Ouvi alguém bater na porta do meu quarto, enxuguei o rosto, abri a porta e vi minha mãe que disse:

— Podemos conversar?

— Você já sabe... Falei.

— Sei, foi a primeira coisa que seu pai disse assim que cheguei... Por que você fez isso, filha?

— Porque eu tinha certeza que vocês não me deixariam ir para aquela festa, assim como vocês não me deixavam ir às festas da Flórida... Mãe, vocês não me deixam me enturmar, ter amigos, curtir a vida, ser livre para escolher minhas amizades... Falei voltando a chorar.

— Não, isso não é verdade filha... Disse ela.

— Então por que eu não posso? Perguntei.

— Você pode, minha filha, é claro que pode ter os amigos que quiser, mas nós só não a queremos namorando com certos rapazes porque...

— Por que o quê? Mãe, nem todo mundo é preconceituoso não, está bem? Nem todo mundo é ruim e desrespeita o espaço do outro... Eu tenho certeza que o Shawn é diferente de quem seja que tenha traumatizado ao papai, ou a você, eu não sei, porque vocês vivem falando disso e não me contam a droga da história direito, aí eu fico confusa com isso — falei sem ao menos respirar um pouco — Me desculpe...

— Tudo bem, minha filha... Eu sei que você errou e errou feio fugindo ontem, mas eu vou tentar fazer o possível para o seu pai reduzir o seu castigo. Sussurrou ela me abraçando.

— O que seria de mim sem você, mãe? — Perguntei abraçando-a — Mas o castigo é para o resto da minha vida, se for reduzir será para metade?

Ela riu e disse:

— Uma semana, acho que é o suficiente, mas tente não pisar na bola durante esse espaço curto de tempo, consegue?

— Vou tentar. Respondi sorrindo.

Ela me deu um beijo na cabeça e disse:

— Agora eu preciso preparar o jantar, se tiver alguma tarefa para fazer, faça-a.

— Está bem, mas não tenho. Respondi.

***

No dia seguinte, eu acordei mais cedo, não queria encontrar com meu pai tão cedo, preparei um lanche para comer no caminho, peguei minha mochila e fui para a escola, levando uma roupa extra para ir para a academia, quanto mais tempo longe de casa, melhor...

Assim que cheguei à escola, me lembrei de que não tinha acordado ao Dolph, mas com certeza minha mãe vai trazê-lo mais tarde. A escola estava meio vazia, o que era de se estranhar, mas o mais estranho ainda era eu chegar tão cedo, mas ok. Fui até o refeitório, me alimentei e fui até a sala esperar a aula começar, peguei um livro que eu gostava muito, não sei se já cheguei a mencionar, mas eu tenho hábito de ler livros, não muitos, mas os que mais me agradam e desde quando eu era criança eu sempre fui apaixonada por Percy Jackson, acho que ninguém nunca iria adivinhar isso, até porque minha melhor amiga mesmo dizia que não tinha nada a ver comigo esses tipos de livro, mas sei lá, eu sempre gostei e lia quando não tinha nada para fazer, tipo naquele momento.

— Ei! Por que não respondeu as minhas mensagens? Eu fiquei feito louca querendo falar com você ontem, louca. Disse Leona chegando à sala daquele jeito.

— Bom dia para você também e, ah — fechei o livro — Eu estou de castigo e sem celular, não sei por quanto tempo.

— O quê? Que merda você fez? Perguntou ela.

— Meus pais descobriram a minha fuga. Respondi voltando a ler o livro.

— Como? Perguntou ela.

— Postaram um vídeo em que eu estava dançando e a melhor parte, registraram também o beijo que o Shawn me deu após a dança, que legal! Respondi sendo irônica.

— Tem pouco tempo que postaram isso, até porque eu não vi, ninguém comentou comigo nem nada... Com certeza alguém armou isso... É claro! Disse ela pirando.

— Como assim? Ninguém além de você sabe daquele meu segredo. Respondi.

— Será? Mas e a Camila e a Ally? Não sei se você se lembra, mas elas duas estavam no banheiro também enquanto conversávamos. Disse ela e, é claro, eu me lembrei de que assim que terminamos o assunto as duas foram lavar as mãos...

— Mas elas só chegaram depois que terminamos de conversar. Respondi.

— Quem me garante que não ficaram ouvindo a conversa por trás da porta? Acorda, Becky! Disse ela coberta de razão.

Que vadia desgraçada... Eu... Se é isso que ela quer, é isso que ela terá, eu não vou deixar isso barato, mas não vou mesmo...

P.O.V Shawn Mendes

Depois de ter passado praticamente a noite inteira em claro, eu me arrumei rapidamente e fui para a escola mais cedo, eu sabia que ela estaria na mesma sala que eu, então não enrolei muito no corredor e fui para a sala. Ela estava com sempre, conversando com a Leona. Eu fui até elas e disse:

— Oi, oi... Eu posso falar com você, Rebecca?

Ela me olhou como se eu tivesse falado algo errado, olhou para Leona, se levantou e me seguiu. Fomos até o corredor e eu disse:

— Me desculpe por ontem... Eu fiquei chateado por algum motivo e tentei não descontar em você e...

— Tudo bem. Disse ela parecendo realmente não ligar.

— Tem certeza? Eu vi como você estava ontem. Falei.

— Ah... Não é por esse motivo, é algo muito pior. Disse ela.

— Eu sei que talvez não seja da minha conta, mas qual é o motivo? Perguntei.

Ela olhou para os lados e disse:

— Olha, eu não sei se posso te dizer, pelo menos agora, porque eu preciso ter certeza de algumas coisas, você pode esperar um pouco?

— Tá. Tudo bem, posso sim. Respondi.

P.O.V Camila Cabello

Eu já estava mais confiante do que nunca, mais feliz do que geralmente, então cheguei à escola já me sentindo vitoriosa, porque tinha certeza que a outra já tinha se ferrado estaria há quilômetros de distância do Shawn, meu Shawn.

— Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Falei com Ally.

— Você já se acertou com o Shawn e eu não vi? Disse ela sendo lerda, como sempre.

— Ainda não, você me viu com ele, louca? Assim como você, eu ainda não o vi, mas quando o ver, ele voltará para mim. Falei sorrindo.

Assim que cheguei ao corredor da sala, meu humor já mudou instantaneamente, o que eles estão fazendo juntos? Droga! ISSO ESTÁ ERRADO! Ally me olhou confusa, eu já estava bufando de ódio, mas fiz de tudo para não transparecer, ou pelo menos tentei. Assim que cheguei perto dos dois, Rebecca me encarou fuzilando-me com os olhos e eu fiz o mesmo com ela, Shawn não se moveu nem um pouco, acho que nem notou a minha presença, então entrei a sala e me sentei no meu lugar de costume.

— E aí, senhorita Mendes. Disse David, que estava sentado atrás de mim.

— Se você repetir isso ainda hoje, considere-se aleijado, se é que me entende... Murmurei ainda bufando de ódio.

— O que houve? O plano não deu certo? Perguntou ele.

— Acho que você já os viu ali fora e já concluiu que não, não é? Respondi com uma pergunta.

Ele riu e eu dei um tapa em seu braço.

— Ei! — Disse ele — Aprenda a bater como homem.

Eu revirei os meus olhos e fiquei de costas para ele.

P.O.V Rebecca Oliver

Assim que Camila passou por mim, eu tive mais certeza ainda que foi ela, aquela vaca me paga, com juros e correção monetária, ah se me paga...

— É melhor entrarmos, antes que o inspetor passe por aqui e nos dê alguma advertência. Falei entrando na sala.

Ele segurou o meu braço, eu olhei para ele e ele disse:

— É... Antes que eu me esqueça, o Cameron me contou sobre o cinema no fim de semana...

— Esqueça, eu estou de castigo, então nem rola. Respondi.

— Como assim? Perguntou ele.

— Meus pais descobriram que fui à festa escondida e me deixaram de castigo. Respondi tirando o braço das mãos dele.

— Como? Perguntou ele.

Eu fiz um sinal de que mais tarde falaria com ele, o professor de geografia entrou na sala, dizendo:

— Bom dia, classe.

Eu fui até a minha carteira e Leona já perguntou logo:

— Ficaram?

— O quê? Não... Por que você tem que perguntar logo isso? Perguntei rindo.

— Ele está afim de você e você dele, vocês dois juntos, sozinhos, hm... Disse ela me fazendo rir.

— Não viaja, ok? Falei.

— Vou tentar. Mas você contou sobre tudo para ele?

— Não, só a parte do castigo e porque ele disse que iria comigo ao cinema. Respondi abrindo meu caderno.

***

Depois disso, a aula seguiu normalmente, eu estava morrendo de sono, então cochilei um pouco durante ela, ou quase toda a aula. Na hora da saída, Dolph já estava me esperando na porta da sala e assim que me viu, disse:

— Obrigado por me esquecer em casa, eu adorei vir com minha mãe ouvindo música clássica.

Eu não sei se já disse, mas minha mãe já foi bailarina profissional, toca violino e é apaixonada por música clássica, mas ela também sabe jazz, como todos sabem e gosta muito, mas lá em casa ninguém a puxou nesse quesito de gosto por música clássica, Rodolpho então, nem se fale, ele detesta, mas não diria isso para ela, eu acho...

— Foi mal, mas eu precisava vir mais cedo para a aula, tinha coisas importantes para resolver. Respondi mentindo, em termos.

— Tão importantes como evitar ao papai por ter te dado uma bronca daquelas ao saber que você e o carinha estavam se pegando?! Qual é, Becca. Disse ele parecendo até gente grande.

— Ei, quem é você e o que fez com o meu caçulinha? Perguntei brincando com seu cabelo.

— Ah, qual é? Disse ele irritado, ele odiava que mexessem em seus cachinhos.

Fomos até o estacionamento, entramos no carro e fomos à academia.

P.O.V Shawn Mendes

Assim que vi Rebecca sair da sala, a segui. Ela estava com um garotinho, acho que seu irmão mais novo. Eles foram ao estacionamento, eu disfarcei um pouco e fui até o meu carro, eu precisava falar com ela, eu queria mesmo saber o que estava acontecendo.

— Shawn, vamos jogar videogame na casa do David, quer ir com a gente? Perguntou Nash.

— Hoje não. Respondi ainda olhando Rebecca entrar no carro.

— Ah, entendi — Nash deu uns tapinhas em meu ombro — Depois me diga como foi.

— Aham... Respondi sem saber o que ele tinha dito.

Assim que ela foi embora, liguei o meu carro e a segui. Ela estava indo por um caminho diferente, não estava indo para casa? Continuei a seguindo, até que ela estacionou de frente para um prédio de uma academia de dança?! Ela saiu do carro com seu irmão, pegou uma bolsa e foi até o prédio. Eu esperei um tempo, depois entrei no mesmo lugar. Tinha uma escada na entrada, então a subi. Assim que cheguei no primeiro andar, vi várias mulheres e garotas dançando, mas procurei por alto a Rebecca, mas não a achei, então continuei subindo. No segundo andar, tinham uns caras dançando com um professor. A dança que até era maneira, mas só vi o irmãozinho da Rebecca sentado num canto assistindo. Então fui até o terceiro andar e lá estava ela, dançando sozinha, estava com uma roupa diferente da que a vi na escola, com os cabelos presos, e estava tão concentrada na música “Memphis” Justin Bieber. Ela dançava tão bem que eu poderia a assistir pelo resto do dia e não me importaria.

P.O.V Rebecca Oliver

Não tem coisa mais relaxante do que dançar, ainda mais do jeito que eu quiser, sozinha. Só eu e eu mesma aqui. A batida da música me conduz de um jeito que me faz acreditar que eu posso até voar, eu esqueço os meus problemas, do tempo, de tudo, só a música e os movimentos me importam. Na parte em que para a batida um pouco, eu me viro de costas para os espelhos, começo a andar pelo salão em passos lentos, até que a batida volta e eu começo a fazer movimentos de acordo com o ritmo. Eu fico de olhos fechados por toda a música, quando ela termina e eu solto um suspiro, abro os olhos pondo as mãos na cintura. Quando vou até a minha mochila que está num canto, me sinto como se estivesse sendo observada, então olho para trás e não vejo ninguém, dou os ombros e pego a garrafa, começo a beber a água e ouço alguém dizendo:

— Por que não entra para o time de líderes de torcida da escola?