Amy True: Mistério em Baltimore escrita por starpower Ander


Capítulo 1
Capítulo I - A nova atriz, a cobra e a caixa misteriosa.


Notas iniciais do capítulo

Somente uma idéia que estava na minha cabeça há meses, espero que gostem!!



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Capítulo I – A nova atriz, a cobra e a caixa.

Registros de Daniel Ross

Era o ano de 1874, e nessa época as principais cidades do mundo estavam crescendo cada vez mais; tanto em riquezas quanto em população, os imigrantes vinham de todas as partes da Terra ao “Novo Mundo” com a promessa de um futuro melhor. Mas infelizmente a maioria acabava tendo que trabalhar por horas absurdas e com baixos salários em fábricas ou eles simplesmente eram forçados a mendigarem nas ruas. Isso não foi diferente em minha cidade, Baltimore, na região da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos; há muito tempo eu havia conhecido muito bem essa realidade...”

“Enquanto os operários sofriam com as péssimas condições de trabalho e a pobreza; os ricos ficavam ainda mais ricos e poderosos, compravam joias, e davam grandes festas... mas nada chamava mais a atenção da alta sociedade, do que os teatros.”

“Os melhores teatros eram lugares belos em que se exaltavam a arte e a cultura, com consertos, peças, óperas... A própria construção em si, já era uma obra de arte, verdadeiras maravilhas arquitetônicas construídos com grande atenção nos detalhes. A plateia era impressionada com o cenário que parecia se transformar por mágica e o equilíbrio e flexibilidade das graciosas bailarinas; o público não sabia o que acontecia por trás do palco, pois o que acontecia por trás de todo o brilho e encanto que os teatros envolviam, eram tão bem guardados quanto os segredo de estado.”

“Eu sabia disso muito bem, por que trabalhava em um desses lugares, o Teatro Apollon era no maior e mais belo de Baltimore, onde eu trabalhava como músico e ajudante no escritório do empresário teatral Robert Lane e... oh, perdão, estava esquecendo-me de mencionar meu nome, eu sou Daniel True Ross, vivo neste teatro com um irmão postiço chamado Nicholas e uma meia-irmã um tanto excêntrica apelidada de Amy, ela é a mais jovem das bailarinas e uma estudante de música do teatro, e essa história é sobre ela, vou contar as astúcias de uma garota peculiar e cheia de segredos.”

“A pequena Amy sempre foi uma menina um pouco estranha, principalmente depois que fomos trazidos por nossa família adotiva para Baltimore, ela se tornou mais revoltada e crítica com o que via como hipocrisia nas pessoas a sua volta, mais eu não a culpo por isso, afinal eu também tenho sentimentos parecidos. Ela já fora decepcionada muitas vezes e por isso era compreensível seu comportamento. Compreensível, mais não aceitável. Ela tinha apenas oito anos de idade, mas suas artimanhas e truques estavam longe de ser pequenos, enlouquecia a mim e todos a sua volta com o hábito de pregar peças e o de se esconder e escutar a conversa alheia, o que me preocupava imensamente, pois não aquilo não era comportamento adequado para uma jovem dama.”

“Minha irmã sempre sabia de tudo o que acontecia no teatro e parecia que nada escapava dos olhinhos, que estavam sempre alerta e curiosos como os de um gatinho, cheios de esperteza e doçura, sorriso travesso e inocente no rostinho de elfo; ativa como um beija-flor, mais muito madura para idade, ela vivia cercada por arte e cultura e ficava encantada com a beleza de cada apresentação, que eram o alimento para sua imaginação.”

“No entanto, o que interessava mais minha querida irmã era o que acontecia, quando as cortinas se fechavam.”

_ Truddy! Truddy! – Amy corria por todo o teatro chamando pelo nome de alguém. Segurava uma cesta de palha que estava tampada, e apressadamente abria todas as portas dos corredores do lugar para olhar nos quartos e xeretar em todos os buracos. A pequena estava muito agitada, andava pra lá e pra cá como um cachorrinho em busca de sinais de seu dono e seu rosto mostrava uma expressão de preocupação – Gertruddy! Onde estás? – gritava ela, procurava em todos os lugares, até mesmo nos lugares menores e improváveis que uma pessoa se esconderia, se ela estivesse à procura de uma pessoa... E depois de abrir todas as portas e olhar em baixo de todos os móveis que havia no local, estava cansada de não achar quem queria.

Frustrante. Era assim que pensava, exausta daquele jogo de esconde-esconde irritante e involuntário que se metera e que com certeza não estava ganhando, sentou-se ofegante e aborrecida numa cadeira que estava posta do lado de fora do corredor decorado.

Por ela sempre tinha que desaparecer assim?

E sempre nos momentos mais inconvenientes possíveis!

Passou as mãos no rosto como sinal de sua frustração, começando a desistir de tentar encontra-la. Sentia-se irritada, o teatro era enorme e pensava já ter olhado tudo, afinal, ela conhecia mais lugares no teatro do que qualquer outra pessoa... Mas não por alguma razão conseguia acha-la.

A menina vestia uma roupa de bailarina com uma saia de tule violeta e um leve casaco azul-acinzentado por cima do corpete infantil branco com detalhes violeta que usava, tudo indicava que ela estava saindo da aula de balé, já que tinha o cabelo preso em coque trançado com uma fita azul enfeitando e usava sapatilhas brancas de balé.

Onde ela estará?

Será que...

Pensou, com o temor começando a surgir em sua mente.

Não...

Está tudo bem, não devo me preocupar.

Tranquilizou-se mentalmente.

O som de gritos agudos e altos vindos de algum lugar no fim do corredor a colocou em estado de alerta. “Só pode ser ela!” pensou.

Imediatamente levantou-se e correu em direção ao som, enquanto chamava “Truddy! Truddy!”. Abriu bruscamente uma das portas de camarim que pertencia a outro corredor, se deparou com a origem do barulho e uma visão incomum e muito divertida.

Duas atrizes do teatro estavam encolhidas de medo em cima de uma mesa redonda do quarto, e a camareira temerosa em pé sobre a poltrona e segurando as bordas da saia de seu vestido. Todas estavam apavoradas com uma pequena cobra que rastejava lentamente no chão. Quando descobriu qual o motivo dos gritos, pôs-se a dar risadas da situação e dos olhares apavorados das mulheres.

_ Amy! – Gritou irritada a Srta. Parker, uma das atrizes – Por que está a rir? O que está fazendo imóvel no vão da porta? Retire este animal perigoso já! – ordenou ela com raiva e medo muito visíveis na sua voz.

A menina tentou controlar o riso, mais não conseguiu conter a gargalhada ao olhar novamente para elas: a camareira olhando pro chão apavorada segurando toda a saia do vestido e em pé em cima da poltrona, enquanto as duas outras medrosas se encolhiam na mesa e tremiam como dois assustados cãezinhos de madame. Não gostando da atitude da menina, as três olharam exasperadas para Amy, o que só a fez rir mais.

_ Amy! – gritaram elas em uníssono.

O grito foi o suficiente para fazê-la recuperar a compostura e obedecer, a jovem menina não hesitou quando foi em direção ao animal e agarrou com as duas mãos, sorrindo levemente, aliviada por finalmente ter encontrado sua querida Truddy. Não era um réptil muito grande, mais era uma cobra e isso sempre fora motivo suficiente para assustar qualquer pessoa ao vê-la. Assim que a pegou, as três mulheres desceram de seus refúgios ainda muito assustadas e mantendo uma boa distancia da garota que tinha uma cobra nas mãos.

_ Onde esteve? Procurei-te em todos os lugares! – disse Amy se dirigindo ao réptil como se ele fosse capaz de entender o que dizia, mas o exótico bichinho de estimação nada fez além de por a língua de serpente para fora e se enroscou no braço de sua dona.

_ A senhorita não deveria trazer essas feras perigosas para o teatro, Srta. True. – Repreendeu a Sra. Smith a camareira em tom irritado e mantendo uma distancia considerável dela e do animal.

_ A Truddy não é nenhuma fera e muito menos perigosa. Essa espécie de cobra não possui veneno, ela é certamente inofensiva. – Defendeu ela com firmeza, usando seu tom normal de voz.

_ Mesmo assim não deves trazer animais de estimação! – retrucou à outra atriz, a camareira balançou a cabeça em concordância e ainda muito assustada com o animalzinho, mas Amy não entedia por elas tinham tanto medo de sua cobra.

_ Mas no teatro há cavalos... E ovelhas... – Respondeu ela calmamente enquanto abria a cesta e deslizava a serpente para dentro e fechou logo depois. – E... Ratos! – exclamou assustada apontando para algum lugar atrás das três mulheres.

_ AH! – as três mulheres mais velhas saltaram de medo e gritaram novamente, olhando sua volta em busca de algum sinal de um roedor, acreditando que realmente havia um rato, e o susto passou apenas quando ouviram a risada melodiosa e infantil de Amy novamente. Percebendo que tinham sido enganadas pela garota mais jovem as duas atrizes fuzilaram a menina com os olhos.

_ Percebem agora? Truddy gosta de comer esses pequenos animais indesejáveis, cobras comem ratos, ela ajuda a eliminar essa grande praga urbana, além disto, Srta. Parker, - respondeu altiva e enfatizando o Parker – minha família é sócia da companhia teatral e minha mãe ela permite que eu a traga a Truddy aqui desde que tenha cuidado com ela.

_ Sua mãe adotiva, você quer dizer... – provocou Lydia – E este pequeno “incidente” demostra o quanto realmente cuida dela! Vamos conversar seriamente com o Sr. Lane sobre animais nesse teatro! – esbravejou a Srta. Parker com fortes gritos, que incomodaram os ouvidos de todos ali presentes.

_ Boa sorte com isso, afinal de contas, a Sra. Lane sempre traz os seus dois Poodles em suas visitas ocasionais ao seu marido no trabalho. - Debochou Amy com frieza – Além disso, saiba que cuido muito bem da Truddy, entretanto, ela não pode permanecer nesta cesta escura e abafada durante todo o dia. – Completou.

_ Não interessa, retire essa fera selvagem daqui! – ordenou a Srta. Parker rudemente com impaciência.

Amy True lançou um olhar mortal para ela, em resposta ao modo rude e autoritário com que se dirigiu Lydia Parker. Nunca gostou do tom com que aquela atriz usava com ela e nem do jeito com que chamava a sua Truddy, ela já havia lembrado a menina que ela não era filha verdadeira de Annabeth, algo que magoava Amy profundamente, e agora estava gritando com ela. Isso já era o bastante para a jovem.

_ A única fera selvagem que há neste teatro é você, megera vulgar. – aborreceu-se a menina, elevando um pouco o tom de voz, mas não gritou como Lydia.

_ Retire-se você e a sua cobra do nosso camarim sua garota esquisita! – Gritou ela.

Lydia agarrou a menina pelo braço tão rapidamente que ela não pôde reagir, puxando-a pelo quarto e jogando a jovem no chão, do lado de fora do camarim com tanta força que Amy ficou com o braço dolorido. Tudo aconteceu tão rápido que a menina deixou cair sua cesta no chão, em seguida Lydia bateu a porta com violência e trancou-se dentro do quarto.

Uma grosseria da parte dela, mais Amy já estava acostumada com o comportamento de atrizes temperamentais como Lydia, então, ela apenas se levantou, estando do lado de fora do camarim, endireitou-se e ajeitou as saias; depois de recuperar o mínimo de dignidade que lhe restava, pegou a cesta e abriu-a tirando sua cobra de dentro dela.

“Bruxa horrorosa” Resmungou Amy irritada com Lydia.

_ Não deveria sumir assim Truddy, e principalmente, não devia se aproximar de Lydia. – falou calmamente se dirigindo ao pequeno réptil de modo repreensivo e o aproximado do seu rosto para olhar nos seus olhos de serpente, o bichinho novamente esticou a língua para fora e conseguiu tocar na bochecha esquerda da sua jovem dona, fazendo-a rir baixinho. – Tudo bem, eu a perdoo, mas, não repita isto novamente. – recolocou-a de volta na sua cesta artesanal.

Sempre fora estranho o modo com que falava com a cobra como se ela a entendesse, todos que a conheciam diziam isso, mais suas esquisitices chegavam muito além do que somente o gosto por animais de estimação exóticos.

– Vamos minha Truddy, eu tenho que mudar de roupa e vestir um casaco por que Beth prometeu nos levar a um passeio em uma exposição na cidade! E eu tenho muitas ideias! – com um sorriso deu uma ultima olhada em Truddy antes de fechar a cesta e caminhar pelos corredores, saltitando e cantarolando canções infantis.

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O caminho tinha sido longo e cansativo para Matilde Taylor, viajando um dia e uma noite na cabine da segunda classe de um trem que saia do interior do estado de Maryland indo em direção a capital do estado. Além dos bancos desconfortáveis e do barulho insuportável e incessante da locomotiva, ela ainda teve que aguentar os roncos de sua tia idosa ao seu lado e dos outros dois passageiros que estavam com eles na cabine, o choro da criança de colo que uma senhora de idade carregava, o barulho das conversas e outros ruídos que trem de ferro produzia. Constantemente, obrigava sua mente a tentar esquecer todos aqueles incômodos.

Não pense no desconforto Matilde...

Pense em como está feliz por estar indo em direção ao seu Destino!

Nada poderia fazê-la esquecer da imensa alegria que sentia. Inconscientemente seus lábios estendiam-se em um sorriso, sonhando o sucesso que ela faria, e os desejos que iria se esforçar para alcançar. Estava indo a Baltimore realizar um sonho, o sonho de se apresentar em um grande teatro e ser aplaudida por uma entusiasmada plateia. Há anos ela imagina esse tão esperado momento. Desde pequena, suas irmãs e ela montavam pequenos teatrinhos e escreviam suas próprias peças, juntas, elas viviam histórias de amor e aventura, comédia e tragédia, tudo isso no sótão de sua casa. Uma divertida brincadeira que mantinha suas irmãs unidas e felizes.

Sempre amou o teatro, e fazer parte dele seria a melhor coisa do mundo. Contudo, seu pai sempre foi contra, dizia que teatro não era lugar onde uma moça de boa família deveria ficar e por isso sempre a proibiu de seguir o seu sonho. Ela o amava, mais ele não entendia que tudo o que ela mais queria fazer na vida era atuar.

Seu pai faleceu há três anos para grande tristeza e luto por parte dela e de toda a sua família; mesmo assim, Matilde permaneceu no lugar onde nasceu. Porém, quando a última de suas irmãs se casou, ela, que sempre acreditou em destino, enxergou nisso um sinal de que era a hora de seguir em frente com sua carreira. Trabalhou como babá para pagar um professor de canto e elocução, e agora estava pronta para seu sucesso como atriz. Ou pelo menos, é isso o que pensa.

Depois de descer do trem, e se despedir de sua tia que iria até a casa que foi alugada para as duas, pagou um coche para leva-la sozinha ao teatro, onde a jovem aspirante à atriz contemplou as primeiras imagens de Baltimore da janela do cabriolé. Estava no outono e o céu nublado fazia com que as casas parecem cinzentas, mais mesmo assim, nunca tinha visto tantas casas lindas num mesmo lugar. Vinda do interior, não tinha visto muitas casas belas na sua vida, era sua primeira vez em uma cidade grande. Ficou encantada. Desejou morar em uma daquelas residências.

O cabriolé passou pela praça, depois pelo prédio da prefeitura da cidade, o tribunal – Matilde observou tudo admirada – e finalmente chegou ao teatro, e como tudo o que tinha visto até o momento naquela cidade, era uma construção magnífica.

O Apollon Opera House Theatre era grande, imponente, e de um luxo espetacular; tinha grandes escadarias e varias janelas; a grande quantidade de ornamentos e a emoção de Matilde naquele momento serviam para dar mais encanto e beleza ao lugar. Ela não ficou muito tempo observando, estava ansiosa para ver como ele era por dentro. Abriu a porta e desceu do coche, sentiu o vento de outono balançar as saias do seu vestido, as flores do seu chapéu e algumas mechas soltas de cabelo, sorriu para si mesma, e subiu as escadarias.

Na porta da frente havia um porteiro, que se apresentou como Antônio Bartolini e perguntou educadamente com um sotaque italiano se ela seria a nova atriz, depois de confirmado que sim, ele carregou suas malas para dentro. No interior, havia diversas estátuas com referência Greco-latina, estátuas de anjos, e musas. O chão era tão limpo que era possível ver o seu reflexo; impressionada se perguntou mentalmente quantos empregados eram necessários para manter tão impecável limpeza; de fato, viu vários no local limpando os móveis e as estátuas. Tinha muitas portas e provavelmente uma delas levasse a galeria, onde ela ouvira falar que havia leilões de arte e pequenos consertos; os escritórios, camarins, sala de musica e outras partes importantes do teatro ela imaginou que também ficavam nos corredores. Se aproximando de uma das portas, o Sr. Bartolini pediu que o esperasse enquanto ele chamava um dos donos do teatro. Quando o cavalheiro em questão apareceu, saindo do que parecia ser um escritório, ele ajeitou o paletó e se aproximou de Matilde.

_ Ah, Srta. Taylor... Mais que bom que chegou, – cumprimentou ele polidamente beijando a mão dela – estávamos realmente precisando de um novo contralto! Sou o Sr. Robert Lane, muito prazer. – completou com um sorriso educado.

_ O prazer é meu senhor... Eu não posso acreditar que finalmente estou aqui! Estou muito feliz e nervosa ao mesmo tempo... – Respondeu com dificuldades de conter seu entusiasmo.

_ Não se preocupe, é natural ficar nervosa. Principalmente na primeira audição. – Respondeu ele distraidamente, quando ela lhe lançou um olhar surpreso.

_ Perdão... Mais o senhor disse “audição”? – perguntou ela nervosa. – M-Meu professor de canto me deu uma carta de recomendação, i-isso não é o suficiente?

_ Sim, ela é importante. Mas a... A senhorita não foi informada? – respondeu confuso – Todos os novos atores devem ser aprovados pelo maestro, também pelo Monsieur Pierre Le Blanc e Diva Annabeth! – ele respondeu, e percebeu que a moça tinha perdido completamente as palavras, os olhos arregalados e com expressão de quem viu um fantasma, tão assustada que ele se perguntou se ela não iria desmaiar.

_ E-Eu não sabia de nada. – continuou nervosa. – Eu não estou preparada, não preparei nada especial.

Matilde tinha ficado pasmada. Seu professor de canto havia visto muitas apresentações em teatros e sempre falava muito da maravilhosa soprano Annabeth. Ela sempre desejou conhece-la. Admirava-se pelo que ouvia sobre o talento e a fama dela, era uma cantora muito respeitada na Europa e na América, todo o esse sucesso e tudo o que a jovem aspirante à atriz poderia fazer era sonhar em um dia ser como ela. Annabeth True já tinha encantado todos quando se apresentou em suas viagens a Londres, Paris e Veneza; foi Prima Donna da Ópera de Viena por quatro temporadas e cantou para os maiores aristocratas ingleses.

No entanto, agora estava de volta a América e durante os últimos cinco anos, era sócia da companhia teatral que Matilde esperava poder participar. Talvez, a Diva estivesse cansada das longas viagens de navio e resolveu descansar no país em que nasceu, pensava ela.

Sabia que, como esperava trabalhar no mesmo teatro a Diva, uma hora ou outra Matilde acabaria conhecendo sua cantora lírica favorita, mais não esperava que isso acontecesse logo no primeiro dia, e menos ainda que fosse ser avaliada pela pessoa que lhe inspirou tantos sonhos de carreira. Como ela vai reagir quando estiver frente a frente com Annabeth True? Vai congelar e não conseguir dizer nada? Ou vai começar a falar sem pensar coisas completamente sem sentido e errar as notas e falas no teste? Matilde não lidava muito bem com a pressão e tinha plena consciência disso.

Não, isso não pode acontecer...

Sentia medo de paralisar-se no momento em que Annabeth aparecesse ou ter passar por um vexame no seu primeiro dia em Baltimore, na frente de uma pessoa famosa e tão admirada por ela simplesmente por que Matilde não conseguia evitar ser atrapalhada e insegura. Suas mãos passaram a tremer quando ela pensou que fazer papel de boba diante da divina Annabeth, seria a maior humilhação da sua vida.

No entanto, a essa altura, era longe demais para Matilde voltar atrás, não... Ela não desistiria tão facilmente dos seus sonhos, depois de todos os seus esforços e tantos sacrifícios que fez para chegar ao Apollon. Ela teria que enfrentar seus medos, se não, como se apresentaria diante de uma plateia lotada e reagiria a impiedade dos críticos?

– Algum problema minha jovem? – Perguntou ele preocupado com a expressão de assombro da moça, e interrompendo seu questionamento mental. – Lamento que não tenha sido informada mas eu temo que a audição será necessária, são as regras. Tenho certeza que pode apresentar alguma coisa, não pode?

_ ahãm... Não... Quer dizer... Sim! Sim, sim, sim, eu não deixaria uma chance dessas escapar. – respondeu hesitante, despertando do transe. – Acontece que eu não sabia que seria avaliada por Annabeth, a famosa cantora... Estou um pouco apreensiva com isso, senhor. – Admitiu recuperando sua compostura.

_ Não se preocupe minha cara, a Sra. True é uma pessoa muito gentil e generosa, e se você realmente for talentosa ela certamente irá aceita-la. – Respondeu ele na tentativa de tranquiliza-la – E onde está à carta de recomendação do professor?

_ Ah, sim... – retirou um envelope de sua pequena bolsa de mão e entregou a ele – Está aqui.

_ Obrigado, vou lê-la mais tarde. – Sr. Lane pegou e guardou dentro do paletó. – Ross! – Chamou se voltando para a porta do escritório, e de dentro dele um rapaz alto saiu, de mais ou menos dezoito anos, pele pálida, com um terno escuro elegante, cabelo muito escuro e bem arrumado, e impressionantes olhos azul-esverdeados.

– Apresento-lhe o Sr. Daniel True Ross – Disse o Sr. Lane para Matilde apresentando-a ao jovem, ele apenas a observou com seus olhos penetrantes – Este responsável rapaz irá lhe mostrar tudo o que precisa ver e saber sobre este lugar. – Voltou-se para o rapaz – Sr. Ross esta é a Srta. Matilde Taylor a nova atriz de quem eu lhe falei... Por favor, faça a gentileza de mostrar-lhe o teatro.

True? Pensou Matilde. Esse é o mesmo sobrenome de Annabeth, será que ele tem algum parentesco com ela? Se tiver, será ótimo! Eu poderei saber mais sobre a Diva antes da minha audição.

_ Não se preocupe senhor Lane. – Respondeu Daniel ao empresário mantendo um perfeito ar de seriedade.

_ Ótimo, eu tenho muitos problemas a resolver. Até breve Srta. Taylor. – Despediu-se e retirou-se para o escritório. Matilde dirigiu seu olhar ao rapaz.

_ É um grande prazer conhece-lo Sr. Ross. – disse ela estendendo a mão para que ele pudesse beija-la, e ele assim fez polidamente. Ela queria perguntar sobre Annabeth e sobre a ligação dele com ela, mais se conteve, estas questões poderiam ficar para depois.

_ É um prazer para mim conhece-la também senhorita, mas, por favor... Não precisa me chamar de senhor, eu tenho dezesseis anos e não sou um ainda um senhor. Mas obrigado – Respondeu polidamente. Matilde se surpreendeu com a resposta, esperava que ele tivesse mais idade, ele parece tão maduro! Talvez seja por causa de sua altura, da postura séria e a fala sem hesitação do rapaz – Prefiro que me chame apenas de Daniel, eu trabalho como assistente do Sr. Lane quando não estou ensaiando com a orquestra ou estudando, é claro.

_ Oh, você toca na orquestra... Que instrumento? – perguntou Matilde surpresa.

_ Violoncelo. – respondeu Daniel – Siga-me senhorita, vou lhe mostrar o teatro.

_ Tenho certeza de que vou adorar! – Respondeu sorrindo – Deve saber tudo que for necessário sobre este lugar...

_ Bem... Sim, eu sei – Daniel sorriu de lado, mais foi tão brevemente que Matilde pensou ter imaginado. Ele estava secretamente animado com a ideia de mostrar tudo o que conhecia sobre aquele lugar – Saiba senhorita que, este saguão, construído inicialmente seguindo a arquitetura barroca, mas foi reformado segundo o estilo império e neoclássico em 1865 com inspiração francesa... – Daniel colocando os braços no próprio dorso e mantendo sua postura elegante, guiou Matilde pelo teatro, parando para mostrar e comentar sobre cada estátua, pintura e detalhe de estilo arquitetônico de acordo com o seu determinado movimento artístico. Ele parecia conhecer muito bem as formas e estilos, também citou datas e artistas como um verdadeiro professor, Matilde ficou muito impressionada e o considerou um rapaz muito culto.

Alguma coisa lhe dizia que tinha encontrado um amigo.

___________________

Passou-se pelo menos vinte minutos desde que Daniel e Matilde saíram da entrada principal para os outros salões do Apollon e quem chegava agora Amy. Vestida agora com um vestido azul escuro, luvas pretas, um laço de fita no cabelo e um casaco, ambos de um tom de vermelho muito vivo, e um pouco mais curto do que o comprimento da saia do vestido. Vinha na frente guiando quatro carregadores que vestidos com roupas de trabalhadores, que traziam com eles uma enorme caixa retangular que não aparentava ser muito pesada. A jovem menina caminhava graciosamente, sorrindo e muito animada com o conteúdo que continha na caixa. O primeiro a notar isso foi, obviamente, o porteiro.

_ Onde está sua mãe, Srta. True? – Disse ele, imediatamente continuando o interrogatório – E de onde vem e o que traz minha jovem? – Perguntou curioso o italiano. Embora não costumasse se preocupar com o que os outros faziam, quando se trata de Amy, é sempre bom estar alerta.

_ Beth vai passar mais tempo admirando obras de arte com sua sogra do que o previsto. – disse ela, porteiro continuou a olha-la interrogativamente, ela que entendeu sua expressão como um “Mas a senhorita não deveria estar com ela?”, então ela continuou – Eu estava muito cansada, por isso pedi para voltar e trouxe comigo esta caixa. – Parou e olhou para os carregadores – Sigam... Naquela direção. – Falou apontando altivamente a direção em que os homens deveriam seguir, e sorriu quando foi obedecida prontamente.

_ O que tem nesta grande caixa? Não duvidaria nada se coubesse uma pessoa inteira dentro dela...

_ Não tem ninguém nesta caixa... Tenha certeza disto! – Respondeu muito rapidamente, mais um segundo depois recuperou o controle e explicou: – Há uma peça de arte que minha querida mãe recebeu de um artista renomado que está passando uma temporada na cidade para expor suas criações. – Respondeu sem dar maiores informações.

_ Muito bem... – Respondeu, Bartolini sentiu desconfiança e curiosidade para ver conteúdo da misteriosa caixa de Amy, mais se contentou com as respostas. O que as crianças do teatro aprontavam não era da conta dele. Afinal, para a maioria dos frequentadores ele era somente o porteiro invisível, Amy era a única que o cumprimentava pelas manhãs e falava com ele sem ter a necessidade de algo. Apesar de suas travessuras, ela era uma boa menina – Quando a Sra. True, sua mãe, retorna? Há uma mocinha que está esperando por ela...

_ Ela virá em breve. Arrivederci Anthony! – Despediu-se em italiano, e então correu para alcançar os carregadores que estavam já perdidos nos corredores.

Sinceramente, Amy não tinha mentido para Bartolini sobre o conteúdo da caixa, mais não revelou seus reais planos para sua misteriosa encomenda. Porém, deixar de contar toda história não significa necessariamente mentir, assim pensava ela, sempre foi reservada e gostou de guardar certos segredos, isso somado ao hábito de se esconder, fazia dela uma pessoa imprevisível.

Despreocupada, continuou a guiar aqueles homens ao exato local onde sua “obra de arte” deveria ficar. O velho Bartolini suspirou, e tentou se convencer que não era nada preocupante para ele ou para qualquer outra pessoa. Ele ficaria fora disto, não interessa a ele, seja lá o que for. No entanto, uma pergunta intrigava sua mente com fervor.

O que há de tão especial guardado na misteriosa caixa?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da introdução, eu ainda não sei bem a onde essa história vai me levar, por que as vezes elas fogem a nosso controle... rsrsrs Até o próximo capítulo!!



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