Beca se contorceu na cama de novo.

— As 19h?

— Perfeito.

Desliguei a chamada e olhei as horas. 17:52.

Beca não falou nada, apenas ficou me encarando.

— Pode ir se aprontar, eu vou descer.

Ela se levantou e foi até a porta.

— Pensei que não quisesse descer.

— Também pensei que não quisesse sair.- ela bateu a porta. Senti algo ruim após ouvir aquelas palavras, meio que doeu.

*Beca*

— Sério não vou fingir estar tudo bem.- falei sussurrando para Amy, assim as meninas lá na sala não escutariam.

— As vezes Chloe precisa fazer novas amizades e Beca, você estava saindo com Jesse até ontem.

— Mas você sabe o motivo de eu ter saído com ele.

— É, eu sei, ela não.

— Acho que estou meio cansada, sério. A Chloe poderia ter tido mais consciência de que hoje não era o momento de sair, ela estava comigo.

Passei as mãos sobre o cabelo.

Escutei a porta de algum quarto lá encima bater. Foi quando Chloe desceu as escadas. Respirei e inspirei algumas vezes. Ela estava absolutamente linda. Eu, que estava sentada na bancada da cozinha, me levantei e virei de costas olhando para o lado de fora pela janela.

— Uau!

— Que isso!

— Onde vai, ruiva?

— Sair. Acho que volto em umas duas horas.

— Ou talvez não volte.- Stacie brincou. E aquilo me irritou ao extremo. Fat Amy me olhou, mas eu não mexi a cabeça. Permaneci instável.

A porta da entrada fechou e entendi que ela já tinha ido.

Um carro estacionou bem na porta de casa. Melissa desceu.

Chloe apertou o passo para chegar até ela mais depressa.

Elas deram um beijo na bochecha rapidinho e entraram dentro do carro.

Eu fiquei mais uns instantes ali.

— Beca?

Uma solitária lágrima escorreu por minhas bochechas. Eu abri a porta da sala e saí imediatamente.

Me sentei no balanço do banco de madeira do lado de fora.

*Chloe*

Beca não ter se virado para dar tchau, ter falado comigo daquela maneira. Algo estava acontecendo.

— E então? O que tem feito?- Mel falou, me livrando dos pensamentos.

— Estar de férias da universidade é muito bom. Eu estava precisando mesmo dar uma descansada. Então tenho feito isso, tenho descansado. E você, como foi a viajem?

— Foi ótima. Muitos dos meus amigos foram, me diverti bastante.

O silencio tomou conta por algum tempo.

— Onde vamos?

— Bavette’s.

— É um restaurante muito bom.

— Adoro lá.

Na verdade eu não suporto aquele lugar. O cheiro, a forma de atendimento. E a comida é péssima.

“1 á 0 para coisas incomuns.” Pensei.

Descemos no restaurante e o rapaz foi estacionar o carro de Melissa.

Sentamos em uma mesa para dois. E o garçom nos entregou o cardápio.

— Massas?- perguntei.

— Na verdade não sou muito chegada em massas. Acho que vou pedir alguma outra coisa.

“2 á 0 para coisas incomuns”

O garçom voltou até nós. Escolhemos  o que queríamos e ele se retirou.

— Acho que preciso começar a me explicar. Bem...eu tinha acabado de passar a noite em uma festa, da qual não fui muito bem vinda, a festa era da Laura e nós éramos muito amigas antes dela- ela suspirou.- antes dela descobrir que dormi com o seu namorado. Fui até a festa para me desculpar e ganhei um tapa na cara e muita humilhação, fui até a radio, pois é um lugar perfeito e eu amo música e precisava daquele lugar para pensar, você foi muito fofa e acho que acabei, sei lá, fazendo algo que eu não devia.

— Você dormiu com o namorado da sua melhor amiga?

— Ele foi meu namorado antes de ser o dela.

— Ela sabia disso?

— Não.

— Então não jogue a culpa para cima dela!- falei sem pensar, sendo um pouco grossa. Ela levantou as sobrancelhas.- é...você gosta de música, né?- falei tentando disfarçar. Ela concordou com a cabeça.- De que tipo?

“3 á 0 para coisas incomuns, eu detesto traição”

— Sou bem eclética, gosto de vários ritmos e de vários cantores.

— Então do que não gosta?

— Hum...acho que quem fica no topo da minha lista é o James Blunt, mas tem outros caras que acho que não tem nada haver com a música também, não é só ele.

— Como assim?? James é um verdadeiro cantor.

— Não sei, não gosto muito de suas músicas.

— Já tentou interpreta-las?

— Já, e são péssimas.

Fiquei de cara. “4 á 0”

*Beca*

O vento batia em meu rosto e aquela com certeza era uma ótima sensação. Mas já estava escuro e o vento ia começar a ficar mais gelado.

A porta se abre.

— Eu trouxe um casaco.

— Você parece ter lido meus pensamentos.

— É, sou boa nisso.- dei uma leve risada e ela se sentou ao meu lado e me entregou o casaco.

— É...Amy, esse casaco é da Chloe.

— Sério? Estava no nosso quarto.

— Ela deve ter deixado lá ou ter me emprestado algum dia desses e acabei não devolvendo.

— Quer que eu pegue outro?- ela perguntou meio culpada.

Eu ri.

— Este aqui está ótimo, obrigada.

Vesti o casaco dela e, minha nossa, seu perfume se juntou ao vento e esse é com certeza o melhor cheiro que existe. Respirei fundo para senti-lo cada vez melhor.

— Ela é cheirosa, né?

— É o melhor cheiro do mundo.

— É que você nunca sentiu o perfume da comida da vovó.

Dei uma gargalhada.

— Só você.- ela sorriu também.- Como vai o Bumper?

— Ah o Bumper...- seus olhos brilharam por dizer seu nome.- ele está ótimo, falando nisso daqui a pouco é hora de iniciar nossa chamada no Skype.

— Pode ir, então.

— Mas você...

— Eu estou ótima, só com frio.

Ela sorriu.

— Sendo assim, eu vou indo.

— Mande um abraço para ele.

— Pode deixar.

Ela foi correndo para dentro de casa. Mas mal sabia que meu frio era por dentro e por fora.

*Chloe*

— Obrigada por me deixar em casa.

— Imagina. Foi uma noite ótima.

“Não foi não.”

— Sim! Nos vemos qualquer dia desses.

— Até.

Eu saí do carro. Estou louca para contar para as meninas como foi péssimo.

Quando Melissa sai com o carro e eu me aproximo de casa, consigo ver minha pequena, sentada no banco de madeira que balança.

— Hey!

— O-Oi.- ela falou erguendo a cabeça. Seu rosto estava vermelho, parecia estar...chorando.

— O que houve?

— Como foi o jantar?- ela falou mudando de assunto, acho que ela não quer responder minha pergunta agora.

— Foi péssimo! Temos 7 coisas incomuns! 4 eu descobri antes do jantar e 3 depois. Foi péssimo, completamente péssimo, e o pior, sabe quantas coisas temos em comum? Nenhuma!- ela arregalou os olhos, mas não disse nada.- Acho que eu deveria ter ficado com você.

— É mas não ficou.

Não entendi sua grosseria.

— Ok, Becs, o que está acontecendo?

— Chloe, você realmente aceitou meu pedido de desculpas?

— É óbvio que sim! Por que está dizendo isso?

— Não sei, eu estava aqui pensando e... você não teria saído se estivesse realmente me perdoado.

— Becs, eu só saí porque você falou que não tinha problema, que eu poderia decidir.

— Mas você sabia que ia ser “péssimo”, sei que não queria ir desde o começo. Por que foi?

Eu olhei para baixo, na tentativa de não precisar responder, queria que ela já soubesse minha resposta, não quero falar em voz alta. Mas ela me pede por uma resposta.

— Eu esperei que você me pedisse para ficar.- admiti baixinho.- mas você não fez isso.

Ela pensou por um instante.

— Também esperei que você tivesse dito ao Jesse que ele não podia me chamar daquele jeito.

Ai! Essa doeu.

— Me desculpa.

— Acho que agora o sono realmente veio.

— Becs?

— Boa noite, Chloe.

Ela se levantou e foi quando eu reparei que aquele casaco era meu. Por que ela estava usando meu casaco?