Isabela

Acordei deitada dentro do carro que ainda estava sendo dirigido, o perfume masculino do motorista invadia minhas narinas, e eu tentava abrir os olhos para ver quem era, mas por mais que eu tentasse, era em vão. O carro parou e o motorista saiu de dentro dele, abriu a porta de trás e me pegou em seus braços.

— Calma Isa, vai ficar tudo bem - ele sussurrava.

Sinto que ele me colocou em sua cama macia e quentinha, se deitou ao meu lado e me abraçou, um abraço era tudo o que eu precisava no momento. Lágrimas rolavam por meu rosto e ele as limpava com o polegar.

— Não chora, eu sei que você está acordada, só tente me contar o que aconteceu - ele dizia.

— O Joaquim... - minha voz saia falhada e extremamente trêmula e chorosa.

— O que tem ele, o que ele fez? - perguntava.

— Ele vai ser pai... - mais e mais lágrimas rolavam pelo meu rosto - e a Priscila, mãe... - terminei.

— Calma, eu vou te ajudar, pode ficar o tempo que precisar aqui ok - ele terminou e eu apenas assenti.

Joaquim

— Isabela! - eu gritava, mas nunca obtinha resposta.

Como eu fui perdê-la? Como eu fui deixa-la escapar? Tudo isso é minha culpa, se eu não tivesse engravidado a Priscila nada disso teria acontecido, eu não estou pronto, não estou pronto pra viver sem a Isa, não estou pronto pra conviver todos os dias com a Priscila, não estou pronto pra ser pai e cuidar de uma criança, ainda sou novo, mas se eu fiz eu vou cuidar e assumir.

Fazem horas que procuro por Isabela e nada dela, resolvo ir pra casa, às vezes ela pode ter voltado pra lá.

Isabela

Abro meus olhos lentamente e vejo que estou abraçada à Omar, ele foi tão gentil comigo, me tirando da rua e me levando a sua própria casa.

— Isa, já está melhor? - ele me pergunta e eu assinto - me conte direito o que aconteceu, quem sabe eu posso te ajudar - ele diz.

— Foi o Joaquim, ele engravidou a Priscila, e me contou isso hoje, eu fiquei tão transtornada com essa história que acabei perdendo o sentido, sabe eu sei que na época eu não estava com ele, mas sabe a gente meio que tinha um caso, e descobrir me magoou tanto que eu não pretendo voltar pra lá tão cedo, por isso será que eu podia passar alguns dias aqui? - pergunto.

— Claro, pode passar o tempo que for preciso - ele diz enquanto passa seus dedos por meu cabelo, era isso que eu gostava no Omar, ele sabia como ser em cada momento, ele realmente me acalmava.

— Bom eu vou lá pra cozinha preparar algo pra eu, você e o Luís comermos, fique ai e descanse um pouco - ele sai do quarto e fecha porta.

Joaquim

Estava sozinho em casa, dando meu último gole na garrafa de Vodca, o álcool e a culpa percorriam meu sangue.

"Só fique longe dela" era uma mensagem de Omar.

"Ela está com você? Estou indo ai busca-la agora" respondo.

"Ela não quer nem olhar pra você, dá pra ver no olhar dela, o quão magoada ela está" ele responde.

Pego minhas chaves e tranco a porta, caminhando rumo a casa de Omar.

Chego lá na frente e logo o chamo pelo nome, em poucos minutos a porta da frente abre e Luís sai de dentro da casa, ele abre o portão e caminha até mim.

— Acho melhor você não entrar cara, espera ela se acalmar, tudo isso é muito novo pra ela - ele diz.

— Eu vou entrar agora! - exclamo irritado e empurro-o, em poucos segundos estou dentro da casa de Omar.

Isabela

Poucos minutos depois Omar voltou e se deitou ao meu lado me abraçando.

— Obrigada - sussurro.

— Não foi nada, amigos são pra isso, pode contar comigo sempre que quiser - ele diz.

Em poucos minutos ele adormece, já eu, não consigo dormir, a voz de Joaquim ecoava em minha mente.

"Eu vou ser pai"

— Eu vou entrar agora! - escutei um grito, era de Joaquim, minha respiração começou a acelerar e os batimentos de meu coração também.

A porta do quarto de Omar e aberta, com certeza deveria ser ele.

— Que porra é essa?! - ele perguntava, pelo modo de agir Joaquim deveria estar bêbado - está me traindo com esse babaca, Isabela? - ele me perguntava e em poucos minutos o ódio tomou conta do meu corpo.

— Te traindo Joaquim? Até parece, eu não sou mais nada sua, nunca fui, eu não te mereço e nunca te mereci, olha tudo o que você já fez pra mim! Acho que eu deveria estar te julgando! - respondo parada em frente à ele.

— Vamos pra casa -  ele diz sério.

— Que casa? A sua? Não muito obrigada, pra lá eu não quero voltar tão cedo - digo.

— Deixa ela em paz Joaquim, ela está magoada, não quer ver você ou muito menos falar com você - Omar responde.

— Cala a boca seu babaca! - Joaquim exclama, já indo pra cima de Omar, mas eu me coloco entre os dois e Luís também.

— Joaquim, só me deixa em paz, é a única coisa que eu te peço - respondo e minha voz sai falhada.

— Mas seu lugar pra ficar em paz é ao meu lado e não com ele! - Joaquim diz.

— Não, não é - respondo baixo - meu lugar não é nesse mundo, meu lugar é bem longe daqui, bem longe de você, bem longe de todos.

Saio de dentro da casa de Omar e caminho até o carro dele, pra mim sorte, as chaves já estão engatadas. Ligo o carro e abro o portão, saio andando por aí sem rumo, eu só quero desaparecer.

Flashbacks de todas as minhas brigas com Joaquim invadem minha mente, o que me faz chorar mais ainda.

Olho para a estrada e vejo uma carro em alta velocidade em minha direção. Minha vida passou em meus olhos, por questão de segundos, o carro capotava e minhas forças iam ficando pra trás. Não sentia mais minhas pernas e, minha visão escureceu, a última coisa que eu escutei foi a voz de meu pai me dizendo que iria ficar tudo bem.