Anna Júlia - Quisera Eu escrita por Anna Júlia


Capítulo 12
Capítulo 12 - CLICHÊS, MONTANHAS RUSSAS, PORTO SEGURO.


Notas iniciais do capítulo

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Acabei dormindo na tua casa aquele dia e na manhã seguinte tive de pular a janela só pra não encarar o teu pai. Sei lá que medo é esse que eu tinha dele, mas na minha cabeça eu não ia gostar de ver o cara que come minha filha descendo as escadas pela manhã, por isso preferi ir embora escondido.

Porém, na parte da tarde eu já estava de volta e te buscava para que fôssemos até o parque. Eu era mesmo um clichê, Júlia, e tu adorou vivê-lo. Ficou tocando Los Hermanos o percurso inteiro, e por incrível que pareça eu tinha começado a gostar da banda. Você se assustou quando chegamos no destino e fiz questão de que o primeiro brinquedo fosse aquele que a gente pega um boneco de pelúcia. Te dei um cachorro, Júlia, tu ainda tem ele?!

Passamos a noite inteira no parque, indo de um brinquedo a outro e nosso clichê não seria o mesmo se tu não tivesse medo de montanhas russas.

— Quem, por todos os deuses, não tem medo de roda gigante, mas tem medo de montanha russa?

— Respeita o meu medo – você disse ríspida, apontando o dedo na minha cara.

— Eu te abraço – sorri pra ti. — Por favor, não vai ser clichê se tu não entrar nesse brinquedo.

— Nosso clichê acabou lá na roda gigante.

— Não vou te convencer, né?!

Você fez que não com a cabeça.

E eu o ignorei, comprei o bilhete e te puxei até estarmos sentados e devidamente protegidos. Fiquei rindo de ti o tempo todo, porque mesmo com o brinquedo parado você esperneava; parecia até querer chorar.

— Para de rir de mim! – gritou de súbito.

— Você fica toda linda assim com medo de algo tão inofensivo.

— Tu não achava bonitinho quando eu tinha medo de ti.

— Quem te disse que eu sou inofensivo? – perguntei bem perto do teu rosto, nossos lábios quase se tocando.

— Tu não é mesmo… – você respondeu em sussurro. — Nunca levei uma mordida tão forte em toda minha vida.

Meu coração agitado se confundiu com toda a adrenalina que tava sendo liberada em meu corpo porque o brinquedo tinha começado a andar. Teu grito acabou me acordando do choque e a única coisa que pensei foi em te abraçar e, logo em seguida, te beijar. Te beijar tão forte e com tanta vontade que só parei quando o brinquedo parou e o segurança nos mandava descer.

Sorri ao descermos do carrinho e te abracei por trás.

— Tu tá bem?

— Uhum.

Dei de ombros e te levei até o carro. O nosso próximo destino, mesmo sem a intenção de estragar a tua noite, era a minha casa.

— Tu tá preparada pra isso?

— Pra que?

— Conhecer os meus pais, ué.

— Tu me trouxe pra conhecer os teus pais no dia do meu aniversário???

— Sim – respondi como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Me leva pra casa, Jer – você me olhou séria.

— Júlia.

— É sério.

— Tu tá com medo deles?

— Não! – respirou fundo. — Eu só não sei se vou conseguir tratá-los bem depois do que tu me contou.

— Tu não tem necessidade em tratá-los bem, tu pode tratar os dois do jeito que tu quiser, eu vou até gostar.

— Tu vai gostar se eu chamar a tua mãe de puta e disser que ela é muito imbecil em trair o teu pai e que só tá com ele por dinheiro?

Te olhei assustado.

— Porque é isso que eu tô imaginando que vai sair da minha boca, invés de um boa noite.

Sorri para você.

— Porque é isso que eu penso, Jer.

— Obrigada pela sinceridade – te dei um selinho. — Agora vem – e saí do carro, abrindo em seguida a tua porta e pegando tua mão.

Assim que abri a porta de casa, todo mundo que estava ali dentro parou para me olhar.

— Não sabia que era uma festa de família – você sussurrou em meu ouvido.

— Esqueci de te contar essa parte – dei um sorriso amarelo para você e logo cumprimentei um dos caras que trabalham para o meu pai. — Carlos, essa é a Júlia, minha namorada.

Ele arregalou os olhos para mim.

— Uou. Nunca imaginei, Jerry, desculpa.

— Ehh, eu sei.

E saiu.

Foi assim com todo o restante das pessoas, até mesmo minha mãe e meu pai.

— Você foi a escolhida dentre tantas então – meu pai disse, assim que te apresentei para ele. — Você vai ter que me contar como conseguiu prender esse garoto, guria… Eu já tava cansado de errar os nomes das gurias que apareciam no café da manhã.

Recriminei tudo em pensamento. Desejei que um meteoro caísse naquele casa, naquele exato momento e, de preferência, em cima do meu pai que eu não daria a mínima. Pensei até em cavar um buraco dali até a China.

Nenhum dos dois aconteceu.

Você me olhou sorrindo e o respondeu logo em seguida.

— O senhor vai ficar um bom tempo sem errar o nome, eu espero… Ana Júlia – estendeu a mão para ele, que a apertou com força.

— É um prazer conhecê-la Anna…

— Só Júlia, pai. Ela não gosta do Anna – disse, num impulso.

— Júlia – ele sorriu. — Um belo nome para uma bela garota – falou e saiu indo conversar com quem quer que fosse.

Te abracei sem graça; você morrendo de rir de mim.

— Teu pai parece ser incrível.

— Ele é… Quando não quer que eu seja o sucessor dele, ele é um cara maneiro.

Minha irmã chegou logo em seguida.

— Até que enfim eu conheci o maior assunto dessa festa – ela disse já te abraçando. — Paula, muito prazer. Irmã do Jer.

Você sorriu para ela.

Deixei vocês duas conversando e fui pegar uma bebida. Minha irmã era a única pessoa no mundo que eu sabia que poderia te deixar conversando sem sentir medo do que ela falasse. Encontrei meu pai novamente, no meio do caminho.

— Tá preparado?

— Pra que? – franzi o cenho.

— Pra responsabilidade de ter que tomar conta de alguém agora. Não é só tu e mais um monte de menina que tu não sabe o nome mais… Agora tu sabe o nome e sobrenome de só uma. Ainda não pesou nas tuas costas né, Jerry?

— Meu… – ri forçadamente. — Te preocupa com a tua festa de merda e deixa que dá minha vida eu me preocupo.

Eu saía de perto dele, mas ele me segurou pelo braço.

— Só tô feliz. Essa é só a tua primeira grande responsabilidade. A maior de todas vem no ano que vem, como tu sabe.

— Faculdade? – perguntei perdido.

— A empresa – e saiu.

Fiquei tão em choque com o que meu pai tinha me dito que nem me mover do lugar que eu tava eu conseguia mais. Devo ter ficado parado uns 5 minutos, olhando pro mesmo ponto, até minha mãe aparecer para me acordar da brisa.

— Acho que só eu não conheci a tua menina ainda.

— E nem vai conhecer – respondi saindo de perto dela.

— Jerry! – ela veio atrás. — Eu sou…

— NEM PENSA EM FALAR AS PALAVRAS TUA MÃE – virei de súbito, falando tão alto que toda a festa parou para observar. Ignorei todos os olhares e procurei pelo teu, Júlia. Te vi conversando com o babaca do meu primo no segundo andar. Pelo visto tu nem imaginava o que tinha acabado de acontecer, mas meu primo olhou para mim e piscou com um dos olhos.

Babaca.

Achei minha irmã parada no meio da escada e fui até ela, com todo mundo observando cada um dos meus passos.

— Pensei que eu pudesse confiar em ti – falei ao passar por ela.

— Que porra deu ti?! – perguntou me seguindo.

— Que porra deu em ti pra deixar a Júlia com o idiota do Gustavo!

Ela olhou para cima, te achando. Te vendo rindo de qualquer coisa que aquele imbecil te falava.

— Ele não pode te intimidar tanto assim.

— Tu sabe que pode.

Cheguei até vocês dois.

— Vamos embora – te peguei pelo braço, fingindo que meu primo nem estava ali.

— Oi Jerry, sempre um prazer te ver.

O fuzilei com o olhar.

— Que foi? – você perguntou. — Jer – e parou de andar.

— É Jer, que foi? Tu descobriu os planos do teu pai pelo visto né…

Foquei em ti, Júlia. Foquei em teu olhar desentendido pra mim, porque se não fosse ele eu teria mandado o meu primo e todo mundo que ainda me encarava pra puta que pariu.

— Só vamos pra outro lugar. Por favor.

Você assentiu, percebendo o desespero em minha voz.

Desci os degraus com pressa, como se fugisse de algo, e saí de casa. Entrar no carro me fez até respirar.

— Quais são os planos do teu pai? Que o Gustavo falou?

— Por que tu tava conversando com ele? – levantei a cabeça e te perguntei furioso. Tu percebeu isso, se afastando um pouco.

— Ele veio conversar comigo, eu só fui educada ué. Algum problema?

— Ele te falou alguma coisa de mim?

Você esperou um tempo antes de responder.

— Ele tinha alguma coisa pra me contar sobre ti que eu já não saiba?

Te olhei, sentindo novamente uma paz indescritível, Júlia.

Puta que pariu, que efeito é esse que tu tinha em cima de mim, menina.

— Não, claro que não. Eu só não curto ele.

Você se aproximou de mim novamente, passando as mãos em meu rosto.

— Tu tá suando frio, Jer. Que foi que aconteceu?

— Pelo visto meu primo te entreteu bem.

— Para de focar nesse garoto!

— É até bom tu não saber o que rolou, não quero acabar com tua noite.

Dei partida no carro e fui pra um lugar da cidade que era só meu, e que nessa noite virou teu também. Era o meu pico, o lugar que eu ia pra pensar e deixava o vento levar meus pensamentos. Agora eu tinha você, Júlia. E eu não precisava mais daquele pico, era só olhar pra ti que tudo sumia. Mas ainda assim eu dirigi até lá, porque lugar nenhum me veio na cabeça a não ser ele.


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