Lembro-me de chegar tarde em casa noite passada, até mesmo porque eu e Luke ficamos no Thought’s Road quase até a madrugada. Lembro-me também das conversas que jogamos fora e de um quase beijo que recebi.

Não sei ao certo o que penso sobre Luke, não mais.

Cada movimento dele deixa explícito o que pretende. O problema é que, para cada pedaço meu que o quer, tem outro que não.

Minha confiança em homens que não sejam o meu irmão é zero.  E além do mais, tenho muito mais com o que me preocupar.

Enquanto me arrumava para caminhar um pouco, lembrei da Maeve. Já fazia alguns dias que não saíamos juntas, então resolvi convidá-la para fazer compras. Coisa de menininha, não é? Mas era o nosso passatempo preferido, já que somos duas consumistas.

Terminando de me arrumar, coloquei minhas knee socks, agarrei um pacote de algum salgadinho e saí de casa.

Encontrei Maeve na frente da Hiding Place.

— Você vai me fazer entrar nessa espelunca, guria?

— Ah, qual é May. Você sabe que eu amo essa loja. Cinco minutinhos? Por favor?

A Maeve odeia a Hiding Place e tudo o que é clássico e antigo. Ela prefere coisas que remetem a ação e comédia, desde que não seja antigo. Não somos só diferentes na aparência, mas também nos gostos.

Puxei ela pra dentro da loja e fui direto para a parte de bandas. Peguei um CD de The Stokes e fiquei um tempinho pensando se deveria levá-lo.

—Então você também curte Rock?

— Nathan – abri um sorriso para ele, que retribuiu- Na verdade, é Rock Indie, meu estilo de música preferido.

— Legal – ele deu um leve sorriso e olhou para o chão -Então, aquele nosso jantar ainda está de pé?

— Ah, claro. Falta você me dizer quando.

— Que tal na sexta? Depois te passo os horários – Nathan parece ser um cara bem enrolado com garotas, mas pelo menos teve coragem de me pedir o meu número na última vez que nos vimos

Fiz as contas mentalmente. Hoje é quarta, o que me diz que eu ainda posso desistir. Sexta eu tinha que trabalhar, mas era só inventar uma desculpa para Caleb.

— Pode ser – Sorri para ele e voltei a prestar atenção no CD.

Quando percebi, Nathan já tinha ido embora.

— Foi o eu ouvi? Você vai sair com o deus grego? – Maeve tem crush em Nathan desde que o viu no Imperius, mas só por ele ser bonitinho – Sortuda. Pergunta se ele tem algum amigo, okay?

— Com certeza vou perguntar – Realmente, May – Agora vamos logo, vou levar esse aqui mesmo.

Depois da Hiding Place, fomos ao shopping. Passamos o dia provando óculos e sapatos, comprando livros e rindo. Na volta para casa, passamos na frente de uma loja de tatuagem. Assim que paramos, May e eu trocamos um olhar que já dizia tudo.

Entramos na loja, escura e pequena. Tinha fotos de tatuagens expostas pela parede e também nos livros.

— Que tal fazermos personagens? Qual você faria?

— Eu faria o Peter Pan, mas não sei é o que eu quero. E você, May?

— Sei lá, acho que uma Barbie – Rimos juntas antes de voltar a procurar.

A May ama tudo relacionado à Barbie. Quando éramos pequenas, ela tinha dezenas.

— Quem sabe um animal? Você definitivamente faria uma cobra, guria.

— Cala a boca Maeve – empurrei ela enquanto ria –  Você faria um lagarto.

— O que que um lagarto tem a ver comigo, Miranda? – Ela gargalhava escandalosamente.

— Sei lá.

Passamos mais um tempinho olhando as tatuagens e procurando algo para tatuar. Já estávamos quase desistindo.

— Vocês são amigas?- Uma mulher cheia de tatuagens atrás do balcão sugeriu- Que tal fazer uma tatuagem igual? De amizade?

Eu e Maeve sorrimos uma pra outra. Parece que era isso que faríamos, só faltava escolher qual...

— Que tal um “M”? De Maeve e Miranda?

—Finalmente usou a cabeça pra pensar em algo eu preste hein May.

Depois de escolher o lugar, que seria o pulso, fizemos as tatuagens. Até que não doía tanto assim quanto diziam.

Saímos da loja sorridentes, foi divertido fazer isso juntas.

May é minha melhor amiga, meu poço de amor e segredos. Ela sempre desperta meu melhor, e eu sou muita grata por isso. Eu costumo dizer que ''eu te amo'' é uma frase muito poderosa para se gastar com qualquer um. E eu tenho certeza que eu poderia dizer isso um milhão de vezes para a May, porque eu sei que é verdadeiro.

Pensando nisso, fiquei feliz e agradecida por ter alguém assim. Então, abracei ela.

— Isso tudo é carência, guria? – Rimos e continuamos a caminhar.

Convidei-a para dormir lá em casa, para fazermos algumas besteiras. Mas ela tinha que terminar um trabalho da faculdade.

Eu fazia faculdade quando morava com meus tios, mas desde que saí da casa deles tive que largar tudo.

Chegando em casa, me larguei no sofá e comecei a mexer no celular. Então, lembrei de meu irmão.

“Quando você vem mesmo, Tom?”— Enviei a mensagem e fui buscar um copo de água.

Assim que voltei pro sofá, ele já tinha respondido.

“Na sexta. Você vai me buscar no aeroporto?”

Sexta é quando vou jantar com Nathan, mas ainda bem que é só à noite. Então, me lembrei de Luke. Ele que deveria ir buscar meu irmão comigo no aeroporto, era uma das apostas que ele perdeu. Droga.

 Ah, dou um jeito nisso depois.

“Claro, maninho. Beijosss”

Lembrei que não precisava dar desculpas para Caleb para faltar na sexta, era só repor por hoje que eu estava de folga.

Me vesti rapidamente e saí de casa.

*****

Chegando no Imperius, fui procurar Caleb para lhe falar sobre sexta. Eu andava pelo pub, quando alguém me puxou.

—Mas que porra...? Logan?!

Ele me prensou na parede, aproximando seu rosto de mim. Ele estava fedendo a álcool.

Eu tentava me soltar, mas ele me prendia com força. Tentei chutá-lo, mas seus joelhos prendiam minhas pernas.

O pânico tomou conta de mim, não sabia o que fazer.

— Me larga, seu filho da puta!

Ele apertou meus pulsos com força, parecia irritado, pois eu não o correspondia.

— Cuidado como você fala comigo, princesa.

Então, alguém o puxou de cima de mim.