— Você fez a coisa certa Mo, além do mais já tinha dado sua palavra – Denise comentou enquanto terminava de fazer a janta.

— Eu sei, mas por que tem que ser com ele? – Monica choramingou sentada no balcão da cozinha americana.

— Mo, é só não dar moral, aja profissionalmente, vai lá, dança, agradece e vai embora – Denise respondeu desligando o fogo do arroz.

— É, vou fazer exatamente isso – Monica concluiu com o coração apertado.

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Ouviu de longe seu celular tocando o aviso de mensagem e com preguiça se arrastou até a cômoda para pegar, viu com uma pontada de dor que era dele e que ainda não tinha mudado seu nome da agenda do aparelho, um “amor” surgiu na tela e imediatamente ela tratou de trocar o nome de seu contato.

“- Soube que irá se apresentar amanhã, estou feliz e agradecido por topar, beijos. Cebola”

Monica respirou fundo e jogou o celular na direção do sofá resmungando alguma coisa que Denise não conseguiu decifrar.

Ignorar ele a semana inteira foi uma das coisas mais difíceis que enfrentou nos últimos dias, por diversas vezes correu para o banheiro da Lemon para chorar de nervoso.

O dia mais complicado para ela foi na sexta feira, quando logo após o ensaio a diretora chamou os dois para uma reunião em sua sala, tudo que evitou a semana inteira, se perdeu na hora em que sentaram próximos um do outro.

Seu coração disparou em seu peito, e ela podia ouvir o dele gritando junto, permaneceu a reunião inteira de cabeça baixa, e só o olhou quando a diretora falou sobre o envolvimento que teriam que ter para passar a mesma emoção do dia da primeira apresentação.

Era lógico que não teria, Monica já estava decidida a agir com total frieza, não se deixaria envolver, iria lá, dançaria e voltaria pra casa. Simples assim!

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Estavam dançando, em um lugar desconhecido, um cenário diferente, chovia, uma garoa fraquinha caia sobre o mato verde do local, o vento estava forte e esvoaçava todo o seu cabelo e vestido, Cebola a envolvia fortemente pela cintura a conduzindo em uma dança mais romântica, a água que caia já havia encharcado totalmente os dois, e o que se seguiu após ele a inclinar para o chão, foi um beijo, e que saudade que ela estava daquele beijo, ele soltou a mão de sua cintura e segurou forte em seus cabelos a proibindo de qualquer tentativa de fuga. Junto com o decorrer do beijo vieram as risadas, ela olhou para o lado confusa e de repente todo o cenário se desfez na sua frente, ela abriu os olhos e sentou na cama assustada, tinha sido mais um de seus sonhos.

Checou a hora com preguiça em seu celular que sempre ficava em seu criado mudo, eram 5 da manhã, seu coração acelerou e a dor preencheu novamente o espaço no qual lhe pertencia desde sábado passado, permitiu que algumas lágrimas caissem, e agarrou o cobertor como se o ato a ajudasse a amenizar o que sentia.

Demorou um pouco mais para dormir e quando abriu os olhos sentiu que não tinha dormido de fato quase nada, sentia seu corpo dolorido e seus olhos um tanto quanto inchados.

Os vestígios de seu sonho ainda rondavam seu corpo deixando tudo mais difícil, sua vontade mesmo era de jogar o cobertor por cima do corpo inteiro e hibernar o dia todo.

Levantou sonolenta, reparou que as amigas ainda dormiam e decidiu não acorda-las, tomou um banho demorado, trocou de roupa, jogou tudo que precisaria dentro da sua mala, tomou um café leve e saiu colocando seu óculos de Sol.

O dia estava lindo e resolveu ir caminhando até o ponto do taxi, recusou quase que de imediato a carona oferecida pelo Cebola no dia anterior, e em menos de meia hora estava em frente ao local que aconteceria a festa, a apresentação era a noite, mas as atrações tinham que chegar meio dia para fazerem o reconhecimento de palco, passagem de som das bandas, se arrumarem nos camarins e afins.

Ela tentou preparar o máximo que conseguiu seu psicológico para lidar um dia inteiro com ele, e agradeceu muito mentalmente quando viu que os camarins seriam separados.

Chegou antes dele, pelo menos assim acreditava, conversou com os organizadores, ganhou uma pulseira de livre acesso ao evento e por fim foi levada ate as acomodações. Era um lugar bonito, uma espécie de um clube dentro de uma empresa enorme, na parte externa de lazer já se via um palco montado, ladeado de arvores e arbustos maravilhosamente floridos dando um efeito incrível para o local.

A festa aconteceria lá, porém os camarins eram internos, dentro das acomodações do clube, Monica pousou sua mala na poltrona ao lado do sofá branco, e sentou em frente ao espelho do camarim checando os mimos que receberá da organização do evento. Em cima do local continham paletas de sombras da NAKED, mini amostras de alguns perfumes importados, chocolatinhos embrulhados nos mais bonitos papeis de celofane, entre outras coisas.

Ao lado do sofá encontrava-se um frigobar com bebidas de todos os gostos, lanches naturais e frutas já picadas, leu seu nome no topo de um papel deixado em cima do sofá e foi até lá verificar sobre o que se tratava.

“ Senhorita Monica,

Seja bem vinda ao nosso evento anual “grandes encontros, grandes negócios”, em sua acomodação procuramos disponibilizar lhe o que acreditamos que goste, caso precise de algo, entre em contato com um dos nossos monitores.

Esperamos que aproveite e aguardamos ansiosos a sua apresentação,

Atenciosamente,

Sr. Marshells.”

Ela continuou a ler com um sorriso fraco nos lábios, ainda estava chateada, mas tudo isso era incrível, por mais que já estivesse acostumada com os mais belos camarins, nunca teve um só pra ela, sempre dividia com uma equipe de pelo menos  oito meninas.

Verificou no final do papel o nome quase ilegível de todas as empresas que participariam do evento e se animou com a possibilidade de divulgação da ONG, isso provavelmente os ajudaria, o Cebola com certeza entregaria bastantes panfletos, panfletos esses que tinham criado juntos...

Dor novamente.

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A passagem de som foi rápida  e em nenhum momento o encarou nos olhos, o tempo passou no mesmo compasso, ela se distraiu ensaiando sozinha no camarim e quando se deu por conta já estava em cima da hora para se arrumar.

Levou a roupa que tinham combinado e esperou que ele também se lembrasse disso, colocou com calma, e como anteriormente amou o resultado, como era dourada, fez uma make que puxava do preto para o dourado, com delineado marcante, cílios postiços e bastante rimel.

Soltou os cabelos antes presos a bobs, e instantaneamente os cachos definidos se formaram, deixando o efeito incrivel. Ajustou sua sapatilha, respirou fundo e saiu do camarim faltando exatamente cinco minutos para serem anunciados.

Chegou perto da ponta do palco onde subiriam e seu coração congelou, ele estava lá parado com as mãos no bolso, exatamente com a roupa que ela escolhera, tentou controlar as emoções passando as mãos sobre os cabelos algumas vezes e em passos lentos continuou a se aproximar, quando estava a apenas metros de distancia sentiu o perfume dele inundar seu olfato. A vontade de chorar tomou conta em forma de nó em sua garganta, mas ela não se renderia, não ali, borrando toda sua maquiagem.

Continuou a andar e só parou quando chegou ao lado dele.

Cebola a olhou admirado, ela estava realmente incrível, porém o semblante era sério, nada de risadas ou brincadeiras, nada de amor naqueles olhos que ele mergulhou por tantas vezes, era dificil decifrar o silencio dela.

Foram anunciados e imediatamente ele pegou em sua mão para subirem ao palco, Monica hesitou um pouco, mas o seguiu, era hora do show.