— Obrigada – Monica riu - Chegou quando? – Ela perguntou se servindo.

— Hoje cedo, nunca tinha entrado em um avião, foi tenso – Cebola lembrou com a mão sobre a barriga -  E voltamos amanhã, então faça o favor de deixar tudo pronto hoje.

— Mas eu nem comprei minha passagem Ce – Monica se alertou, tinha esquecido totalmente desse detalhe.

— Mo, venho combinando isso com o seu professor faz um tempinho – Ele respondeu tirando duas passagens de dentro da carteira.

— Quanto foi? Eu vou te devolver tudo – Monica perguntou o olhando.

— Nem inventa, eu to de boa Mo, minhas coreografias estão sendo reconhecidas, faz um mês que as aulas da Lemon são em cima delas, to começando a ganhar bem pra isso – Cebola contou feliz.

— Bom, então me deixa pelo menos pagar o almoço ok? – Monica se apoiou na mesa lhe dando um selinho e tornou a sentar abrindo um sorriso e o admirando, sentia tanta falta dele que perdia um pouco a noção do tempo, ele percebendo, segurou em uma de suas mãos e a acarinhou como se correspondesse a toda aquela saudade.

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Monica entrou em casa eufórica, as informações borbulhavam em sua cabeça, se não tivesse tocado nele, acreditaria talvez que tudo não passasse de uma ilusão. Ansiosa, agradeceu mentalmente por estar sozinha e correu para o quarto, abriu sua maior mala e organizou absolutamente tudo que queria levar de volta para São Paulo, levantou o seu colchão e tirou uma bolsinha rosa mediana de lá de baixo, de dentro da mesma tirou uma boa quantia de dinheiro, Monica sempre tinha uma economia guardada, era um costume, colocou em sua carteira junto com seu cartão e a guardou em sua bolsa de mão.

Aproximadamente duas horas depois estava com tudo pronto, e como se tivesse combinado ouviu a porta no primeiro andar da casa abrir e seus pais adentrarem conversando. Imediatamente seu coração acelerou num ritmo frenético e toda a adrenalina da noticia que viria a seguir preencheu suas veias.

Criou coragem e desceu sorridente com as mãos um pouco suadas, no meio das escadas compridas que rodeavam a sala, Monica pode ouvir alguém bater à porta, voltou algum passos e se recostou na parede para escutar, com medo de ser o Fabio. Com a mesma intensidade que a adrenalina a invadiu segundos atrás o conforto e a duvida de ouvir a voz que se apresentava tomou conta do seu corpo.

Marcos adentrou a casa sob o olhar analítico do seu pai, e se sentou no sofá perguntando sobre ela.

— Oi Professor, estou aqui – Monica desceu correndo para o abraçar, ainda não tinha tido a oportunidade de lhe agradecer por tudo que fez.

— Oi Moniquinha, tudo bem? – Marcos perguntou assim que seus pais se sentaram no sofá a frente.

— Tudo, e você? – Monica respondeu se sentando ao seu lado.

— Bem, vamos aproveitar que a família toda está aqui para termos essa conversa não é? – Ele perguntou olhando para a aluna que parecia ter perdido toda coragem frente a seus pais. – Receio que já tenha contado aos seus pais.

— O que? – Seu Souza perguntou prevendo discussão e dor de cabeça, nunca concordou com o fato da filha passar horas dançando quando poderia ao invés disso estar na empresa aprendendo o ramo da família. Só concordou em pagar as melhores escolas porque dona Luisa e o Marcos insistiam no talento da filha, que ele não podia negar, ela realmente tinha e muito.

— Que a Le Ballet reconhece o talento incrível que sua filha tem para dançar balé e não quer desistir da audiência dela, insistem em vê-lá com a possibilidade de recruta-lá para a equipe deles, a melhor equipe do Brasil no ramo – Marcos explicou da forma mais clara e calma que conseguiu.

Seu Sousa perdeu a cor do rosto, e Monica viu que era hora de falar, aproveitar que ele ainda não tinha surtado ou retrucado tudo que escutou.

— Pois é Pai, ainda não tinha contado, mas estava descendo exatamente para isso, vocês sabem o quanto isso é importante para... – Ela começou a falar, mas seu pai a interrompeu.

— Não! De novo com essa história? Você já tinha desistido disso, e agora está trabalhando comigo Monica, as coisas não são simples assim, tínhamos um combinado, não acredito que ligou para seu professor para ele vir me convencer – Seu Sousa cruzou os braços, decidido.

— Não, sua filha não me ligou, na verdade ela nunca precisaria fazer isso, só um tolo não enxergaria o talento que ela tem, não posso nem sonhar em deixar ela desistir dessa oportunidade igual os senhores estavam deixando. Os senhores que me desculpem mas quem de vocês se preocupam com o que sua filha realmente quer? Com o que a faz feliz? – Marcos perguntou abraçando a Monica.

— Como ousa? – Seu Sousa retrucou – Nós nos preocupamos e muito com nossa filha, por isso queremos o melhor para ela.

— Tem certeza disso? Ou o melhor para vocês? – Marcos rebateu.

— É Pai, eu danço desde pequena, e desde então você tenta esconder o meu sonho com os seus, passa por cima do que eu quero achando que dinheiro compra minha felicidade, mas não compra! Nunca quis fazer parte da sua empresa, nunca vou querer o Fabio como mais que amigo, nem é ele que eu amo, alias você nem procurou saber se quer se eu gosto de alguém, tenho quase 20 anos pai, e você nunca deixou eu ao menos explicar o que sinto quando danço – Monica desabafou chateada.

— Monica, por favor filha não precisa falar desse jeito – Luisa tentou amenizar como sempre fazia.

— Não mãe, preciso sim, o papai precisa entender que eu cresci, e não sou mais um fantoche, meu sonho é dançar e pai você se engana em achar que isso não tem valor, muito pelo contrario, dançar é uma arte que requer paixão, vários dos grandes dançarinos começaram assim pela Le Ballet, ela é a melhor escola que tem no Brasil  pai, só queria que uma vez você me entendesse – Monica concluiu com lagrimas nos olhos.

— Seu Sousa, como foi muito bem dito pela sua filha, a felicidade não se compra, você já foi jovem, e já teve algum sonho tenho certeza, todos nós tivemos, lembra o quanto queria realiza lo?! Acredite em mim essa é uma oportunidade que sua filha não pode perder, não se sabe quando a terá novamente. Essa escola nunca corre atrás de alunos, os alunos que se matam pra tentar entrar nela, e com sua filha eles ligaram oferecendo uma chance. Ao invés de ficar contra ela, porque não observa o quanto sua filha já amadureceu nesse tempo, ela está crescendo e o senhor está perdendo essas fases por causa do seu orgulho. E isso cabe para a senhora também dona Luisa, a Monica está virando uma mulher e tenho certeza que ficaria muito mais feliz tendo sua mãe mais próxima, podendo dividir momentos e experiências novas com ela. Você não pode impedir a sua borboleta de voar, o que tem que fazer é ter um jardim florescente e feliz para que ela sempre tenha motivos para voltar. A audiência ocorrerá sábado que vem e um aluno meu veio pessoalmente para busca lá, cabe a vocês aceitarem que ela vá e a apoiarem, ou  deixarem que ela vá sabendo que não participarão dessa etapa tão importante na vida dela. – Marcos concluiu – Não sou da família, mas sou uma pessoa que ama a Monica como filha, acompanhei o crescimento dela igual vocês, a vi dar os primeiros saltos no balé, e sempre acreditei que ela ia longe, espero que acreditem também.

Monica a essa hora já choramingava, e dona Luisa estava boquiaberta, ouvir tantas verdades assim na cara dela a deixou sem saber o que fazer, quando por fim recuperou a fala foi para seu Sousa que ela se reportou.

— Amor, ele está certo, não podemos impedir o sonho da nossa filha, a Monica sempre quis ser uma grande bailarina, ela merece nosso apoio.

— Pai, nunca desrespeitei o senhor nem a mamãe, sempre fiz tudo que queriam, mas agora eu não sou mais criança, precisei quebrar a cabeça pra entender que temos que batalhar, e valorizar o que temos. Sou maior de idade, e já morei sozinha, por mais que não queira que eu vá, dessa vez mesmo que me doa, eu vou! Do fundo do meu coração quero ir com o consentimento de vocês, mas caso eu não tenha, vou participar da prova mesmo assim, não estou fazendo nada de errado e jamais faria para afetar vocês, só quero conquistar meu sonho, e dançar em grandes espetáculos, se não puder compreender isso também não conseguirá compreender a mim, sinto muito – Monica concluiu tentando mostrar que estava decidida, se segurando para não chorar. Não sabia o que faria caso a vontade do seu pai fosse contraria a dela.

Seu Sousa coçou a cabeça passando a outra mão sobre o rosto como se isso lhe clareasse as idéias,sua vontade era que a filha seguisse a carreira dele, e futuramente representasse a empresa ao lado do Fabio, onde finalmente os Sousa e os Boa Pintas estariam juntos, unidos, mas tinha acabado de perceber que iria perde-lá para sempre se persistisse nisso. Passou o olhou sobre todos no local, e parou por fim no dela, com um aperto no coração sua voz veio a tona.

— Não é o que sonhei pra você Monica, tenho sonhos muito mais ambiciosos, você poderia ser uma grande administradora, muito dinheiro filha, com um moço que realmente te ama ao seu lado...

— Pai...

— Sim, eu sei, eu sei, que não é o que você quer, então que seja, contanto que você seja muito feliz. Acima da minha ambição, vem sua felicidade filha, vem cá – Ele a chamou abrindo os braços.

Monica não acreditou no que estava ouvindo, achou que explodiria de felicidade, e correu para o abraço do pai, Marcos e Luisa assistiram a tudo com um sorriso nos lábios, com certeza isso ficaria para história.