POV NESSIE

– PELO AMOR DE DEUS Nessie, é só um jantar. Se acalma! - Claire irritou-se repetindo aquilo pela sétima vez em que eu bufei e reclamei sobre o meu castigo.

Pelo menos para mim o jantar com meu pai era mais parecido com um castigo do que com qualquer outra coisa - até agora eu não entendi o que eu fiz de errado pra merecer aquilo.

Nós estávamos voltando do colégio depois de uma manhã monótona de aulas chatas e sem graça.

– Não é SÓ um jantar. - Indignei-me  fuzilando-a com os olhos. - É um jantar COM o meu pai. Entende o que é isso?

Claire revirou os olhos e balançou a cabeça.

– Você o odeia tanto assim? Ele é seu pai, só porque o estilo dele é um pouco...

– Infantil? Ridículo? Brega? ENVERGONHOSO? - Falei tudo muito rápido. - E você sabe também que não é apenas isso. - Completei baixinho.

– Ahm... Ok. - Suspirou. - Sei que não é apenas isso, mas ele ainda é seu pai.

Agora foi minha vez de revirar os olhos. Não é que eu o odeie, eu o amo é claro. Mas tudo tem limite, não é?

Quer dizer, comigo ele era um cara legal - agora -, mas ele foi um baita panaca com a minha mãe, fazendo-a sofrer que nem uma depressiva. Tudo bem que a culpa era dela também, afinal quem mandou se apaixonar? E depois me perguntam por que eu não quero isso para mim!

Além disso, ele não fora sempre um doce de pessoa assim comigo. Só eu sei o quanto ele me magoou.

– Você fala isso porque seu pai é normal, além do mais... Claire? - Parei de falar quando percebi que estava andando sozinha. - Claire? - Chamei mais alto me virando para procurar minha amiga.

Ela estava parada um pouco atrás de mim com os olhos fixos em uma vitrine de uma lojinha de presentes.

Sua expressão era estranha: um misto de alegria com surpresa e emoção. Cheguei mais perto - a curiosidade falando mais alto - e tratei de ver o que ela estava espiando com tanta admiração.

Ah, claro! Ela não parou de falar naquele garoto um segundo o dia inteiro. Estava tão irritante nessa questão quanto eu no meu maravilhoso jantar que teria daqui algumas horas.

– Claire, você acabou de falar com ele, vamos? - Peguei seu braço e tentei, inutilmente, fazê-la se mover.

Ela parecia que estava com os pés grudados no chão com super bonder. Eu lancei a ela um olhar de "anda logo" e ela simplesmente me olhou com a carinha suplicante.

Meu deus, mas que grude insuportável esse dois! E olha que só fazia uma semana que eles estavam juntos. Talvez eles se canssem logo e se separem como todo casal normal faz depois de algum tempo.

– Eu quero entrar! - Disse fazendo biquinho.

Bufei e me deixei ser levada pela minha mais nova irritante amiga apaixonada. Viu só o que esse sentimento idiota faz com as pessoas mais sensatas no mundo?

Ela se aproximava lentamente do garoto moreninho que parecia discutir com seu amigo. Eu conhecia aquele babaca que estava com Quil: era Jacob Black. É o garoto mais insuportável, lindo e gostoso - tenho que admitir - da nossa escola. Todas as garotas babavam por ele onde quer que ele vá.

Eu acho que Claire e eu fomos às únicas garotas que já não ficaram com Jacob ali do nosso colégio. Claro que ele é maravilhoso e tudo mais, mas seu jeito metido e asqueroso estragava toda a sua beleza estonteante.

Ao meu lado, percebi Claire fazer um movimento involuntário. Levou as mãos para a boca e quando eu a olhei, seus olhos brilhavam de emoção. Comecei a prestar atenção no que Quil estava falando, enquanto Jacob tentava a muito custo não explodir em gargalhadas, olhando de Quil para Claire e a mim.

– A Claire é diferente das outras garotas com que sai cara. Não é como se ela fosse só mais uma, ela é a garota, sabe? Ela é meiga, ela me entende, ela me faz bem, é uma coisa que eu nunca senti antes, sabe? Além de ela ser muito gosto... Ah cara, será que da pra parar de rir? Eu to falando sério!

Ai ai, mais uma vez o cupido se manifestou fazendo as pessoas perderem um pouco a noção do ridículo. Então não era apenas a minha querida amiga que não parava de falar e de pensar na sua mais nova paixonite?!

Pelo menos Claire conseguiu achar um cara decente, apesar de estar sendo um pouco melosinho demais para o meu gosto.

Jacob não conseguia mais parar de rir agora e ao meu lado Claire parecia uma estátua, olhando Quil com tanta admiração que chegava a ser cômico mesmo.

– Não vai parar porra? - Quil parecia estar com raiva.

Jacob respirou fundo e parou de rir, contudo ainda tremia os cantos da boca.

– Cara, não me leva a mal não. Não tava rindo de você - Lançou uma piscadela para seu amigo e sorriu para Claire, ainda na mesma posição. Ela iria ficar assim para sempre?

Quil se virou lentamente procurando o objeto para qual Jacob sorria e seu olhar se encontrou com o meu.

Por um momento pensei que seus olhos fossem sair das órbitas, tamanha foi o modo como ele os arregalou. Depois de me olhar se virou tão rapidamente para Claire, agora com um sorriso maior que seu rosto, que eu pensei que fosse quebrar o pescoço.

– Oiii Quil! - Claire falou com aquela vozinha irritantemente apaixonada.

Quil ruborizou na hora e começou a abrir e fechar a boca sem parar.

Apesar de eu achar aquilo idiota, não pude deixar também de achá-lo fofinho. Ele estava envergonhado de Claire ter ouvido ele se declarar e agora estava ligeralmente sem palavras. Seu amigo, atrás dele, se matava de tanto rir. Idiota!

– Ahm... Claire - Quil falou olhando para baixo e ruborizando ainda mais. Olhei para Claire com um sorrisinho, e ela me devolveu um olhar do tipo 'aaaaai que fofo'. – A quanto tempo está ai?

– Ah... - Claire me olhou, provavelmente se perguntando se deveria mentir, mas essa sua hesitação foi suficiente para o garoto ficar ainda mais vermelho. Acredito que agora todo o sangue do seu corpo estava concentrado em seu rosto.

– Ahm... - Tentei achar alguma coisa para dizer e aliviar aquela tensão que estava me afetando também. - Eu vou até ali olhar os... - Procurei algum lugar com os olhos - Ursinhos. - Completei rapidamente.

Claire olhou-me com agradecimento e acenou uma vez com a cabeça.

Segui até onde estavam concentrados o maior número de ursinhos, cachorrinhos, gatinhos e tantos mais animaizinhos de pelúcia que eu já vira na minha vida.

Escorei-me em uma estante um pouco longe de onde Claire estava - muito provavelmente matando a saudades dos cinco minutos que passou afastada do seu mais novo amor - observando a vista pouco movimentada da rua a minha frente.

Ouvi passos pertos e olhei para o lado aonde vinha o som. Ofeguei, disfarçadamente, ao ver Jacob Black caminhando na minha direção, com um sorrisinho um tanto malicioso naquele rosto admirável.

POV JACOB

Eu provavelmente morreria sufocado de tanto rir do Quil. Estava até tendo dificuldade para respirar, e nem estava vendo a cara de abobada que certamente o meu querido amigo estava fazendo.

– Ahm... Claire - Quil falou baixando a cabeça, o cara estava perdendo a manha com essa paixonitezinha nova e falou muito baixo. - A quanto tempo está ai?

– Ah... - Claire olhou sua amiga gata, que eu comecei a tentar lembrar o nome. Eu já havia a visto, só que nunca foi bom com nomes de garotas.

Eu não tinha memória nem para as que eu ficava, imagina as que eu nunca conversei? Mas ela era linda demais para nunca ter atraído minha atenção antes. Bom, talvez esse novo namorinho do Quil tivesse suas vantagens.

Claire lançou um olhar para a amiga do tipo: "eu estou amando". A amiga dela olhou para Quil e lhe lançou um sorrisinho amigável. Eu ainda não conseguia parar de rir imaginando a cara de besta que ele devia estar fazendo para receber essa mútua compreensão feminina.

A amiga de Claire me lançou um olhar estranho, como se me repreendesse e se virou para a outra:

– Ahm... - Coçou a cabeça - Vou até ali olhar os... - Analisou o ambiente. - Ursinhos.

A garota se encaminhou para a direita onde ficavam aquelas coisas em formato de animaizinhos que faziam as meninas delirar quando recebiam um de presente.

Quil virou-se rapidamente para mim quando viu que Claire estava sozinha ali com ele - se não fosse por mim - e seus olhos diziam mais ou menos "Cai fora".

Bom, pelo menos ele parecia mais controlado agora. Não virou um completo mariquinha.

Sai de lá sem reclamar. Era minha deixa para me aproximar da amiga gatinha da mais nova namoradinha de Quil.

Por um momento eu não a encontrei. Ela não estava olhando ou admirando os bichinhos de pelúcia, como seria de se imaginar. Estava, em vez disso, escorada em uma estante perto da janela, observando a vista.

Aproximei-me com o meu melhor sorriso sedutor - aquele que as menininhas suspiraram fácil e se derretem totalmente. A garota me olhou com certa indiferença.

Menos um para mim.

Não era a reação que eu esperava, porém a decepção logo se transformou em êxtase. Gostava mais das difíceis, encarava-as como um desafio.

– Oi. - Cumprimentei amigavelmente.

– Olá. - Respondeu monótona desviando seu olhar de volta para a janela.

Fiz uma careta com sua atitude. Isso feria um pouco meu ego, poxa!

Menos dois.

– É um prazer conhecê-la... - Queria pelo menos saber seu nome. Entretanto a garota apenas me olhou, como quem estivesse totalmente entediada.

Ok, ela seria um pouco mais difícil do que eu imaginava. Abri um sorrisinho que julguei passar confiança e tentei brincar:

– Essa seria a parte onde você diz o seu nome... - Passei as mãos no cabelo.

]

Um ponto a mais para mim.

Ela me lançou um sorrisinho como quem começa a entender alguma coisa.

– Renesmee Swan - Estendeu a mão. - Mas me chame de Nessie.

Hum, estávamos chegando a algum lugar pelo menos. Apertei sua mão fininha assim que ela a levantou:

– Jacob Black, mas me chame de Jake. - Não larguei sua mão depois de me apresentar.

Renesmee lançou um olhar as nossas mãos unidas e levantou a cabeça me olhando com uma expressão astuta. Soltou sua mão da minha, levando-a para sua cabeça e "penteando" o cabelo com as duas mãos.

Não entendi se fizera aquilo de propósito, mas resolvi continuar a conversa.

– Você estava na minha aula de Inglês.

– Você lembra? - Olhou-me um pouco admirada enquanto terminava de fazer um coque em seu cabelo, prendendo-o com o próprio cabelo. Um dia eu ainda entendo como as garotas têm tanta facilidade em mexer com aquele monte de fios.

Abri meu clássico sorriso sedutor, reparando dessa vez que ela prendeu a respiração. Ah, não estava assim tão enferrujado então.

– Claro que lembro como me esqueceria de você, Nessie? - Olhei-a com fascínio.

Ela sorriu amarelo.

– Hum, eu tenho a leve impressão de que você não sabia meu nome até dois segundos atrás. - Arqueou uma sobrancelha.

Observadora. Garotas observadoras são as piores, as mais difíceis que tem por ai.

– Ah... É, mas eu sabia que... Bom, eu lembrava de você... - Gaguejei um pouco incerto do que falar.

Quando foi que eu fiquei tão atrapalhado falando com uma garota? Nem no meu primeiro encontro eu me saí tão mal quanto nesse momento.

Nessie levantou as mãos para que eu parasse de falar, rindo abertamente da minha confusão.

– Destrava a língua antes, Jake - Sorriu ainda mais quando eu fechei a cara para ela. - Pensei que levava jeito com garotas. - Provocou, cruzando os braços sobre o peito e me lançando-me um olhar divertido.

– Depende da garota - Levantei minhas sobrancelhas. Aquela arrogância dela me irritou - Só me esforço se forem MESMO interessantes, sabe? - Falei meio que com descaso.

Tive que me segurar muito para não rir de sua cara de indignação. Ela corou ligeralmente e seus olhos castanhos se estreitaram em fendas.

Ela saiu batendo o pé na direção onde eu acreditava estar Quil de amassos com Claire.

Apressei-me para acompanhar seu passo. Ela ficava ainda mais linda quando estava assim: toda irritadinha.

Renesmee parou de andar e ficou encarando a cena a sua frente séria. Eu por outro lado, sorri radiante ao ver que meu amigo não estava tão gay assim.

Tudo bem que eles estavam perdendo um pouco a noção do senso se agarrando DAQUELE jeito em um lugar público. E apesar de só ter nós quatro de clientes naquela lojinha de viado, o vendedor estava praticamente mudo de espanto sentado em sua cadeira atrás do caixa.

Nessie pigarreou alto, mas não surtiu efeito nenhum. Eu ri disso e ela me lançou um olhar mortal. Pensei que ela iria me dar um soco, mas antes que eu pudesse fazer algum comentário para realmente merecer a agressão, ela se virou mais uma vez para os dois caras-de-pau e falou alto:

– CLAIRE! 

A garota se desgrudou instantemente de Quil com um barulho típico de desintupidor de pia, como se o chamado da amiga lhe trouxesse de volta a realidade.

Claire começou a corar incontrolavelmente quando reparou que nós dois, e o balconista prestava atenção na cena interrompida.

– Vamos? - Nessie falou tentando manter a voz mansa.

– Ahm... - Claire olhou para Quil, que olhava com um biquinho patético para Nessie.

– Se você for ficar problema é seu - A delicadeza em pessoa disse ao meu lado. - Eu tenho que ir. Tchau!

Sem esperar por mais nada, rumou para a porta com passos fortes. Nem se dignou a me olhar antes de sair. Garotinha metida!

POV NESSIE

– Depende da garota - Jacob falou com as sobrancelhas levantadas - Só me esforço se forem mesmo interessantes, sabe? - Comentou indiferente.

O quê? Ele só podia estar de brincadeira com a minha cara! Só porque eu não me derreti em seus braços, muito musculosos por sinal - não que isso importe -, como qualquer tapada faria com ele usando aquela vozinha que supunha ser sedutora, e aqueles sorrisinhos de conquistador barato... Só por isso eu não era interessante?

Idiota, babaca, galinha!

Eu não sabia por que eu me importava com aquilo, porém não pude impedir o sangue de subir em seu rosto de raiva e me deixar muito irritada com seu comentariozinho indireto.

Respirei fundo para não enterrar a mão naquele carinha na minha frente, que obviamente estava se segurando para não explodir em gargalhadas.

Sai de lá antes que partisse para cima dele. Simplesmente não valia a pena. Ele só tinha conseguido me tirar mais do sério. Eu já estava fula da vida com o maldito jantar daqui há umas horas, e agora me aparece um garotinho se achando o bom, jogando flertes baratos para mim e ainda por cima me chamando de desinteressante. Idiota!

Queria sair dali e não me importaria em arrancar Claire dos braços de Quil. Parei em chofre quando a vi, me esquecendo de toda a raiva que estava sentindo.

Literalmente eu teria que ARRANCAR Claire dos braços de Quil. Ela estava completamente entrelaçada com ele, sendo praticamente impossível destinguir qual eram os braços de quem. Senti Jacob parar ao meu lado e observando a cena assim como eu.

Será que Claire esqueceu que estava em um LUGAR PÚBLICO?

Pigarreei alto para fazer minha amiga voltar a realidade, mas não surtiu efeito nenhum. Ouvi o babaca do Black rir ao meu lado. Virei-me raivosa para ele pronta para lhe dar o tapa que controlei lá atrás, na janela.

Antes de fazer qualquer coisa, olhei para o balcão por cima dos ombros de Jacob e reparei que o vendedor olhava de boca aberta para a cena quase erótica a nossa frente. Aquilo já estava virando palhaçada.

– CLAIRE! - Gritei para que ela não fingisse de desentendida dessa vez.

Ela se desgrudou instantemente de Quil com um barulho nojento, olhando ao redor um pouco assustada e envergonhada, reparando na platéia ali presente. Ela queria o quê? Privacidade em uma lojinha de quinta? Tudo bem que não havia ninguém ali, mas qualquer um poderia ver a cena da janela.

– Vamos? - Murmurei, respirando fundo para que minha voz não transparecesse a minha raiva.

– Ahm... - Claire olhou para Quil.

Revirei os olhos para os dois. Eles não se cansavam não?

– Se você for ficar problema é seu - Perdi toda a paciência e deixei minha raiva ficar evidente - Eu tenho que ir. Tchau!

Virei-me sem olhar uma ou duas vezes para os presentes na lojinha. Comecei a andar rapidamente pelas ruas olhando para o relógio, e constatando que tinha uma hora para tomar banho e me arrumar antes da minha tortura começar.

– Ei, Nessie - Ouvi a voz de Claire me chamando e o som dos seus passos enquanto ela corria para me alcançar - Espera garota! Algum bicho te mordeu?

Ignorei seu comentário me limitando apenas em diminuir o passo para ela poder me acompanhar.

– Você não enjoa dele não? - Perguntei sem me conter e me arrependendo logo depois.

Tive que ouvir suspiros e mais suspiros de Claire sobre como quando se está apaixonada cada segundo parece pouco até chegar em casa e ter a desculpa do jantar - agora veio muito a calhar - para me separar daquela pessoa insuportavelmente apaixonada, mas que ainda era a minha amiga.

(...)

– Tua música é demaaaaais, meu. - Um garoto muito estranho, de mais ou menos dezessete anos, vestindo uma roupa preta que parecia muito suja, umas pulseiras de metal, cabelo moicano e mais brincos que eu, falava para quem? Acertou quem pensou em meu pai.

Sim, eu estava naquela sessão de tortura há mais de uma hora. Apenas brincava com a comida nojenta do meu prato, enquanto meu querido e amado pai não parava de dar autógrafos para pessoas que nem esse garoto aqui.

Esse restaurante que ele escolheu era simplesmente horroroso! Eu sabia que seria assim. Ele sempre ia para lugares onde eu, por livre e espontânea vontade, nunca colocaria meus pés.

Mas aqui estou eu, aguentando a fama inacreditável do meu pai e contando os segundos para ele se cansar dessa chatice e querer ir embora. Eu sabia que isso não iria acontecer tão cedo, por isso meu mau-humor aumentava a cada batida daquela música - que eu prefiro não comentar - que tocava no restaurante. Ou será que eu posso mesmo chamar esse muquifo de restaurante?

Meu pai riu do comentário do garoto, escrevendo no pedaço de papel em que ele lhe oferecera para autografar.

Enquanto meu pai escrevia, o garoto bizzaro me olhou e abriu um sorriso, piscando em seguida.

Meu pai não deixou esse fato passar em branco, e se pronunciou - pra quem está pensando que ele surtou com essa paquerinha fracassada dada para sua filha na sua frente, errou. Talvez se fosse um pai normal faria isso, mas eu já mencionei que o meu não se enquadrava nesses aspectos relativamente normais, não é?

– Essa é minha filha, Nessie - Apresentou-me para o seu fã estranho.

– Nessie - O garoto repetiu com um sorrisinho malicioso - Lindo nome, sabia?

Apenas lhe lancei um sorrisinho amarelo e voltei minha atenção para o prato. Era só o que me faltava! Meu dia não podia pior mesmo.

– Você deveria dar uma chance para os meninos, Ness - Charlie falou depois que o garoto se tocou que não iria conseguir nada ali comigo e se mandou.

Eu levantei os olhos para ele com uma sobrancelha arqueada.

– Você realmente não quer falar de relacionamentos comigo, não é? - Debochei.

– E por que não? Sabe, eu conversei com a sua irmã ontem sobre o casamento dela. Acho que ela está fazendo a coisa certa. - Charlie murmurou dando grandes garfadas em seu baurú.

– Pois eu acho que não! - Falei ainda sem ter coragem de colocar aquela gororoba que pedi para dentro da minha boca. Fiquei refletindo se teria comida em casa quando eu chegasse desse jantar inútil.

– Por que não? - Olhou-me com a testa franzida.

– Por que ela quer se casar se sabe que vai se separar daqui um tempo? Não seria mais fácil pular essa parte para evitar futuros transtornos?

– Não é só porque o meu casamento com a sua mãe não deu certo que todos são assim! - Charlie agora estava sério.

– Ah tá bom. Mas me diz uma coisa pai, você, com certeza, não quer se casar de novo não é? Já viu que errou uma vez e não cometerá o mesmo erro de novo, não é mesmo? - Falei recebendo um olhar um pouco indecifrável de meu pai, continuei - A idiota da Bella sabe disso, e mesmo vendo o erro que vocês cometeram ela quer tentar por VONTADE PRÓPRIA ver como a sensação de errar por ela mesma.

Charlie não falou nada, apenas me olhava com a testa franzida, provavelmente não conseguindo argumentar após a minha excelente explicação da burrice inexplicável da minha irmã.

Meu sorrisinho de vitória se desfez tão rápido quanto ele surgiu. Pela porta de entrada estava entrando a querida namorada de Charlie.

Virei-me furiosamente para meu pai, que ainda estava com a testa franzida, e falei com raiva:

– Você a convidou?

Aquilo pareceu despertar alguma coisa nele. Virou-se e viu Sue se aproximando com aquele sorriso irritante, voltou então seus olhos para mim novamente com um mínimo sorriso:

– Pensei que seria legal vocês conversarem... - Parou no meio da frase quando reparou no olhar de morte que eu lhe lançava.

Era o que faltava para a noite ficar PERFEITA! E quando eu pensei que meu dia não podia piorar...

– Oi amor! - A vad... A mulher sentou ao lado do meu pai lhe dando um selinho, depois se virou para mim com um sorriso um tanto quanto irritante:

– Nessie! Olha só pra você, fica mais linda a cada dia!

– Não sei como você pode afirmar isso - Ergui as sobrancelhas sarcástica - Você não me vê todos os dias, e ontem com certeza eu não estava assim tão diferente de hoje, então não acredito que seja alguma coisa que mude a cada dia.

Charlie me lançou um olhar severo, quase como de um pai - eu disse QUASE - e Sue deixou o sorriso murchar um pouco, mas logo o colocou de volta no rosto:

– Ela tem seus cabelos, amor, não é? - Disse olhando meus longos cabelos cor de bronze de cima abaixo.

Charlie sorriu para ela e concordou com a cabeça me olhando também de cima a baixo.

– Sim, e fica lindo assim comprido. Nunca o corte, querida. - Sorriu satisfeito.

Fingi que não era comigo e peguei o garfo ao meu lado, voltando a brincar com a comida. Apenas acenava com a cabeça quando um dos dois falava comigo, o que era muito raro - ainda bem!

Enquanto mexia na minha comida, uma ideia brilhante me ocorreu. Peguei meu celular e comecei a digitar rapidamente uma mensagem de texto para Claire.

POV CLAIRE:

Quil estava tirando a minha blusa enquanto me beijava ferozmente. Eu estava toda arrepiada e sentia meu coração martelar no meu peito como se estivesse correndo há uns vinte minutos sem parar.

Os dedos dele estavam quase no meu sutiã quando ouvi um barulho em cima da minha escrivaninha.

– Quil - Ofeguei a única coisa que consegui produzir no meio daquela situação.

– Deixa pra lá - Falou, igualmente sem ar, me beijando no pescoço e me fazendo perder um pouco o nexo. - Olha depois.

Por um momento eu pensei em fazer o que ele disse, assim que senti sua mão apertar minha coxa, mas podia ser importante, não é?

Tentei sair de baixo dele, muito contragosto, e me movi para agarrar meu celular que informava que uma mensagem de texto fora enviada.

Quil saiu de cima de mim bufando indignado e sentado-se ao meu lado na cama. Peguei o celular enquanto ajeitava minha blusa e lia a mensagem de Nessie.

Claire

Preciso que venha aqui em casa antes da aula amanhã

Traga a sua tesoura que usa para cortar cabelos, ok?

Bjs, amo você.

Nessie

O que aquela louca quer com a minha tesoura que ganhe depois de fazer um curso de cortes de cabelo?

Bom, me importaria com isso mais tarde. Eu ainda tinha que terminar uma coisa que não conclui ainda...