Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/665232/chapter/4

Pov – Hannah

Nunca pensei que perderia Charlotte desse modo. Lento, dolorido e triste. Com Brook assistindo a mãe definhar aos poucos até simplesmente nos deixar. Se ao menos tivesse dado tempo de chegar a um hospital. Não. Tinha que ser no sofá. Onde ela passou seus últimos dias, na sala. Na frente de Brook.

Ela parecia tão ansiosa a minha espera. Mal respirava. Queria conversar, gesticulava entre as crises de tosse, me balançava o pacote de dinheiro e tentei acalma-la. Dei o remédio para ela dormir. Queria que descansasse antes de contar o que quer que fosse que parecia tão importante.

Brook disse terem recebido um homem, nunca vou saber quem esteve com ela. De onde veio o dinheiro. Não pode ter sido de Merle. Ele deixou a cidade há tempos. A cerimônia de despedida de Charlotte foi triste. Apenas eu e Brook, solitária como sua vida.

Pegar nossas roupas e deixar a casa foi tudo que pude fazer, não podíamos mais ficar ali encarando todos os dias o lugar onde ela nos deixou. A transferência para outra loja foi rápida. Não consegui deixar a Geórgia, mas ao menos estamos mais perto de Atlanta. Talvez se Charlotte estivesse numa cidade grande tivesse sido diferente.

Não demora para Brook se acostumar com a escolinha. Eu a deixo todas as manhãs, depois vou para o trabalho e no fim da tarde voltamos para casa juntas. Não é grande coisa. Tem apenas um quarto e sala, sem quintal, a vizinhança não é tão gentil como antes. Não conheço quase ninguém mesmo morando ali há três meses.

Brook as vezes pede para olhar o céu a noite, vê que estrela brilha mais e acena acreditando ser sua mãe. Não fala nunca dela. Só quando pede para ver o céu. Não desgruda nunca de Lyn. A boneca que ganhou de alguém que não conheço no dia que sua mãe morreu.

Uma parte da história não se encaixa. Algo não faz sentido. Eu podia acreditar que o homem que deixou quatro mil dólares e uma boneca para Brook fosse Merle, mas confirmei antes de partir. Ele estava fora. Só posso pensar que algum antigo caso de Charlotte tenha se condoído com sua dor.

─Tia eu e a Lyn vamos ver televisão. – Brook surge na cozinha agarrada a boneca.

─Boa ideia. O jantar está quase pronto. – Me abaixo para ficar diante do lindo par de olhos azuis como os de Merle que Charlotte tanto amava se lembrar. Acho que ela o amava, mesmo jamais tendo admitido isso. Acaricio o rosto delicado de Brook. – Amo você minha pequenininha.

Ela me envolve o pescoço. Estamos tentando. Sou tímida e meio atrapalhada para conseguir ir muito longe, mas tenho um emprego razoável e nos mantem. Paga a escolinha e quando receber a promoção para encarregada que a gerencia me prometeu até vou quem sabe poder guardar um pouco para seu futuro.

Ela se afasta, arruma a boneca que quase caiu de seus braços e corre para o sofá. Brook é uma menina carinhosa. Alegre e inteligente. Tem suas amiguinhas na escola e não foi difícil se adaptar. Nesse ponto ela está muito a minha frente.

Ligo a televisão e a deixo sentada no sofá. Volto para cozinha. Me distraio com o trabalho, quando deligo o fogo escuto seu grito e choro. Ela me chama assustada.

─Tem monstro na tevê tia. Desliga! – Olho para televisão. Ela com os olhos fechados agarrada a boneca. A imagem me hipnotiza.

Na tela a notícia que interrompeu a programação infantil é assustadora. Um helicóptero filmava o momento em que um homem fora de si devorava um policial caído no chão com a barriga aberta. Tiros vinham de todos os lados. Correria e gritos. Nada derrubava aquele homem que continuava ali. Digerindo as entranhas do policial.

“Homem enlouquece e ataca policial na via expressa” A legenda rolava e se repetia. Saio do transe quando mais uma vez Brook pede para a televisão ser desligada. Faço o que quer e depois apressada corro para ela.

─Está tudo bem querida. Era um filme. – Eu a envolvo. – Pode abrir os olhos. Já desliguei. – Ela me abraça soluçando. Acalento seu corpinho miúdo até que as lagrimas parem. – Pronto. Não foi nada. Está bem agora? – Ela afirma. – Ótimo. Quer jantar?

─Sim. A Lyn também quer.

─Quer jantar Lyn? – Olho para a boneca e Brook me sorri. Beija a boneca e deixa meu colo. Felizmente crianças se recuperam rápido e quando se senta para comer o incidente estava esquecido. Ao menos para ela. Não consigo pensar em outra coisa. Fico pensando se aquilo era algum maluco, ou um homem sob efeito de drogas.

O que quer que fosse ele simplesmente não caiu até que um tiro acertou sua cabeça e só então ele tombou para o lado. Meu corpo se arrepia com a imagem. Janto com a cabeça na cena se repetindo e repetindo.

Colocar Brook na cama é fácil. Ela brinca tanto na escola que normalmente está cansada demais para ficar acordada depois das oito. Assim que ela adormece deixo o quarto. Encosto a porta e corro para a televisão. Aquilo não pode ter sido uma notícia séria. Procuro um canal de notícias. A imagem se repetia numa reprise do que eu já tinha assistido. O repórter dava notícias de um ataque parecido no Mississippi e outro na Carolina do Norte.

Um comentarista especialista na área de saúde falava sobre algum surto, outro dizia ser possível que algum novo entorpecente causasse tamanha psicose. Um ex-militar dizia algo sobre armas químicas de algum tipo de atentado terrorista. Nenhuma conclusão até o fim da matéria.

Pela manhã evito ligar a televisão. Possivelmente o assunto seria o mesmo e não quero mais uma vez assustar Brook.

─Com fome querida?

─Um pouco tia Hannah. Eu posso ir de trança para a escola. A Caroline vai todo dia.

─Claro. Toma seu café e fazemos trança.

Tranco a porta e encaro a rua. Nada parece diferente. Pessoas andam para o trabalho. Carros vem e vão. Balanço a cabeça me sentindo um tanto ridícula e assustada demais. Ajeito Brook no carro e sigo para a escola.

Tem poucas crianças chegando e olho o relógio de pulso pensando se me atrasei. Amélia está de pé na porta. Ela fica ali recebendo os pequenos todas as manhãs.

─Bom dia! – Sorri. Sinto nela alguma tensão. Beijo Brook e aceno quando ela some para dentro da escola.

─Algo errado Amélia? Tem poucas crianças hoje.

─Tem visto os noticiários? – Ele me pergunta.

─Vi ontem. Sobre aquele ataque?

─Tem notícias assustadoras se espalhando, as pessoas estão com medo. Muita gente estocando comido e se trancando em casa. Não sei. Fique atenta. Talvez a escola feche por uns dias até as coisas se acalmarem.

─Não acha exagero?

─Depois do onze de setembro ninguém mais duvida de nada.

─Ela pode ficar? – Olho para dentro da escola. Não vejo mais Brook, sinto a preocupação crescer um pouco em mim.

─Por enquanto tudo fica como está. Normal, qualquer mudança a direção da escola vai avisar os pais.

─Certo. Obrigada.

Sigo para a loja. Chego em cima da hora. Cinco minutos antes de abrir e estranho a fila na porta. Nem é natal. Por que toda essa gente na porta? Entro pela lateral com minha chave, desço as escadas e estou na sala dos funcionários. Não se fala em outra coisa. O ataque e os comentários cada vez me assustam mais.

Alguém soube de mais ataques. Outro diz que o governo está escondendo a gravidade das notícias tudo me assusta. Seguimos todos para nossos setores. Quando a porta se abre um batalhão invade a loja. Para minha surpresa boa parte do grupo vem para a parte de material de caça. Achava que ficaria sem nada para fazer com todos comprando água e suprimentos.

Corro de um lado para outro o dia todo. O estoque de lanternas e facas tem que ser reposto duas vezes durante o dia. A loja fecha dez minutos depois do horário.

─Mais ataques. – Jane me diz mostrando seu celular. – Olha. – Assisto perplexa um homem andando lentamente pela rua. E depois pular no pescoço de uma moça, morder e ela cair, gente o segurar e acabar com a mesma mordida. Um policial acerta-lo no meio da cabeça e depois a confusão de socorrer as vítimas.

─Nossa Jane. Onde foi isso?

─Londres! – Meus olhos arregalam. – Isso mesmo, não é só aqui. Hannah toma cuidado, se vir alguém estranho corre, se esconde, sei lá. Estou com medo. Talvez se tudo continuar assim eu vá ficar com meus pais na Carolina do Norte.

─Acho que seriamos avisados se fosse algo maior. O governo vai controlar isso. Acha que é droga? Ou doença quem sabe.

─Não tenho ideia. – Seguimos para os fundos da loja. Nem me troco como a maioria. Só pego minha bolsa no armário e corro para a escola. O transito parece mais lento. Quando chego na porta Amélia acena. Desço do carro e logo Brook vem correndo sorridente abraçada a boneca.

─Até amanhã meninas! – Amélia diz com um sorriso colado no rosto.

─Tchau! – Brook acena e eu a coloco no carro. Não consigo muito esconder a tensão. Esquento comida no micro-ondas e sirvo a ela logo depois do banho. Olho pela janela de casa enquanto ela come e vejo o vizinho carregando o carro com caixas, depois ele a esposa e o filho entram e ele deixa a casa apressado.

─Tia Brook, sabia que a Caroline viu também o monstro na televisão? O pai dela falou que é o fim do mundo e ela chorou. O que é fim do mundo?

─É bobagem querida. O pai da Caroline não sabe o que está dizendo. Quer ver desenho? – Ela afirma. Ligo a televisão e coloco num canal infantil. Não vão interromper a programação para dar notícias num canal específico como esse. Ajeito a louça, arrumo a casa como de costume. Depois coloco Brook na cama. Dessa vez ela custa a pegar no sono.

─Tia não tem monstro aqui né?

─Claro que não pequena. Esses monstros não existem. – Me arrependo ao dizer. Até eu começo a achar que talvez eles existam sim. Ela aceita minha resposta como a mais pura verdade e fecha os olhos. Uns minutos depois dormia tranquila. Corro para frente da televisão.

Dessa vez tem várias imagens de celular. Vindas de todos os lugares do mundo. O tempo todo é a mesma coisa. Gente sendo mordida pela rua. Dentro de lojas. Um político da entrevista dizendo que são casos isolados, que tudo está bem. Que as pessoas não precisam temer. Que podem continuar com suas vidas normalmente.

Mas depois de sua mensagem mais ataques são mostrados. Todos os lugares, homens, mulheres, idosos. Meu coração descompassa. Não sei como sobreviver a um momento como esse. Não sei cuidar de Brook sozinha. No meio do caos.

Mil coisas passam por minha cabeça. Os perigos, o medo de algo acontecer a ela, de perde-la. De deixa-la. Meus olhos marejam e penso em Charlotte, nesse ponto ela talvez fosse mais forte que eu. Merle seria. Ele poderia manter a filha viva. E seu irmão, mas eu. Não. Eu não sei fazer algo assim.

Quando pisco algumas lagrimas caem. Tomo um banho depois de conferir duas vezes cada porta e janela. Meio que de modo automático arrumo uma mochila com umas peças de roupas e botas para mim e Brook. Coloco duas garrafas de água. Alguns biscoitos e chocolate. Tudo que não é perecível. Decido deixar no quarto. Abro a gaveta onde guardo todo o dinheiro que economizo numa latinha de bolachas finas. Coloco na mochila.

─Amanhã vou encher o tanque da caminhonete. Comprar lanternas, agua e mais comida no Walmart. Se as coisas piorarem quero estar pronta para me trancar com Brook, se tiver que deixar a cidade também quero estar.

Com mãos tremulas pego uma faca de cozinha. Uma grande de carne e coloco debaixo do travesseiro. Custo a pegar no sono. Abro os olhos logo que o dia amanhece. Olho pela janela e tudo parece tranquilo como sempre. Ligo a tevê mais uma vez. As mesmas imagens da noite anterior, nada novo. Mais tranquila eu acordo Brook e começamos nosso dia.

As coisas parecem mais agitadas nas ruas. Gente entrando e saindo de lojas com caixas. Buzinas e pequenas discussões de transito aqui e ali. Odeio ter que deixar Brook. Olho para ela ao meu lado sorrindo com a boneca na mão.

─Tia a gente vai viajar de novo?

─Por que?

─Essa mala que tem aqui. – Ela mostra a mochila no chão sob seus pés.

─Talvez querida. Quem sabe?

Penso se algum daqueles amigos de Merle sabe como encontra-lo, se ele recusaria ajuda se pedisse para me ajudar a proteger a filha. Mesmo com toda a raiva que sinto do abandono, por ela eu pediria socorro a ele e o irmão.

Amélia aguarda na porta olhando de um lado para outro muito tensa.

─O que foi? – Pergunto quando deixo Brook.

─Nada, só cuidando. Bom dia Brook. Pode entrar. – Brook me abraça e segue para a sala de aula. – É o último dia Hannah. Sinto muito. A diretora só abriu hoje para dar tempo dos pais se organizarem, a verdade é que só sete crianças chegaram até agora. Vamos fechar a partir de amanhã sem data para voltar.

─Amélia... Eu não sei como posso... Não tenho ninguém e preciso trabalhar.

─Desculpe, mas acredito que do jeito que as coisas andam nem sei quanto tempo até tudo virar um caos. Não se fala em mais nada. O mercado financeiro entrou em colapso hoje. Talvez a gente perca a internet nos próximos dias, as redes de televisão anunciam que podem sair do ar a qualquer momento, hospitais começa a encher de gente.

─Eu sei. O pânico está enlouquecendo a todos.

─Olha! – Ela aponta com a cabeça e um caminhão cheio de soldados passa por nós. – O exército está nas ruas.

─Ouvi que até o fim de semana vão decretar lei marcial e começar com toque de recolher.

─Vê? O caos já chegou, as autoridades estão nos escondendo coisas com medo do pânico, mas isso só cria mais pânico.

─Obrigado por hoje Amélia. Se algo der errado, protege meu bebê.

─O meu marido está comigo. O da senhora Stwart também e o filho dela. Vamos ficar fechados aqui até o fim do dia.

Aceno e me apresso para o trabalho, vou procurar a gerencia, quem sabe eles permitem que Brook fique comigo na loja? É uma situação de emergência. Não acho que a loja vá fechar. Não com as vendas alucinadas dos dois últimos dias. Tem fila para abastecer os carros, decido enfrentar a fila. Sabe Deus quando posso ter outra chance. Agradeço mentalmente aquela pessoa desconhecida que deu dinheiro a Charlotte. É o que restou dele que vou usar para esse momento de emergência.

Assim que chego vejo uma pequena confusão se formar na porta da grande loja onde venho trabalhando nos últimos meses. Quando chego a sala dos funcionários todos estão alucinados carregando caixas pelos corredores.

─O que foi?

─Ordens da gerencia. Estamos guardando uma parte dos produtos mais caros. Estão com medo de haver saques. Armas e munição estão na lista. É seu setor não?

Afirmo. Começando a ajudar. Meia hora depois na última sala de estoque no subsolo estão guardadas algumas caixas de tudo de mais caro que vendemos. Depois todos tomamos nossos postos. A loja abre e começa a confusão de gente enchendo carrinhos e correndo para os caixas. Não precisam mais de nós. Só vão enchendo carrinhos. No meio da tarde escuto gritaria. Pego o corredor principal e vejo as portas sendo fechadas. Os seguranças tentam conter um grupo de pessoas que quer de todo modo entrar.

─Não podem fazer isso!

─É errado, temos dinheiro.

─Afastem, temos ordens. – Dos dois lados as pessoas parecem alteradas, Jane segura minha mão enquanto assistimos a confusão. As pessoas que estão dentro correm pegando caixas, tudo confuso e assustador.

─Vão fechar a loja. A ordem é irmos para casa e esperar as coisas se acalmarem. – Ela me diz chorando. – Pequei uma pistola, uma lanterna e vou de carro achar minha família. As linhas telefônicas caíram a pouco.

─Sério? – Meus olhos arregalam enquanto encaro Jane. Ela afirma e um estrondo chama nossa atenção. Uma vidraça da loja é quebrada e um grupo de pessoas invade a loja.

─Começou Hannah. É assim que o mundo vai acabar.

─Jane.

─Vá para casa, se tranque, leve agua e comida. Uma arma, lanterna.

─Não tenho como pagar.

─Hannah! – Ela faz um movimento amplo. Encaro o cenário. Homens e mulheres enlouquecidos carregando televisões, celulares, comida, água, até uma geladeira é carregada por dois rapazes. Não acredito no que meus olhos registram.

Um jovem passa por nós correndo, me atira para longe. Bato a cabeça numa prateleira e me sinto tontear. Jane me ampara.

─Está bem? – Ela pergunta e afirmo. Escuto um disparo. Nos abraçamos. – Vai Hannah. Cuidado.

Obedeço completamente perdida. Corro pelos corredores em direção ao meu departamento. Felizmente sei onde encontrar o que preciso. Não ali nas prateleiras em luta com desconhecidos, mas no subsolo no estoque. Faço o que me disse para fazer, pego uma arma, duas caixas com munição, um pacote de água, lanternas e baterias. Depois com um saco preso a meu corpo eu corro pelos fundos até o estacionamento de funcionários. Pego o carro assistindo dois funcionários que sempre foram amigos trocando socos e Brook é tudo que importa então eu apenas acelero o máximo que posso para longe.

Pelo caminho só o que vejo é caos. Brigas pessoas sendo presas pelo exército, lojas sendo saqueadas. Gritos de pânico e gente tentando fugir como eu.

Na porta da escola dois soldados guardavam o local. Bato na porta, um deles se aproxima.

─Senhorita se acalme. Fomos chamados para manter a segurança, as crianças estão bem.

─Obrigada! – Balbucio sem saber bem o que dizer. Amélia abre a porta, me olha por um vão.

─Graças a Deus. Brook! – Ela grita, logo a porta se abre e minha garotinha surge chorando. Eu a ergo no colo. – Boa sorte Hannah.

─Amélia... Obrigada. – Meu coração está fora do ritmo quando aperto Brook nos braços assustada.

─Vá para casa senhora. Não saia até isso acabar. – O soldado me diz sério. – Tome cuidado, não fale por aí. Apenas tranque tudo e não abra.

Ele me escolta até o carro. Entro e arrumo Brook.

─Está tudo bem querida. – Dirijo o mais rápido que posso com os vidros fechados e minha pequenina agarrada a boneca ainda chorando. Quando estaciono na porta outro vizinho saía às pressas com a família.

─Hannah. Dizem que tem abrigo em Atlanta. Tente chegar lá. – A mulher grita do carro. Só aceno confirmando. O soldado teria me dito se fosse para deixar a cidade. Recolho as sacolas e a mochila e corro para dentro com Brook. Tranco a porta. Empurro o único móvel pesado que tenho para frente.

É a única porta. O carro está bem perto caso eu tenha que fugir. As janelas estão trancadas e são fortes. Fecho as cortinas também.

─Tia eu estou com medo! – Abraço Brook. Não sei o que dizer e então assim como ela eu choro. Não devia fazer isso na sua frente, mas não consigo evitar. Depois sinto meu corpo relaxar.

─Vai ficar tudo bem meu anjinho. Nós duas vamos ficar bem. Não podemos fazer muito barulho, nem gritar está certo? Entende isso? – Ela afirma. – Muito bom. Agora você vai brincar com a Lyn no quarto, está bem seguro. Eu vou arrumar umas coisas e já vou lá ficar com você.

─E se o monstro entrar pela janela do quarto? – Vou com ela até o quarto. Ela tem razão. Olho o guarda-roupas, pode servir. Tamparia a janela e uso toda força que tenho para empurra-lo.

─Pronto. Agora está segura. – Ela me sorri completamente relaxada. Para ela aquilo garante tudo. – Já volto.

Ligo a televisão com o som baixo. O país está um caos, vejo coisas que parecem saídas de um filme de horror. Alguém diz que a mordida aciona o vírus e a pessoa se transforma em uma máquina de matar. Começa com febre e termina com um tipo de morte. Em algum canal chamam de zumbi.

O tempo passa. Uma hora daquilo. As recomendações são para procurar hospitais caso seja mordido, alguém diz algo sobre danificar o cérebro ser a única maneira de parar os zumbis. É quase uma autorização para matar. Desligo e decido fazer um inventário do que tenho. Junto toda comida e encho garrafas com água. Decido usar a comida perecível primeiro. Posso ficar uns dias sem medo com Brook.

Arrumo tudo em caixas que posso levar para o carro caso seja necessário sair. Deixo a arma carregada na estante no lugar mais alto que tenho com medo de Brook mexer nela. Não acho que tenha coragem de atirar. Pelo menos eu sei como ela funciona. Tudo fica pronto. Para sair ou ficar.

Procuro ajeitar roupas quentes para Brook. Botas para o caso de termos que correr. Minha mente cria todo tipo de situações e vou organizando as coisas para cada uma delas. Ergo o telefone do gancho que quase nunca uso por que não tenho ninguém, sem sinal.

A luz falha, meu coração bate rápido. Deixo uma lanterna na cintura junto com uma faca num cinto que peguei na loja.

Brook vem correndo para meu colo. Eu a abraço.

─ Tudo bem. Já voltou.

Escuto barulhos na rua quando a noite chega. Portas de carro batendo. Algo que parece um tiro um pouco ao longe. Um cachorro late por quase uma hora para depois silenciar de modo abrupto. Brook dorme tranquila agarrada a boneca. Veste uma calça jeans e botas assim como eu. Estava quase amanhecendo quando adormeço. Pela manhã corro para televisão assim que abro os olhos, todos os canais fora do ar.

Tento me manter calma. Vou com passos lentos olhar pela fresta da janela. Um homem caminha lentamente pelo meio da rua. Tem um grande machucado na perna. Meus olhos vão subindo até chegar a seu rosto. Ele está cinza. Balbucia qualquer coisa enquanto só caminha pelo meio da rua e de algum modo eu sei que é um dos infectados, mesmo não tendo visto nenhum de perto. Ele some e me afasto da janela com medo de chamar atenção. Me encolho na cama ao lado de Brook, os ouvidos atentos para qualquer som.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Beijossssssssssssssssssss
Comentem.