Uptale escrita por Helen


Capítulo 3
III — Dois lados de uma mesma moeda.




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Subia com violência, cravando as lanças de pontas duplas com força nas paredes de rocha. O suor que saía de seu rosto pingava e descia até o abismo que a criança já havia superado. Ao ver a noite acima de si e as estrelas ao longe, a menina começou a acelerar, subindo mais rápido, chegando à superfície, saindo da fenda. Desfez as lanças mágicas e parou um pouco pra descansar da longa subida.

Viu-se em cima de um pequeno monte rodeado de montanhas que tinham cachoeiras, cuja água criava um grande lago ao redor do grande amontoado de terra. A água parecia brilhar na noite escura, graças à luminosidade de postes que estavam colocados por ali. O verde da grama se espalhava até onde a vista podia alcançar, e árvores não eram difíceis de achar. Flores e arbustos cresciam com harmonia naquele lugar bonito.

Ignorando tudo isso, a criança empunhou suas duas lanças e começou a caçar humanos por ali. Nada escapava de seu olhar carregado de fúria. Havia aprendido a odiar graças ao seu pai, um famoso guerreiro da guarda real, que lhe contara acerca da falta de empatia que os humanos tinham mesmo fora dos campos de batalha, narrando sobre ataques totalmente injustos a monstros civis feitos pela humanidade. Apesar da guerra ter sido vencida, a criança nunca conseguiu conviver com o fato de que os humanos, tão cruéis e injustos na sua mente, continuavam vivos. Por isso, decidiu subir a fenda e exterminar aquela raça.

Caminhou pela grama, pisando com força no chão, até parar ao lado de uma das várias cachoeiras. Perto do laguinho que se formara graças à queda d'água, estava um poste solitário ao lado de uma casa. Mesmo com ódio borbulhando em sua cabeça, a criança monstro sabia que não valia a pena invadir casas de formas aleatórias, pois era como retribuir na mesma moeda cruel. Procuraria e desafiaria o primeiro humano que achasse à altura.

Enquanto pensava, a menina acabou por não perceber que um humano saía da casa próxima. Virando seu rosto involuntariamente para a figura em posição de ataque, o rapaz paralisou, analisando a criatura que estava ali. Sentindo o peso do olhar do humano, a menina se virou e o desafiou, sem esperar uma resposta positiva ou negativa. Empunhou as lanças e foi pra cima, correndo pela margem do laguinho.

Sem saber como reagir, o humano apenas entra em casa com rapidez, e o monstro quase bate de cara com a estrutura. Controla-se para não quebrar a porta, e procura outra maneira de entrar. O humano sai pela porta dos fundos e corre, enquanto começa a ser perseguido pela criança.

Tendo a vantagem de conhecer a geografia do lugar, o humano se movimenta com agilidade e destreza, totalmente o contrário da criança. Lanças mágicas surgem do chão, tentando acertar o alvo e falhando. A perseguição continuou descendo a colina, e quando o monstro percebeu que estava prestes a perder o humano de vista, apressou o passo. Porém, nesse ato, acabou por escorregar na grama e cair rolando morro abaixo. Sem conseguir controlar a velocidade ou a direção para onde ia, acabou passando com violência por arbustos e plantas pequenas, arranhando-se, até que bateu numa árvore, parando de forma brusca.

A menina se levanta, tentando ignorar toda a sua dor e começa a andar, mas fracassa e cai no chão. O humano para de correr e se vira, vendo o estado do seu perseguidor. Se aproxima com cautela e oferece ajuda, que é recusada com aspereza pelo monstro. Rosnando ameaças de morte, a criança monstro se levanta com dificuldade e refaz as lanças mágicas, que falham em seu brilho como uma lâmpada prestes a queimar. Fala que treinou para morrer numa batalha. Não se importa, contanto que seu objetivo seja cumprido. O humano ignora toda a fala da criança, e continua dizendo que não quer lutar. O monstro lembra de alguém.

Mantendo a insistência, o humano continua a oferecer ajuda. A menina o ataca, tentando acertá-lo com suas lanças, porém falha. Com a intenção de fazer a criança parar, humano segura os pulsos da mesma, e repete uma última vez que não quer lutar, mas sim ajudar, apenas. Um dilema se crava na mente da criança, e ela se faz um monte de perguntas. Lanças mágicas surgem de cima, e começam a cair. Quando o humano acha que vai ser atingido por uma delas, percebe que todas desviam. Ao final do ataque, a criança olha para o chão e aceita a ajuda do humano, enquanto cai no sono de cansaço.

O humano deixa o monstro dormindo na grama e corre até uma clareira ali perto, onde várias pessoas vestidas com armaduras diferentes estão prestes a começar uma partida de paintball. Ele avisa sobre a criança monstro e acontece uma comoção geral. Todos se organizam e seguem o humano até o local onde a criança está. Se impressionam com o estrago do lugar sem aparente motivo, mas deixam esse detalhe de lado quando vêem a menina. Alguns a carregam até uma enfermaria do vilarejo e deixam ela aos cuidados das enfermeiras dali.

...

No dia seguinte, o monstro acorda confuso e assustado. Tem algumas bandagens pelo corpo. Se sente melhor. Pergunta a si mesmo se foi obra dos humanos. A resposta é dada quando uma enfermeira entra e lhe oferece um prato de sopa. Mesmo a criança monstro deixando claro que rejeita, a moça insiste em dar a comida, e depois de mais alguns pedidos, o prato é aceito. É uma ótima refeição.

Depois que a moça sai do quarto, a criança monstro aproveita para pensar, no tempo entre as colheradas na sopa. O dilema está posto em sua cabeça: deveria seguir a filosofia de seu pai, ou acreditar nos seus olhos? A humanidade que era terrível e egoísta em sua cabeça se mostrava como empática e amigável. Talvez devesse dar uma chance àquela raça.

O humano que havia enfrentado no dia anterior entra na sala (deixando a porta aberta) e acena. Pergunta se está tudo bem e a menina responde com um 'sim' com a cabeça. Uma das enfermeiras aparece no umbral avisa ao humano que o monstro está bem, e que no fim da tarde poderá ir embora. O humano se alegra e convida a criança para uma partida de paintball, antes que volte ao subterrâneo. Sem muitas opções, a criança aceita o convite.

...

Mais tarde, no mesmo horário em que o monstro subiu até a superfície, ele chega no campo de paintball. Lá, é recebido com agitação e logo começa a falar com os jogadores, tanto os do time amigo quanto os do adversário. Joga uma partida, revelando seu lado divertido e amigável. Quando ela termina, há um intervalo para a próxima. Os que levaram tiros de tinta da criança levam na esportiva e até elogiam a destreza da criatura.

Então o monstro percebe que é hora de ir. Os humanos pedem para que a criança os visite de novo algum dia. Depois de se despedir de todos, o monstro começa o caminho de volta para a fenda, acompanhado do humano que viu primeiro. Quando chegam no buraco, ambos se despedem com um aceno e o monstro se joga na fenda, assustando o humano. Pouco depois, ao ouvir o som de algo mergulhando na água, o humano se tranquiliza e vai embora.


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