Opostos que se Atraem escrita por paular_GTJ


Capítulo 3
Capítulo 3




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POV NESSIE


– Eu ainda não acredito que você fez isso. - Claire balançou a cabeça enquanto dirigia seu carro em direção ao colégio e me lançava olhares incrédulos a cada segundo. - Quer dizer, você ficou linda e tudo mais... Mas fez isso SÓ porque...


– Meu pai disse para eu não fazer. Sim! - Concluiu um pouco irritada por ela falar isso tantas vezes.


Olhei-me pelo espelhinho do carro, admirando meu novo corte de cabelos. Eles estavam acima do ombro agora, e Claire fez uma franjinha super linda. Ela tinha a mão ótima para fazer cortes de cabelo, principalmente femininos.


Eu, modéstia a parte, estava muito mais bonita assim do que antes. Sem contar todo o trabalho que vou poupar em cuidar dos meus cabelos agora, não podia ter feito coisa melhor. E, inacreditavelmente, eu tinha que agradecer ao meu querido pai e sua namoradinha sem graça por essa idéia brilhante.


Claire continuava com seus olhares irritantes, mas eu os ignorei. Ela nunca entenderia realmente como é ter um pai que nem o meu, então ela não teria como entender o meu lado da história.


Chegamos à escola pouco tempo depois e rumamos para a secretaria. Já fazia uma semana que as aulas haviam começado, mas foi dado um aviso ontem no final da tarde que os horários de todos os alunos seriam trocados por causa de mudanças no corpo educacional da escola.


Pelo fato de TODOS os horários de TODOS os alunos ter mudado, a secretaria estava com uma fila enorme. Eu e Claire entramos naquela monstruosa fileira para, felizmente, esperar até, muito provavelmente, o final da manhã, se não mais.


– Adivinha quem é? - Ouvi uma voz masculina ao meu lado e me virei para averiguar quem era o garoto corajoso que estava fazendo uma vozinha tão afeminada no meio do colégio lotado.


Óbvio! Quem mais seria? Quil estava com as mãos sobre os olhos de Claire, que ria que nem criança recebendo doce.


– Xuxúzinhoooo - Ela falou se virando e já tratando de cumprimentá-lo de um modo não muito apropriado por estarem no colégio cheio de gente.


Jacob, que vinha logo atrás de Quil, fez uma careta para a cena. Ele parecia gostar tanto daquelas demonstrações de carinho públicas dos nossos amigos quanto eu.


– Bom dia Swan. - Ele me cumprimentou acenando a cabeça de um modo muito formal.


– Bom dia Black. - Imiteu seu gesto e seu tom de voz.


Pude ver um pequeno sorrisinho se formando em seus lábios, mas tratei de me virar logo para frente e ignorá-lo, assim como eu estava ignorando o casal grudento ao meu lado. Ficamos em silêncio aguardando ali na fila, até que...


– Amooooooooor. - Um gritinho histérico, dessa vez de uma garota, me chamou a atenção.


Virei-me em tempo de ver uma garota morena se atirar nos braços de Jacob, enchendo o de beijos de cima a baixo. Tive que segurar o riso pela cara de poucos amigos que Jacob fez.


Ele pareceu perceber que eu estava achando aquilo engraçado, e mudou seu semblante quase instantemente. Desgrudou a garota, delicadamente, dos seus braços e abraçou-a pela cintura, mantendo uma pequena distância entre seus rostos. Agora ele a olhava com um pequeno sorrisinho, mas ainda podia se perceber certa relutância nele.


– Olá Leah. - Deu-lhe um selinho. - Quer esperar aqui comigo? Estou SOZINHO, sabe? - Indicou o Quil e Claire com a cabeça, como se eu fosse completamente invisível.


– Claro Jake! - Ela abriu um sorriso tão grande quanto Claire sempre abria quando falava, ou pensava, no seu namorado.


Vire-me de costas para os dois casaizinhos irritantes. Idiota! Fingindo que eu não existo. Argh!


Fiquei ali sozinha esperando minha vez de receber os novos horários, tentando ficar absolutamente alheia ao romance que estava rolando ali perto, mas sem muito sucesso.


Quil e Claire não paravam de se agarrar, um pouco mais forte do que o bom senso condiz, e com isso a diretora estava passando pelas filas mais vezes do que o normal para ralhar com eles quando necessário. Claire tinha perdido totalmente a noção em conta desse seu namorinho fajuto.


Por outro lado, Jacob e Leah não pareciam assim tão apaixonados. Quer dizer, ela estava praticamente querendo uma sessão igual à de Claire e Quil, mas Jacob não parecia tão inclinado a isso. Sua cara estava um pouco fechada e era extremamente grosso com ela algumas vezes. Eu só me perguntava por que ela não dava um pé na bunda dele logo. Eu NUNCA iria admitir um garoto me tratar com tanto descaso como ele estava tratando-a.


E eu não conseguia entender como quanto mais ele a ignorava, mais ela parecia apaixonada pelo cafajeste. Mulheres são assim mesmo, não é? Gostam dos que não prestam!


Finalmente, depois de muitas horas na fila, peguei meus novos horários e pude constatar que teria aula de História agora e Claire faria a aula comigo. Para meu alívio Quil não estava na nossa classe. Pelo menos assim eu podia ficar com a minha melhor amiga sem ter que dividir a atenção dela com Quil. Não que houvesse atenção para ser divida quando ela estava com ele.


Não estou com ciúmes nem nada, mas era um pouco irritante aquela melação toda.


– Eu venho aqui te buscar no final do período. - Quil murmurou com lábios quase grudados nos de Claire.


– Eu já vou entrando e pegando lugares, ok? - Falei com pouca paciência para esperar eles se despedirem. O que com certeza demoraria bastante.


– Espera Nessie. - Quil chamou enquanto eu me afastava lentamente. Vire-me novamente. – Será que você não pode me emprestar seu celular? Eu tenho que avisar minha mãe que eu não vou para casa depois da aula. - Lançou um olhar sugestivo para Claire, que corou um pouco com meu olhar e sorriso malicioso. – O meu está sem bateria e Claire não trouxe o dela! - Finalizou sem se abalar pelo constrangimento de sua namorada.


– Claro, claro! - Tirei o meu celular da mochila e lhe entreguei. - Me entrega depois então. - Acenei um tchau e entrei na sala de aula.


Como eu havia previsto Claire só entrou na sala no último segundo que faltava para bater o sinal, junto com a professora.


– Então... - Comecei, abrindo um sorrisinho para ela. - Quil não vai pra casa hoje, hein!?


Claire entendeu o meu comentário e um leve tom vermelho preencheu sua face.


– Ah é... - Pigarreou. - A gente vai dar umas voltas e depois...


Parou de falar e me olhou sugestivamente. Nós duas caímos na gargalhada, até a mala da professora ralhar conosco e nos fazer parar.


– Quem te viu quem te vê, dona Bennet. - Sussurrei de modo chocado, enquanto a professora escrevia no quadro.


– O amor muda a gente! - Declarou apaixonadamente.


– Eu sei.


- Perdem totalmente o senso! – Completei mentalmente.


Quando o sinal bateu, peguei meu novo horário e verifiquei qual seria minha próxima aula.


– O quê? - Assustei-me parando para analisar melhor o papel em minhas mãos. - Isso não pode estar certo!


– Que foi? - Claire perguntou parando e tentando olhar o que tanto me espantava.


– Esse horário está completamente errado! - Resmunguei, colocando-o contra o sol, como se quisesse ter certeza que estava lendo direito - Diz que minha próxima aula é de música.


– Desde quando você cursa música? - Claire perguntou com a testa franzida. Revirei os olhos para ela.


– Eu não curso música, aquela tansa da secretária deve ter me dado o horário errado! - Analisei, então, o resto das matérias. - E olha só, eu tenho aqui Álgebra, por que eu iria querer fazer Álgebra se eu já fiz aquelas aulas insuportáveis de cálculos semestre passado?


– É.. - Minha amiga concordou distraída.


Olhei para ela afim de por que estava tão distraída de repente e percebi que ela estava sorrindo. Era aquele sorriso abobado que agora era tão comum de aparecer em seu rosto. Nem me dei o trabalho de ver quem estava vindo. Já era óbvio demais.


– Vou até lá para trocar, ok? - Queria dar o fora antes que a sessão "matar a saudade" começasse. - Nós nos falamos depois.


– Aham... - Murmurou simplesmente, já se movendo para encurtar a distância entre ela e Quil.


Dei meia volta um pouco aliviada que não teria que ficar aturando aqueles dois juntos em uma sala de aula.


(...)


– Olá srta. Swan - Cumprimentou-me a secretária com um sorriso educado no rosto.


Ser filha de um pai famoso tinha lá suas vantagens: os funcionários do colégio te conhecem e sempre estão querendo ajudar, e são prestativos com você.


– Oi. - Coloquei meu horário em cima da mesinha e já empurrando para ela. - Acredito que meu horário esteja errado. - Tentei soar educada.


A expressão da secretária mudou de simpática para estressada. Eu hein! Que culpa eu tenho se eles não são organizados o suficiente?


– Não vejo erro algum no seu horário, senhorita. - Disse um pouco seca após dar uma olhada rápida no papel.


Ora, como ela poderia saber se está ou não errado? Ela por acaso sabe que matérias eu curso?


– Pois eu vejo. - Peguei o horário de suas mãos e apontei a aula que eu supostamente deveria estar tendo agora. - Música? Por que razão eu me inscreveria em música?


– Ora srta. Swan, você poderia aprender a tocar algum instrumento musical. - Abriu um sorriso e falou convicta. - Tenho certeza que seu pai adoraria saber que você está cursando essa matéria.


Ela realmente não sabia que tinha acabado de cometer um grande erro, se sua ideia era que esse argumento fosse me convencer. Dizer que "seu pai adoraria se você fizesse" só faria com que eu me empenhasse para fazer exatamente o oposto. Dei-lhe um sorriso amarelo.


– Não gosto de músicas ou de bandas. De qualquer modo... - Continuei, ignorando sua cara de espanto e apontei outra matéria improvável que estava no papel. - Álgebra? Por que eu iria querer Álgebra se já passei horas de tortura ano passado cursando cálculos?


– Conhecimento nunca é demais, querida! - Resmungou severamente.


Outro deslize. Dizer isso para um adolescente não era exatamente uma boa ideia. Essa mulher realmente tinha problemas com persuasão. Revirei os olhos e apontei para a última matéria que eu não havia me inscrito. Essa eu reparara no caminho para a secretaria.


– Mecânica? Que diabos eu vou querer com MECÂNICA? - Indignei-me colocando as mãos na cintura.


A secretária bufou e se levantou da cadeira um pouco irritada. Remexeu em algumas folhas e voltou para sua mesa com alguns papéis na mão.


– Certo. Já que está tão infeliz com seus horários, monte você mesma. - Empurrou os papeis em minhas mãos. - Aqui tem tudo que precisa: horários dos professores, todas as turmas disponíveis e suas respectivas matérias.


– Você só pode estar brincando! Eu vou demorar séculos nisso. - Falei incrédula, olhando dos horários para a mulher à minha frente.


– Então creio que terá que cursar Mecânica este semestre. - Comentou calmamente, inclinando um pouco a cabeça para o lado.


Bufei erguendo os olhos para o teto. Que saco! Isso que da estudar em colégio desorganizado, mandam os alunos fazer seus trabalhos incompetentes.


– Onde eu faço isso? - Sibilei um tanto irritada.


– Venha por aqui. Tem mais um aluno que teve esse problema muito parecido com o seu e está refazendo seus horários também. Podarão fazê-los juntos.


Colégio incompetente. – sussurrei para mim mesma. Não tinham nem a capacidade de separar os horários dos alunos corretamente.


No caminho rasguei o horário que tinha na mão e o joguei no lixo. A secretária abriu uma porta que estava em um corredorzinho um pouco afastado de sua mesa.


– Bom trabalho! - Disse assim que eu entrei na sala minúscula, fechando a porta em seguida.


Olhei para o garoto que me encarava tão incrédulo quanto eu, sentado em uma mesa com tantos papeis espalhados quanto eu parecia estar segurando.


ISSO SÓ PODE SER UMA BRINCADEIRA!




POV JACOB


Leah tagarelava sem parar ao meu lado no caminho da nossa aula de Inglês, após termos pego nossos horários na secretaria.


Eu havia parado de prestar atenção no que ela falava depois de alguma coisa que ela murmurou do tipo "roupas em liquidação".


Eu não sabia como uma pessoa conseguia falar tanto. Ela não me fez nenhuma pergunta de como eu estava ou coisa parecida, não que eu me importasse, mas eu odiava garotas assim. Fúteis e mimadas. 


Muitas vezes eu me perguntava o porquê de eu só pegar garotas assim, mas como elas normalmente eram super gatas e super gostosas, eu relevava o fato de serem insuportáveis.


No caso de Leah, porém, eu já não estava mais aguentando sua voz de gralha, por mais que ela fosse muito gata. Eu examinava meus horários, fingindo prestar atenção no que ela falava, quando eu percebi um erro. Quando foi que eu me inscrevi para fotografia? E cadê o resto dos meus cursos?


Um pouco aliviado que poderia me afastar daquela menina irritantemente chata que estava com a mão entrelaçada com a minha, parei bruscamente fazendo-a se desequilibrar naquele salto monstruoso.


– Ai amor, por que fez isso? - Amor? AMOR? Sinal que estava na hora de despensa essa daí. Quando começam a dar apelidinhos como esse, o mais fácil e seguro a fazer é dar no pé rapidinho.


– Hum, acho que trocaram meus horários. Vou até a secretaria para arrumar isso, ok? - Respond já retirando a mão da sua e me preparando para voltar pelo caminho que viera.


– Espera. - Leah puxou meu braço e fez biquinho fechando os olhos.


Reprimi a vontade de bufar e lhe dei um selinho. Eu já estava me afastando quando ela jogou seus braços ao meu redor e se grudou em mim como carrapato. Bom, eu estava ali, não é? Por que não aproveitar?


Abracei-a fortemente e retribuí seu beijo de maneira um pouco forte demais. Quando nos separamos, Leah ofegava pesadamente e tinha um sorriso enorme no rosto. Eu estava completamente indiferente aquele beijo, pelo menos perto dela, nem parecia que eu havia participado dele.


– A gente se vê depois. - Pisquei e tratei de sair rapidamente de lá antes que ela resolvesse me beijar novamente.


(...)


– Em que posso ajudá-lo? - A secretária pediu educadamente quando eu entrei pela porta, e um barulhinho da campainha anunciou minha chegada.


– Acredito que mudaram meu horário, não são essas as minhas matérias e estão faltando algumas. - Comuniquei de imediato e lhe entreguei o papel que estava segurando.


– Oh. - Exclamou um pouco preocupada. - Espero que isso não tenha acontecido com muita gente... Tivemos um trabalhão para conseguir arrumar os horários a tempo. - Parecia que ela falava mais com ela mesma do que comigo.


– Sei... Mas então? Da pra trocar este horário pelo meu certo? - Perguntei depois de um tempo que ela ficou em silêncio, pensativa.


– Hum, tenho tanto a fazer querido. - Coçou a cabeça. - Receio que demoraria a lhe entregar o horário certo agora. Quem sabe na semana quem vem. Você pode seguir esse por enquanto. - Sorriu abertamente me entregando de volta o papel com meus horários.


– Nem pensar! Não vou fazer fotografia durante uma semana. - Franzi a testa.


– Bom, a não ser que você não se importe de montar você mesmo seus horários. - A secretária estava um pouco menos educada agora.


– Tudo bem. - Refleti que isso me manteria longe daquele chiclê irritante por mais tempo. - Posso fazer isso agora?


– Claro! - Ela retomou ao seu tom educado, virou-se e pegou alguns papeis nas gavetas. - Aqui está, pode passar nessa sala aqui.


Peguei um monte de papéis que ela me oferecia e segui a mulher por um corredorzinho um pouco atrás de sua mesa. Entrei em uma salinha pequena, onde havia uma mesa com duas cadeiras.


– Fique a vontade. Qualquer dúvida eu estou aqui do lado. - Falou depois que eu entrei.


– Claro, claro. - Respondi enquanto ela fechava a porta atrás de mim.


Suspirei pesadamente e comecei a trabalhar nos papéis que eu tinha em mãos. Depois de cinco minutos eu já estava entediado. Aquele trabalho era mesmo um saco! Olhei em volta enquanto soltava um enorme bocejo e reparei em um rádio guardado em uma estante.


Levantei e procurei uma tomada para ligá-lo. Nada melhor como uma musiquinha para distrair e fazer um trabalho entediante ficar um pouco mais aceitável. Sintonizei em uma rádio de Rock e voltei a minha mesa.


Estava trabalhando ali havia uns vinte minutos quando ouvi vozes na secretaria. Não prestei atenção no que elas falavam e me concentrei na música e no meu trabalho.


Alguns minutos depois, porém, as vozes se aproximavam junto com passos. Fiquei olhando em direção a porta e me surpreendi ao ver quem entrou por ela, um segundo depois.


– Bom trabalho! - A secretária falou assim que Renesmee entrou na sala e fechando-a em seguida.


A garota me lançou um olhar raivoso e cruzou os braços, indignada. Eu não pude deixar de reparar em como ela era encantadoramente linda irritada, especialmente quando fazia essa carinha que estava fazendo agora. Com uma mínima ruginha em sua testa e um beiço maior que sua cara.


– O que faz aqui? - Perguntou autoritária.


– Não vejo porque deveria explicações a você. - Murmurei calmamente, reclinando-me na cadeira para deixá-la apoiada em apenas duas penas, cruzei os braços para admirar aquela garotinha arrogante.


Nessie bufou e se virou para o rádio, como se prestasse atenção nele apenas agora. Tocava uma música que eu nunca ouvira antes.


– Ah não! - Encaminhou-se para o aparelho ameaçando desligá-lo.


Levantei rapidamente da minha cadeira, ignorando o barulho que ela fez quando encontrou o chão e me precipitado para chegar ao aparelho antes que Nessie. Segurei seu pulso antes que ela conseguisse tocar, por centímetros, no rádio.


Senti uma coisa entranha quando toquei em sua pele um pouco fria, um espasmo se passou pelo meu corpo e senti alguns pêlos do meu braço se arrepiar.


Nessie lançou um olhar furioso para a minha mão em seu pulso e depois me fuzilou com os olhos.


– Eu estou ouvindo a música. Você não vai desligar o rádio. - Ignorei seu olhar mortal.


– Me solta Black. - Cuspiu tentando, inutilmente, tirar seu pulso do meu aperto. Eu era muito mais forte do que aquela garotinha pequeninha.


– Só solto se você se mantiver longe do rádio. - Abri um sorrisinho debochado para ela. Adorava a sensação de estar no controle.


Ela não respondeu. Apenas me olhou asperamente, e se encaminhou para a mesa onde eu estava há pouco tempo atrás.


– O que você faz aqui? - Perguntei, seguindo-a até a mesa, enquanto ela se sentava na cadeira de frente a minha e espalhava um milhão de papéis na mesa, somando com os meus.


– Não vejo porque deveria explicações a você. - Imitou o tom que eu havia usado com ela antes.


Revirei os olhos e voltei ao trabalho. Nessie pegou um dos papéis que eu estava pesquisando e o analisou com a testa franzida.


– O que você está fazendo? - Perguntou com um tom completamente diferente de antes, menos seca. - Está montando seu próprio horário?


– Não, na verdade eu adoro sentar em uma sala minúscula e ficar pesquisando os horários dos professores e como eles se encaixariam nas turmas que existem no colégio. - Respondi sarcasticamente.


– O que estou pedindo - Ela voltou ao seu tom seco habitual. - é se você também teve problemas com seus horários? Não eram os cursos que você se inscreveu?


– Não. - Respondi lentamente tentando entender a onde ela queria chegar. - Até parece que eu iria me inscrever em fotografia! - Menosprezei o curso.


A expressão de Nessie mudou de curiosa para animada e ela abriu um sorriso que, deve confessar, tirou um pouco meu fôlego. Ela ficava muito mais linda sorrindo do que fazendo bico.


– E onde está esse seu outro horário? - Ela quase quicava na cadeira estendendo a mão para mim.


– Hum. - Refleti um pouco, encarando o monte de lixo que estava perto de mim. - Acredito que esteja por ali. - Apontei em direção a entulhos e mais entulhos. - Acho que ele foi parar ali depois que eu o tranformei em um aviãozinho. Ele deve ter se perdido no meio da bagunça.


Tão rapidamente quanto antes, a expressão da garota a minha frente retomou a mudar. Agora ela expressava aquela irritação costumeira.


– Pode começar a procurar. - Mandou, apontando para o canto da sala.


Com essa eu tive que rir. Ela estava mesmo me MANDANDO procurar uma coisa que era totalmente insignificante para mim? Ela só pode estar brincando!


– E por que eu faria isso? - Debochei, enquanto ela me lançava aquele clássico olhar "vou te matar".


– Porque, muito provavelmente, sua anta, eles se enganaram e lhe deram o meu horário, consequentemente, me dando o seu. - Falou como se estivesse explicando como somar um mais um para uma criancinha. - Então se você fizer o favor de achá-lo eu não terei que perder meu tempo precioso aqui com você me matando para conseguir fazer todos os meus horários se encaixarem nas turmas certas.


Fiquei olhando-a por um momento, considerando o que ela havia me falado. Como eu não pensei nisso? Então quer dizer que ela está com o meu horário e eu não tenho mais que ficar nessa salinha fazendo esse trabalhinho ridículo e estressante? Sorri para ela e estendi minha mão.


– Quê? - Falou olhando minha mão estendida com certa repugnância.


Revirei os olhos para sua lerdeza.


– Me da logo. Meu horário!


– Quero o meu primeiro! - Resmungou naquele tom irritantemente autoritário.


– Acredito que aquele papel não vai ser mais encontrado. - Passei as mãos nos cabelos - Eu meio que... Derrubei tinta e... Acho que mesmo que você o encontre não vai conseguir ler o que há nele.


– Você é um imprestável mesmo sabia? - Bufou irritada, cruzando os braços e encarando o teto. Parecia uma criança de cinco anos.


– Não fiz por querer. - Defendi-me. - Como eu iria adivinhar que aquilo era seu? De qualquer forma... - Procegui, sem esperar sua resposta e estendendo a mão novamente. - Pode passar o meu.


– Ah... - Nessie ficou em silêncio por um segundo, lançou um olhar para a porta da sala, e depois para mim. Ela parecia estar um pouco incerta do que fazer.


– O quê? O que fez com ele? - Cruzei os braços olhando-a irritado. Era bom que ele estivesse pelo menos inteiro.


– É... Eu não estou com ele. - Encarou suas mãos ao falar isso.


– Não está? O que quer dizer com isso? - Falei com tom acusatório.


– Eu o rasguei, ok? - Respondeu rapidamente.


– O QUÊ? Você é uma imprestável mesmo sabia? - Imitei o gesto de criança que ela fez agora pouco, cruzando os braços e olhando para o teto.


– Olha quem fala. - Sua expressão mudou de constrangida para furiosa. Garota bipolar.


Não respondi, apenas puxei os papeis onde estava trabalhando antes e retomei aos meus horários. Pensar que eu poderia evitar esse trabalho monótono se aquela imbecil não tivesse rasgado meu antigo horário, era muito mais irritante do que pensar em fazer isso pela primeira vez. 



POV NESSIE


Estava a mais de duas horas ali naquela sala extremamente pequena com a pessoa mais insuportável da face da Terra. Eu não lembro de ter quebrado um espelho ou coisa parecida, mas estou pagando meus sete anos de azar mesmo assim. Quando eu menos esperava me vinha uma notícia totalmente inesperada e nem um pouco agradável.


Agora estava aqui, pesquisando os horários dos meus professores e encaixando nas turmas que havia as disciplinas que eu queria cursar. Não era muito fácil, já que todos os dias dependiam dos horários novos dos professores e era muito raro todos fecharem corretamente com todos os dias da semana.


E pensar que isso já estava feito. Inclusive, estava ali mesmo naquela sala, só que em forma de aviãozinho e cheio de tinta. Que raiva!


Jacob murmurava a música que tocava na rádio baixinho, alheio a todo o resto a não ser seu trabalho. Era um especial do meu pai que tocava na rádio e ele provavelmente não sabia como aquilo me irritava.


Eu percebi que eram as músicas dele que estavam tocando quando entrei na sala. Lembro-me vagamente dele ter comentado para mim no jantar que iriam fazer um especial dele nessa emissora e seria legal se eu ouvisse. Até parece! Eu só não desliguei aquela droga de aparelho porque o grosso do Black me impediu.


Jacob parecia gostar das músicas de meu pai, conhecia todas de cor, a não ser as novas. Eu não sabia a letra de nenhuma delas, e me surpreendia reparando agora que algumas parecia ter sido feitas para mim ou para minha irmã. Afastei o remorso do pensamento no exato momento que resolveram fazer um intervalo na rádio. ALELÚIA!


– Seu pai é um grande cantor. - Jacob falou distraidamente ainda fazendo suas anotações.


– Demais. - Sussurrei sarcasticamente, sem levantar meus olhos para ele.


Percebi, porém, que ele levantou a cabeça do seu trabalho e me fitou. Eu não estava olhando então não saberia dizer qual era a expressão em seu rosto. Provavelmente chocado por eu não apreciar o maravilhoso trabalho do meu querido pai.


“Então queridos ouvintes” – O apresentador da rádio falou, atraindo minha atenção involuntariamente. – “Hoje é um dia muito especial para o nosso grande cantor Charlie Swan, e é por isso que estávamos fazendo um especial com as músicas mais pedidas desse astro. Vou passar a palavra para esse grande homem, que se encontra ao meu lado. Charlie”. – Ele chamou.


Levantei minha cabeça lentamente, sentindo um mau pressentimento. Jacob parecia muito interessado no que o locutor falava.


“Olá, boa tarde para todos que estão acompanhando a rádio. É uma honra estar aqui hoje. Gostaria de aproveitar este momento para anunciar um fato muito importante com exclusividade”– Ouvi a voz do meu pai ao vivo por aquele aparelho pequeno. – “Depois de muitas pessoas falarem tanto nesse assunto, eu revolvi mesmo me casar! Eu gostaria de agradecer a rádio por esse espaço que estão me dando para anunciar isso...”

Eu parei de ouvir no momento em que meu pai pronunciou a palavra casar. O quê? Ele não pode estar falando sério. Ele vai casar com aquelazinha? Ele vai casar com aquela mulher metida e asquerosa? Como ele pode se casar depois do que aconteceu com o seu casamento com a minha mãe?


MEU DEUS!


Mamãe! Ela deve estar aos prantos. Ou pelo menos ficará quando souber desse casamento ridículo.


Eu não acredito! Como ele pode fazer isso? Foi por isso que ele não gostou quando eu falei ontem no jantar que casamento não fazia sentindo; e por isso não me respondeu nada quando eu perguntei afirmando na verdade, que ele não casaria de novo, não cometeria o mesmo erro; por isso me mandou ouvir a rádio. Ele não teve coragem de me contar cara a cara?


Não sei quanto tempo fiquei presa nos meus devaneios, mas quando voltei à realidade a rádio já estava nas propagandas e Jacob me olhava com um sorrisinho um tanto irritante.


– Que é? - Perguntei irritada, levantando-me da cadeira. Não conseguia ficar parada.


Comecei a caminhar de um lado para o outro naquela salinha tentando assimilar minhas idéias e acreditar naquela nova bomba que fora jogava em mim.


– Estava só tentando imaginar como seria saber que seu pai vai se casar pela rede nacional. - Falou franzindo a testa como se estivesse refletindo. - Quer dizer, foi meio falta de tato não lhe comunicar antes de falar abertamente para centenas de pessoas, não é?


– O que te faz pensar que eu não sabia disso? - Parei de andar e cruzei os braços olhando-o com superioridade. Era só o que me faltava, ficar agüentando comentariozinhos desse insolente sobre a MINHA vida particular.


Jacob não respondeu, apenas arqueou uma sobrancelha e soltou um risinho pelo nariz. Eu tinha vontade de pular em seu pescoço, mas então outra lembrança me veio. Teríamos dois casamentos na família.


– Meu pai e minha irmã. - Pensei alto bufando e desabando na cadeira que estava sentada há pouco.


– Seu pai vai se casar COM a sua irmã? – Jacob perguntou incrédulo e assustado.


– Não, idiota! - Revirei os olhos para ele. - Eles não vão se casar UM COM O OUTRO, mas ambos então de casamento marcado.


– Qual é seu problema com casamentos afinal? - Perguntou me analisando com o rosto um pouco inclinado.


– Porque eu não vejo lógica nenhuma nisso. - Comentei, encostando a minha cabeça na cadeira cansada. - Para quê? Casamentos nunca duram para sempre. Só o que fazem é com que as pessoas sofram!


Jacob não falou nada, apenas ficou me encarando por um momento. Eu fechei os olhos e tentei não pensar em nada - um pouco inútil porque a toda hora me vinham imagens dos meus pais, quando eu era pequena brigando diariamente; da minha mãe chorando pelos cantos e tentando disfarçar seu sofrimento. Por que alguém quer isso para sua vida?


Eu não queria mais ficar ali. Tinha que ir para casa e ver como estava a minha mãe. Ela certamente morreria quando soubesse dessa notícia e precisa de alguma pessoa por perto para ampará-la.


Um barulhinho irritante me despertou e eu ergui a cabeça um pouco assustada procurando a origem do barulho.


Jacob bufou olhando o visor do seu celular:


– Garota grude! – Resmungou recusando a ligação.


– O amor é lindo. – Murmurei sarcasticamente.


Olhei para o relógio ignorando seu olhar bravo para mim. Seis e meia. Meu deus! O colégio já estava fechando, se já não estava fechado. Mas então eu lembrei que a secretária estava ali do lado e me senti um pouco mais aliviada. Eu já tinha feito quase tudo, faltavam apenas os horários de sexta-feira, então resolvi levá-los para casa e terminar lá mesmo.


– Se não se importa. – Falei guardando meus papéis na mochila. – Vou me mandar!


– Não me importo nenhum pouco. – Jacob resmungou sem tirar os olhos de seu trabalho.


– Boa noite Black. Mande um beijo para a garota da semana por mim, sim? - Pisquei debochadamente e rumei para a porta da salinha.


– Boa noite, Swan. Espero não te ver tão cedo - Murmurou atrás de mim, me fazendo fechar a cara.


Passei pela mesa da secretária, que surpreendentemente estava vazia, e segui até a porta.


Girei a maçaneta, mas a porta não abriu. Olhei confusa para a porta e tentei de novo.


Nada.


Coloquei minhas coisas na mesa ali perto e voltei para a porta. Puxei-a com mais força, me inclinado para trás e colocando todo o peso do meu corpo para fazê-la abrir.


Estava trancada!


– AAAAAAH NÃO! - Gritei socando a porta cada vez mais forte.


Isso não pode estar acontecendo! Como eu fui acabar trancada na sala da secretaria e ainda por cima com o insuportável do Jacob Black? 





POV SECRETÁRIA


 Eu estava concentrada nos papéis a minha frente, totalmente alheia a todo o resto que estava acontecendo ao meu redor. Eu tinha que terminar esse relatório a tempo da reunião - que seria daqui a uma hora.


Teria que praticamente fazer milagre, uma vez que não parecia haver tempo suficiente para finalizar tudo. Além de ter um milhão de coisas para fazer me aparecem estudantes com os horários errados. Era só o que me faltava!


Olhei para o relógio, meia hora agora. Por que quando mais nos precisamos de tempo ele parece voar?


O telefone tocou e eu atendi sem parar de digitar meu relatório.


– Secretaria Columbine High School, em que posso ajudar?


– Ângela, onde você está? – Ouvi a voz da diretora do outro lado da linha.

Estou na minha sala, diretora. – Respondi educadamente embora aquilo tivesse me irritado. Será que ela não reparara que ligara para a SECRETARIA? E eu estava ocupada!

– Eu sei disso, Ângela. O que eu quero dizer é: Por que não está aqui ainda?

Como assim? A reunião é só daqui a meia hora. – Murmurei desesperada.

– Como daqui a meia hora? A reunião é às cinco horas! – Disse irritada, me fazendo olhar para o horário do computador.


16h59min.


MEU DEUS! MEU RELÓGIO ESTAVA ATRASADO.

Desculpe-me diretora, estou indo! – Desliguei o telefone rapidamente e arrumei todos meus papéis com uma pressa enorme.

Eu não havia conseguido terminar o maldito relatório, teria que inventar uma desculpa para isso. Sai correndo da sala o mais rápido que consegui, trancando-a em seguida já que só voltaria ali amanhã e o zelador nunca passava pela minha sala ante se retirar do colégio.




POV JACOB



– AAAAAAH NÃO! – Ouvi o grito desafinado de Renesmee dois minutos depois que ela havia ido embora.


Levantei assustado. O que acontecera agora?


Quando cheguei à mesa da secretária encontrei a garota socando a porta da saída gritando desesperada:


– NÃO! NÃO! ALGUÉM ME TIRA DAAAAAQUI, POR FAVOOOOOOOR!


– Garota maluca, quer parar com esse fiasco? – Falei tentando não rir de como ela parecia patética.


– Você tem noção de que essa porta está TRANCADA? – Virou-se furiosamente para mim se aproximando com o dedo estendido. - Estamos trancado nessa sala e muito provavelmente TODOS já se foram!


– Você tentou GIRAR a maçaneta? – Perguntei querendo fazer piada e quebrar o clima de tensão.


Nessie me olhou com uma expressão homicida que me fez recuar alguns passos.


– Não. Eu simplesmente vi a porta fechada e resolvi começar a gritar para ver se ela se animava a se abrir! – Tentou ser irônica, mas estava nervosa.


Aproximei-me da porta, tomando cuidado para passar longe dela - pela sua cara ela pularia em meu pescoço a qualquer momento.


– Você não deve ter puxado com força o suficiente. – Respondi calmamente, pegando a maçaneta.


– Oooooh. – Nessie debochou atrás de mim. – Agora sim eu estou com pena dessa porta. O que será dela depois que o Jacob-Tora Black resolver usar sua força contra ela?


Reprimi a vontade de mandá-la para aquele lugar e puxei a maçaneta.


Nada.


Coloquei toda a minha força.


Nada.


Mais cinco vezes, nada.


Estava realmente trancada.


Ouvi o risinho de deboche de Nessie atrás de mim e suspirei fundo fechando os olhos. Ao que parecia a noite seria bem longa!




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Notas finais do capítulo

Eai o que acharam? Comentem e me digam o que estão achando! =))
Eu não vou postar mais nada até depois do feriado então uma ótima Pascoa pra vocês, com muito chocolate! hahaha bj