I do, i need you. escrita por hollandttinson


Capítulo 1
I need to feel you.


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo que eu tô com essa ideia na cabeça, mas é muito difícil escrever sobre isso, porque TODO MUNDO escreve sobre isso, mas eu não desisti de escrever também. Espero que vocês gostem, e faz um tempão que eu li os livros, então não me julguem se rolar algum erro, vou tentar acertar sempre. Críticas construtivas serão sempre bem vindas nos comentários, eu preciso sempre que vocês me ajudem! Agora vamos de capítulo? Come on.



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NARRAÇÃO: PEETA MELLARK.

Fiquei alguns meses na Capital, mas todos os meus pensamentos vagavam pelo distrito 12. Eu já me lembrava como ele era claramente, e apesar de não ter as memórias mais felizes do mundo - e estas eram reais, nada de alienação do Snow -, ali era o meu lar.

Fiquei receoso em voltar por um motivo óbvio: Katniss estava lá. Ela tinha sido exilada para lá, de certa forma. Não podia ir para os outros distritos, era um tipo de fugitiva da lei, ou algo do tipo. Tentava não pensar ou falar dela, mas era inevitável, já que todas as noites eu tinha pesadelos com ela. Não os pesadelos em que ela tenta me matar e que me causam crises, estes eu tenho acordado; mas eram sonhos em que eu a perdia. E doía mais do que a sensação de querer matar a pessoa que eu mais amei na vida.

Me lembro do amor que senti por ela, na verdade, eu nunca o esqueci. Sempre existiu algo dentro de mim que guerreava contra o monstro em que eu me tornei, algo que não queria machucar Katniss, mas é claro que eu não o dava ouvidos. Eu demorei muito para conseguir me controlar, e quando o fiz, olhar para Katniss me dava uma tortura nova: ela não era minha. Então eu me lembrava que ela nunca fora, sempre tivemos Gale no meio.

Ela vai escolher a pessoa com a qual não consegue viver sem.

Ele dissera, e depois ela me beijou. Ela me pediu para ficar com ela, e eu disse que sempre ficaria. No entanto, quando Prim morreu e ela deu adeus á Gale, por um tempo que eu espero ser eterno, ela foi para o 12, e eu fiquei na Capital. É claro que eu precisava deste momento para colocar meus pensamentos em ordem, para me erguer como pessoa novamente, e não como uma máquina que a Capital fez contra Katniss.

Eu tive tempo suficiente para voltar á lembrar das coisas que aconteceram e reorganizar as minhas memórias permanentes. Tive tempo suficiente para perceber que não importa quantos tratamentos psicológicos eu faça, eu não vou voltar á ser o Peeta que foi escolhido como tributo á um tempo atrás. Não há nada que eu possa fazer, eu não tenho conserto. Nem ela.

Quando eu disse ao dr. Aurelius que queria voltar para o meu distrito, ele não ficou surpreso, apenas suspirou e me deu um sorriso. Disse que Haymitch e Katniss estavam mesmo precisando de mim - não que eu tivesse que cuidar deles ou coisa do tipo, apesar de meu coração inteiro sentir vontade de cuidar dos dois com carinho -, e me pediu para ligar e dar notícia deles todos os dias, já que não atendiam o telefone. Fiquei preocupado com Katniss, o que eu encontraria quando voltasse?

Deixei meus medos de lado e peguei o trem. Todas as pessoas me olhavam e apontavam na minha direção, mas nenhuma delas se aproximavam, e eu fiquei feliz por isso. Pessoas de todos os tipos, indo para o Distrito 12. Pelo que me lembro, não era possível passear entre os Distritos hoje, mas com a Paylor na presidencia, nós podemos fazer isso. Quero dizer, eles podem.

Pedi á Delly, que tinha voltado ao Distrito antes de mim e me dava notícias sempre que possível, que avisasse á Haymitch e á Greasy Sae - que era uma senhora que estava cuidando de Katniss, já que a sua mãe estava de luto no Distrito 4, e Gale estava deprimido no Distrito 2 - que eu estava voltando hoje, mas não esperei ninguém na estação. Peguei minhas malas sem muita animação, apesar de estar feliz por voltar.

- Peeta!- A voz doce de Delly era incomparável. Sorri abertamente quando a vi literalmente correndo na minha direção. Ela me deu um abraço apertado, e era como se não nos vissemos á vidas, aconteceram tantas coisas!

- Você não precisava gastar seu tempo vindo me buscar, acho que eu me lembro o caminho.- Eu disse quando nos afastamos. Ela revirou os olhos.

- Está brincando? Acha mesmo que eu deixaria de vir te receber? Você é Peeta Mellark, merecia uma festa!- Ela disse brincando, apesar de a minha memória me levar á festas em estações de trens. Balancei a cabeça.

- Obrigado por ter vindo apenas me receber!- Eu disse, entrando na brincadeira. Segurei a mala com uma mão, enquanto dava meu braço para ela segurar, ela sorriu e nós seguimos caminhando pelo Distrito.

Eu me lembrava deste lugar, só que de forma totalmente diferente. O chão ainda estava repleto de cinzas, e a imagem de Katniss vindo para cá quando ainda era o símbolo da rebelião, me fez sentir calafrios. Na época eu ainda não tinha sido telessequestrado, e eu não tinha a menor noção de nada o que tinha acontecido, mas o presidente Snow já me torturava, então a lembrança era carregada de dor e sofrimento.

Onde antes era o Prego, agora ficava um hospital. Na verdade, era uma tenda, mas eu vi alguns rapazes trabalhando para a construção do lugar, e já conseguia imaginá-lo construído, cuidando das pessoas que tinham alguma sequela da guerra, seja ela física ou emocional. E eu já conseguia me ver vindo aqui todos os dias, e depois uma vez por semana, e depois uma vez por mês, e quem sabe, no futuro, uma vez por ano! Tentava sempre ser otimista sobre o meu problema.

- Não é um máximo? No começo queriam fazer o Prego novamente, mas hoje em dia não dá mais para fazer um comércio clandestino, todos tem sua renda suficiente, e tudo o que está sendo construído é pelo governo, então não estamos gastando nada com isso. Decidiram fazer um hospital infantil, porque a baixa maior foi das crianças. Então uma garota está grávida no Distrito, e decidiram fazer uma maternidade. Basicamente, é um hospital completo.- Delly disse animada, sorrindo. Eu concordei com a cabeça.

- Tem um psicólogo?- Perguntei rapidamente. Ela mordeu o lábio inferior e suspirou.

- Só infantil. Sou eu.- Ela disse, ficando vermelha. Eu ri.

- Eu não sabia que você queria ser médica, Delly, parabéns!- Eu disse, animado. Ela deu de ombros.

- Eles só me colocaram porque não tinham mais ninguém, se existisse outra opção, com certeza eu estaria fora.- Ela disse.

Meus olhos vagaram e eu parei no lugar, totalmente duro. Inclinei a cabeça, me lembrando da padaria dos meus pais, que agora se resumia á pó. Do nome “Mellark” que ficava na frente, apenas o “k” estava de pé, literalmente. Soltei o braço de Delly e andei lentamente naquela direção, deixando as malas no chão ao lado dela. Ela veio comigo, apesar de eu não olhar para nada além daquele lugar.

Tentei pensar no que tinha acontecido, Gale disse que tentou salvar o máximo de pessoas possíveis, e que a maior parte delas não acreditou nele, por isso não fugiu. Imaginei minha mãe dizendo que ele era apenas um delinquente querendo arranjar confusão, ou fazendo brincadeira de mau gosto. Imaginei meu pai morrendo de preocupação pelo que Katniss, irresponsavelmente, mas muito elaboradamente, fez na arena. Imaginei meus irmãos entrando em pânico sem saber se seguiam á Gale ou obedeciam mamãe, e optando pelo pior. E imaginei seus corpos queimados.

Fechei minhas mãos em punho, meu queixo travou. Minha respiração começou á ficar pesada, meus olhos ficaram escuros. Meu coração estava batendo tão acelerado que eu tinha a sensação de que ele sairia da caixa torácica. Ajoelhei-me no chão, fechando os olhos com força e tentando respirar lentamente, sem sucesso. Eu queria correr para a casa de Katniss, queria colocar minhas mãos no seu pescoço e acabar o que comecei á meses atrás. Queria vê-la morta, como os meus pais estão, e como eu estou por dentro.

- Peeta? Oh Peeta por favor não faça isso!- A voz de Delly beirava o desespero, com a sua mão pequena no meu ombro. Tive de me controlar para que não a afastasse de forma bruta, a minha vontade era de quebrar alguma coisa. Eu fiquei alguns minutos respirando fundo e com Delly me pedindo para manter a calma, então, quando meu coração bateu normalmente, eu abri os olhos.

Uma poça de sangue estava na minha camisa, e eu percebi que tinha mordido o lábio com força, para não ter de afastar Delly com a mesma força. Minhas mãos estavam sangrando também, porque as minhas unhas não estavam curtas o suficiente para não serem perigosas. Suspirei, eu costumava me machucar á noite, quando acordava dos pesadelos e queria ter uma crise. Balancei a cabeça, isso nunca vai acabar.

- Isso é péssimo, acho que vou ter que me especializar e virar sua psicóloga.- Delly disse, me ajudando á levantar do chão, seu olhos era preocupado, uma careta desgostosa, uma ruga entre as sobrancelhas. Eu balancei a cabeça, passando a ponta da camisa nos lábios, para que o sangue parasse de jorrar.

- Eu vou agradecer muito.- Eu disse, minha voz ainda estava rouca pela crise, mas ela não se importou. Deu de ombros e olhou para as minhas mãos.

- Eu ajudo você com isso.- Ela disse, me guiando até a vila dos vitoriosos. Eu suspirei quando entramos lá, o lugar estava totalmente jogado ás moscas. Algumas casas estavam ocupadas por moradores que vieram da Capital para cá, que não queriam ficar na zona de construção, pelo que Delly me falou. Mas a minha casa estava intacta.

A chave reserva estava no mesmo lugar, eu me agachei para pegar e fiquei um pouco feliz e surpreso quando a vi lá. Delly sorriu para mim, constrangida.

- Eu vim aqui para limpar, me lembrava da chave reserva... Eu coloquei no mesmo lugar.- Ela disse, eu dei de ombros. Abri a porta.

A casa toda tinha cheiro de melancolia, a casa toda me dava vontade de sentar no canto e chorar como uma criança. Eu engoli em seco, engoli a vontade de chorar, e fui até a pia da cozinha. Limpei a minha mão e a minha boca, quando o sangue de ambos parou de correr, fui até a dispensa, onde eu me lembrava que tinha um kit de primeiros socorros. Enfaixei a minha mão e Delly ficou me assistindo.

- Você faz isso muito bem, acho que já pode deixar de ser padeiro e virar enfermeiro.- Ela disse, tentando ser gentil. Infelizmente, eu não estava no clima para gentilezas, então apenas fiz uma careta. Ela se levantou, disse que ia até a casa de Katniss ver se Greasy Sae estava lá, pedir para ela me trazer comida, eu não me opus, estava mesmo com fome.

Alguns minutos depois de Delly sair, meu coração ficou pesado. Eu sentei no sofá, fiquei olhando para a casa. Tinha uma fotografia do casamento de mamãe e papai na estante, uma fotografia minha com os meus irmãos quando éramos mais novos, e só. Olhei para a escada com atenção, pensando se devia subir e me conformar logo com a dor de entrar no quarto deles e encontrar o vazio e o silêncio, ou se ignorava tudo e simplesmente esperava Delly voltar com ou sem comida.

Respirei fundo e me levantei, subindo as escadas lentamente. Elas ainda faziam o mesmo barulho de sempre, o mesmo ranger que mamãe reclamava. O primeiro quarto era dos meus pais, abri a porta lentamente. Não me lembro de já ter entrado aqui antes, mas a nostalgia foi enorme quando eu entrei. A cama estava feita, provavelmente foi Delly quem arrumou. Fui até o armário e as roupas estavam todas no mesmo lugar, inclusive as que papai usava na padaria. Tudo exatamente como eles deixaram. Nos quartos dos meus irmãos, a situação era a mesma. Minha relação com eles não era maravilhosa, mas eu nunca desejei que eles morressem. Nunca imaginei que não ouvir seus xingamentos fosse fazer tanta falta.

O último quarto era o meu, ele também era o maior. Não tinha nada demais, a maior parte das coisas eram da Capital e eu não usava. O armário tinha todo tipo de roupas, mas me chamou a atenção algumas em especial, como a roupa que eu usei na colheita, que estava dobrada delicadamente num canto. A roupa que eu usei quando ia começar a turnê da vitória, e Katniss me beijou na frente das câmeras. Lembrei-me de nós dois atuando, e quando percebi que lembrar disso me deixava nervoso demais, fugi desses pensamentos, fechando o armário e indo para o meu atelier.

Ali a dor tomava proporções inimagináveis, meu coração doeu tanto que eu tive de sentar numa cadeira. Eu não me lembro quando foi a última vez que pintei, mas soube reconhecer qual foi o último quadro dentre todos aqueles. Eramos eu e Katniss, estávamos dentro da caverna, ela estava inclinada sobre mim, sorrindo. Eu parecia feliz também, apesar de saber que naquele momento eu sentia uma dor castigante. Olhei para o rosto dela, tão angelical, nada parecido com uma bestante da Capital. Mas não é assim que as bestantes devem parecer? Atraentes?

Escapei de mais esses pensamentos, Katniss não era uma bestante. Ela era uma garota normal de 17 anos. Eu me apaixonei por ela desde a primeira vez que a vi. Ela salvou a minha vida na primeira arena. Ela tentou me proteger na segunda arena, mas aconteceram imprevistos. Ela precisa de mim, ela disse isso mais de uma vez, e eu preciso acreditar.

Olhei para a janela. Eu tinha escolhido esse lugar para ser o atelier sugestivamente. Ele ficava ao lado da janela do quarto de Katniss, e apesar de ela sempre deixar as cortinas fechadas, e eu nunca tê-la visto daqui, era bom imaginar que, quando aquela luz estava acesa, era porque ela estava lá, não importa o que ela estivesse fazendo.

As cortinas costumavam fechadas, mas eu sabia que ela estava lá. Provavelmente afundada na sua depressão profunda, pensando em Prim, ou em sua mãe, ou no amigo que ela perdeu, Gale. Ou talvez ela estivesse pensando em Finnick, e em todas as pessoas que morreram para que nós dois estivéssemos sãos e salvos agora. Eu também era atormentado por esses pensamentos, mas eu estava tentando fugir, ela estava virando amiga deles.

Desci as escadas, Delly estava na cozinha esquentando alguma coisa no micro-ondas. Sorriu para mim.

- Greasy Sae lhe mandou um beijo!- Disse. Eu concordei com a cabeça, me aproximando. Era peito de peru com arroz, o cheiro estava maravilhoso.

- Obrigado Delly, você não precisa se preocupar tanto comigo.- Eu disse, me sentando no balcão para assistir ela trabalhar. Ela balançou a cabeça.

- Eu gosto de cuidar das pessoas, não é incomodo algum para mim, acredite.- Ela disse. Virando-se para mim, com a cara sem sorrisos. Ela parecia receosa, suspirou lentamente antes de voltar á falar.- Greasy Sae me disse que Katniss não anda se alimentando direito, e que é um sacrifício fazê-la comer. O mesmo com Haymitch, que está ainda mais bêbado do que antes. Cada um está fazendo o que faz de melhor: se arruinar.

- Fico feliz por não estar nesta estatística.- Eu disse, engolindo em seco. A memória ao nome de Katniss ainda era perturbadora, principalmente quando eu não sabia se meu lado Peeta ficava triste e preocupado por ela estar doente, ou se o meu lado monstro ficava feliz por ela estar se arruinando. Eu balancei a cabeça.

- Eles não estão se ocupando com nada, você precisa se ocupar com alguma coisa, para não cair na tentação de ficar deprimido também.- Ela disse, cruzando os braços. Eu revirei os olhos.

- Não vou ficar deprimido.- Disse, levantando e tirando a comida do micro-ondas, já que ela parecia não estar preocupada com o fato de ele já ter apitado umas 5 vezes. Ela ainda me encarava de braços cruzados.

- Melhor prevenir do que remediar. Eu vou arranjar telas novas e tintas novas para você, e vou vir aqui todos os dias, quando eu não estiver trabalhando. Greasy Sae me garantiu que vai tentar cuidar de você, mas acho que já é muito para uma senhora cuidar de Katniss e Haymitch, eu posso me responsabilizar por você.- Ela disse, dando de ombros. EU bufei, batendo o punho no balcão, ela se assustou. Não era a minha intenção, ás vezes faço coisas que não faria em momentos normais.

- Eu posso me cuidar sozinho, Delly. Cuide do seu irmão e do seu trabalho! Cozinho mil vezes melhor do que qualquer pessoa desse Distrito, e eu tive várias oportunidades para entrar em depressão, e estou aqui firme e forte. Eu não sou Katniss, eu não sou Haymitch.- Eu disse irritado. Ela deu de ombros e suspirou.

- Mesmo assim, vou comprar as telas e as tintas.- Ela disse.

- Não vai não. Eu também tenho boca, pernas e braços. Qualquer coisa que eu quiser, eu arranjo. Escute, eu não estou sendo mal agradecido, apenas me deixe ser o homem que eu devo ser, okay?- Falei, tentando reverter minha grosseria. Ela suspirou.- Sei que está preocupada, mas não precisa.

- Tanto faz.- Disse, dando de ombros.- Preciso trabalhar. Volto na hora do jantar, vou trazer meu irmão. Até mais tarde.- Ela me deu um beijo na bochecha e saiu da casa. Eu comi sozinho, estava gostoso, afinal de contas. Lavei a louça lentamente, querendo gastar tempo. Quando acabei, percebi que não tinha nada para fazer.

Sai de casa, meu primeiro pensamento foi ir até a casa de Katniss, mas me contive, indo para a casa de Haymitch. O lugar fedia á vômito e álcool. Fiquei surpreso quando o encontrei sentado no sofá, com uma roupa limpa, calçando os sapatos. Ele me olhou assustado, e depois caiu derrotado.

- Eu estava indo te buscar na estação.- Ele disse, irritado. Eu fiz uma careta.

- Está um pouco atrasado.- Eu disse, enfiando as mãos nos bolsos. Ele concordou com a cabeça.- Sinto muito por ter feito você tomar banho e trocar de roupa por nada!

- E pentear o cabelo.- Ele apontou para a cabeça, o cabelo dele ainda parecia um ninho de pássaros, mas decidi não comentar sobre, apenas sorri.

- Me sinto lisonjeado, não sabia que valia tanto.- Disse, arrastando uma cadeira e sentando. Ele deu de ombros.

- E não vale. Mas imaginei que Greasy Sae fosse falar sobre isso para sempre, e não gosto de ser atrapalhado na hora de dormir. Aliás, já que você está aqui... Eu vou dormir.- Ele disse, levantando e pegando um copo sujo na mesa, e enchendo de um líquido verde. Eu revirei os olhos.

- Quando você vai parar de beber?

- Quando eu morrer.

- Não vai demorar muito. Você ainda tem um fígado Haymitch?- Perguntei, erguendo uma sobrancelha. Ele bebeu um gole do troço, pareceu pensar um pouco e depois riu lunaticamente.

- Sabe que eu não sei?

- Tudo bem, eles te arranjam um mecânico caso o seu pare de funcionar.- Eu dei de ombros e ele riu mais ainda. Se aproximou de mim e ofereceu o copo.- Não, obrigado.

Ele sentou-se no sofá novamente e ficou me analisando. O silêncio ficou constrangedor, e quando eu já ia levantar e ir para casa, ele finalmente falou.

- Como você está se sentindo? Menos telessequestrado?

- É uma boa definição.- Eu sorri.

- Isso quer dizer que não quer matar a garota?- Ele apontou com o queixo para a janela, na direção da casa de Katniss. Eu engoli em seco, parte de mim queria dizer sim, mas a parte sensata dizia para manter distância.

- Serei sempre perigoso para a Katniss.- Eu disse. Ele deu de ombros, bebendo mais um pouco.

- A garota é um perigo para si mesma, duvido que você possa ser pior.- Ele disse, eu ri, apesar de não ter graça alguma.

- Vou para casa, Haymitch. Obrigado pela consideração, o que vale é a intenção.- Eu disse, levantando. Ele concordou com a cabeça.

- Diga á Greasy Sae que eu tentei!- Ele pediu, apesar de não parecer estar realmente preocupado com o que a senhora fosse falar. Eu apenas concordei com a cabeça e saí.

Enquanto caminhava na direção da minha casa, eu conseguia ver a casa de Katniss. Estava tudo na maior calma por lá, o gato estava deitado na janela da cozinha. Eu o olhei confuso, ele tinha vindo do 13 até aqui ou alguém o tinha trazido? Deve ser péssimo para Katniss ter uma lembrança tão viva da irmã. Eu fui até ele, acariciei seu pelo, nunca tinha chegado perto dele antes, apenas visto. Ele vivia grudado com a Prim no 13, e eu pouquíssimas vezes fiquei próximo á ela.

Olhei para dentro da casa de Katniss, me senti invadindo a sua privacidade, mas não me importei muito com isso, eu não tenho culpa se ela deixa a janela aberta assim! A cozinha dela era mais organizada do que a minha, nada fora do lugar. Fiquei na ponta dos pés, tentando ver a sala de jantar, ver se ela estava em algum lugar perto da minha visão, mas não estava. Fiquei um pouco decepcionado por isso, esperava vê-la, nem se fosse apenas para sentir a dor da raiva ou da saudade... Eu precisava vê-la para me certificar de que ela era real.

O gato miou alto, me assustando. Me afastei por impulso, meu coração bateu acelerado. Incrível como a gente entra em pânico fácil quando está fazendo algo errado! Eu dei de ombros e me afastei da casa, ela não ia gostar de saber que e a estava espionando.

Quando voltei para casa, fui direto para o meu atelier. Eu não a tinha visto, mas podia imaginá-la sentada no sofá de sua sala, com o queixo apoiado nas pernas dobradas, abraçando-as. O cabelo solto caindo nos ombros, olhando para um ponto que eu não podia ver, e provavelmente ela também não.

Quando acabei a pintura, já estava escuro. Eu olhei para a casa dela, quase que por instinto próprio. A luz do quarto dela estava acesa, as cortinas estavam abertas, e lá estava ela. Eu engoli em seco, primeiro porque eu não estava preparado para vê-la tanto quanto eu imaginava, e segundo porque eu não esperava sentir o misto de sentimentos que me atingiram quando a vi.

Ela estava completamente diferente! Eu já a vi de muitas formas, mas não daquela. Ela parecia morta, parecia um daqueles meus pesadelos terríveis. Seus olhos azuis estavam fixados em mim como se eu a tivesse hipnotizado, ou como se ela me olhasse sem realmente me ver ali. Seu braços descobertos estavam repletos de queimaduras, eu também tinha algumas, mas não se comparava ás dela, que eram grossas e escuras! Seus lábios estavam pálidos, e o cabelo parecia louco em rebeldia contra ela.

Olhar para tudo isso me deixou de várias formas, dentre elas: triste, eu não podia acreditar que a garota que eu pintara se transformara nessa criatura feita de dor, mágoa e cicatrizes; assustado, ela estava me olhando de uma forma que poderia facilmente me fazer ter uma crise, no entanto eu não tive nem o princípio de uma, o que me deixou surpreso. E por último, eu me sentia apaixonado. Eu tinha sentido falta dela, até mesmo dessa criatura que ela se transformou. E olhar para ela agora me fez querer abraçá-la, beijá-la, tirar cada cicatriz dela, cuidar das suas dores e mágoas.

Eu me levantei da cadeira e fui andando lentamente até a janela, ela não se mexeu. Eu abri a janela do meu quarto, o vento frio entrou, eu respirei fundo. Ela piscou, abrindo e fechando a boca várias vezes, provavelmente pensando em algo para falar. Mas ela não falou nada, pelo contrário, arregalou os olhos assustada e fechou as cortinas. A sombra dela, a silhueta continuou ali, e eu sabia que ela estava ali, então eu apenas suspirei. Eu precisava fazer alguma coisa, porque olhá-la não era o suficiente, eu precisava senti-la.

(…)


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Notas finais do capítulo

Oi, eu sei que vocês queriam ter bem muito Katniss e Peeta logo no começo, mas paciência! Eu queria falar um pouquinho da Delly e do Haymitch porque eles, com certeza, vão marcar uma presencinha legal na história. Espero que vocês tenham gostado da fanfic, porque eu nunca escrevi algo desse tipo, e se não gostarem, me ajudem á melhorar. Espero vocês nos comentários. Obrigada pela atenção, já amo vocês! Bye.