Assim que entrei no Imperius, avistei Luke. Ele estava em pé batucando com os dedos no balcão. Alguém está um pouco impaciente hoje.

Passando pelas mesas notei que ele me olhava. Seus olhos passearam pelo meu corpo enquanto eu caminhava em sua direção. Mordi o lábio e sorri pra ele, que levou a mão à própria nuca e apertou os cabelos. Ele gosta de jogar com provocação, não é? Então, que comece a diversão.

— Demorou, hein boneca? Pronta para dar uma volta na minha moto?

— Cala a boca, Luke – Virei para um garçom atrás do balcão e pedi uma bebida. Hoje não era meu dia de serviço mesmo – Ponha na minha conta.

— Wow, alguém está estressada – Sua boca fez uma leve curva em um sorriso debochado - Prometo me comportar, Miranda.

Neste momento, o garçom colocou minha bebida no balcão e eu sorri agradecendo.

— Eu duvido muito, Luke – Sorri e cruzei minhas pernas, levando seus olhos nessa direção.

Luke respirou fundo e baixou a cabeça. Deu alguns passos até parar próximo a mim e levantou seu rosto na altura do meu, olhando em meus olhos.

— Você está me provocando – Disse ele num tom sério.

Parece que alguém não é tão lerdo assim. Abri um sorriso largo pra ele.

— Você não vai me tirar do sério, boneca. Hoje é meu dia de bancar o bonzinho com você – Sussurra contra meu rosto – Então, por favor, colabora.

Acabo minha bebida e retribuo seu olhar.

— Qual nossa primeira parada, Sr. Bonzinho?

Ele sorri e me puxa pelo cós do shorts, me levando até a rua.

— Tadã – Diz ele, apontando pra sua moto – Você vai estrear ela comigo.

— Deixe eu adivinhar, você comprou com o dinheiro das apostas?

— Na mosca, boneca. – Luke joga um capacete pra mim – Sobe aí.

Eu olho indecisa pro capacete.

— Qual é, Miranda. Essa vida não dura pra sempre. Então, me diga o que você está esperando.

Luke sorri pra mim e eu retribuo. Coloco o capacete e subo na moto, agarrando em seu quadril. Tenho a impressão de que ele sorri enquanto dá a partida.

*****

Enquanto sentia o vento em minhas pernas, também sentia a adrenalina em meu corpo. Mesmo com as roupas nos separando, estar próxima ao corpo de Luke estava me deixando nervosa.

Então, ele finalmente parou.

— Onde estamos, Luke?

Era uma rua comprida e escura com uma praia no fundo. E pelo jeito, estávamos bem longe de casa.  

Tinha algo como um galpão no fim da rua, várias janelas e uma porta de vidro, tudo bem iluminado. Em frente, tinha uma placa escrita com luzes vermelhas: “Thought’s Road”, que parecia que tinha sido tirada de um motel velho.

— Sabe aquele lugar que você vai para se esconder de tudo? Bom, esse é o meu lugar – Diz Luke enquanto caminha – Me parece que quando tudo se tornar escuro e sombrio, e quando não houver paz interior, esse lugar vai estar aqui ainda.

— Engraçado – Falei rindo mentalmente – Isso não parece algo que o Luke que eu conheço diria.

— É porque você não sabe nada sobre mim. Ainda – Disse ele indo em direção ao galpão – Você não vem, boneca?

— Quando vai parar de me chamar assim? – Bufei e segui ele. Patético.

— Vamos fazer assim – Posicionou suas mãos na minha cintura, me pegando de surpresa. Sinceramente, eu esperava uma provocação – Paro de te chamar assim no dia em você for... minha.

— Então já posso mudar meu nome para “boneca”, porque não vai acontecer.

Luke me olha nos olhos e ergue uma sobrancelha. Posso até não suportar ele, mas seus olhos continuam lindos. Ele continua me olhando fundo, com suas mãos ainda na minha cintura. Sinto meu corpo ficar fraco e minhas pernas darem uma vacilada, e Luke parece perceber isso, porque ele abre um sorriso.

— Te deixo vulnerável.

Me solto dele rapidamente e continuo caminhando.

— Uma pena que não é verdade, Luke.

Ele sorri e me puxa para dentro do lugar. É um lugar espaçoso e bonito, cheio de livros, CD’s, discos, filmes.  Tudo é iluminado com pequenas luzes e a janela da de vista para a praia. Dá pra entender o porquê que Luke gosta tanto daqui.

— Vou buscar a “surpresa” – Diz Luke, que sorri e entra numa porta ao lado.

Eu realmente gostei desse lugar. Deixa a Hiding Place no chinelo. Ri dos meus pensamentos e resolvi explorar. Tudo parecia meio abandonado, pois as coisas nas estantes estavam empoeiradas.

Por um momento, esqueci de tudo. Esqueci de onde eu vinha, ou para onde queria ir.  Esqueci o guri idiota que me trouxe aqui, e o quanto que ele mexe comigo.

— Abra, Miranda – Ele volta com um pacote quadrado.

Pego de sua mão e abro curiosa.

É o primeiro álbum oficial de Arctic Monkeys. Olho para ele sem palavras, que abre um sorriso largo parecendo satisfeito com a minha reação.

— Luke... eu... eu nem sei o que dizer.

— Você nem viu a melhor parte, vira o CD.

Quando olhei na parte de trás, quase soltei um grito. Estava autografado pelo Alex, vocalista do AM. Mal consigo segurar o que tenho em minhas mãos.

— Isso é de mentira né? Você está brincando comigo né?

— Não – Ele ri – Conheci um cara que é amigo do vocalista da banda em um dos meus jogos. Apostei com ele que se eu ganhasse, me faria esse favor.

Eu não conseguia parar de sorrir. Sem perceber, puxei Luke para um abraço rápido.

— Vou começar a te dar mais presentes, boneca.

— Ou você pode me ensinar a jogar. Quem sabe ganho sua moto.

Ele dá uma gargalhada profunda.

— Então, que tal começarmos as apostas?

Sentamos juntos em uma mesa e Luke espalha as cartas. Passamos um bom tempo jogando e rindo. Bom, ele não perdeu sua moto pra mim. Mas eu ganhei uma carona pro aeroporto quando for buscar meu irmão.

Porém, Luke se deu melhor. Devo bebidas pra ele por uma semana no Imperius, além do meu aparelho de DVD. É, eu fiquei um pouco competitiva e esqueci que ele é ótimo nisso.

— Que tal uma caminhada na praia, boneca?

— Que clichê. Eu esperava mais de você, boneco.

— Que péssimo – Diz ele em meio aos risos – Não me chame assim novamente. Você não é boa com trocadilhos, Miranda.

*****

Andamos um pouco na praia e conversamos sobre coisas aleatórias. Luke pode até parecer que está sendo legal, mas continua com as provocações. A idiotice não sai dele.

Descobri que gostamos de coisas muito contrárias. Enquanto eu amo dormir, ele acha perda de tempo. Eu gosto de séries, ele gosta de filmes. Coisas assim que nos levaram a várias discussões.

Reparei que havia um colar por baixo de sua camiseta.

— Você usa colar?

— Por que não usaria? – Ele tirou o colar e me mostrou - Foi um presente.

— É lindo – Peguei de sua mão e avaliei o colar. Era uma pedra azul escura, com pontos brilhantes nela – Que pedra é?

— A pedra da estrela. Dizem que ela controla as emoções.

— Então combina com você – Ri e dei alguns passos para trás. Acabei me desequilibrando e levei um tombo.

Alguém me puxou para cima e eu agradeci.

— Não há de que, Miranda Avalon.

Reconheci a voz na mesma hora. Não era Luke.

— O que você está fazendo aqui?- Falei indo para o lado de Luke que parecia irritado.

— Não gostou da minha surpresa? Eu avisei que ia te encontrar. Deixei isso bem claro na mensagem.

Lembrei da mensagem que recebi alguns dias atrás. Filho da puta.

— Quem é você, babaca? – Disse Luke sério.

— Sou o namorado da Miran...

— Cala a boca, Logan. Já falei pra ficar longe de mim.

—Não é fácil ficar longe de você e das suas madeixas roxas.

Revirei os olhos e sussurrei para o Luke que me olhava pedindo uma explicação.

— Ele é meu ex-namorado. Não o vejo faz uns dois anos, e também não sei o que ele quer.

Os olhos de Luke ficaram sombrios repentinamente. Pareciam transmitir raiva. Então, ele sorriu.

— Você vai me explicar melhor depois.

Luke se virou para Logan.

— Melhor você sair agora.

— Quero ver você me obrigar, idiota. A Miranda não quer você. Não percebeu isso ainda? – Logan gargalhou sozinho.

Vi Luke fechar os dedos em um punho e respirar fundo.

— Vou te mandar direto para o inferno, babaca.