. Estes caíram ainda mais afastados delas, e possibilitou uma percepção melhor da imensidão do salão.

— Uma saída... – Mia murmurou. – TEM UMA SAÍDA NA PAREDE! BEM ALI! – A morena disse, apontando para um canto do outro lado da sala, uma pequena passagem se encontrava a cerca de 6 metros do chão.

Outro bloco caiu, agora bem ao lado de Elly, fazendo-a gritar.

— Temos que correr. – Débora ordenou e assim fizeram.

Logo outro cubo caiu. E então outros dois seguidos. Não podiam ver onde haviam caído, mas podiam ouvir o estrondo ao chegarem no chão.

— Está seguindo um ritmo. – Elly disse. – Talvez possamos adivinhar onde os cubos vão cair.

À medida que se aproximavam da parede, o ritmo em que os blocos caiam aumentava. Começaram a subir nos blocos e saltar e um para o outro por conta da falta de espaço e logo se aproximaram da saída.

Mia foi a primeira a escalar, subindo mais alguns blocos e atravessando a passagem. Débora então ajudou Elly a subir enquanto se preparava para escalar. Foi então que um bloco caiu logo atrás da mulher, prendendo-a pela roupa.

— Débora! – Elly gritou, percebendo a situação e tentando voltar atrás para ajudar a mulher. Débora se debatia tentando rasgar um pedaço da roupa para se libertar, enquanto Elly usava toda sua força para puxar a mulher e acelerar o processo.

A velocidade de queda dos blocos aumentava mais uma vez, deixando-as mais desesperadas. Outro bloco vinha em direção a Elly - Débora então a chutou, empurrando-a contra a parede e a impedindo de ser esmagada.

Débora então finalmente se libertou e as duas correram até a parede, conseguindo atravessar para o outro lado justamente quando um último bloco caiu bloqueando a passagem.

***

Erick e Stein rodearam a grande muralha de pedra até encontrarem uma outra passagem: uma velha porta de metal enferrujada que cedeu rapidamente após alguns chutes. Encontraram-se então em um longo corredor escuro. Não conseguiam enxergar um palmo a sua frente, mas podiam ouvir os gritos das garotas e logo se dispuseram a correr em direção ao som.

***

Saindo por um duto de ar, as meninas chegaram a uma sala repleta de criaturas enjauladas. Todas híbridos de humanos com mutações animais.

Diferente do outro salão, a iluminação era baixa e as paredes eram feitas de metal. As jaulas se dispunham de forma organizada, formando quase um labirinto. Havia apenas uma saída da sala.

Débora sentiu um calafrio em seu pescoço quando uma leve brisa passou por seus cabelos. As luzes piscaram por um breve momento e então as jaulas começaram a se abrir enquanto um alarme ecoava por todo o recinto.

Foi a primeira a ser atacada, recebendo um corte no ombro de uma mulher com lâminas no lugar de seus dedos. Desferiu um chute na canela da criatura, fazendo-a urrar e cair no chão. Porém, logo em seguida foi agarrada por uma espécie de homem-peixe que empurrou sua cabeça contra as barras de ferro de uma das jaulas, nocauteando a mulher.

As outras duas dispararam pelo recinto, em busca de alguma arma. Mia encontrou um pé de cabra enquanto Elly se satisfez com um pedaço de cano quebrado. Conseguiram trabalhar juntas para derrubar um lobisomem, mas logo outras criaturas começaram a cerca-las.

Elly desferiu um golpe com o cano em um homem de garras, ficando-o em seu estômago. O golpe foi efetivo para acabar com a criatura, mas a fez perder a arma. Ouviram então um rangido e olharam para a saída. A porta de saída começava a se fechar e as duas garotas estavam sendo encurraladas por mais criaturas.

— Não vamos conseguir... – Elly sussurrou para si mesma. Não tinha mais esperanças de escapar.

Mia ainda segurava o pé de cabra, preparada para se defender. Não morreria sem lutar.

— NINGUÉM MAIS VAI MORRER COMIGO VIGIANDO! – Ouviram Débora gritar, enquanto chegava e desferia um golpe em uma das criaturas com um extintor de incêndio.

As outras três criaturas se viraram para a mulher, e nesse momento Mia acertou o crânio do homem-peixe com o pé de cabra. A criatura caiu no chão, atordoada, mas não aparentava ter sofrido tanto com o impacto.

— Fujam daqui, AGORA! – A loira ordenou e as outras duas obedeceram. Mia agarrou o braço de Elly e a puxou para o meio da sala, correndo em direção à porta que se fechava.

Ellen olhou para trás uma última vez, vendo Débora lutar bravamente com as criaturas. Ela sabia que não sairia dessa viva.

As duas garotas estavam quase alcançando a porta, mas não conseguiriam atravessá-la a tempo na velocidade que corriam. Elas se entreolharam rapidamente, confirmando que tinham a mesma ideia e então se arremessaram ao chão, deslizando pela fresta aberta para a outra sala.

A porta de fechou atrás delas logo em seguida, abafando o som do alarme.

***

Débora continuava a lutar, seu rosto estava coberto de sangue depois de esmagar o crânio da mulher sem olhos e as outras criaturas se preparavam para investir em outro ataque.

Os primeiros a avançarem foram o homem-peixe e o lobisomem. A loira usou o que restava do extintor de incêndio para cegar o lobisomem brevemente e acertar o homem-peixe com toda sua força. Este foi arremessado para longe - com o som claro de um pescoço se quebrando, Débora voltou o seu foco para o lobisomem.

A criatura ainda se debatia, tentando recuperar a visão – a loira se permitiu sorrir por um momento, estava conseguindo, talvez conseguisse driblar a morte sozinha. Foi então que sentiu algo gélido e afiado em suas costas, seguido por uma dor aguda e a sensação de sangue quente escorrendo por seu corpo.

Tentou alcançar o que quer que houvesse a atingido e ouviu então o rosnado da mulher com dedos de lâmina. A criatura retirou sua mão do corpo de Débora e a jogou no chão.

O lobisomem então partiu para cima da loira, mesmo sem recuperar completamente sua visão e começou a desferir golpes com suas garras - dilacerando o corpo de Débora.

A loira tentava revidar, distribuindo chutes ao ar e se debatendo, mas estava presa. Observou enquanto a mulher com lâminas nos dedos se aproximou novamente e se ajoelhou sobre os seus peitos. Ela parecia estar apreciando as expressões de dor no rosto da loira, analisou por mais alguns segundos enquanto sorria e então ergueu sua mão, com as lâminas apontadas para Débora.

Não... – A loira tentou dizer enquanto segurava o pulso da criatura, mas seu corpo não tinha mais forças. Não pode evitar o que veio a seguira.

A criatura fincou suas lâminas no pescoço da loira e assistiu com prazer enquanto ela se afogava no próprio sangue.

Neste momento, Débora se tornou consciente de muitas coisas. Percebeu o como seu corpo estava frio, quão quente seu sangue estava – escorrendo por todo seu corpo. Já não sentia o estrago que o lobisomem fazia em sua pele. Percebeu que apesar de tentar viver a sua maneira, ainda havia guardado muitos arrependimentos durante o passar dos anos. Apesar de tudo que já havia feito, ainda tinha muito que viver, ainda queria fazer tantas coisas... Ela não estava pronta para morrer.

O sorriso psicótico da criatura que esmagava seu corpo foi sua última visão.

***

Erick e Stein continuavam a correr pelo corredor, procurando a fonte dos gritos. Eles pararam ao se depararem com um imenso vidro no corredor. Do outro lado estavam Elly e Mia.

Diferente da sala anterior, essa não possuía paredes brancas e sim de metal enferrujado. Parecia com uma daquelas clássicas salas de caldeira, porém haviam inúmeros equipamentos diferentes e desconhecido para as garotas.

Elly passou por uma mesa repleta de ferramentas e começou a buscar por uma arma. Acima da mesa se encontrava um enorme mural de vidro, com instruções e especificações das máquinas. Mia se assustou ao ver uma pistola de pregos em sua mão.

— O que acha? – A garota perguntou, levantando a arma.

— Eu acho que eu me sentiria mais segura se não houvesse uma pistola de pregos na sua mão. – Mia respondeu sorrindo ironicamente.

— Eu não sou tão desastrada assim. – Elly respondeu apoiando a arma na mesa e acidentalmente disparando contra a mesma. – Oops... – A garota colocou a pistola de volta na mesa e se afastou. O prego se encontrava disposto em frente ao gatilho, deixando a arma prensada contra a parede. – Pelo menos eu só acertei uma mesa.

Dois tanques enormes se localizavam no centro da sala, ligados a diversos tubos. Inúmeras válvulas estavam dispersas pelas máquinas e canos. Sons diversos de motores e metal chacoalhando preenchiam o lugar, somando a má iluminação que causava uma sensação estranha.

A sala era grande e as garotas facilmente se perdiam entre tantas máquinas. Algumas passarelas podiam ser avistadas em cantos aleatórios, mas nenhuma saída estava à vista.

— Talvez lá de cima a gente tenha uma visão melhor. – Elly disse. – Vem, me ajuda a subir.

Do outro lado de uma das paredes da sala, Erick e Stein gritavam pelas garotas, mas sem nenhum sucesso. O vidro parecia ser a prova de som.

— Fique aqui. – Stein ordenou, apoiando a mão no ombro do garoto para chamar sua atenção. – Eu vou seguir pelo corredor e tentar achar alguma passagem.

Elly se apoiou na mesa e Mia a ajudou a agarrar um dos canos dispersos na sala. O plano era conseguir se prender no cano e se arrastar até uma das máquinas - porém, logo que pegou impulso com Mia para se agarrar no cano, a morena perdeu um pouco do equilíbrio e bateu na mesa. Seu movimento fez com que a mesa balançasse o suficiente para fazer a pistola de pregos disparar contra sua coxa.

O recuo da arma fazia com que a mesma – presa com prego e a parede - disparasse novamente.

Stein havia encontrado uma passagem, mas não havia conseguido se localizar para chegar até o ponto na sala onde as garotas se encontravam.

A garota berrava enquanto uma dúzia de pregos penetrava sua pele. Dois atravessando sua perna não completamente, ficando expostos do outro lado. Outro em sua barriga, perfurando seu intestino. Três em seu braço esquerdo, um atravessando sua boca...

Ao ver o que acontecia, Erick se dispôs a correr pelo corredor, trilhando o caminho feito por Stein para tentar chegar até as garotas e ajuda-las.

Mia tentou se arrastar até uma das máquinas para poder se equilibrar e descer, porém o cano não aguentava seu peso e logo começou a ranger e balançar.

— DROGA! – A garota gritava enquanto tentava pegar impulso para se jogar em cima da máquina.

Ela se arremessou contra um duto de escape, na esperança de se prender em sua grade, mas não conseguiu se segurar e acabou batendo de cara na máquina e sendo jogada no chão.

O cano em que se segurava se dividiu, cada pedaço despencando para um lado. O primeiro acertou a máquina em que Elly tentou se agarrar, quebrando um pedaço de sua lataria e deixando um motor a mostra. O segundo acertou o painel de vidro, o quebrando por completo e lançando cacos de vidro em cima das garotas, rasgando suas peles e as perfurando.

Elly se contorceu no chão, tentando abafar a dor e se levantar. Não aparentava ter quebrado nenhum osso, ao menos. A garota abriu seus olhos e viu o estado em que sua amiga se encontrava, repleta de cortes e de pregos em sua pele.

— Mia... – Sussurrou enquanto tentava se levantar outra vez e fracassava.

— Ainda estou viva. – A morena respondeu, cambaleando até Elly e estendendo a sua mão boa para a garota. Mia era muito forte. Por mais que todo seu corpo doesse e implorasse pra que simplesmente parasse, a garota não se entregou e ainda se mostrava mais preocupada com o estado de sua amiga caída.

Mia agarrou a mão de Elly e nesse momento o motor da máquina despencou, ainda preso por alguns fios. As hélices do equipamento acertaram as costas da garota com tudo e dilaceraram seu corpo com ferocidade. Elly sentiu a mão de Mia se firmar na sua e logo agarrou o outro braço da morena, sem entender a situação a tempo. Mia não teve nenhum tempo de reação antes que seus órgãos fossem triturados.

Stein apareceu nesse exato momento, Erick não muito atrás. Nenhum deles conseguiu se mover ao ver a cena.

Elly podia sentir o cheiro doce do cabelo de sua melhor amiga se misturando com o cheiro de sangue. Quando se deu conta, estava ajoelhada – coberta de sangue e restos de órgãos – segurando o que restara do corpo de sua melhor amiga.

O trio não se movia, não falava, não gritava e não chorava. Ficaram estáticos, sem poder aceitar a cena que acabara de se passar diante de seus olhos.

                                                                                          ***                

As duas garotas estavam deitadas em um canto sobre a grama. Observando o céu enquanto a noite tomava sua posse. Algumas estrelas começavam a brilhar na escuridão e a Lua já se encontrava a vista.

— Isso aqui é lindo mesmo. – Mia disse.

— Eu sei. Não é uma coisa que geralmente podemos reparar na cidade. – Elly respondeu. Alguns instantes se passaram e Mia voltou a falar.

— Ei... Obrigado.

— Que nada, essa viagem seria um saco só com o Stein, ele reprovaria tudo que eu dissesse ou sugerisse. – A garota riu.

— Não estou falando só da viagem. – Mia retrucou e Elly agora a encarava. – Obrigado por tudo. Você me ajudou nos piores momentos e não duvidou de mim hora nenhuma. – Ellen estava sorrindo agora.

— Eu nunca duvidaria. – Disse enquanto abraçava sua amiga. – E eu vou sempre estar do seu lado. Não vai se livrar tão facilmente de mim.

Faith has been broken tears must be cried

Let’s do some living after we die

Wild, wild horses

We'll ride them some day

***


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Notas finais do capítulo

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