Chegou na ponta do palco onde subiriam e seu coração congelou, ele estava lá parado com as mãos no bolso, exatamente com a roupa que ela escolhera, tentou controlar as emoções passando as mãos sobre o cabelo algumas vezes, em passos lentos foi se aproximando e a metros de distancia sentiu o perfume dele inundar seu olfato. A vontade de chorar se apossou de sua garganta mas ela não se renderia, não ali, borrando toda sua maquiagem.

Continuou a andar e só parou quando chegou ao lado dele.

Cebola a olhou admirado, ela estava realmente incrível, porém o semblante era sério, nada de risadas ou brincadeiras, nada de amor naqueles olhos que ele mergulhou por tantas vezes.

Foram anunciados e imediatamente ele pegou em sua mão para subirem ao palco, Monica hesitou um pouco, mas o seguiu, era hora do show.

—-

Aos aplausos foram recebidos no palco escuro, com as luzes apagadas, as mãos da Monica começaram a suar frio, pelo pouco que conseguia enxergar da plateia estava lotada, diversas pessoas sentadas em mesas igualmente espalhadas pelo local decorado.

Cebola apertou sua mão lhe indicando o começo da coreografia em que tanto ensaiaram, a batida da musica começou e as luzes de efeito acederam, Monica então foi para sombra onde deixava somente ele em evidencia, Cebola começou a dançar de cabeça baixa com o boné tampando os olhos, fez ondulações no corpo e alguns passos de street regados de gritinhos e aplausos, quando o ritmo começou a ficar mais lento ele a olhou escondida sob a sombra, era hora dela entrar, aos poucos ele foi se anulando e por fim Monica saiu graciosamente rodando com salto duplos no ar cortando aquela luz com sua performance, uma chuva de aplausos inundaram o local.

Ela respirava fundo, dançar aquela musica agora doía muito mais que antes, a letra lhe dizia exatamente o que estava sentindo e talvez isso tenha ajudado a dar uma emoção a mais a coreografia, seus passos estavam carregados de sentimento, dançava com a alma, colocando sua dor pra fora, deu mais algumas piruetas e quando pousou no chão o olhou, tinha chegado a hora de dançarem juntos.

Cebola se aproximou segurando sua cintura por trás, sentindo o cheiro que seu cabelo exalava, ela se arrepiou completamente, ele a jogou para longe segurando em uma de suas mãos, quando a puxou novamente começaram os passos de street, Monica o acompanhou no hip hop tão bem quanto tinha se saido nos ensaios, quando deu o ultimo passo do street, ele a segurou novamente pela cintura e a puxou pra perto, Monica levantou uma perna apoiando se nele, e ela a rodou suspendendo suas costas, pegou a novamente, dessa vez segurando em sua cabeça, rodou em volta dela encarando a de cima a baixo, depois a pegou pela mão, a suspendendo para ela executar sua  serie de giros, passos estes que a menina desempenhou impecavelmente na ponta dos pés.

Por fim a jogou longe, ela pegou distancia e correu em sua direção, ele a suspendeu com firmeza e ela rodou no alto com os braços abertos, conseguiu ver todos se levantando para aplaudir e o ultimo acorde da musica tocar, ele a desceu calmamente sentindo seus rostos colados, a mão dela deslizou por sua bochecha, e como uma cereja que finaliza com graça o bolo Cebola a beijou, terminando assim a coreografia.

Dentre gritinhos euforicos de todos os lados seguidos de assovios e aplausos, Monica só conseguia ouvir seu coração, calmamente seus lábios se separaram e permaneceram de mãos dadas até serem anunciados, quando o mestre de cerimônia falou seus nomes, as luzes os focaram e Monica pela primeira vez conseguiu enxergar claramente a plateia.

A anestesia do beijo ao final da coreografia desapareceu do seu corpo no momento em que reconheceu os convidados das primeiras mesas do evento. Era lógico, como ela não tinha se tocado, um evento de multinacionais... Um menino que conhecia desde pequena a olhava totalmente espantado, juntamente com quatro pares de olhos igualmente surpresos.

Monica terminou de agradecer o mais rápido que conseguiu e assim que as cortinas fecharam, desceu correndo do palco sem olhar para cara de seu parceiro. Chegou na ponta da escada lá fora quando sentiu um braço a segurar com força, virou para checar e não se surpreendeu quando o viu.

— Que pouca vergonha foi essa Monica? – Fabinho perguntou claramente alterado.

— Fabio, aqui não por favor – Monica pediu com dificuldade para respirar. Sempre ficava assim em situações de muito nervoso.

— Quem é ele? Você não tinha vindo se dedicar ao balé?!  Que coisa foi aquele que você dançou? Ele está te obrigando? – Fabio perguntou ignorando qualquer tentativa de explicação.

— Fabio, estou aqui profissionalmente, por favor não estraga tudo, depois a gente conversa – Monica pediu entrando em desespero.

— Seus pais viram você com aquele maloqueiro, achei que essa escola que você estudava era de gente de classe – Fabio alfinetou com sua cara de desdém que irritava a qualquer um. - Saiu do Rio para aprender isso?!

— Não vou perder meu tempo falando com você, você como sempre não vai me ouvir, licença vou pro camarim – Monica se irritou virando.

— Eu estou falando com você, até isso você já desaprendeu, a ter educação – Fabio  se irritou a pegando pelo braço novamente, fazendo a ficar de frente pra ele.

Foi realmente tudo muito rápido e o que a Monica temia aconteceu, Cebola se aproximou soltando com força o braço dos dois.

— O que está acontecendo aqui?! – Cebola perguntou nervoso encarando o Fabio.

— HÁ HÁ HÁ, chegou ele, você que ensinou aquelas coisas pra Monica?! Ela tem classe, não é pra se envolver com qualquer um não... Por um acaso você é vacinado? – Fabio desdenhou.

Monica colocou as mãos na boca incrédula como o que aconteceu em seguida, um murro acertou o lado esquerdo do olho do Fabio, o desequilibrando, fazendo o cair de bunda no chão, Cebola partiu pra cima novamente mas um homem se colocou na frente o impedindo.

— Fabio, Fabio, você está bem? Quem é esse brucutu Monica?  - Sr. Sousa perguntou a encarando. - O que está acontecendo aqui?!

Monica sentiu seu sangue abandonar seu corpo e sua glicemia ir lá pra baixo, uma tontura tomou conta da sua mente e lutou para manter a lucidez. O que acontecia em sua frente era muito pior do que já tinha imaginado, o pior jeito do seu pai conhecer o Cebola, a pior forma de sair de um evento no qual foram contratados.

— Pai, espera eu posso explicar tudo isso, mas aqui não, não por favor – Monica pediu colocando o Cebola para trás dela, evitando qualquer situação pior.

Cebola entendeu tudo claramente em sua cabeça, não precisou mas de nenhuma explicação a palavra pai clareou suas memórias, lembrou da Monica falando do carinha prometido para ela, e que seu pai era um empresário, era lógico que eram eles, perdeu a cor do rosto e passou as mãos no cabelo nervoso, estava perdido.

— Não quero saber Monica, sai de perto dele agora, vem pra Ca – Seu pai a ordenou – Você vai embora pra casa com a gente hoje.

— Não, Pai, eu estou terminando minha coreografia da Le ballet, é meu sonho – Monica choramingou o olhando. - E tem as meninas que eu moro junto, a escola que eu danço.

— Não me interessa, eu permiti que você viesse para dançar balé, e não essa pouca vergonha que fez em cima do palco, ainda exposta pra todos meus conhecidos, me envergonhando – Sr Sousa brigou naquele tom que dava medo. - Depois eu mando dinheiro pra suas amigas pro que elas precisarem.

Monica começou a chorar borrando toda sua maquiagem, Cebola a olhou desesperado sem saber o que fazer.

— A culpa não é dela, é minha senhor – Cebola se colocou a frente.

— Não quero ouvir sua voz rapaz, você nem deveria estar em um evento desse porte – Sr Sousa concluiu voltando para o local da festa – Vai se arrumar Monica e vem se sentar com a gente, tem meia hora.