Premonição Chronicles 3 escrita por PW, VinnieCamargo, Felipe Chemim, MV, superieronic, Jamie PineTree, PornScooby


Capítulo 17
Capítulo 17: O Atirador Solitário


Notas iniciais do capítulo

Escrito por 483ViniKaulitz.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666411/chapter/17

A figura encapuzada deslizou por entre as árvores verdíssimas, o rifle posicionado estrategicamente nas costas, para um alcance rápido e preciso caso alguma emergência surgisse. Ou talvez um infectado.

            O atirador era de altura média, porém parecia ter um físico atlético, ágil o bastante para percorrer longas jornadas. As pernas musculosas por baixo da calça camuflada um pouco justa marchavam por entre os galhos da floresta, constantemente molhado pelo contato com o orvalho da manhã. O calor excessivo do sol, além das copas das árvores no alto - já encharcavam a figura de suor.

            Seu rosto não era visível, coberto por uma bandana, porém os olhos castanhos giravam paranoicos, suspeitos de que uma ameaça invisível surgiria diante de seus olhos. Porém, não aconteceu. Avistou uma clareira entre o verde do mato alguns metros distantes, e então correu.

            Chegou ao topo do abismo. Do topo da montanha, o local onde estava, até as pedreiras lá embaixo, davam pelo menos cento e cinquenta metros de altura. Era uma queda mortal.

            “Não olhe dentro do abismo, e não deixe o abismo olhar de volta para você: desperte a voz da razão e lute com os monstros que surgirem no seu caminho. ”

            Encarou a fazenda, dezenas de metros de distância no horizonte. Eram várias casas grandes, pertencentes a fazendeiros ricos, cercados por uma longa cerca de arame farpado, contudo muitos dos trechos das cercas estavam destruídos.

            Notou um movimento estranho próximo as cercas, tirou o rifle das costas em um único gesto. Observou na mira do rifle.

            Um infectado corria em direção a um casal que parecia tratar de um animal grande, próximo as cercas arrebentadas. O infectado estava aparentemente fora do alcance da visão de ambos.

            Aquele não era o seu trabalho, porém o sujeito deu de ombros. No escuro, ele podia fazer o que quiser. Apontou a mira do rifle para topo da cabeça do homem, enrijeceu o peito para não sentir muito do recuo e disparou.

            XXXX

            Max deu um pulo com o susto, tropeçando e caindo de cara numa tigela de leite recém ordenhado de uma das vacas.

            — Alisson, você ouviu isso? — Max perguntou, secando o rosto contra a própria camiseta.

            — Ouvi. — Alisson abaixou-se próxima a Max, escondida do alcance de qualquer coisa que pudesse atingi-los. — O que acha que foi?

            — Ouvi um gemido e um som oco. — Max observou, e então passou a mão nos pelos da vaca, intacta. — Que bom que não atingiu a gente e nem a vaquinha Diana.

            — Devemos avisar aos outros. — Alisson comentou. A jovem observou a imensa serra, erguida no horizonte diante de ambos. — Alguém pode ter disparado contra a gente direto do topo da montanha. Apesar da distância, com equipamento somos alvos fáceis.

            Max suspirou e levou a própria mão contra o rosto, ainda um pouco coberto de leite, a expressão no rosto desolada. As olheiras no rosto davam ao homem alguns anos a mais do que tinha.

            — Isso nunca vai parar. — Ele balançou a cabeça, triste. — Agora é que eu não durmo mesmo.

            — Alguém atirou sim. — Uma voz familiar surgiu, alguns metros de distância. Max e Alisson levantaram-se, e do outro lado da cerca, Natasha e Alfa estavam agachados, encarando algo no meio da grama.

            Max e Alisson se aproximaram, um pouco receosos, porém não tão assustados dessa vez.

            Um infectado estava caído contra o gramado: um tiro na nuca havia o derrubado, o mesmo tiro que Max e Alisson haviam ouvido.

            — Alguém atirou, mas não na gente. — Alfa sussurrou, olhando de volta para a montanha. — Alguém está protegendo a gente?

            — Não sei. — Natasha o encarou, o olhar cansado. — Se não tivessem atirado nesse cara, ele teria atacado Max e Alisson. Alguém nos ajudou.

            — Alguém “ajudou” a gente. — Max terminou de secar o rosto, as feições mais magras do que o normal. — Resta saber qual a intenção de quem está nos ajudando.

            Os três o encararam, incertos do que dizer. Eles não podiam negar que Max estava certo.

            XXXX

            Rafaela entrou pela porta da frente do hospital, mancando, apoiada nos braços de Vitor. O local estava um caos, porém algumas pessoas com ferimentos não tão graves ainda estavam sendo atendidos em alguns cômodos.

            Amélia estava com os olhos cansados, uma máscara sobre a boca e o nariz. Cansada de correr de um lado pro outro, e exausta por trabalhar o triplo do que costumava trabalhar. Muitos dos funcionários haviam abandonado os cargos, mas aquilo não aconteceria com Amélia.

A enfermeira então avistou Rafaela, um pouco assustada com a visão.

— Eu acabei de encontrar ela na cidade. — Vitor disse, a voz cansada, o uniforme coberto de poeira e provavelmente sangue de alguém. — Eu... eu não sei o que...

            — Rafa! — Amélia berrou, correndo em direção a colega. — Achei que você tinha ido para a fazenda!

            — Eu estava indo... — Rafaela riu, o sorriso fraco e o rosto um pouco sem cor. — Mas disse pra Natasha que precisava voltar para o estúdio...

            — Mas o estúdio já fechou...

            Rafaela ergueu a manga da camiseta branca social, revelando um arranhão profundo no antebraço.

            Amélia abriu a boca, chocada. A jornalista não precisou dizer nada.

            XXXX

            Mariano vestia o uniforme do Capitão América, enquanto Marco vestia o do Homem de Ferro. Janisce acompanhava ambos brincando com as crianças do orfanato, sorrindo, enquanto conversava alegremente com um outro grupinho de crianças que não estavam tão interessadas nos super-heróis.

            Era um dia em que alguns dos pacientes visitariam um orfanato local. Os pacientes do CAPS tinham enlouquecido com as fantasias genéricas de super-heróis que haviam sido distribuídas, enquanto Janisce não tinha encontrado nada que parecia ser a cara dela. Então ela pegou a peruca da Elsa, um vestido da Encantada e um colete da Fera, misturou tudo, arrumou o cabelo e disse para todo mundo que era uma Diva Pop.

            Janisce conversava com o grupinho de crianças fãs de Divas Pop, e Mariano aproximou-se dela, um olhar preocupado no rosto.

            — Oi Mariano…. HMMM.... Quer dizer, Capitão América!

            — Do que você está vestida? — Mariano riu. — Eu juro que tô tentando entender.

            — Eu estou de Diva Pop, é lógico. — Janisce virou os olhos. — Nossa, ninguém entende...

            — Ok Diva Pop. — Mariano arrastou Janisce para longe do grupinho. — Estou preocupado. Uma das crianças me olhou e disse que eu não sou o Capitão América.

            — Mas você não é o Capitão América...

            — MAS PRA ELAS EU DEVIA SER! — Mariano gritou mais alto do que deveria. Alguns dos funcionários e umas freiras do orfanato olharam preocupadas.

            Janisce ignorou o berro do amigo.         

            — Se você continuar deixando o Mario louco escapar de você, aí que elas não vão acreditar mesmo. — Janisce ficou séria. — Você ama esses filmes, você parece com o Capitão, amigo, fecha os olhos e liberta o Capitão de dentro de você.

            Mariano encarou.

            — Vou tentar. Eu não sei se consigo. Eu amo crianças mas as vezes eu não suporto elas.

            — Claro que consegue, Steve Rogers. Eu confio em você.

            Marco aproximou-se dos dois, andando desajeitado com o uniforme do Homem de Ferro.

            — Me desculpe, Diva Pop. — Marco falou cuidadosamente. — Mas eu tenho um ACERTO DE CONTAS COM O CAPITÃO AMÉRICA!

            Marco puxou o braço de Mariano e o empurrou contra a parede oposta com força. As crianças vibraram e pipoca foi arremessada no quarto. As freiras levantaram-se de seus bancos, achando que os loucos iam finalmente aderir suas formas reais.

            Mariano atingiu a parede com um baque dolorido, uma expressão de dor no rosto. Janisce o advertiu com o olhar. Mario olhou de Janisce para as crianças, confuso, então encarou o Homem de Ferro.

            — Você sabe que eu não te mataria se eu não tivesse escolha, Homem de Ferro. Mas a Diva Pop é minha amiga.

            — Eu também era! — Homem de ferro berrou, triste. — EU TAMBÉM ERA!

            Janisce riu, observando a foto do dia em seu próprio mini mural, relembrando as memórias. Aquela tinha sido uma boa época.

            Qualquer época tinha sido boa com Mariano vivo.

            Marco aproximou-se, uma expressão também triste no rosto.

            — É injusto o mundo não saber o quanto Mariano era incrível. — Marco sussurrou.

            — Nós sabemos. — Janisce comentou, secando as lágrimas.

            A mão grande de Marco apertou a de Janisce e os dedos se entrelaçaram. Ela suspirou e tombou a cabeça no ombro do amigo, ainda encarando a foto.

            De mãos dadas, nenhum dos dois disse nada.

            XXX

            — Rafaela. — Amélia perguntou, observando a amiga encostada contra a parede. Uma expressão de fim evidente tomava conta de Rafaela, e aquilo destruía Amélia por dentro. A jornalista tomava soro, sendo cuidada por uma das outras enfermeiras.

            Mais uma vida aos poucos sendo tirada. E não havia nada a ser feito, nada além de esperar o toque da morte.

            — A Natasha já sabe? — Amélia perguntou, enquanto preenchia a ficha. — Você já contou pra ela?

            — Não consegui contatá-la. — Rafaela comentou. — Sem telefone... Eu queria pelo menos vê-la outra vez...

            — Espera. — Vitor encarou do canto do quarto, finalmente falando. — O vírus leva cerca de 2 horas para se manifestar. Já faz mais tempo que eu trouxe a Rafaela aqui...

            Rafaela pareceu esperançosa.

            — Há quanto tempo você foi infectada, Rafaela? — Amélia perguntou.

            A jovem suspirou.

            — Já faz mais de doze horas, eu acho. Eu só estava fraca demais para me movimentar.

            Vitor e Amélia se encararam.

            — A não ser que você não tenha sido infectada...

            — Eu fui infectada! — Rafaela sibilou. — O filho da puta me arranhou e praticamente babou na minha cara. Nas horas seguintes ao ataque eu achei que iria morrer de dor no meio da rua!

            — Mas você não morreu, e nem se transformou. — Amélia observou, chocada. — E mais, você parece estar melhorando!

            — Caramba! — Vitor exclamou. — Estão falando que o vírus vazou da Pyramid...

            Amélia e Rafaela o encararam, esperando o soldado completar o pensamento.

            ­— Rafaela, Max me contou que você e sua irmã ambas já foram testadas no Instituo Pyramid, certo?

            — Sim. — Rafa concordou. — Quando teve aquele surto de catapora na escola, eu e Natasha não pegamos a doença.... Fizeram vários testes e injetaram vários componentes na gente... Foi um pesadelo.

            — Seja o que for que injetaram, alterou algo em vocês. — Vitor comentou, uma risada com a descoberta. — Pelo visto, vocês duas são imunes.

            Amélia correu até o canto do quarto e pegou a própria bolsa.

            — Espere aqui, Rafaela! — Amélia sorriu, colocando a máscara em si mesma. — Vou buscar a Dra. Maciel. Ela vai saber o que fazer.

            XXX

            — Então você era... é dubladora? Só atrás das câmeras? — Lola encarou Diana, a prancheta nas mãos. Ambas as duas garotas andavam pelos corredores de uma casa da fazenda, contando o número de pessoas e anotando dados adicionais.

            Vários dos sobreviventes estavam sendo recrutados em pequenas tarefas ou missões. Diana ainda estava um pouco balançada com os acontecimentos da noite anterior, porém se sentia forte.

            — Eu ainda sou dubladora. — Diana a encarou.

Lola era de gênio forte, e Diana também. As duas haviam sido colocadas juntas, e como Max havia comentado com Diana mais cedo, parecia que uma competição pra ver quem era a melhor tinha se instaurado entre as duas. Honestamente, Diana não ligava.

            — E eu sou atriz. — Lola comentou.

            — Não parece. — Diana entrou numa das salas, contando o número de pessoas.

            — Como assim, projeto de Lombardi do Silvio Santos, eu não pareço atriz? Eu pareço com o quê?

            Diana a encarou, segurando a risada.

            — Eu tô brincando. — Diana exclamou, ao ver a expressão na cara de Lola. — É fácil de te irritar. Eu tô me divertindo.

            — Por favor, não faça isso. — Lola a encarou. — Jesus, parece que você acha que estamos numa competição. Eu não te tratei mal.

            Diana suspirou.

            — Olha, esquece, tá? — Diana deu de ombros, a voz travada num cansaço, ainda no tom poderoso. — Vamos fazer nosso trabalho em silêncio. A gente nem precisa conversar. Nós não precisamos ser amigas, Regina George.

            — Ok! — Lola suspirou. As duas saíram andando pelo corredor, o som do salto alto de Lola batendo contra o piso de madeira. — Mas assim, sério que eu não pareço atriz?

            Diana virou os olhos, prestes a começar tudo de novo, então Thiago surgiu de um dos quartos.

            — Aparentemente, nós três fomos chamados pra outra “missão”. — O professor disse. Ele tinha uma expressão de medo no rosto.

            Lola e Diana se encararam e ambas viraram os olhos.

            — Já vi que vocês formam uma ótima dupla. — Thiago comentou. — Estou ferrado.

            XXXX

            O atirador já havia descido a montanha e se embrenhado na mata abaixo. Já passava do meio dia, e a figura não mostrava sinais de cansaço. Parecia ainda mais determinado.

            O rifle apontado, não havia encontrado o que procurava, mas ainda era cedo. Ainda teria um dia inteiro para procurar. A esperança ainda não tinha acabado.

            A jornada inteira de sua vida tinha sido brutal, cansativa e traiçoeira. Se tivesse imaginado que o jogo daria uma reviravolta tão grande, nunca sequer teria colocado os pés naquele lugar.

            Mas aquilo tudo vinha de uma sucessão gigantesca de erros do passado. Uma trilha gigante de erros e decisões estúpidas, cujas consequências haviam lhe atingido consecutivas vezes no meio da alma. O furacão do destino havia passado e deixado uma trilha de percas inestimáveis. Seu coração nunca mais seria o mesmo.

            Porém, era hora de acertar algumas coisas. Seu treino havia sido completado, e era hora de resgatar um pedaço de si de volta. Os outros que haviam tentado antes, tinham falhado. Porém agora seria diferente. E ao contrário dos outros, ele tinha um propósito.

Finalmente, avistou a criatura um pouco acima do peso, cambaleando próxima a uma das árvores.

            Não precisou pensar duas vezes.

            Disparou na nuca. A criatura tombou para frente, um jato de sangue pulverizando uma das árvores. Emitiu um gemido de dor, por um instante parecendo humana demais, e aquilo incomodou o atirador.
            Mas ali estava uma das causas para aquela reviravolta toda.

            Aproximou-se, com a certeza de que tinha finalmente achado o seu alvo. Um sorriso faceiro e inevitável achatou a bandana na frente de seu rosto coberto. Tirou o rastreador do bolso e fechou ao redor do tornozelo do infectado. Tirou um pequeno envelope de amostras do bolso traseiro.

            “KB-081”

            Retirou a grossa amostra do sangue e colocou no recipiente.

            Missão concluída.

            XXX

            A caminhonete balançava, e Thiago, Diana e Lola não diziam muita coisa. Enquanto observava a paisagem indo e vindo, Diana refletia, pensando em si mesma e também em Gustavo.

            Às vezes ela tinha a impressão de que algo tinha dado muito errado nos últimos dias. Além dos acidentes, além da epidemia, era algo além de seu controle.

            Como se o lado desesperado e inapto de sua mente estivesse tomando o controle. E as vezes, do nada, o lado correto e inteligente tomasse as rédeas aos trancos e barrancos, tentando consertar as cagadas feitas.

            Aquilo tinha que parar. E naquela manhã, discutindo com Lola, tomou uma decisão. Não ia mais perder o controle. Não ia tomar atitudes estúpidas ou algo do tipo.

            — Alguém já veio nesse píer? — Lola perguntou.

            — Eu sabia que tinha um píer em algum lugar por aqui, mas nunca vim também. — Thiago respondeu. — Aposto que deve ter um clima Sexta-Feira 13.

            — A Lola pode aproveitar e interpretar o tipo de papel que ela merece. — Diana riu, sozinha.

            — Vadia de filme de terror? — Lola a encarou. — Olha, até que não acho ruim hein.

            Diana e Lola riram, um sorriso sincero brotando no rosto das duas.

            — Que lindo. — Thiago comentou, observando o momento terno. — Sabia que ia dar certo.

            — Mesmo sendo vadia. — Lola deu de ombros. — Pelo menos eu apareço no filme.

            Diana a encarou.

            — Golpe baixo. — Diana fingiu empurrar Lola contra Thiago, que dirigia, porém aplicando mais força que o necessário. A jovem atriz reclamou.

            A caminhonete virou a curva, em direção ao lago. De acordo com o que havia sido repassado a Thiago, uma lancha pequena iria trazer a primeira leva de mantimentos naquele dia, de fora da ilha. Alguém iria trazer a lancha, porém estaria mascarado e não entraria em contato com os sobreviventes. Então aqueles mantimentos seriam carregados na caminhonete e levados até uma das casas da fazenda. Ao longo do dia, todas as outras casas abrigando sobreviventes iriam buscar sua respectiva leva de mantimentos.

            Era uma missão relativamente fácil. O maior problema era levar os mantimentos até a caminhonete, visto que a lancha só chegaria a ponta do píer, senão encalharia.

            E então, eles finalmente enxergaram a lancha com mantimentos. Mas enquanto aproximavam-se do lago, de carro, notaram algo peculiar. A lancha estava carregada de suprimentos, porém ninguém estava nela.

            XXXXX

            Max abraçou Natasha, sem saber o que dizer. Ele sempre tinha algo a dizer, não importava o instante. Era tímido, porém com Natasha ele era uma matraca em modo de repetição. Repetindo frases, e por vezes ações.

            Mas agora, o homem estava desarmado.

            O jipe de Vitor estava estacionado na frente da estrada sinuosa da habitação que o grupo estava se abrigando.

            — Como eu disse... — Vitor continuou, cauteloso com as palavras. Max havia comentado que não gostava de ver Natasha explosiva. — Ela está reagindo bem...

            — ELA ESTÁ INFECTADA! — Natasha exclamou, desvencilhando-se de um Max em pânico. — MINHA IRMÃ ESTÁ INFECTADA!

            — Mas ela parece imune! — Amélia repetiu. — E muito provavelmente, se vocês tiverem passado pelos mesmos testes, você também é, Natasha.

            A negra não disse nada.

            — É por isso que viemos buscar Donatella. — Amélia continuou. — Ela é doutora. Ela pode ser capaz de descobrir o que há de diferente no DNA da Rafaela...    

            — Eu vou com vocês. — Natasha disse seca, encarando o chão. Então encarou Vitor, e em seguida Max. — E ai de quem tentar me segurar!

            — Tudo bem. — Amélia concordou. — Sua ajuda será útil.

            — Vai dar tudo certo, querida! — Donatella surgiu próxima ao carro, visivelmente ansiosa. — Se Amélia e Vítor estiverem certos sobre a condição de Rafaela, podemos estar um passo mais próximos da cura. Um dia atrás, estávamos no escuro.

            — Se tudo der certo. — Amélia continuou. — Talvez possamos salvar Cabo da Praga inteira.

            — Honestamente? — Natasha a encarou. — Salvar a minha irmãzinha já está de bom tamanho pra mim.

            Alisson riu com o comentário e sussurrou com Alfa.

            — That’s my girl.

            — Eu sei.

            A negra entrou no carro e bateu a porta. Max tentou entrar na porta traseira, mas foi barrado pelo meio-irmão.

            — Fique de olho nela. — Max o encarou, intenso. — Sério Vitor, não tire os olhos da Nat. Mas não... não olhe nela daquele jeito, é, ah você me entendeu.

            — Pode deixar.

            O jipe logo afastou-se, deixando Max para trás.

            — Tomem cuidado com as poças! — Max berrou. — E com os postes, infectados, animais, lixo no asfalto, móveis, armadilhas, carros, carteiras, espelhos, adesivos, chinchilas, e... embalagens e...

            — Tudo bem, Max. — Alfa bateu na costa do amigo. — Vai dar certo.

            XXX

            — Não acho que isso seja coisa boa.

            Diana, Thiago e Lola estavam na ponta do píer, encarando a lancha flutuando na água, cerca de dez metros de distância.

            — Cadê o cara? — Thiago encarou.

            — OW! — Lola berrou, fazendo um eco. Diana e Thiago a seguraram, para evitar chamar possíveis infectados.

            — Eu sei o que fazer. — Thiago as encarou. — Tem uma corda na caminhonete.

            — Laçar a lancha e puxar. — Diana observou. — Faz sentido. O que ainda não entendo é a lancha vazia.

            — Não existem tipo, pilotos automáticos para esse tipo de coisa? — Lola franziu a testa. — Pode ser isso que trouxe a lancha aqui. Que seja, vamos puxar.

            Thiago virou-se de volta a caminhonete, tropeçou na madeira do píer e recuperou o equilíbrio. Diana e Lola se encararam.

            O professor voltou com a corda grossa e resistente, um tipo de fibra especial. Os três revezaram várias tentativas para acertar o gancho na lateral da lancha. Foi Lola quem conseguiu.

            — Foi sorte. — Diana observou. — Pura sorte.

            — Aham. — Lola sorriu, encarando Diana e alisando os longos cabelos.

            Thiago fez o primeiro puxão com a mão, e Diana e Lola observaram a lancha mal se mexer. As duas pegaram a corda e puxaram, então o gancho girou na lateral da lancha e caiu na água.

            — Bom trabalho, Lola. — Diana apontou. — Encaixou direitinho. A atriz deu o dedo, e Thiago já voltava a arremessar a corda novamente em direção a lancha.

            XXXX

            O helicóptero sobrevoava os arredores de Cabo da Praga, e os moradores observavam curiosos. Estaria alguém sendo resgatado?

            Não era possível. Era quarentena. Ninguém saía da cidade...

            Mas dinheiro era dinheiro, e estava para surgir alguém que não tivesse um preço.

            — Tem ideia de quem é, querido? — Debora sussurrou nos ouvidos de Ed.      

            — Tenho uns chutes. — Ed sorriu. — Nada que importe muito pra gente.

            XXXX

            Dessa vez foi Diana quem conseguiu acertar a lancha, e o aperto ficou firme. Ninguém comentou muito o bom arremesso da dubladora.

            — Vou puxar com a caminhonete. — Thiago comentou. — Nós sozinhos não damos conta.

— Um puxão da caminhonete e a inércia faz o resto. — Diana completou. — Justo.

            — Uau gênia. — Lola o encarou. — Devia ter mencionado isso antes...

            Thiago e Diana se encararam.

            — Saber de inércia não faz de ninguém um gênio. — Diana riu. — É física básica.

            — Eu sei o que é inércia, amiga. Só essa sua pose de capitã óbvia me irrita.

            Thiago já corria de volta ao carro, e Lola e Diana encaravam de volta da ponta do píer, o tédio claro no rosto.

            — Você não é chata. — Lola riu, observando Thiago fechar a porta do carro e ligar o motor. — Você é durona. Eu gosto de mulheres assim, fortes. São os melhores papéis.

            — Eu não sou durona. — Diana riu, virando-se para a lancha. — Eu sou... Ei aquilo é uma mão?

            Lola encarou. Na lancha, um homem levantou-se cambaleando, apoiado na borda do barco. Ele segurou no gancho que Diana havia acabado de arremessar no barco.

            — Ele está infectado! — Lola berrou. — Thiago, não!

            A corda entre as duas garotas esticou-se repentinamente, com um zunido.

            — Abaixa! — Diana berrou.

            As duas garotas abaixaram no mesmo instante que Thiago havia puxado a caminhonete. O homem infectado da lancha arrancou o gancho da borda, que ao ser puxado repentinamente pelo carro, foi arremessado de volta contra as garotas.

            Diana abaixou-se no píer, porém não foi rápida o suficiente. O gancho pontudo atingiu a região inferior de seu queixo, o trecho interior de seu maxilar, e enganchou de uma única vez como se o maxilar da dubladora fosse o encaixe perfeito.

            Lola berrou.

            A ponta entrou perfeitamente num milésimo de segundo. Diana berrou, tentando arrancar o corpo estranho em seu maxilar, porém pareceu inútil. Com horror, sentiu o metal travado contra os ossos da mandíbula. Cuspiu sangue, repentinamente afogando-se contra a maré de sangue que surgiu em sua boca.

            Thiago não chegou a perceber e a cena se desenrolou em segundos. O carro continuou seu trajeto, e Diana foi arrastada pelo píer, seguida por Lola tentando soltá-la.

            A dubladora, arrastada e berrando de dor, caiu de frente no local em que Thiago havia tropeçado mais cedo, e a madeira daquele trecho do píer rompeu, abrindo um buraco.

            Diana caiu no buraco. O carro continuou seu trajeto, mas a madeira do píer impediu que Diana seguisse.

Já ensanguentada enquanto tentava se segurar no píer e não cair no buraco, a dubladora sentiu a mandíbula travar. As laterais de seu crânio, que conectava a mandíbula ao crânio latejaram, causando uma dor intensa, e em seguida resistiram contra um puxão considerável.

Por pouco tempo.   

Diana perdeu a audição quando as laterais de seu crânio foram arrebentadas e o sangue pareceu ir para todos os cantos de seu crânio. O maxilar da dubladora foi arrancado num estalo úmido e uma pequena explosão sangrenta jorrou pelo píer.

A dubladora ouvia um zumbido, e presumiu que seria Lola gritando.

A última visão caótica foi de seu maxilar indo embora, o pedaço de osso envolto por sangue e pele. Então tudo escureceu muito rápido e ela sentiu-se subitamente muito grata pois, apesar de tudo, tinha sido bem rápido.

Pelo menos ela não precisaria viver uma vida calada. Pois no fim das contas, sua voz não era apenas um instrumento de seu trabalho. Era todo o seu coração.

Lola acompanhou o corpo de Diana tombado contra o píer, a cabeça envolta em sangue devido ao maxilar ter sido arrancado. A parte superior dos dentes ainda intacta, a língua exposta e o corpo em convulsão.... Então o corpo da dubladora finalmente caiu pelo buraco, afundando na água do lago.

Thiago voltou correndo pelo píer em direção a Lola e a Diana, desesperado e em lágrimas. Atrás dele, dois infectados o seguiam, provavelmente atraídos por todo o barulho, mas nem ele e nem Lola saberiam o que fazer, ainda horrorizados pela morte horrível da garota.

— Foi minha culpa! — Thiago sussurrou. — FOI MINHA CULPA!

Lola virou-se encarando os dois infectados vindo pelo píer. Ela não sabia nadar... e do outro lado, no interior da lancha que agora se aproximava do píer, o outro infectado também se aproximava.

Seria o fim para ambos também.

— Socorro! — Ela berrou. — Socorro!

Então dois tiros ecoaram pelo lago e os dois infectados rolaram para fora do píer. Os dois viraram-se, assustados pelo barulho repentino, e viram um sujeito com um rifle nos braços, uniforme militar e uma mochila nas costas. Apenas os olhos eram visíveis, o rosto também estava coberto por uma bandana.

O atirador não manteve contato visual com Lola, ou sequer Thiago. Ele correu até a ponta do píer, apontou para o infectado na lancha e disparou também.

Em seguida o atirador afastou-se, correndo de volta a floresta. Thiago e Lola encararam a cena, sem entender nada.

XXXXX

https://www.youtube.com/watch?v=IOQjMSLLhBQ

In a nightmare,

I am falling from the ceiling into bed beside you.

You’re asleep, I’m screaming,

shoving you to try to wake you up.

And like before, you’ve got no interest

in the life you live when you’re awake.

Your dreams still follow story-lines,

like fictions you would make.

Natasha seguiu pelo corredor do hospital, o coração batendo e os passos pesados. Amélia e Vitor lideravam o comboio, e ela e Donatella iam logo atrás. O hospital estava calmo.

Então Amélia abriu a porta do escritório e gritou. Vitor virou para impedir Natasha, mas a negra pulou como um leão, desesperada e sabendo que precisava ver o que tinha acontecido. Como se sua vida dependesse daquele momento que viria.

Rafaela estava encostada contra a parede azulada do hospital, os olhos vazios encarando o teto. Um buraco sangrento em sua testa e a expressão congelada em horror.

Alguém havia atirado em Rafaela. A jornalista estava morta.

When I try to move my arms sometimes,

they weigh too much to lift.

I think you buried me awake

(my one and only parting gift.)

But you return to me at night,

just when I think I may have fallen asleep.

Your face is up against mine,

and I’m too terrified to speak.

            A figura corria pela floresta, o rifle balançando perigosamente pendurado em suas costas. Tinha visto onde o helicóptero havia pousado. Estava próximo agora.

            O atirador tinha finalizado sua missão, e ainda salvado algumas pessoas. Aquilo com certeza não mudaria o mundo, mas nele, deixava uma sensação melhor. Tudo o que podia ter feito, foi feito. Os nós haviam sido desatados.

            Avistou o helicóptero numa clareira e correu, ofegante. Pulou no banco do passageiro na primeira tentativa e fechou o cinto de segurança.

            A aeronave decolou, e o atirador retirou algo do bolso. A amostra KB-081. Entregou para o médico no helicóptero e encarou.

            Arrancou o capuz e tirou a bandana, os longos cabelos caíram sobre seu ombro, os grandes olhos castanhos profundos e intimidadores. Era uma atiradora. Encarou diretamente para o chefe da missão.

            — Eu fiz a minha parte. — Ela disse, a voz ainda um pouco ofegante. — Agora devolvam a minha filha.

            — Em breve. — O homem sorriu. — Em breve.

            A atiradora encarou o horizonte, respirando fundo enquanto seu sangue era tirado para ver se tinha sido infectada. Lá embaixo, Cabo da Praga ficava para trás.

            Ela não disse nada. Desfez o rabo de cavalo já bagunçado e balançou os cabelos outra vez, as longas madeixas azuis dançando graciosamente contra o vento.

You’re screaming, and cursing,

and angry, and hurting me,

and then smiling, and crying, apologizing.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar. Os comentários são muito importante para a continuidade do projeto. Vemos vocês nas reviews, pessoal!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Premonição Chronicles 3" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.