Uptale escrita por Helen


Capítulo 1
I — De baixo pra cima.




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Lentamente, ela escala a enorme parede. A luz do sol começa a se mostrar presente, tocando na pele coberta de pelos da adorável cabra criança. Suas grandes orelhas felpudas se aquecem de forma agradável, deixando seu rosto um pouco avermelhado. Uma brisa leve passa por ela, esfriando-a um pouco, e a fazendo segurar o vestido rosa claro, que por pouco não voava. Ela continua a subir, até chegar a um campo gramado. Descansa deitada na grama verde, aproveitando a boa ventania do lugar.

Se levanta quando se sente mais disposta, e começa a andar com cautela pelo brilhante novo mundo. Poucos passos depois, a criança cabra se vê em um grande campo de flores amarelas. A visão do céu azul com o verde e o amarelo agrada muito à criança, e ela sorri.

Uma das flores parece se destacar mais entre as outras. Incomum, coberta de uma aura estranha e maléfica. Chamou a atenção da criança. Ela se aproximou da planta, e quando a tocou, machucou sua mão com os espinhos afiados que a flor carregava.

— Você está bem?

A voz súbita assustou a criança, a fazendo recuar um pouco. Era uma mulher. Os cabelos lisos de tamanho mediano acompanhavam a direção do vento. Parecia preocupada com a criança, ignorando sua natureza de monstro. A mulher andou com graciosidade até a criança, e analisou a sua mão com cuidado. Ela limpou o sangue com a manga de seu longo vestido roxo, e então colocou um band-aid que estava na pequena bolsa de couro que carregava.

— Tenha cuidado com as flores. São bonitas, mas machucam. — disse ela. — Está perdida?

A criança acena com a cabeça que não. Essa resposta parece tranquilizar a mulher.

— Há mais torta lá em casa do que eu consigo comer. Quer um pedaço?

Um sorriso tímido se abre no rosto da criança cabra, e ela começa a dar sinais de animação. Pouco surpresa, a mulher segura a mão da criança e a guia pelo campo de flores. Enquanto andam, a criança percebe que há algumas plantas que não tem espinhos, e elas formam um caminho, no qual a mulher está andando. Um campo minado de dor disfarçado por pétalas.

Pouco depois ambas chegam até a adorável casa da humana. É roxa, da mesma cor do vestido, com um telhado azul. A porta já está aberta, e elas entram em silêncio na sala principal, indo para a esquerda, onde está a sala de jantar. Enquanto a criança senta em uma das cadeiras (com autorização da mulher), a humana vai até a cozinha.

O lugar é extremamente confortável. Uma lareira está acesa, e ela traz uma luz aconchegante para a poltrona que está em frente a ela e a mesa com seis cadeiras, onde a criança cabra está. Há uma prateleira com vários livros do lado direito da lareira, e ao lado esquerdo está a porta para a cozinha. A análise é interrompida por uma pergunta vinda da humana.

— Oh... Você prefere caramelo ou canela? — a cabeça dela surge no umbral.

A criança diz "um" com os dedos, escolhendo "caramelo". Por um instante, a mulher entra na cozinha decidida, mas então volta. Ela pergunta se por acaso houver canela, a criança rejeitaria. Paciente, a criança acena um "não" com a cabeça. Isso tranquiliza a mulher. Ela faz a torta e então a deixa assando. Enquanto espera, ela senta na poltrona e começa a ler um livro de ficção sobre caracóis e borboletas. Quieta, a criança espera pela refeição e fica observando a mulher lendo. Sua leitura é silenciosa, mas suas expressões diante da leitura parecem contar a história. Os olhos vermelhos, os quais estão lendo através dos óculos de leitura, parecem se animar, se entristecer e se irar. Pouco depois, a mulher percebe que já se passou tempo suficiente, e então para de ler e vai até a cozinha tirar a torta do forno. Ela deixa esfriando por algum tempo, e então corta um grande pedaço para a criança, de propósito. O pedaço é colocado num prato bonito, e em seguida, levado para a criança, que o devora em alguns instantes.

Passa-se algum tempo em silêncio. A solidão da mulher comove a criança, mas ela precisa voltar pra casa. Quando a criança começa a dar sinais de desconforto, a humana suspira, um pouco triste.

— Quer voltar pra casa, não é?

Um aceno da criança com a cabeça diz que sim. Outro suspiro é dado, e então a mulher põe seu livro no braço da poltrona. Ela acompanha a criança pelas duas salas e então para no umbral da porta, pedindo para a criança esperar ali. A mulher entra em uma das salas e então volta com um papel nas mãos. É o mapa do caminho das flores. Ela entrega para a criança cabra e então se despede, restringindo-se a apenas acenar. Insatisfeita, a criança abraça a solitária mulher, e então se vai pelo campo de flores. A porta da casa da mulher é fechada. A criança cabra guarda o mapa no bolso, olha uma última vez para a casa e a flor que lhe machucou, e então começa a descer para sua casa.


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