Thalia

Senti meu coração parar por alguns segundos. Minhas pernas não se mexiam. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas.

Connor olhou para mim.

— Thalia, por favor, leve o Nico pra cozinha. Eu vou ajudar o Travis.

Apenas concordei com a cabeça e fiz esforço para ir até Nico. Ele estava ainda mais pálido do que o normal e havia muito sangue em seu peito. Fiquei um pouco desesperada e conferi se respirava. Graças à Deus, respira. Arrastei-o até a cozinha e tirei a espada de seu peito. Ele deu um leve grunhido de dor. Aos poucos, foi acordando.

— S-senhorita Thalia...? — Ele se sentou com um pouco de dificuldade.

No momento seguinte, o que fiz foi totalmente espontâneo. Como se fosse para acontecer assim. Eu o abracei o mais apertado que conseguia.

— E-está doendo... — Nico reclamou.

— Desculpe-me. — Falei, o abraçando mais de leve. Ele não retribuiu o abraço, e isso me magoou um pouco. Depois de um tempo, o soltei.

— Foi perigoso a senhorita descer aqui.

— Vim te ajudar.

— Não. Não pode. O meu dever é proteger aqui, e se eu morrer, morri. Já com você, é diferente.

— Não, não é. — Falei, começando a ficar nervosa.

— É sim. Eu apenas sirvo para isso. A senhorita é uma princesa. Se eu tivesse morrido, aconteceu.

Não aguentei e comecei a chorar.

— ACONTECEU?! NICO, VOCÊ É IMPORTANTE! 

— Não sou, senhorita. — Nico abaixou a cabeça.

— É SIM! SUA VIDA VALE TANTO QUANTO A MINHA OU A DE QUALQUER UM! A BIANCA SÓ TEM A VOCÊ! O QUE ACONTECE SE VOCÊ MORRER?! IDIOTA! VOCÊ É MUITO IMPORTANTE! PARA A BIANCA E PARA MIM!

Abaixei a cabeça e tentei parar de chorar, mas o choro só aumentava e comecei a soluçar.

— Eu... sinto muito. — Ele disse.

Fiquei em silêncio por um tempo.

Surpreendentemente, Nico me abraçou. Fiquei tão surpresa que não retribui na hora. Mas depois, o abracei e encostei a cabeça em seu ombro, ainda chorando. Nico passou a mão no meu cabelo, tentando me acalmar. Eu respirei fundo e fui parando de chorar, mas não parei de abraça-lo. Nem ele parou de me abraçar.

Tudo sumiu naquele instante. Nada existia. Só nós dois e aquele momento. Nosso abraço, o cheiro dele, seus cabelos, seus olhos... Nada mais. O castelo estava sendo invadido, podíamos morrer, mas estávamos ali, abraçados.

Estávamos juntos.

Nico parou de me abraçar e se afastou um pouco. Pensei que fosse embora, que nosso momento tivesse acabado. Mas ele deu um sorriso e acariciou meu rosto. Seu toque era quente. Era maravilhoso. Dei um sorriso também e ele voltou a me abraçar.

Então, senti uma dor imensa no ombro e me soltei do abraço. Nico ficou surpreso e me soltou também. Eu cai no chão e vi um homem, que havia conseguido entrar no castelo. A espada dele estava coberta de sangue. Meu sangue. Ele havia me acertado no ombro com a espada.

Olhei para Nico e a expressão dele tinha mudado de surpresa para ódio. Os olhos dele estavam frios e ele pegou a espada negra de sua bainha. Ele foi caminhando lentamente até o homem, um sorrisinho sádico surgindo no canto de seus lábios. O homem foi se afastando, assustado.

— N-nico... para... — murmurei.

Nico não me escutou e foi para cima do homem. Ele atravessou o peito do homem rapidamente, que caiu no chão, morto. Logo depois, Nico tirou a espada do peito do homem e foi atrás dos outros que estavam tentando invadir o castelo. Minha visão começou a ficar turva.

Nico pediu que Travis e Connor se afastassem, com calma, e depois matou todos os que tentavam entrar no castelo extremamente rápido. Os irmãos Stoll ficaram espantados e um pouco assustados.

Consegui levantar, mas dificilmente. Nico olhou para todo o sangue e as pessoas mortas e deu uma risadinha. Era horrível ver aquilo. Fui andando até ele com tudo o que podia.

Connor colocou a mão no meu ombro bom.

— Thalia, não acho que seja uma boa ideia agora...

— Eu consigo. — Falei.

Andei até Nico, que estava de costas pra mim e toquei seu ombro.

— N-nico...

Cai nos braços dele e a última coisa que escutei antes de desmaiar foi ele chamando meu nome.

xxx

Enquanto eu estava inconsciente, tive um pesadelo.

Eu estava no salão de baile do castelo, vestida elegantemente com um traje de gala. Apesar de não gostar muito, estava bonito. Não havia mais ninguém no salão de baile. Então, ouvi passos atrás de mim e vi Nico, vestido com um fraque, dando um sorriso. Ele me estendeu a mão e eu a segurei. Começamos a dançar e o mundo sumiu novamente. Meu rosto estava perto do pescoço dele e podia sentir o cheiro dele, maravilhoso. Continuamos dançando, lentamente. O mundo podia acabar, mas continuaríamos ali, juntos. Nico mexeu no meu cabelo e acariciou meu rosto quando a música parou. Nós dois demos um sorriso.

Mas o sorriso foi embora quando o peito de Nico foi atravessado por uma espada. Nico caiu em meus braços, com a respiração fraca, e parou de respirar. Atrás de onde ele estava, estava Luke, sorrindo sadicamente, com a espada cheia de sangue.

— É tudo sua culpa, querida Thalia. — Disse ele, se aproximando de mim, e tomando minha mão. — É tudo sua culpa.

Acordei no meu quarto. Estava de camisola e meu ombro estava enfaixado. Aparentemente era outro dia, pois o quarto estava iluminado com a luz da manhã. Olhei ao redor, mas não vi ninguém.

Logo em seguida, Nico entrou no quarto e ficou aliviado ao meu ver acordada. Ele foi até a cama e sentou na ponta.

— Thalia, eu estou tão aliviado que você está bem... — Disse ele.

— T-thalia...? Cadê o senhorita na frente, hein...? — Falei, dando um sorriso.

Nico ficou um pouco envergonhado.

— Claro, desculpe-me, senhorita.

— Não, não precisa. Mesmo. 

Nico me ajudou a sentar na cama. Eu vi que ele esteve chorando. Seus olhos estavam avermelhados e seus cílios estavam molhados. Senti vontade de abraça-lo. De acariciar o rosto dele. De ficar ali. Só com ele.

Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Nico acariciou o meu rosto. Aquele toque quente que eu havia sentido antes. Era diferente. Nico não estava mais como antes. Parecia mais aberto. Mais carinhoso. Mais... tudo. De novo, eu queria ficar ali com ele, só nós dois, juntos. Para sempre.

Quem se importa com Luke? Quem se importa com qualquer outra coisa? A única coisa que importa é Nico. E nós dois juntos.

Nico deu um sorriso.

— Senhorita. Podemos começar tudo de novo?

— Me chame de Thalia, Nicholas. — Falei, sorrindo.

— Certo. — Ele respondeu. — Thalia.

Sorri e acariciei seu rosto. Também era quente. Me aproximei dele e pude sentir seu cheiro novamente. Maravilhoso. 

Ficamos muito tempo ali, parados, um acariciando o rosto do outro. Então, a coisa mais maravilhosa da minha vida aconteceu.

Nico aproximou seu rosto do meu. Sabia o que ia acontecer. Coloquei os braços ao redor do pescoço dele e dei outro sorriso. Ele sorriu para mim, e o mundo desapareceu novamente.

Então, nos beijamos.