A semana se passou devagar, como sempre. Sempre as mesmas músicas, as mesmas aulas, as mesmas pessoas, as mesmas lembranças. Nada muda. Eu já estou acostumada com isso, mas minha Tia Angie, uma das pessoas mais alegres que conheço, fica triste ao ver as coisas caminhando dessa maneira. Mas não posso fazer nada. Ainda não inventaram a máquina do tempo. Um final de semana no quarto, desenhando, escrevendo, escutando música ou vendo um filme com a Angie. Assim são todas as semanas.

Até que segunda feira chegou. Ao entrar na sala e ver León, imediatamente me lembrei que ele viria estudar comigo. De alguma maneira aquilo seria bom, minha rotina mudaria pelo menos um pouco. Ao me ver ele deu um sorrisinho, meu coração deu um pulo. A única pessoa que sorria pra mim era a Angie e o professor ao me falar a nota. Sorri também, coisa que eu não fazia há muito tempo e fui rapidamente sentar no meu lugar.

As aulas começaram a passar rápido demais e eu não acreditava que o que parecia séculos se passou em alguns minutos pra mim. Logo arrumei o meu material e encontrei León na porta da classe.

– Podemos ir? – Ele perguntou.

– Claro.

Fomos caminhando até o portão da escola. Ele cumprimentando várias pessoas e eu apenas na minha. Saímos da escola e fomos caminhando até a minha casa.

– E então? Como é que você tá? – Ele perguntou. Esqueci que o garoto mais simpático da escola estava ao meu lado. Óbvio que ele puxaria assunto.

– Tô bem.

– Que bom! Gostou da aula de álgebra hoje.

– Ah, não amo álgebra. Mas também não sou ruim.

– Bom, eu boiei a aula toda. Não sei como você consegue.

– O que?

– Tirar mais que cinco e meio naquilo!

Eu ri. Cara, eu ri!

– Você também consegue! Você vai ver.

– Por favor, me ajuda nisso. Não quero nem ver o que vai acontecer se eu não passar de ano. – Toda vez que ele tocava nesse assunto ficava muito tenso. Como que se isso acontecesse, o mundo acabaria.

– Vou fazer o meu máximo! – Eu disse.

Logo chegamos em casa, ao abrir a porta ele parecia reparar em tudo. Logo Angie chegou.

– Oi Violetta! Oi... Como você se chama mesmo?

– León. Prazer. – Ele disse a cumprimentando.

– Prazer León. Eu sou a Angie! Sou tia da Violetta.

– Legal! A casa de vocês é bem bacana também.

– Ah, obrigada. Daqui a pouco vou levar um lanche pra vocês.

– Obrigado.

Era impressionante como ele era... desinibindo! Falava com tudo mundo como se os conhecesse a muito tempo! Subimos as escadas e fomos para o meu quarto.

– Pode deixar a sua mochila em cima da cama se quiser. – Eu disse.

– Obrigado.

– Eu vou pegar outra cadeira pra por aqui. Espera um pouquinho.

– Eu te ajudo.

Fui até o escritório e peguei a cadeira que tinha lá e ele me ajudou a carrega-la até o meu quarto. Ele se sentou ao meu lado e colocamos todos os cadernos e livros na mesa.

– Ótimo, pode começar o seu milagre. – Ele disse me fazendo rir.

Apenas com meia hora de estudos Angie entrou no quarto.

– Licença garotos. Eu trouxe um lanche pra vocês. – Ela disse colocando uma bandeja cheia de coisas em cima da cama.

– Vilu, eu estou indo pro trabalho tá. Até mais. Tchau León! – Ela disse se despedindo e logo depois saiu do quarto.

– Vamos comer um pouco e depois continuamos. Pode ser? – Eu disse.

– Claro!

– Bom, me fala um pouco de você. – Ele disse pegando um sanduíche.

– De mim?

– É. Você é a única garota da sala que eu não falo muito.

– Ah, não tem muito o que saber de mim.

– Vamos ver. Nome inteiro?

– Violetta Castillo.

– Idade?

– Dezesseis anos.

– Cor favorita?

– Violeta.

– Tá, isso é óbvio. – Ele disse.

– Mas eu gosto muito de azul também.

– Tá vendo. Tem muito mais coisas sobre você do que você imagina.

– Percebi.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Você já fez uma.

Ele riu. Era incrível como era mais fácil conversar com ele.

– Brincadeira, pode fazer. – Eu disse.

– Porque você é tão quieta? Nunca te veja conversar com ninguém.

– É que... Eu sou meio tímida sabe. Eu sou assim.

– Você sempre foi assim?

– Não.

– E você é assim desde quando?

Eu fiquei quieta. Eu não queria conversar sobre aquilo. Porque sempre que converso com alguém de alguma forma essa pessoa chega a esse ponto? Eu apenas olhava pra ele, sem conseguir falar nada.

– Desculpa. Acho que estou querendo saber demais não é mesmo? – Ele disse.

– Não tem problema. Vamos estudar?

– Vamos. – Ele respondeu.

Era esquisito estar ali com ele do meu lado. Depois da minha tia, ele era a única pessoa que parecia se importar de alguma maneira. Era bom conversar com alguém. Talvez seja porque León não se preocupasse com que os outros pensavam dele, não tinha a necessidade de ser o melhor. Venho descobrindo mais sobre as pessoas de tanto observá-las.

Depois de uma hora e meia estudando, acabamos de estudar uma parte. Descemos as escadas e eu o levei até a porta.

– Obrigado Violetta. Sério, você explica muito melhor que o professor. – Ele disse rindo.

– Obrigado. Espero que tenha entendido pelo menos ou pouquinho.

– Entendi sim. Você começou muito bem o seu milagre.

– Espero que eu o termine muito bem também.

– Bom, agora eu preciso ir.

– Certo. Qualquer dúvida é só perguntar.

– Pode deixar.

– Então, tchau. Até amanhã.

– Tchau. – Dito isso ele me deu um beijo na bochecha e foi embora.

Meu coração disparou. Fazia tempo que eu não sentia isso. Na verdade acho que eu nunca senti. Fui para o meu quarto e tomei um banho. Pensei em tudo que aconteceu. Eu me sentia diferente.

Sei que você deve estar pensando: “Ela está se apaixonando por ele”, mas, por favor, não é nada disso. Ele apenas conseguiu quebrar uma rotina e parecia se importar. Talvez eu esteja apenas criando coisas na minha cabeça pelo simples fato de isso nunca acontecer comigo. Ele deve apenas tenha feito o que qualquer um faria e eu nunca deixei.