Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 19
Capítulos 19 & 20: The BlackJack / A Promessa


Notas iniciais do capítulo

Escrito por PornScooby e João R. C. Melo.



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“O destino embaralha as cartas, e nós jogamos.”

—Arthur Schopenhauer

CAPÍTULOS 19 & 20

The BlackJack / A Promessa

***

30/12/2015 – Cabo da Praga, 7:57pm

— Desce dai, Garota! – Victor tentava falar alto, mas seu medo de ser descoberto estava fazendo com que apenas sussurros saíssem de sua boca.

— Shiu! Fica quieto seu imbecil – Amy estava subindo a escada de emergência que ficava do lado de fora do prédio. A ruiva havia visto Marcela entrar naquele prédio e achou muito suspeito sua chefa está em um bairro como aquele.

Amy subiu mais alguns andares e com sorte conseguiu encontrar o apartamento onde Marcela estava. A ruiva abaixou-se rapidamente e ficou observando, logo percebeu que havia mais alguém no apartamento, a moça já havia visto aquele rosto em fotografias antigas que Marcela mandara a garota scannear.

Sua chefa se aproximou da janela e Amy tomou cuidado para que não fosse vista. A editora-chefe estava pegando algo em uma estante, Amy se esforçou, mas não conseguiu ver o que era. Aproximando sua orelha com cautela a moça conseguiu escutar alguma coisa.

— ...estou na lista de novo. Me desculpa, Julio.

Amy espichou-se cuidadosamente para ver o que havia acontecido, seus olhos arregalaram-se instantaneamente quando viu que o homem - Julio - Estava sangrando e na mão de sua chefa estava uma arma com algo acoplado que julgou ser um silenciador. Ainda tentando assimilar o que acabara de acontecer, Amy sentou-se pasma, na saída de emergência, e então soltou um leve sorriso.

***

31/12/2015 – Cabo da Praga, 11:57pm

Should auld acquaintance be forgot,

And never brought to mind?

Should auld acquaintance be forgot,

And auld lang syne!

For auld lang syne, my dear,

For auld lang syne.

We'll take a cup of kindness yet,

For auld lang syne.

— Vem Amor! Os fogos já vão começar – Marcela chamou seu marido. O casal resolveu continuar com a festa de reveillon no terraço da Falcon Magazine, a maior motivação para continuarem com o plano foi para distraírem a si mesmos e seus amigos, o clima em Cabo da Praga está completamente caótico. Todos os amigos do casal compareceram menos um, Júlio.

Ricardo estava sentado em uma mesa afastada do centro da festa, sua expressão de preocupação estava evidente em seu rosto, o celular na mão a espera de algum telefonema, seu amigo nunca foi de sumir dessa maneira, algo estava errado e Ricardo iria descobrir, custe o que custar. O homem colocou o celular no bolso e se juntou a sua esposa tentando esboçar um sorriso.

Marcela notou que havia algo errado.

—O que você tem? – A morena perguntou acariciando a costa do marido antes de abraça-lo.

—Eu só espero que nesse ano as coisas melhorem. – Respondeu e apertou um pouco mais o abraço.

—Vão ficar – Tentou animar. – Feliz Ano Novo!

—Feliz Ano Novo! – Desejou Ricardo e então ambos se beijaram, desejando que um novo começo viesse com o inicio do ano.

***

— Você vai descobrir em breve. – Amy respondeu andando em direção à saída – E não será nada barato.

Marcela observou a secretária saindo da sala e um sentimento de perdição começou a ruir dentro dela. Quem sofreu as consequências da raiva que estava fluindo no sangue de Marcela foi um vaso chinês que estava em uma estante próximo a sua mesa. O vaso espatifou-se no chão, mas não sem antes levar junto um porta-retratos, uma foto de Marcela e Lis.

*FLASHBACK ON*

Marcela estava admirando a vista para a baia que cercava o Cabo da Praga, o vento batia frio na varanda do hotel, a editora-chefe estava passando o fim de semana no luxuoso Hotel Hathor, que estava em sua semana de inauguração e os donos do lugar ofereceram uma estadia para a dona da revista para que ela fizesse uma matéria divulgando o lugar. Normalmente a editora-chefe evitaria aceitar esse tipo de convite, mas a construção do Hotel havia movimentado muito a cidade e ela sabia que qualquer coisa que saísse na mídia sobre o Hotel iria repercutir. Em cima da enorme – e confortável – cama estava o notebook de Marcela que agora estava emitindo o som de chamadas do Skype, a morena tomou um susto e foi atender.

—Oi, meu amor – disse Marcela toda empolgada.

—Oi, mãe – Lis falou com um enorme sorriso no rosto. – Mãe, a senhora não vai acreditar no que aconteceu?

—O que foi? – pelo sorriso estampado no rosto da filha provavelmente era algo bom. Marcela estava morrendo de saudade da família, mas não podia demonstrar isso, pois sabia que menina precisava de apoio para enfrentar esse longo período da turnê longe da família.

—Adivinha quem acaba... - Lis dizia pausadamente como se ainda não acreditasse na noticia que recebera – Que recebeu uma indicação como artista revelação e álbum do ano no Grammy latino? – completou rapidamente.

—AI MEU DEUS, ELISA!! MEUS PARABENS!!! – Marcela agora estava com um sorriso maior que o de Lis em seu rosto, estava cheia de orgulho da filha e da gravadora de seu marido que havia produzido o disco.

—Isso não é incrível? Eu estou tão animada!!! Eu liguei só pra te agradecer, Mãe. Muito Obrigada, por me apoiar nesse sonho maluco, Você é uma mãe incrível!!

—Eu estou tão orgulhosa de você, filha – Marcela estava tentando esconder o choro, mas a emoção estava impossível de ser controlada.

—Você e o papai são tudo pra mim. Ai meus deuses! O papai...preciso ligar pra ele, ele vai surtar quando souber!!! Beijos, Mãe – a garota mandou beijinhos pela tela do celular e logo em seguida desligou. Marcela ficou ali observando a foto de perfil da filha, tão linda e doce. Seu maior tesouro.

*FLASHBACK OFF*

Marcela apanhou o porta-retrato e retirou e jogou os cacos de vidro do mesmo no lixo. Retirou a foto da moldura e entregou-se as lágrimas.

From this moment on

If you ever feel like letting go

I won't let you fall

Never gonna be alone!

I'll hold you 'til the hurt is gone

***

 - Antônio, eu preciso de mais informações. – Exigiu Ricardo.

Já faziam muitas semanas desde a ultima vez que o empresário havia visto seu amigo, definitivamente algo tinha acontecido. O Homem cansou de ouvir Marcela tentando tranquiliza-lo dizendo que está tudo bem, resolveu tomar uma atitude e contratar um detetive particular. Foi bem difícil encontrar alguém que topasse uma investigação em pleno The Walking Dead, mas conseguiu.

***

31/12/2015 – Cabo da Praga, madrugada

— Mãe? – Ele repetiu. Incrédulo. E correu para abraçá-la. Helena aceitou o abraço com carinho.

O que ela faz aqui? Mais importante, quando ela aprendeu a usar uma espada e onde sequer arrumou uma?

Sua mente estava explodindo com pensamentos e dúvidas. Tentou falar alguma coisa, perguntar, mas só conseguia balbuciar.

— Querido... – Helena disse enquanto se aproximava e colocava suas mãos no ombro do garoto. – Eu sei que você tem muitas perguntas, mas precisa confiar em mim agora.

O garoto simplesmente assentiu com a cabeça e Helena continuou.

— Tem algo que eu preciso fazer. Mas eu vou te encontrar de novo, e lhe explicar tudo. Responder todas suas perguntas... – Ela olhou para Stein então, dizendo com seus olhos que prestasse atenção. – Mas você precisa ir agora. Precisa ir para um lugar seguro e tomar cuidado.

Stein assentiu, entendendo que Helena queria que cuidasse disso.

Helena abraçou seu filho mais uma vez e então desapareceu pela chuva. Erick estava mais que confuso e em choque demais para tentar enfrentar a mãe e impedir que ela fosse.

***

 

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 1:37am

Morte. Nós evitamos pensar nela o máximo o que podemos, aproveitamos ao máximo nossos dias e vivemos nossa vida como se a morte fosse algo distante do nosso presente. Mas ela pode estar mais perto do que imaginamos. Não vivemos em ignorância a isso, mas sim em negação. Não aceitamos a fragilidade e efemeridade de nossas vidas e continuamos assim até o momento em que a morte nos pega de surpresa. Seja ceifando a nossa alma ou nos fazendo de espectadores de uma tragédia. É algo totalmente compreensível, o jeito como lidamos, afinal, não resta muito além de aceitar quando a hora chegar. Mas a situação aqui é diferente. Sabemos que a morte está na nossa cola, mas não como para-la. Nem ao menos sabemos se é realmente possível. Marcela havia escapado da lista anos atrás, mas acabou sendo puxada para esse caos novamente. Todos morremos um dia, mas o que está acontecendo aos sobrevivente está além de cruel. Presenciar um desses atos foi o que engatilhou esse colapso na minha mente. Não estou pronto para morrer, não estou pronto para perder minha família e amigos e não estou preparado para enfrentar o que a morte reservou para mim. Mas será que vale a pena lutar? Pra onde minha esperança foi? Talvez seja melhor simplesmente me entregar e evitar outra desilusão.

Sua cabeça dava voltas, se afundando cada vez mais no assunto. Estava mais perdido do que nunca. E sua batalha estava apenas começando.

Truth be told I’m still just scared as hell

That I’ll fool the world and never fool myself

Cause I know living right, it isn’t in the lying

But I could live with trying, I could live with crying

I could live with dying tonight

***

Renan estava deitado no quarto de hóspedes da casa de Valentim, onde se instalou por certo tempo. O dono da casa, junto com Ísis, já havia ido para seu quarto. O casal disse que iria dormir, mas o som de rangidos nas paredes e camas dizia o contrário.

A lua reinava no céu noturmo, como um pequeno ponto prateado no meio de um manto negro. Os olhos de Renan começavam a pesar, enquanto sua mente vagava por entre as brechas de seus pensamentos e ele adentrava o mundo dos sonhos. As memórias recuperadas até agora se misturavam com as que ele obteve após a amnésia. As últimas ainda marcavam sua cabeça, após ver as armas no sótão de Valentim. Teria Renan assassinado mesmo aquele homem?

A ideia de ter sangue nas mãos incomodava Renan. Ele se lembrava das consultas com a doutora Soave, que nunca mais aconteceram devido a pouca disponibilidade da psicóloga. Se via novamente no túnel, no dia do acidente. Recordava das rachaduras surgindo no concreto, da cortina de fogo levando todas aquelas pessoas.

Em poucos segundos, sua mente deslizava por sonhos que misturavam a realidade com o desconhecido. No mundo real, seu rosto mantinha uma expressão preocupada, enquanto o corpo se agitava em pequenos espasmos descontrolados.

O túnel pegava fogo. Renan viu-se correndo novamente com Ísis e Valentim. Sabia que podia controlar seus sonhos, mas aquele, não. Estava apenas revivendo tudo o que aconteceu. Revia todas as pessoas morrendo. Thereza estava dentro do carro.

Renan tentava correr para salvá-la, mas não consertaria nada. Um a um, todos começaram a morrer novamente. Passou ao lado de um rapaz de topete, que foi massacrado por um cabo de aço. Depois, viu novamente Marcela, a mulher da revista, correr ao lado de dois homens.

Mais uma explosão de fogo aconteceu e Renan sabia o que viria a seguir. Marcela, que tentava passar entre uma fileira de carros, foi prensada entre dois deles. Um dos homens foi lançado para a direita e o outro para a esquerda. Um deles gritou pelo nome da mulher, com lágrimas em seu rosto. O segundo parecia ter sumido de vista.

Mesmo em sonho, Renan virou-se rosto e tentou achar o rapaz, coisa que não havia feito na visão. Pareceu ter visto um rosto masculino e aterrorizado sendo esmagado dentro de um caminhão de lixo. Os acontecimentos seguiram-se, mas logo a imagem do acidente se dissolveu e ele via-se deitado em um quarto branco novamente.

Parecia ser o mesmo local da última lembrança, o qual ele havia atingido um homem careca com alguma coisa. Sua cabeça latejava e doía, enquanto sentia o sangue pulsando. A visão estava borrada e ele estava tonto. Uma voz doce, feminina e calma conversava com ele, mesmo sem ter garantia de sua atenção. Concentrou-se por um momento… Ele reconhecia aquela voz.

Tentou sentar, mesmo tonto, apoiando-se no divã em que se encontrava. Virou o rosto, olhando primeiramente para o teto e depois para a mulher sentada em uma cadeira ao lado dele. Ela ignorava os movimentos estranhos de Renan e se concentrava em continuar com seu discurso.

Renan focou sua visão e pôde ver claramente a imagem dela. O corte chanel, diferente de hoje em dia, assim como todo o resto do visual. Os óculos, naquela época, tinham o aro da armação de cor acobreada e finos. A roupa mais larga, por que estava acima do peso.

Doutora Soave.

***

A cidade estava estranhamente vazia, Ricardo podia ouvir alguns gritos de agonia a distancia e alguns pequenos focos de incêndio pintavam a noite sombria e gélida do Cabo da Praga. O som que a sola dos sapatos do homem faziam ao tocar o chão estava ecoando pelo beco. Ricardo observou uma silhueta vindo em sua direção.

— Antônio? – O nome saiu da boca do empresário quase que um sussurro.

— Até que enfim, Ricardo. – O homem entrou no foco de uma pequena lâmpada acima de uma das portas que tinham no beco e então reconheceu os traços de Antônio, um sujeito alto, um pouco acima do peso e com um espesso bigode em seu rosto. E por um momento a semelhança do homem com Luigi fez com que Ricardo deixasse escapar uma risada. – Do que você está rindo? – Questionou Luigi... Quer dizer... Antônio.

— Não foi nada, é que...

— Não importa, consegui as informações que você pediu. – Antônio tirou de dentro da sua jaqueta um envelope A4 e entregou para o contratante.

Ricardo abriu o envelope e viu que dentro havia algumas fotos, assim que viu a primeira foto seu corpo gelou completamente, suas pernas tremiam e seus olhos estavam começando a se afogar em lagrimas. Na foto Júlio estava completamente estirado sobre uma imensa poça de sangue.

— O corpo dele está em apartamento na Alameda Tormenta, eu já fiz uma denuncia anônima policia, em breve vão buscar o corpo. – O Homem olhava para Ricardo com a seriedade estampada em seu rosto.

Ricardo ainda olhava a foto sem acreditar no que via, seu amigo estava morto. Depois de tantas lutas e fugas finalmente a morte vencera.

— Ricardo, vou precisar de mais uma coisa sua...

— Do que você está falando? Eu já depositei... – Assim que o empresário virou-se para encará-lo, sentiu uma forte dor logo abaixo da sua costela. Um longo e profundo corte manchava sua camisa branca. Antônio atacou mais uma vez, mas dessa vez o empresário estava prevenido, desviou-se do golpe agarrou o braço do homem. – Por quê? POR QUÊ?

— Hoje é a noite do expurgo seu idiota, você achou que eu ia perder a oportunidade de colocar a cabeça do grande Ricardo Falcão em loteria? – Ricardo apertou ainda mais o braço do homem e então... Crack... Estava quebrado. Antônio começou a urrar de dor e Ricardo o jogou no chão.

— Há uma diferença entre Gentileza e Gente Lesa, você mexeu com a pessoa errada, Luigi. – Ricardo ouviu vozes e tiros vindos do outro lado do beco, juntou as fotos que haviam caído na briga e correu para o outro lado.

Alguns quarteirões depois, Ricardo já estava ofegante e não tinha um sinal de vida na rua, realmente o tal expurgo havia assustado muitas pessoas. O empresário parou em uma esquina para descansar, seu ferimento estava causando-lhe uma dor insuportável. Ricardo arrancou um pedaço da sua calça e amarrou o pano sobre o ferimento com a intenção de estancar o sangue.

Grrr...

Ricardo levantou-se rapidamente ao ouvir os grunhidos e assustou-se a ver a enorme quantidade de infectados andando em sua direção. Uma grande horda de infectados no meio da cidade, o homem começou a correr, sendo seguido de perto pelos que ele deduziu ser um grupo de recém-infectado. Ao longe Ricardo viu um pequeno grupo de pessoas entrar em um dos prédios comercias e só então o homem reconheceu a rua e o edifício. Eles estavam entrando na falcon.

***

Faltavam poucas horas para o amanhecer e o grupo se encontrava na Falcon Magazine, ainda tentando se situar com tudo que estava acontecendo.

Carla e Diego haviam partido logo depois que o complexo foi abaixo, marcando o fim do Expurgo. Procurariam pela mãe de Lola – Lívia – para darem as notícias.

Erick e Gabriel estavam na pequena cozinha do prédio enquanto Marcela, Ed e Débora conversavam na sala ao lado. Gabriel havia ligado para Mia e o grupo estava a caminho, Erick havia sugerido que ficassem todos juntos depois do que aconteceu com Lola. Mesmo que juntos pudessem ser alvos fáceis, estariam melhores por poderem proteger uns aos outros.

Suzana continuava a encarar pela janela o que um dia fora o complexo. Amanda tentara conversar com ela, mas sem nenhum sucesso. Ela estava completamente em choque, sem saber o destino que levaram os habitantes do complexo, mas já esperando o pior.

A adolescente então se aproximou de Marcela.

— Eu quero saber mais. – Falou com determinação. – Quero entender o que está acontecendo.

— É bom se sentar então. – Erick disse enquanto entrava na sala com Gabriel.

— É uma história longa. – Marcela concordou, apontando para a mesa no centro da sala.

Amanda sentou-se a mesa, seguida de Erick, Gabriel e Marcela. Débora e Ed se juntaram logo sem seguida.

— Comecemos pelo acidente. – Marcela tomou iniciativa. – Do que você se lembra?

Amanda buscou fundo em sua mente, voltando ao dia do ocorrido.

— Lembro da parede de fogo. – Respondeu. – Engolindo as pessoas.

— Antes disso, – Erick começou. – Um cara estava gritando sobre o acidente, antes de ele ocorrer.

— Renan... – Ed acrescentou.

— Ele teve uma visão do acidente. – Marcela voltou a falar. – Isso foi o que desencadeou a lista, nos alertar sobre o acidente e consequentemente nos salvar. Deveríamos ter morrido no túnel, esse era o plano original.

— Isso nos jogou em uma lista. – Erick continuou. – E agora a morte está atrás de nós para reparar seus planos.

— E existe uma sequência precisa para isso... – Marcela disse, se voltando para Ed. – Muitas vezes essa sequência é a ordem em que teríamos morrido originalmente. Por isso precisamos do Renan aqui. Ele é nossa maior chance de conseguir desvendar isso.

— Mas isso não quer dizer que vocês não devam ficar atentos também. – Marcela disse voltando sua atenção para o resto do grupo. – Qualquer um de nós pode ver algum sinal ou ter alguma sensação. E é vital que percebamos essas coisas.

Amanda encarava, absorvendo todas as informações que os dois passavam. As coisas começariam a se complicar daqui pra frente. Ter que encarar a própria Morte? Isso estava um pouco além.

— Vocês falaram de uma garota sendo salva. – Amanda indagou.

— Mia. – Débora falou. – E eu também fui salva.

— Se conseguirmos evitar a morte de uma pessoa ela será pulada – Erick foi quem respondeu.

— Porém, quando a lista chegar ao final, a Morte recomeçará, voltando atrás das pessoas que puladas. – Marcela concluiu.

— Então como diabos podemos parar isso? – Débora perguntou.

Marcela suspirou, se lembrando de todas as possibilidades e controvérsias. Não comentaria sobre matar alguém e trocar de lugar na lista e nem sobre a possibilidade de matarem o visionário, era muito arriscado. Poderia provocar muitas reações ruins.

— É complicado demais no momento. – Foi o que resolveu dizer. Erick sabia das informações que estava guardando, mas concordava com Marcela em não revelar nada sobre. – Temos que focar em juntar os sobreviventes primeiro e entender o esquema da Morte.

— Só que tem uma coisa... – Erick disse se virando para Marcela. - Não consigo entender por que Renan teria essa visão se no final não importasse. Se no final formos todos morrer do mesmo jeito. – Marcela mostrou uma expressão um pouco triste, pois compreendia a frustração do garoto e se lembrava de quando esteve na lista na primeira vez. – Olha, pensa no que você disse mais cedo, sobre como estamos conectados. Várias coincidências fizeram com que nos encontrássemos até mesmo antes do acidente. – Disse, lembrando-se do incidente com Marcela. – Acho que essas coisas aconteceram para nos ajudar a reconhecer um ao outro. Pra conseguirmos no juntar.

— Não entendo aonde você quer chegar. – Marcela respondeu.

— Sabemos que a morte está atrás da gente. Que ela quer acertar as coisas por termos quebrado o planejamento original dela. Mas a visão de Renan e todas as outras coisas que nos juntaram, como o amigo de vocês que salvou a Mia. – Ele disse apontando para Ed e Débora. – Talvez exista também uma força do nosso lado? Tentando salvar a gente...

— Ela não está tentando o suficiente então. – Amanda respondeu secamente. – Você viu o que aconteceu com a garota no teatro.

Erick se recostou de volta em sua cadeira e se calou. Estava apenas fazendo suposições, tentando levantar alguma esperança. Mas só havia uma certeza nessa situação. A morte estava vindo atrás deles e escapar não seria fácil.

***

Renan levantou agitado. Já se passava da meia-noite e seu batimento cardíaco estava acelerado. Ele conseguiu se lembrar de grande parte do acidente no viaduto e mesmo que fosse um sentimento egoísta, se lembrou de uma peça importante de seu passado.

Deixando o egocentrismo de lado, procurou na internet o telefone da Falcon Magazine. Precisava conversar com alguém sobre a visão e mesmo que fosse tarde da noite, ele precisava tentar. Ou pelo menos alguém poderia conseguir o endereço de Marcela, a primeira pessoa em que ele pensou. Algo lhe dizia que ela poderia ajudá-lo.

— Alô? – Uma voz feminina atendeu.

— Alô? Eu precisava falar com a Marcela… Ahn, Marcela… - Renan engasgou, tentando se lembrar do sobrenome dela.

— Sou eu mesma. Quem fala? – Marcela respondeu do outro lado da linha.

— Renan. O homem da… Sabe, da visão. – Renan disse, desconsertado, porém agitado. – Eu me lembrei de algumas partes do acidente. Preciso conversar com alguém sobre isso. Demétrio está fora da cidade e a primeira pessoa em que pensei foi você. Eu preciso… Eu não sei…

— Se acalma, Renan. – Marcela pediu. – Você consegue chegar aqui na Falcon Magazine? Tem algumas coisas acontecendo, mas é melhor conversarmos pessoalmente.

Renan concordou em encontrar Marcela no prédio da revista. Anotou o endereço, vestiu uma jaqueta preta e saiu silenciosamento do quarto, visando não atrapalhar Valentim ou Ísis – seja lá no que estivessem fazendo. Procurou a chave de qualquer carro da casa, mas não encontrou nenhuma. Foi até a garagem e encontrou apenas uma bicicletra verde-escuro. Sentindo saudades de sua motocicleta, saiu da casa, deslizando pelas ruas.

Virou sete esquinas, e então percebeu que quando Marcela disse que algumas coisas estavam acontecendo, não era apenas na Falcon Magazine. Três carros que estavam estacionados na rua foram virados de ponta cabeça. Mais três estavam amassados e com todos os vidros quebrados. E quatro pegavam fogo, exalando uma fumaça escura ao céu. Em alguns dos carros, corpos carbonizavam dentro, já sem vida.

Uma Picape vermelha fazia círculos no asfalto. Um rapaz estava pendurado na porta da direita, gritando enquanto girava um taco nas mãos, enquanto outro dirigia e bebia um gole de cerveja.

— Veja só! Mais um otário! – O motorista gritou ao ver Renan.

A Picape começou a acelerar na direção do homem, que tentou correr com sua bicicleta, mas não foi rápido o suficiente. O carro cortou seu caminho e Renan caiu, rolando pelo asfalto e ralando seus braços.

O motorista desceu do veículo, terminando de beber sua garrafa de cerveja e jogando no chão, espalhando cacos pela rua. Segurava um pé-de-cabra na outra mão. O outro rapaz, que estava na carona, chamou a atenção do amigo:

— Ei, Ratão! Volta aqui, o Expurgo já acabou! – Disse, saindo e parando ao lado da Picape.

— Um a mais não fará diferença.

Renan tentou se levantar, recuperando-se do tombo. Quando percebeu o que estava acontecendo, recuou dois passos.

— Opa, calma… Calma, eu nem conheço vocês. – Renan disse, mesmo que, ironicamente, ele não conhecesse quase ninguém.

Ratão não esperou para desferir o primeiro golpe contra Renan, que foi ao chão mais uma vez, cuspindo um pouco de sangue. O morador do Complexo se preparou para chutar o corpo do rapaz, que segurou sua perna. Girando o corpo, passou uma rasteira no homem, levando-o ao chão.

O amigo de Ratão soltou um riso frouxo.

— Tá rindo do que, mongolóide?! Vem ajudar!

— Eu? Não, está divertido assistir.

Renan levantou-se e chutou o pé-de-cabra de Ratão, que deslizou para longe. O mendigo também ficou de pé e tentou acertar dois socos no outro, que desviou.

Violência parecia não ser um ponto forte de Renan. Até aquele momento.

Os primeiros socos no rosto de Ratão pareciam não ter efeito. Ele continuava tentando acertar inúmeros golpes em Renan, que desviava de todos. Segurou os ombros de Ratão e inclinou o tronco dele, desferindo uma joelhada em seu estômago, que cambaleou para trás.

Ratão avançou para tentar acertar, mas falhou mais uma vez. Renan impedia os socos do outro com seus antebraços. Com a palma da mão aberta e virada de lado, atingiu o pescoço de Ratão e lhe deu mais dois socos.

Nesse momento, o amigo de Ratão hesitou em ajudar o amigo, vendo que ele estava levando a pior. Porém, Renan catou um grande pedaço de caco da garrafa de cerveja que o mendigo havia jogado no chão.

Entrelaçando seu braço no pescoço de Ratão, por trás, Renan ameaçou, encostando o caco perto de sua garganta.

— Ainda querem brincar nisso? – Renan falou, aproximando o caco do pescoço de Ratão, originando um pequeno filete de sangue.

O outro mendigo assumiu uma expressão surpresa em seu rosto e então largou seu bastão e saiu correndo. Vendo o controle da situação em suas mãos, Renan largou o caco e empurrou Ratão, que também saiu correndo sem olhar para trás.

Renan respirou por um momento. Começava a não reconhecer a si mesmo.

Aproveitando a chance, entrou na Picape e deu sorte: a chave ainda estava na ignição. Ligou o carro e retomou seu caminho, ainda vendo uma senhora pendurada em um poste de luz, com sua garganta cortada.

***

Renan largou a Picape vermelha na frente do prédio da Falcon Magazine. Adentrou no local, vendo Marcela e uma garota aguardando sua chegada. A jovem não tinha uma aparência muito agradável e o homem tinha impressão de já ter a visto uma vez.

— Esta é Amanda. – Marcela apresentou, enquanto os três adentravam no elevador do prédio.

Renan encarou Amanda com seus olhos azuis intensos. Estava tremendo e parecia agitado.

— Você parece nervoso. Aconteceu alguma coisa? – Marcela perguntou, reparando no olhar perdido do rapaz.

— Ahn, nada não. – Renan disse – Só estou agitado com todas essas lembranças… O acidente, meu passado, doutora Soave e… Enfim, o acidente.

— Fica calmo, vamos encontrar alguns amigos lá em cima. – Marcela avisou – Você só precisa relaxar e tentar lembrar do acidente. Se quiser, posso arranjar um suco ou uma água. Não recomendaria café, te deixaria mais agitado ainda.

Renan agradeceu, e as portas do elevador se abriram.

***

Stein passava com o carro lentamente pela rua. Ellen a seu lado no banco de carona e Mia no banco de trás. Os três encaravam o cenário sem dizer uma única palavra. Sabiam sobre o Expurgo da noite passada.

Mais de uma dezena de corpos espalhados pelo lugar onde passavam. Mia avistara uma cabeça pendurada no lugar de uma placa em uma esquina, seu estômago se revirava mas conseguia continuar o percurso sem passar mal. Stein tentava desviar os membros decepados se encontravam jogados pela rua, para evitar o desconforto. E logo afrente, Elly pode ver corpos carbonizados dentro de um ônibus também carbonizado.

O rapaz avistou o prédio da Falcon Magazine e estacionou logo de frente ao prédio.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 2:12am

Erick e Gabriel foram recebidos a abraços pelo resto do grupo e Erick sentia-se melhor agora que estavam juntos.

Todos voltaram a sala e sentaram-se novamente ao redor da mesa. Prontos para repassarem todos acontecimentos desde o acidente. Suzana estava no escritório de Marcela, dormindo em uma poltrona e ainda não tinham ouvido notícias de Carla e Diego.

— E então? – Indagou Ed.

— Precisamos rever tudo que aconteceu depois do acidente. Todas as mortes que presenciamos ou tomamos conhecimento de. – Marcela respondeu. Ricardo apertou então sua mão, enquanto lembrava-se da primeira vez que passaram por isso. Gabriel e Marcela ajudaram-no com seu ferimento, improvisando um curativo e o homem agora ao menos aparentava estar melhor. Ele estava escondendo sua dúvida e esperando a hora certa pra confrontar Marcela.

Stein se lembrou de seu pai. Mesmo sabendo que ele não estava envolvido com a lista, o assunto de morte lhe trazia as lembranças do ocorrido. Aquilo já havia sido um grande baque em sua vida. E agora olhando todas essas pessoas na sala, imaginando que todas elas estão correndo o risco de morrerem também... Sentia seu estomago revirando com isso.

— O acidente ocorreu no dia 21. – Ed constatou. – Quem foi a primeira vítima?

— Thereza... – Renan declarou enquanto tentava afastar todas as imagens da morte dela. – Na noite de Natal.

— A dona do restaurante... – Erick acrescentou. Havia lido sobre o que acontecera. Um acidente horrível na cozinha. Fotos do corpo haviam vazado na internet, ele nunca conseguiria esquece-las.

Marcela percebeu pela cara do rapaz que ele provavelmente esteve presente durante o ocorrido. Sabia como ninguém a dor de cada uma dessas pessoas e também sabia todo sofrimento que ainda viria.

— Logo depois do Natal eu fui atacada por infectados na Cicciolina. – Débora falou, remoendo as memórias de quando estava presa na gaiola. – Escapei por pouco.

— O garoto no metrô... – Gabriel disse. Esperando que alguém soubesse mais sobre o ocorrido. – Foi um acidente bizarro. Será que está conectado a isso?

— Gustavo. – Marcela falou – Esse era o nome do garoto. Eu estava presente quando aconteceu. – As lembranças daquele dia logo inundaram sua mente.

***

30/12/2015 – Cabo da Praga, 9:39pm

O cabelo de Marcela estava encharcado de sangue, assim como sua roupa e seu rosto. Aquele rapaz loiro, o que ela havia visto de relance na explosão da ponte, estava morto. A morena seguia dirigindo pelas ruas vazias e caóticas da cidade, alguns focos de incêndios iluminavam algumas ruas onde não havia mais energia. Aos poucos. Cabo da Praga vinha sendo consumida pelo desespero da mesma maneira que Marcela, lentamente. O Olhar perdido de seu amigo ainda fazia seu coração apertar. Olhou para o banco do carona e viu ali a rosa amarela, respingada de sangue e agora sem um destino.

***

As luzes da casa de Marcela estavam acessas e só então a morena pensou em Ricardo, teria que mentir para ele outra vez. Respirou fundo e abriu a porta. Seu marido estava sentando de cabeça baixa no sofá, ao ouvir o barulho da porta abrir ele rapidamente levantou-se.

—Marcela... – Ao se aproximar percebeu que estava suja de sangue. – O que aconteceu? – perguntou preocupado, Ricardo estava examinando cada parte de Marcela a procura de algum ferimento, como não encontrou, abraçou-a fortemente.

—A lista, Ricardo. – Marcela sentiu todo o peso do mundo se aliviar de seus ombros enquanto abraçava seu marido, seu porto seguro e sua maior vítima. – Um dos sobreviventes da explosão, morreu na minha frente e eu não pude fazer nada, foi tão rápido. Está acontecendo de novo, estamos na lista da morte mais uma vez.

—Vai ficar tudo bem, nós já vencemos a morte uma vez, vamos vencê-la novamente. – Ricardo deu-lhe um beijo na testa e continuou abraçando-a. – Vem, vamos tomar um banho, amanhã nós ligaremos pro Julio e tentaremos recrutar os outros sobreviventes.

Marcela engoliu a seco ao ouvir o nome do amigo e apenas concordou.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 2:43am

Marcela retornou a realidade e viu Mia esticando o celular com uma foto de Gustavo. Ela passava o celular pela mesa enquanto algumas pessoas concordavam para ela com a cabeça.

A mulher demorou alguns segundos para se situar. Estavam tentando confirmar que Gustavo estava no túnel durante o acidente.

— Depois disso tivemos o Mariano. – Gabriel disse enquanto olhava para sua irmã.

Mia e Elly estavam de mãos dadas, se lembrando da noite em que se separaram dos irmãos. Os gritos do rapaz enquanto era queimado vivo ainda assombravam as garotas em seus pesadelos.

— Foi na véspera do ano novo. – Mia disse. Achava que nunca se perdoaria por não ter tentado mais.

Todos ficaram em silêncio por alguns momentos. Talvez lembrando-se do que passavam na época. Renan pôs-se a falar.

— Tivemos a médica no dia 17. – Outra cena que não sairia de sua mente tão cedo. O corpo de Maria sendo totalmente deformado pela máquina de ressonância.

— Maria Raja. – Gabriel completou com um sorriso triste surgindo em seu rosto ao lembrar-se da colega de trabalho. Não era tão próximo da mulher, mas admirava sua personalidade e dedicação ao trabalho. Era uma das pessoas mais sensíveis e justas que Gabriel conhecia.

— No dia seguinte aconteceu o acidente do Babylon. Eu estaria morta se não fosse pelo Pedro. – Disse sorrindo para Ed.

— Quatro dias atrás outra pessoa foi salva. – Renan afirmou. – Um professor, ele estava no santuário. Foi salvo por uma garota chamada Diana.

— Lola... – Amanda finalmente se pronunciou. – Eu ouvi ela falando com os amigos sobre uma garota que morreu no Santuário. – Todos se voltaram para ela. – Acho que o nome dela era Diana.

Renan sentiu um vazio dentro de si enquanto um calafrio percorria seu corpo. Mais uma morte que não conseguira evitar.

— Pera, Diana Ferreira, a dubladora? – Elly perguntou. – Eu adorava aquele viral dela cantando...

— Ela estava com o garoto do metrô, Gustavo, durante o acidente. – Gabriel falou. – Eu cheguei a inspecionar ela enquanto estava no grupo de primeiros socorros do acidente.

— E depois disso tivemos a Lola. – Marcela falou. A expressão de muitos mudou. Quase todos naquela sala haviam presenciado a morte de Lola. Ainda havia pequenas manchas de sangue na roupa de alguns. Ela percebeu o como a maioria parecia estar desconfortável demais com as lembranças da noite anterior. – Acho que podemos fazer uma pausa. Comam alguma coisa e tentem afastar um pouco todas essas imagens ruins que temos. – Podem tirar um cochilo se precisarem, virar a noite não é algo fácil.

Enquanto os outros membros do grupo tentavam seguir seu conselho, Marcela se afundava novamente em suas lembranças.

***

30/12/2015 – Cabo da Praga, 10:19pm

Enquanto Ricardo estava preparando o banheiro para um banho romântico, Marcela saiu do quarto de mansinho e foi até a parte de trás de sua casa, levava escondido em sua blusa a arma que matara seu amigo. A morena foi até a churrasqueira e tirou um dos tijolos. Aquele era o esconderijo perfeito. Ela colou a arma para dentro e tampou o esconderijo colocando o tijolo de volta.

Marcela voltou até seu quarto e fechou a porta.

—Amor? - A voz de Ricardo vinha do banheiro.

— Oi. – Marcela respondeu calmamente.

— Venha aqui.

The world was on fire and

No one could save me but you

It's strange what desire make foolish people do

I never dreamed that I'd meet somebody like you

I never dreamed that I'd lose somebody like you

Marcela despiu-se, ficando apenas de lingerie, deixou as roupas manjadas de sangue ali mesmo e entrou no banheiro. O ambiente estava suavemente iluminado com o brilho das velas, seu marido surpreendeu colocando pétalas de rosa na banheira que estava cheia de sais de banho.

— Eu não quero ser a louca neurótica, Ricardo, mas...- a morena olhou para o marido com uma cara de descrença – Velas?

— O que foi? – questionou Ricardo. O empresário respirou fundo. - Marcela, nós não sabemos nada sobre essa nova lista. Você se lembra do incidente da ponte?

— Ricardo... - Marcela tentou interromper, mas Ricardo continuou.

—Nós tivemos uma crise de nervos e colocamos tudo a perder. – Completou. – Precisamos ter calma e manter a mente sã. – Disse acariciando o rosto da esposa.

—Você tem razão... A mente sã. – Os últimos acontecimentos passavam pela mente de Marcela e ela tentou ignora-los. – Está bem, vamos esquecer isso. – A editora-chefe segurou a mão de seu marido e alisou-a.

Ricardo passou uma de suas mãos pela cintura de Marcela, puxando-a junto de seu corpo a ponto de sentir o movimento de sua respiração.

—Eu te amo. – Ricardo disse olhando fixamente nos olhos da esposa.

—Eu sei. – Disse Marcela abrindo um sorriso junto com o marido. – Eu também te amo. – Completou.

Ricardo aproximou seus lábios aos da esposa e começou um beijo casto. Marcela passou suas seus braços pela nuca do marido, enquanto ele a segurava pela cintura, acariciando suas costas.

—Vamos para o Chuveiro? – Perguntou Marcela ao pé do ouvido de Ricardo.

—Mas...

—Depois do banho nós vamos para a banheira. – Completou suavemente. Um novo beijo prosseguiu, Ricardo passou a mão pelo sutiã da esposa e o desprendeu usando apenas uma mão, a peça de roupa caiu no chão. – Eu não acredito que você ainda se lembra desses truques bobos. – falou Marcela antes de dar umas mordiscadas na orelha de Ricardo, abraçando-o calorosamente.

Ricardo despiu-se totalmente, assim como Marcela, a morena abriu a porta do Box e ambos entraram. Marcela abriu o chuveiro e a agua morna começou a escorrer pelo seu corpo, o toque de Ricardo passando sabonete em seu corpo era tão suave quanto a agua que escorria. Marcela o abraçou fortemente e o beijou sentindo o corpo musculoso do marido contra o seu. Ricardo começou a mordiscar sua orelha e foi descendo até seu pescoço. A respiração de Ricardo ao pé do ouvido e as mordiscadas faziam com que Marcela sentisse única, desejada, poderosa. A empresária sentiu o membro ereto de seu marido enquanto o abraçava. Ricardo respirou intensamente, as unhas de Marcela passavam pelas costas de Ricardo deixando marcas. O empresário segurava Marcela pela cintura com uma das mãos enquanto outra mão acariciava pelo corpo da esposa, a mão de Ricardo foi descendo lentamente e quando Marcela percebeu, seu marido estava acariciando seu clitóris, penetrando seus dedos na esposa de maneira lenta e carinhosa.

What a wicked game to play

To make me feel this way

What a wicked thing to do

To let me dream of you

What a wicked thing to say

You never felt this way

What a wicked thing to do

To make me dream of you

Marcela gemia baixinho enquanto era masturbada pelo marido, os beijos estavam ficando mais intensos e os arranhões nas costas de Ricardo só aumentavam. Seu marido seguiu beijando seu pescoço e continuou descendo, beijou seus seios e continuou beijando cada vez mais embaixo, passando por sua barriga e foi ajoelhando-se até chegar na vulva da esposa. Marcela agarrou a saboneteira da parede e jogou sua cabeça para trás, sentindo a agua percorrer seu rosto. A língua de Ricardo acariciava carinhosamente Marcela, enquanto suas mãos percorriam e acarinhavam o corpo da esposa. Os gemidos de Marcela estavam intensos. A empresária estava completamente nua, vulnerável, apaixonada. Marcela sempre amou Ricardo, desde a primeira vez que o vira e mesmo depois de tantos anos esse amor e essa paixão ainda eram vividos.

Ricardo levantou-se. Marcela ainda ofegante o encarou, os dois abriram largos sorrisos.

—Vamos para a banheira? – perguntou o marido.

—Vamos – Marcela respondeu sorrindo.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 4:22am

Stein olhava para o garoto observando a vista do prédio. Estava totalmente diferente do que havia visto na últimas semanas. Alguma coisa estava errada, ele podia ver nos olhos do garoto.

Mas não era a tristeza por ter perdido sua irmã, não era o medo do que estava por vir e nem a preocupação com a segurança dos outros.

O garoto estava com um olhar vazio. Parecia para Stein que estava totalmente derrotado, apenas esperando o futuro se desfazer diante de seus olhos.

You've got a face for a smile you know

A shame you waste it when you're breaking me slowly

But I've got a world of chances for you

I've got a world of chances for you

I've got a world of chances

Chances that you're burning through

— Precisamos continuar. – Marcela disse surgindo novamente na sala.

A atenção de todos voltou-se para ela e o grupo se juntava outra vez.

— De que você se lembra, Renan? – Marcela perguntou olhando diretamente em seus olhos.

Renan sentia o peso de uma grande responsabilidade naquele momento, enquanto todos lhe encaravam como se ele fosse a salvação deles.

O rapaz fechou os olhos e tentou voltar ao fático dia. Começou a narrar os momentos de quando estava chegando ao túnel.

A senhora em chamas... O estrondo ecoando pelo túnel...

A partir daí, Renan parecia estar em transe total. Narrava tudo que via em sua mente e ignorava quaisquer comentários feitos pelos sobreviventes a sua volta. Citou a picape preta que foi arremessada em uma das explosões.

— Uma loira... – Ele falou. – Ela foi pega pela picape.

— Thereza. – Erick disse olhando para o papel em sua frente com o nome das vítimas.

— Ed! – Renan exclamou. – Eu vejo o Ed... No chão... – Seu rosto fechou completamente então e Ed percebera que Renan estava vendo sua morte. – Estão passando por cima de você, a multidão.

— Eu achei que somente a Débora havia evitado a morte no clube. – Marcela disse, virando-se para Ed, esperando que ele tivesse alguma explicação.

Renan gritou então, chamando por Maria.

— Isso não está fazendo sentido. – Marcela disse se aproximando de Erick e olhando a lista.

— Comece a anotar os nomes na ordem que ele está falando. – Débora sugeriu ao lado do garoto.

— Uma garota de botas... – Renan cochichou. – Mia... Ela foi engolida pela parede de fogo.

Mia se lembrava das pessoas sendo consumidas pelas chamas, seus gritos sendo silenciados... Gabriel percebeu a tensão de sua irmã e logo lhe puxou para um abraço.

— Uma senhora está procurando alguma coisa. A senhora de dreads...

— Rita. – Erick disse.

— Quem? – Stein questionou.

— A senhora que eu ajudei no último momento. – Stein então se lembrou do desespero que sentiu ao achar que o garoto não conseguiria se salvar a tempo.

— A descrição dela bate a de outra morte do dia 31. – Mia se pronunciou. Havia lido bastante sobre acidentes e mortes que ocorreram. – Depois de Mariano.

— Ela não conseguiu escapar... – Renan continuou ainda ignorando o grupo.

Todos o encaravam, esperando a próxima descrição. Esperando. Era estranho poder ouvir sobre a sua própria morte... A morte de qual você havia escapado.

— Thereza, ela está presa no carro...

— Thereza? A outra loira que ele citou deve ser Lola então. – Marcela concluiu.

E o teto... – Renan começava a se remexer na cadeira enquanto cenas das duas mortes de Thereza se misturavam.

— O que tá acontecendo com ele? – Amanda perguntou.

— Renan! Você está bem? – Ed se aproximou do rapaz, apoiando a mão em seu ombro. – Renan, se acalme. – O visionário respirou fundo algumas vezes e voltou a narrar o acidente.

— Uma mulher negra está gritando por alguém. Alguém chamado Max. Ela foi eletrocutada. – Erick anotou algo na folha, mesmo sem informações precisas. – Mariano, ele está dentro de uma Kombi e se recusa a sair. Eu... Eu deixei ele.

Elly começa a remoer então o dia em que Mariano morreu. Elas também haviam o deixado.

— Alguém acabou de passar correndo por mim... É o Erick. – A garganta de Erick se fechou nesse momento, estava prestes a ouvir sua morte. – Outro cabo se soltou. O corpo dele foi destroçado.

O garoto engoliu seco e então sentiu uma mão apertando seu ombro. Não precisou se virar para saber quem era. Com certo receio o rapaz escreveu seu próprio nome na lista enquanto Renan continuava.

— Vejo a Marcela. Ela também me viu, me reconheceu. – Ricardo ergueu as sobrancelhas, estranhando as palavras de Renan. “Me reconheceu.” – Ela foi prensada contra dois carros.

Marcela apertou a mão de Ricardo e homem esqueceu de seus pensamentos por um tempo.

— A garota da bicicleta amarela. Ela... – Não foi preciso que terminasse para que soubessem o destino dela. – Um caminhão desgovernado, dirigido por um infectado. – Voltou a narrar. – Débora não conseguiu desviar.

A magnata das ruas não esboçou nenhuma reação ao ouvir sobre sua morte. Já havia se deparado com a morte depois do acidente no túnel, sabia que continuaria lutando até acharem uma solução. Não se deixaria abalar pelo que já havia passado.

— O loiro... Gustavo. Acaba de ser empalado. E o Alfa! – Renan exclamou e então se silenciou, provavelmente se perdendo na lembrança. – Ele foi esmagado.

— Uma mulher de vestido, cabelos negros e curtos... – Prosseguiu. Gabriel pareceu se lembrar de alguém, mesmo com simples descrição de Renan. – Donatella!

***

Fred e Kaíque estavam desesperados ao telefone. Dona não entendia como as coisas poderiam ter fugido de controle tão rápido. Com Alfinn poderia ter desaparecido?

Estava entrando em seu carro, mas não sabia seu destino. Estava ao mesmo tempo enfurecida e apavorada. Suas mão tremiam descontroladamente e não sabia o que fazer. Não sabia a quem recorrer e muito menos por onde começar a procurar.

— UGH! – A mulher berrou, socando o volante.

Dona olhou para seu próprio rosto no retrovisor, e viu em si mesma um olhar completamente diferente.

Joker... Só podia ser obra dele. Seja lá quem fosse, havia ido longe demais. E Donatella o faria pagar se encostasse um dedo sem seu filho.

***

— Uma garota está sendo atacada por um infectado. – Renan disse. – Amanda. Ele a matou. – Completou, evitando os detalhes grotescos da morte da garota.

— Thiago está tentando me ajudar agora. – Renan começou a se revirar mais algumas vezes e então caiu da cadeira, acordando de seu transe.

Ed e Stein foram ajudar o rapaz enquanto ele se recuperava da experiência. Marcela encarava o papel na mão de Erick, com as duas versões da lista.

— Isso não faz sentido nenhum. – Exclamou. – Devemos estar deixando alguma coisa passar.

— Vamos precisar investigar isso afundo. Procurar algum padrão entre as pessoas na lista. – Erick replicou.

— Mas não temos condições de fazer isso agora. – Débora acrescentou. – Estão todos exaustos, e isso é honestamente perigoso na situação que estamos. Acho que deveríamos dar algum tempo para pelo menos recuperarmos o sono perdido.

***

Lena caminhava por um corredor estreito, não sabia onde estava e nem como chegara ali. Os papeis de parede do lugar estavam rascados e descascando aos poucos. Não havia nenhuma iluminação no local ou janelas, mesmo assim a loira conseguia enxergar o suficiente para não dar de cara com uma parede.

Adentrou uma das portas e encontrou o que aparentava ter sido um escritório um dia. Móveis tombados, velhos e cheirando a mofo se exibiam pelo local. Poeira e teias de aranha tomavam o recinto por completo quase.

A loira se aproximou de um quadro branco na parede. Em tinta preta estava escrito, com uma letra tremida, mas nítida: “DE QUE VALE TER ESPERANÇA?”. Ela tentou apagar a mensagem, mas ela estava provavelmente a tempo demais no quadro e a tinta já se tornara quase permanente.

Preparava-se para dar meia volta e deixar o recinto quando ouviu o som, algo riscando o quadro. Virou-se e viu uma nova frase se formando: “ME AJUDE”.

A garota recuou para o corredor e então a porta se fechou bruscamente, quase a atingindo. Lena conteve seu grito e tentou recuperar o fôlego. Abaixou-se e respirou fundo, encarando o chão. Pareceu então ouvir um pequeno gemido. A fonte dele estava logo acima da cabeça da loira.

Ela ergueu a cabeça e viu um rosto se movimentando pela parede. A construção que deveria ser sólida mais parecia um pano enquanto o rosto se revirava, como se tentasse libertar-se da parede.

Lena se levantou rapidamente encostando-se na parede oposta e mais rostos começaram a surgir. Ela se dispôs então a correr, batendo em cada porta do corredor, procurando uma saída.

Os gemidos ficavam mais altos e começavam a soar como gritos. A loira podia avistar o final do corredor. Uma única porta, era sua chance de sair. Continuou correndo até a porta se abrir sozinha, revelando Erick na pequena sala.

As paredes da sala eram feitas de espelho, exibindo seu irmão em todas as superfícies. A loira parou onde estava, os gemidos se calaram e tudo que podia ouvir era seu irmão. Ele estava ajoelhado, as mãos firmes em seu rosto, chorando. Lena tentou se aproximar, mas logo que deu seu primeiro passo ouviu um pequeno barulho e percebeu a rachadura que se formou no espelho atrás de Erick.

— Erick... – Ela sussurrou. – Precisamos sair daqui. – Arriscou mais um passo e outra rachadura se formou nos espelhos. Pode perceber dessa vez água escorrendo por ela. – Erick, por favor, se levanta.

Erick continuava na mesma posição, era como se ela nem estivesse ali. Lena resolveu avançar então, mas logo que chegou a porta, o espelho atrás do garoto explodiu, e uma quantidade enorme de água foi jorrada sobre eles junto de centenas de cacos de vidro.

A loira podia sentir seus pulmões ardendo enquanto se afogava e era arrastada pelo corredor.

Abriu os olhos então e percebeu que estava sonhando. Sua mãe lhe segurava e tentava dizer algo. Lena demorou para entender suas palavras.

— O que você viu? – Helena lhe encarava apreensivamente.

— Água... Helena, o que está acontecendo? – Lena perguntou, sem entender nada da situação.

Helena simplesmente a abraçou.

— Vou explicar tudo assim que puder. Mas agora precisamos ir atrás de seu irmão.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 04:32am

— Sua sorte é que cada uma dessas salas possui um kit de emergência. – Disse Marcela tentando distrair o marido enquanto passava soro fisiológico sobre seu ferimento. O homem havia forçado demais e começara a sangrar novamente.

—Ah... Realmente. – Ricardo respondeu secamente, encarando um dos retratos na parede do escritório de Marcela. A morena continuou a fazer o curativo, tomando todo o cuidado para não machucar marido que preservava o silencio mortal do cômodo.

Marcela respirou fundo, já estava pronta para encher o marido de perguntas, quando foi surpreendida com uma.

— Você se lembra do primeiro lugar que moramos quando nos mudamos pra cá? – Ricardo disse com um leve sorriso no rosto. Marcela congelou dos pés a cabeça.

— Me lembro vagamente. – Mentiu. Obviamente lembrava-se daquele lugar, um pequeno apartamento na Alameda das Tormentas, o lugar onde Júlio dera seu ultimo suspiro. 

— Eu adorava aquele lugar, era tão cheio de vida apesar da simplicidade. – Disse cinicamente. – Foi lá que Elisa deu seus primeiros passos. Júlio ficou tão contente esse dia que fez questão de preparar um churrasco. Você lembra? – Os olhos de Ricardo começavam a lagrimar, seus sentimentos eram um misto de tristeza e raiva.

— Apenas algumas lembranças. – A editora não conseguia encara-lo, fingiu estar focada no curativo, mas sua mente prezava para que estivesse errada sobre o que iria acontecer.

— Talvez isso ajude você a refrescar sua memória. – Ricardo puxou de seu bolso o envelope com as fotos que o detetive lhe entregara e deu a esposa. Marcela respirou fundo, encarou o marido por alguns segundos, ele gesticulou para que ela abrisse o envelope e assim fez. Assim que viu as fotos a empresária ficou sem reação.

— Você não vai se dar nem ao trabalho de negar?! – A raiva estava crescendo dentro de Ricardo, suas mãos estavam tremendo de fúria. – Olha pra mim e diz que você não tem nada a ver com isso. – Marcela continuava em silencio, apenas encarando as fotos. – OLHA PRA MIM! – Disse Ricardo dando um forte soco na mesa, fazendo a empresária estremecer e olha-lo imediatamente.

—Ricardo, eu não... – Marcela não conseguiu continuar. Sua voz embargou e o sentimento de culpa tomou conta do seu ser.  – Me desculpa.

—Me desculpa? Você matou o Júlio! Por quê? – Indagou Ricardo. Marcela já estava pronta para responder, mas a resposta estava clara o suficiente para Ricardo. – A lista. Você o matou por CAUSA DA PORRA DA LISTA?

—FOI! EU NÃO QUERO MORRER, RICARDO! – Disse aos prantos.

— A PREÇO DE QUÊ? UMA OUTRA VIDA? HAVIAMOS COMBINADO DE NUNCA DESCER TÃO BAIXO! – Gritou Ricardo.

—ISSO FOI DEPOIS... – Marcela rapidamente calou-se, percebeu que havia entregado demais.

—Depois do quê? – Ricardo aproximou-se de Marcela, que agora conseguia sentir a respiração do marido em seu rosto.

— Na primeira lista em que fiz parte... – A morena respirou fundo e continuou. – Eu não escapei da morte por causa da gravidez...

—Do que você...

—Eu matei uma o seu pai. – Completou.

Ricardo arregalou os olhos e sentiu se corpo aquecendo-se de ódio, o empresário ergueu a mão para estapear a esposa, mas parou ali mesmo. A empresária o encarava com os olhos cheios de lágrima, assim como os do marido que agora balançava a cabeça em negação.

— Você não é a pessoa que eu conheci. – Disse Ricardo antes de sair da sala, deixando sua esposa ali aos prantos.

Marcela estava juntando as fotos que Ricardo lhe entregara, o corpo de Julio sobre uma enorme poça de sangue. Não havia outra forma de escapar da morte, mas uma vez teve que sucumbir ao malvado jogo da morte.

— Posso entrar? – Disse uma voz aveludada, Marcela virou-se e viu que Renan estava parado na porta encarando-a com seus grandes olhos azuis. A morena tentou limpar o rosto e esconder o choro, mas o rapaz já havia entendido o que acontecera ali e mesmo sem obter uma resposta ele adentrou o cômodo. – Noite difícil, não?!

— O que você quer? - Questionou Marcela bruscamente.

— Eu só queria saber o que... – Os olhos de Renan focaram nas fotos que Marcela segurava, uma forte dor atingiu-lhe a nuca e uma lembrança saltou em sua memória. – Esse homem... – Marcela tentou esconder as fotos, mas era tarde demais, elas já estavam nas mãos de Renan – Eu vi esse homem!

— Como? Quando? – Perguntou intrigada.

— Na noite do acidente, eu vi... – Renan respirou fundo antes de continuar. – Eu vi ele morrer.

Um vento gélido atravessou a sala e arrepiou Marcela, as luzes da sala começaram a piscar e logo em seguida todo o prédio apagou.

— Droga! – Berrou. – Vem comigo, Renan. – A empresária falou enquanto se apressava.

***

Os outros sobreviventes estavam em sua maioria nocauteados pela sala, cochilando onde podiam. Com exceção de Erick, Elly e Amanda. Marcela assegurou-lhes de que era só uma pequena falha elétrica e que iria resolver rapidamente.

Isso não podia estar acontecendo. Tudo pelo que passara, tudo que fez, foi... Foi tudo em vão. E agora estava de volta na lista sem ter a mínima ideia de sua posição. Pensou em conseguir mais informações de Renan, mas a ordem de mortes em sua visão não batia com os acontecimentos, não lhe serviria pra nada agora.

Erick e Elly não se contentaram com a afirmação da empresária, tendo ainda visto Ricardo se retirar da sala explodindo de raiva... Esperaram alguns minutos e seguiram Marcela e Renan pela Falcon Magazine. Amanda os acompanhou logo em seguida.

***

It’s dark outside and the baby’s asleep

You’re going for a ride... Why is it black?

What is this tingle on the back of my neck?

Dona acelerava pelas ruas. Planejava chegar ao hospital, e encontrar qualquer pessoa que pudesse lhe ajudar. Não estava conseguindo pensar direito e não podia lidar com a situação assim.

Passava ao lado do restaurante onde havia acontecido o primeiro ataque em horda, quando o semáforo explodiu em faíscas e despencou no meio de seu caminho. A mulher girou o volante ferozmente para desviar do objeto, lamentando sua decisão logo em seguida.

O carro virou muito bruscamente o semáforo e logo Dona pode sentir as rodas se levantando do chão enquanto o carro começava a capotar.

***

It’s cold outside and the fire’s burned out

You’re going for a ride... Don’t go...

Marcela avistou Ricardo em uma passarela na sala de impressão e decidiu que precisava se acertar com o marido o quão cedo possível.

— Renan, a sala de controles é logo ao final daquele corredor. Basta virar a esquerda e seguir reto até a terceira porta da direita. – Ela disse apontando para o corredor e então olhou para onde Ricardo estava novamente. Renan entendera o recado e seguira seu caminho.

***

Às pressas, duas mulheres entraram na sala, despertando o grupo. Mia reconheceu uma delas do dia em que encontrara Marcela pela primeira vez.

— Helena, não é? – Indagou, despertando a curiosidade de Stein sobre como ela a conhecia.

— O que está fazendo aqui? – O rapaz perguntou rapidamente, temendo o pior.

— Estou procurando o Erick, onde ele está?

— Pera, você conhece o Erick? – Mia perguntou enquanto Stein olhava ao redor da sala, notando a ausência do garoto e de sua irmã.

— Sou a mãe dele. – Helena respondeu. E então a outra se apoiou em Helena, não parecendo se sentir bem.

— Você está bem? – Stein logo perguntou, tentando ajudar a loira.

— Esse lugar... – Ela começou. – Eu sinto como se eu estivesse andando em um cemitério. Stein e Mia estremeceram com a afirmação e logo Helena tomou iniciativa.

— Precisamos nos apressar. – Disse enquanto saía rapidamente da sala.

Os dois se juntaram a outra mulher que adentrara a sala e seguiram Helena.

— A propósito, eu sou Lena. – A loira disse, deixando Stein com os olhos arregalados.

— Como você sabia que ele estava aqui? – Mia perguntou, ao lado de Helena.

— É complicado... – Foi o que respondeu. A verdade é que encontrara Lena vagando ao redor do prédio em um estado quase catatônico. Isso havia sido indicação o suficiente de que algo estava errado.

***

O empresário vagava sobre a comprida passarela de ferro quando Marcela surgiu do outro lado.

— Eu preciso lhe explicar. – Foi o que a mulher falou.

— EU NÃO QUERO OUVIR MAIS MENTIRAS! – Ricardo berrou em resposta.

— Ricardo, mantenha a calma.

—NÃO... – O homem percebeu que seu tom estava deveras exagerado. – Apenas não dirija a palavra a mim. – E continuou a caminhada pelas enormes passarelas que cobriam toda a extensão da sala de impressão da revista.

Marcela ouvira um grande estalo e logo todas as luzes da empresa estavam acessas, o mesmo barulho fora foi ouvido novamente, mas dessa vez seguido de um enorme tremor. A estrutura da passarela começou a ruir, Marcela segurou-se no corrimão, mas a frágil estrutura partiu-se depois de um terceiro estalo. A empresária gritou, mas logo percebeu que não estava caindo. Ricardo estava segurando-a. Um Barulho grave e continuou a ser ouvido. A morena olhou para baixo e percebeu que as máquinas de impressão haviam sido ligadas.

I didn’t want to love you

I didn’t want to go that deep

I didn’t want a dream come true

Just to lose it while I sleep

O ferimento de Ricardo voltara a sangrar devido a força que estava fazendo, sua esposa dependia dele, tentou puxa-la novamente, mas em vão. – Vai ficar Tudo bem, querida! – Disse tentando tranquiliza-la. Todos os sentimentos ruins que estava sentindo sobre a esposa se esvaíram, tudo o que importava agora era vê-la em segurança. A expressão no rosto de Marcela era de extremo pânico até que seus olhos se encontraram com o do marido e várias lembranças vieram em sua mente. Os primeiros passos da filha, o primeiro encontro com Ricardo, a ultima vez que vira seus pais.

A passarela balançava. A estrutura estava presa em algumas poucas barras de metal que sobraram, o sangue vindo da ferida de Ricardo aumentava de quantidade, o homem urrou de dor e desespero, mas Marcela apenas o encarava com uma expressão serena em seu rosto.

—Ricardo... – A morena começou a dizer, mas logo foi interrompida.

—NÃO! Eu sei o que você vai dizer, nem pense nisso! Eu vou salvar você quantas vezes forem necessárias... – Disse Ricardo com a voz já embargada. – Eu vou! – Então reiniciou a tentativa de puxa-la, mas falhou novamente.

Every night I held you tight

Don’t take him from me now

Every day I’d wake and say

I got to keep him one more day

Oh thank you, thank you for this day

—Você já me salvou... – Uma lágrima escorreu por seu rosto. Marcela notou que mais uma das barras se rompeu – Essa é a minha vez de salvar você.

Marcela soltou a mão de Ricardo que tentou desesperadamente segura-la, mas Marcela fora mais eficiente. Tudo que o homem conseguiu fora arrancar do pulso da esposa uma correntinha.

O trio chegou a tempo de vê-la caindo, sem ter muito tempo para reagir.

— MARCELA! – Erick gritou ao ver o destino que a mulher levaria.

Marcela sentiu o ar passando pelos seus cabelos, o mundo parecia estar passando em câmera lenta, a morena esboçou um sorriso quando um último pensamento estupido passou pela sua mente.

Em um jogo de 21 o Croupier vai distribuindo suas cartas uma a uma, com um suspense que parece que não vai ter fim, você amedrontado pela possibilidade de “Estourar” fica cominando em sua mente se deve ou não continuar e então aquele sentimento que você estava tentando esconder aparece. A curiosidade. Qual a próxima carta?

Acontece que cada repartição das cartas gera um resultado singular, E sabe-se bem que com as mesmas cartas, jogadores diferentes farão partidas diferentes. Não vai adiantar se esconder em caras de blefe, pois o Croupier já sabe qual será a próxima carta, a casa sempre ganha. A morte ganhou de mim pela ultima vez.  

Você errou Cassandra.

***

Anos 90 – Ponte Octávio Frias, São Paulo, 9:39pm

A noite paulistana era iluminada e mesmo morando algum tempo na cidade Marcela ficava impressionada com tanta magnitude da cidade, mas nesse momento a cabeça da vendedora não poderia se dar ao luxo de se entregar a devaneios sobre as maravilhas arquitetônicas de São Paulo.

A lista tinha feito mais uma vitima Rogério, Um dos fornecedores de roupa da loja de Marcela. O senhor tivera uma terrível morte envolvendo um cortador de grama, a vendedora ainda lutava pra tirar as imagens da cabeça. Aquela havia sido a terceira morte após o incêndio. Marcela tirou o pequeno bloco de anotações do bolso, lá estavam os nomes de todos os “sobreviventes”.

Elisa

André

Rogério

Cassandra

Ricardo

Marcela

?

Júlio

 

O ponto de interrogação na lista representava a única pessoa que Júlio não conseguiu identificar em suas memorias da premonição. Mas nesse momento a única coisa que passa pela cabeça dos amigos era Cassandra, a jovem era uma amiga de Marcela que trabalhava na loja de importados próximo a sua, assim que Marcela chegou ao camelódromo a moça foi uma das poucas a recepciona-la com carinho e com o passar do tempo se tornaram grandes amigas e junto com Elisa, as três se divertiam muito nas horas vagas. Elisa foi a primeira a ser levada pela morte e Marcela não iria deixar que Cassandra tivesse o mesmo fim.

— Merda! – exclamou Júlio – Por que estão buzinando tão alto?

— Júlio... – Marcela começou a disser mas o rapaz não lhe deu ouvidos.

— Estamos em um engarrafamento não vai adiantar ficar buzinando. – continuou Júlio.

Marcela e Ricardo se entreolharam

— Cara, por incrível que pareça... – Ricardo estava sentado no banco do carona, enquanto Júlio dirigia, ou tentava já que um engarrafamento gigante estava prendendo o carro no meio da ponte. – Ninguém buzinou.

— Não? Eu tive certeza que ouvi uma buzina extremamente alta. – O rapaz olhou para os amigos para ter uma resposta positiva em relação ao que ouvira, mas ambos não haviam ouvido nada.

— O que tá acontecendo? – Questionou Marcela do banco de trás. – Por que todo esse engarrafamento? – Completou, mas logo sua pergunta fora respondida pela fumaça que surgiu no horizonte. O trio se olhou e como se estivessem conectados acabaram pensando na mesma coisa.

— Será que... – Mal Ricardo começou a falar e Marcela já estava saindo do carro e correndo em direção ao local da fumaça. Ricardo saiu logo depois, sendo seguido por Júlio.

Marcela corria por entre os carros como se o mundo dependesse dela e realmente dependia, sua amiga poderia estar em perigo e não ia deixar que ela fosse levada. Marcela se aproximou do foco da fumaça e notou que seu pensamento estava certo, aquilo tinha envolvimento com Cassandra.

—Cassandra... – Marcela apressou o passo e abraçou a amiga. A moça estava visivelmente frustrada ao lado de seu carro, o capo estava aberto e Marcela logo percebeu o que estava causando a fumaça. O motor. – Ai meu deus, que bom que nós encontramos você! – completou.

—Nós? – Cassandra estava com os longos cabelos ruivos bagunçados, o que aumentava mais ainda a sua expressão de duvida e preocupação – Como assim? O que tá acontecendo?

Como que se respondessem as perguntas de Cassandra, Júlio e Ricardo chegaram até onde as moças estavam.

—Ricardo e Júlio? – Finalmente a ruiva conseguiu ajeitar suas madeixas prendendo-as em um rabo de cavalo improvisado. – Marcela, O que tá acontecendo?

—Foi o Rogério... – Marcela nem precisou concluir a frase, Cassandra olhou para os amigos para confirmar e ambos assentiram com a cabeça. A ruiva levou a mão até a boca, ela sabia o que aquilo significava. Júlio havia lhe contado sobre a lista e de todo o mal que estava por vim. Ela seria a próxima.

***

— Eu não acredito que ele morreu. – Disse Cassandra para Marcela. – Isso é tão bizarro.

As duas estão encostadas no parapeito da ponte, depois de alguns minutos depois de se encontrarem com Cassandra, o grupo levou empurrou o carro para lado, liberando assim uma das pistas e apesar de lento, o trânsito estava fluindo.  Júlio tentava reparar os danos no carro da ruiva enquanto Ricardo o ajudava.

— Por que isso tá acontecendo com a gente? – Marcela virou-se para analisar as águas escuras do Rio Pinheiros.

— “Essa divisória que nos separa do mistério das coisas é o que chamamos de vida.” – Disse Cassandra soltando um leve sorriso para a amiga. – Parece que Victor Hugo escreveu essa frase para esse exato momento.

— Como você pode estar tão calma? – Marcela virou-se para amiga e encarou seus olhos. Os olhos de Cassandra eram verdes, mas não um verde límpido e cheio de verdades, mas sim um verde sombrio e cheio de incertezas.

A ruiva soltou um largo sorriso e respondeu. – Eu não sei, eu deveria estar surtando não é?! – Marcela concordou com a cabeça. – Eu acho que o desespero só vem em duas situações. Primeiro, Quando você começa a pensar demais. 

Marcela abaixou a cabeça e olhou novamente para amiga esperando a continuação.

— E depois?

— É quando você está prestes a morrer.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Falcon Magazine, 05:10am

O corpo de Marcela atingiu a imensa máquina de impressão. A visão de Marcela escureceu para sempre. Algumas engrenagens voaram longe, mas as esteiras continuavam a girar, agora levando o corpo da empresária que estava indo em direção a próxima estação, onde as longas tiras de papel eram cortadas para logo depois serem empilhadas.

Walking down the hallway, turning off off the lights

There’s no need to wait up for you, it’s time to say goodnight

You know the day you go away, then I’ll become a ghost

Doomed to walk the world without the one I loved the most

O sangue de Marcela estava escorrendo pelo interior da máquina causando diversos curtos-circuitos, agora as lâminas afiadas estavam fatiando o papel em uma velocidade maior e as esteiras pareciam ter presa de levar o corpo até elas. Cada parte do corpo de Marcela fora fatiado, espirrando tripas e sangue para todos os lados.

Em meio a gritos e lágrimas, Ricardo se levantou e foi se afastando. Não deixaria o sacrifício de Marcela ser em vão.

Your breath is still on my lips

Your touch is on my fingertips

Your tears are still on my cheek

Your voice still makes me weak

Elly gritou enquanto ouvia os sons que o corpo da empresária fazia. Amanda desviava seu olhar da cena, querendo sair daquela situação o quanto antes.

Os sons vindos da máquina começaram a se intensificar. Pedaços começavam a se soltar e partes da máquina se expandiam, prontos para explodir. Logo o lugar estava tremendo junto com a máquina.

A primeira explosão fez o trio perder o equilíbrio e ir de encontro ao chão. Erick se chocou contra uma parede, ainda encarando o lugar onde Marcela caíra. Era a pessoa mais experiente do grupo. Já havia lidado com isso antes e provavelmente estava atenta a qualquer detalhe, qualquer sinal. E mesmo assim a Morte conseguiu levá-la. Como poderiam ter esperança?

Gifts I will never give you

Lives I will never live with you

Words that will never be spoken

The moment I lose you

Love is broken, love is broken

— Erick, levanta! – Elly gritou, enquanto se juntava a Amanda para levantar o garoto. O local começava a ser tomado pelas chamas e todas as entradas pareciam bloqueadas. – Estamos cercados.

— Não estamos não. – Amanda disse, apontando para uma tampa de bueiro em um canto da sala.

— Que?! – Elly e Erick exclamaram, estavam em dúvida se realmente tinham entendido o plano.

— O sistema de esgoto da cidade é tipo o Americano, tem espaço suficiente pra entrarmos e metermos o pé daqui.

— Como você sequer sabe disso? – Erick perguntou.

— Anos atrás... – Amanda começou. – Eu me interessava por arquitetura. Estudei um pouco sobre a da cidade. – A garota sorriu por um momento, ao se lembrar de como estava animada com a ideia. – Vamos!

Eles passavam cuidadosamente pelo lugar, evitando se aproximar demais da máquina, desviando das chamas e ocasionalmente de peças que se soltavam.

— ERICK! ELLY! – Ouviram um grito do outro lado da sala.

Stein e Mia estavam encarando a cena. Completamente perdidos quanto ao que fazer quando viram o fogo tomando conta de todas as entradas. Os olhos de Stein entregavam seu pavor, expresso diretamente a Erick. Sua vez provavelmente havia chegado.

Ao lado deles então surgiu sua mãe e em seguida...

... Lena.                          

Quis gritar por ela, correr e abraça-la... Mas não teve tempo de processar a notícia de sua irmã viva. As coisas começaram a acontecer rápidas demais pare que pudesse parar. Estava lutando por sua vida.

Ouviram um rangido alto e olharam para cima. A passarela estava finalmente cedendo e caindo sobre a máquina que a pouco acabara com a vida de Marcela. Causando a máquina a arremessar mais destroços pela sala.

Stein tentava procurar desesperadamente algum jeito de ultrapassar as chamas, mas era impossível sem que se queimasse. Elly arrastava Erick pela sala enquanto Amanda já estava em a frente, abrindo a passagem para o esgoto.

Um grito então ecoou pela sala...

Alto, estridente.

Todos tapavam os ouvidos enquanto o grito ecoava por toda a sala.

Por todo prédio.

Sons de vidro se rachando podiam ser escutados ao fundo.

Era Lena.

A máquina chacoalhava violentamente enquanto peças voavam com mais velocidade pelo recinto. Lâmpadas eram quebradas e outros equipamentos. Faíscas começavam a surgir por todos cantos quando fiações foram atingidas. A sala se tornara um verdadeiro inferno com inúmeras formas de morrer.

Houve um último som de explosão e Erick se virou, vendo uma placa de metal gigante vindo em sua direção. Não conseguiria desviar a tempo.

Era isso então, seria apenas mais uma vítima do esquema da morte. Não havia escapatória. Seus últimos pensamentos não eram reflexões de vida porém, tudo que se passava em sua cabeça eram xingamentos e uma enorme amargura por ver Lena, sua mãe e Stein logo afrente. Estar vendo tudo que lhe importava sendo tirado dele e vice-versa.

Sentiu então uma mão lhe puxar para dentro do buraco do esgoto.

Caiu de costas no chão junto de Elly. Dor se espalhando por seu corpo, mas estava vivo.

— Não no meu turno. – A garota disse, recuperando o fôlego. Erick riu por um momento.

***

24/01/2016 – Cabo da Praga – Casa de Stein e Ellen, 07:38am

— Você tem muito o que nos explicar. – Erick disse, abraçado com sua mãe e sua irmã. Lena sorria bastante para ele.

— E vou. – Helena respondeu. – Qualquer dúvida que vocês tiverem.

Stein subia os degraus da entrada da casa e estava para tocar a maçaneta quando Juliana abriu a porta os recebendo. A mulher abraçou seus filhos e Mia, e parou em seguida, encarando o outro trio na porta de sua casa.

— Hikari? – Juliana indagou.

— Vocês se conhecem?! – A essa altura, Erick decidira que não esperaria mais nada.

***

— Nós nos conhecemos em 2000 quando eu resolvi pegar um caso de acidente de avião. – Helena finalmente explicava.

Todos estavam sentados na sala, encarando as duas mulheres e esperando elas contarem seus segredos.

— O acidente de seu pai, Stein. – Juliana acrescentou.

— Um caso? – Erick perguntou. Helena parou por um momento, escolhendo suas palavras.

— Eu trabalho com coisas que a sociedade geralmente descreve como “sobrenatural”. Você já sabe que nossa realidade é mais complexa do parece, com tudo sobre a lista da Morte.

— O que você sabe sobre a lista? – Mia perguntou dessa vez.

— Menos que vocês, infelizmente. – Suspirou. – O que eu sabia era por conta de ter investigado Marcela anos atrás.

— O que eu tenho de especial? – Lena perguntou, finalmente. – Por que teve de ir atrás de mim.

— Você é uma Banshee, querida. – Helena sorriu para a garota. – Tenho certeza que já ouviu falar pelo menos da lenda celta sobre elas.

— Um Arauto da Morte. – Stein disse em voz baixa. Helena ouviu e concordou.

— Você é mais sensível que todos nós aqui. Você pode perceber a morte antes de todos e ela te atrai.

— Me atrai? – A loira indagou.

— Sim. – Helena concordou. – Creio que seja por isso que foi parar naquela ilha. – Lena estremeceu ao se lembrar de tudo que passara. – Sua vontade de viajar foi repentina, e resolveu ir para a ilha sem nem visitar nada no caminho antes...

— Por isso precisamos que eu fique perto do Erick. – Lena disse enquanto passava os braços ao redor dos ombros do irmão. – Pra que eu possa salvar ele.

Helena concordou novamente.

— Bem, uma mãe caçadora, uma irmã banshee e um filho na lista da Morte. Já estou até tendo ideias pros cartões de Natal. – Erick disse, rindo.

Stein ficou feliz em ver aquele lado do garoto novamente.

***

Go row the boat to safer grounds

But don't you know we're stronger now

Ed e Débora estavam com Ricardo na Falcon Magazine, tomando conta e consolando o Homem. O fogo havia sido apagado e a máquina parada completamente. Não puderam recuperar o corpo de Marcela, porém. Não havia o que resgatar.

My heart still beats and my skin still feels

My lungs still breathe, my mind still fears

Gabriel estava indo atrás de Dona. Deixaria a mulher a par dos últimos acontecimentos e lhe passaria o contato de todos do grupo. Era importante se manterem conectados, próximos.

Já estava próximo do bairro da mulher quando recebeu a ligação dela.

— O Alfinn foi sequestrado. Eu estou desesperada. Por favor, me ajude, não consegui falar com mais ninguém.

But we're running out of time, time

All the echos in my mind cry

Renan se encontrava a caminho da casa de Valentim. Cogitara permanecer na Falcon com Ed e Débora, mas não aguentaria o ambiente.

Outras duas vítimas, e nem ao menos sentira algo. Ao menos o garoto havia sido salvo. Só que mesmo assim, não por sua causa. Estava cansado de falhar enquanto os sobreviventes caiam um por um.

There's blood on your lies

The sky's open wide

There is nowhere for you to hide

The hunter's moon is shining

Amanda e Suzana voltavam para o que um dia fora o Complexo. Precisavam ver o estrago por elas mesmas. Mesmo que não estivessem preparadas para o que encontrariam.

I'm running with the wolves tonight

I'm running with the wolves

***

Erick estava sentado na cama de Stein, olhando para o nada enquanto se perdia em pensamentos. Ter sua família reunida novamente era algo a se comemorar, isso o acalmava bastante. Saber que aqueles que ama estão seguros. E que a situação estava sobre controle. Mas esse era o problema, isso é o que ainda o incomodava. Não tinha controle nenhum da situação

— Ei... Nós conseguimos! – Stein disse, sentando-se ao lado de Erick e sacudindo-o. – Tente se animar um pouco.

— Mas ainda não acabou. – Ele disse, encarando suas mãos enquanto as mexia em círculos. – Você sabe como funciona. Uma vez que o final da lista chegue, ela volta para reparar os erros.

Stein compreendeu a preocupação do garoto, mas não poderia deixar ele ser consumido por isso.

— E nós vamos conseguir dar um jeito. Hoje nós provamos que podemos reagir.

Erick permaneceu em silêncio, ainda olhando para baixo.

— Você não viu o que aconteceu com a Marcela. Aquilo foi cruel... É perigoso ficar perto disso. É perigoso você estar perto de mim e eu não sei... – Ele respondeu enfim. – Não sei se vale a pena continuar lutando...

— Nem pense em desistir agora. – Disse cortando o garoto. O tom de voz de Stein mudara, quase como se estivesse bravo por Erick sequer cogitar isso. – Já chegamos bem longe. Um passo de cada vez, mas vamos conseguir. Acredite em mim.

O garoto não respondeu e então Stein pegou sua mão e ajoelhou-se em frente a Erick, puxando um anel de seu bolso.

Erick apenas ergueu suas sobrancelhas e fez uma cara de dúvida.

— Não acha que está muito cedo para um casamento?

— Não, seu besta... – Stein disse rindo. - Isso não é um pedido de casamento... É um anel de compromisso.

— É serio isso? – Erick replicou em um tom sarcástico, sem se preocupar na possibilidade de ferir os sentimentos do rapaz.

— Cala a boca e me deixa fazer isso. – Stein replicou, ainda sorrindo. Colando então o anel no dedo de Erick.

— Considere isso uma promessa. – O rapaz começou. – Uma promessa de que teremos um futuro. De que você terá um futuro... Quero poder te conhecer, aprender sobre sua família – a parte que não envolve sua mãe ser uma caçadora de criaturas sobrenaturais, já que isso ainda é meio confuso pra você. – Stein riu. – Quero poder te levara para um jantar, sair para o cinema...

O garoto se acalmou um pouco e deixou-se levar pelo ato de Stein.

— Eu não vou desistir de você, Erick... Eu sei que tudo tem estado uma loucura recentemente, inclusive isso que nós temos. Nós pulamos de cabeça nisso e sei que estamos indo rápido com tudo. Mas estar com você... É a única coisa que me parece certa no momento.

O rapaz então se levantou e Erick o acompanhou, se aproximando, mas não para um beijo.

Entrelaçou os braços na cintura de Stein e o apertou firmemente. Stein não soube reagir de princípio, mas logo devolveu o abraço e deixou o garoto se acomodar em seus braços.

I'm sorry, but I'm just thinking of the right words to say

I know they don't sound the way I planned them to be

But if you wait around a while, I'll make you fall for me

I promise, I promise you I will


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Notas finais do capítulo

Por questões de disponibilidade dos escritores, esses dois capítulos foram misturados. Esperamos que não tenha ficado confuso e que tenham curtido!

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