Molly me olhava carinhosamente, e eu a olhava ansiosa. – Aquele assunto mexia muito comigo.

Nós ficamos um tempo em silêncio até ela limpar a garganta e começar a falar.

— Olha Charlie, vou ser bem direta com você... – falou olhando em meus olhos – Eu sei que você e Tommy estavam juntos e... – ela parou por um segundo quando me viu engolir em seco – E por algum motivo terminaram.

— Olha Molly, eu respeito muito a senhora, mas eu não quero falar sobre isso... – ela me olhou compreensiva mas ainda assim prosseguiu.

— Eu entendo. – disse pensativa – Fazemos assim, eu te falo algumas coisas, e você não precisa fazer nada além de escutar, pode ser? – afirmei que sim com a cabeça. – Então... olha minha querida, sei que meu filho deve ter errado feio com você, eu conheço aquele garoto e sei o tanto de besteira ele faz. Mas de uma coisa eu tenho certeza, ele realmente gosta de você.

— Eu não acredito, me desculpe. – falei virando rapidamente meu rosto para reprimir uma lágrima que queria descer.

— Eu sei que não acredita. – falou – Mas eu o conheço melhor do que ninguém, e não estou aqui falando pra você perdoa-lo ou aceitar ele de volta. – suas palavras chamaram minha atenção.

— Então...? – perguntei e ela me respondeu antes que eu terminasse a frase.

— Eu só preciso que aceite conversar com ele. – a olhei sem entender.

Porquê? Se ele mesmo havia me dito que tinha me traído?

— Não estou entendo, pra que isso? – indaguei.

— Não precisa me responder agora. – disse – Você tem meu número, quando decidir qual será sua resposta me ligue... Mas você tem apenas uma semana para pensar. – Molly se levantou da cama e sorriu doce. – Só quero que saiba que meu menino é complicado, ele não sabe lidar com esse tipo de sentimento.

— Qual? – perguntei enquanto ela caminhava para porta.

— O amor, Charlie. – disse ainda de costas – Ele me disse que te amava, achei que você deveria saber.

Soltei a respiração pesada que nem eu havia notado que estava segurando.

Ela saiu fechando a porta atrás de si.

Fiquei ali parada, sem saber o que pensar ou fazer.

Eu sabia que Molly não mentiria para mim, ela sempre foi uma mulher doce e sincera, muito verdadeira. Mas em contra partida, Tommy havia me dito que estava com Lucy – o que me faz mais confusa é o fato dele parecer estar tão destruído quanto eu.

Passei a mão nervosamente pelos cabelos, todos os pensamentos pareciam estar me afogando.

Ele disse que me amava, então porque me trairia?

O Tommy que eu sempre conheci, nunca diria isso pra mim. O garoto que eu sempre nutri ódio, esse mesmo garoto, me ama?

Narrado por Tommy.

Eu parecia perdido dentro da minha própria vida, nunca imaginei que aquela garota iria me fazer sofrer dessa forma – não que a culpa fosse dela.

A rejeição dela doía, mas mesmo que sua boca falasse que nunca mais queria me ver, seus olhos estavam tão tristes como nunca vi antes. Ela tentava fazer parecer que me odiava, mas na verdade eu sabia que não.

— Queria saber quem invadiu seus pensamentos assim, em? – Dylan perguntou se aproximando com um Skate na mão.

Hoje era sexta, e eu cansei de ficar em casa me lamentando. Então pra passar o tempo, vim na pista de Skate um pouco.

— Ninguém Dylan! – falei cruzando os braços.

— Vai ficar parado ai? Ou veio aqui pra andar? – indagou rindo.

— Já estou indo. – falei com mal humor.

— Eu acho que você vai demorar mais do que eu esperava... – ele apontou para minhas costas, me virei e vi Katie vindo em minha direção. – Não está rolando um replay?!

— Não é da sua conta! – disse lançando um olhar feio, em seguida caminhei até Katie. – O que foi? – perguntei assim que estava próximo a ela.

— A gente precisa conversar! – falou séria.

— Não estou com cabeça... – ela me interrompeu.

— É sobre a Charlie!

— Fala logo! 

— Você precisa contar a verdade a ela! – disse – Olha pra você, é nítido que está sofrendo.

— Katie, você já sabe a resposta, nem que eu quisesse eu poderia contar.

— Eu tenho um plano! – falou sorrindo convencida.

— Que? Que plano? E a Lucy? Ela disse que contaria pra todos sobre a aposta, já imaginou a humilhação que a Charlie passaria?!

— Você já me disse isso! – falou impaciente – E o meu plano é pra prevenir justamente isso.

— Como? – perguntei confuso.

— Ainda não posso dizer! – falou – Mas, posso contar a sua parte no plano.

— Estou ouvindo.

— Você só precisa ir até a Charlie e contar toda a verdade a ela – falou.

— Katie ela não vai querer me ver, muito menos me escutar!

— Eu já cuidei disso! – sorriu convencida.

— Como?

— Sua mãe foi até a casa dela, para convence-la a falar com você.

— Minha mãe o que? – perguntei assustado – Você contou sobre a aposta?

— Claro que não! Tapado. – falou. – Se eu falasse, ela nunca concordaria, sua mãe é toda certinha. – ela fez uma pausa – Mas então, nós marcamos essa conversar para daqui uma semana na festa do Jeff, que eu vou fazer.

— E você só me contou agora? – perguntei indignado.

— Eu estava bolando o plano primeiro. – sorriu – Eu vou dar um jeito na Lucy.

— E o Noah? Aquele filho da puta pode contar também...

— O Noah eu já resolvi... – Katie cruzou os braços vitoriosa.

— O que? – perguntei chocado.

— Você sabe que é ilegal vender drogas e qualquer tipo de anabolizantes né? Ainda mais na escola...

— Você denunciou ele? – comecei a rir, como aquilo estava me fazendo feliz, só de escutar que aquele desgraçado estava se ferrando.

— Claro, eu fiz meu papel de cidadã. – falou rindo – Bem no dia da reunião de pais e mestres, é um prato e tanto!

— Você sabe que ele já completou dezoito né? Provavelmente vai pegar alguns anos preso. – sorri em lembrar daquilo.

— Isso é pra ele aprender a não mexer com meus amigos! – falou jogando os cabelos para trás.

— Obrigado Katie. – falei agradecendo-a.

— Vem aqui, vai! – ela me abraçou – Você está me devendo por uns dez anos.

— Eu sei! – falei ainda abraçado com ela.

— O plano da Katie entra em ação! –ela disse rindo divertida.

Narrado por Charlie.

Havia se passado exatamente uma semana desde minha conversa com Molly, eu pensei muito sobre, mas ainda não tinha chegado a uma resposta.

A festa de aniversário do Jeff era hoje, e eu pensava como poderia conversar com Tommy e estar na festa ao mesmo tempo?

Só se...

Katie!

— Ai Charlie! Fala baixo, quer me deixar surda? – a loira protestou do outro lado da linha.

— Você tem alguma coisa haver com a visita da mãe do Tommy aqui? – perguntei furiosa.

— Você demorou pra descobrir... – ela riu do outro lado da linha – A gente só quer ajudar vocês dois!

— Eu vou matar você! – a ameacei.

— Você vai me agradecer! Mas por acaso já sabe a resposta?

— Já... mas não vou te contar!

— Ah porque? – perguntou triste.

— Porque foi com a Molly que eu conversei – falei.

— Tá bom, fazer o que! – lamentou – Mass eu preciso desligar, vou me arrumar.

— Tchau Katie! – me despedi, mas antes de desligar ela me disse algo.

— Ah, eu mudei o local da festa, foi de última hora... – disse – Vai ser na casa de praia do Tommy, tudo bem? E obrigada por me ajudar a escolher a decoração, beijinhos. – ela desligou antes que eu pudesse responder com xingamentos.

Só podia ser brincadeira, não é mesmo?

Elas armaram isso, e ainda queriam me jogar naquela casa... Molly não sabia o que havia acontecido ali mas Katie sabia.

Ela sabia que aquele lugar era importante, porque foi ali que eu havia me entregado para aquele idiota.

Droga!

(...)

Olhei no relógio, marcava sete e meia – a festa começaria nove horas.

Bufei.

Eu pensei tanto na resposta, que minha cabeça começava a doer.

Peguei o celular e disquei o número da Molly, com as mãos trémulas.

— Alô? – uma voz doce atendeu educadamente.

— Sou eu, Charlie... – falei – Bem... eu pensei no que me disse. – falei nervosa.

— Ah sim, e o que decidiu querida? – perguntou com curiosidade.

— Eu não posso... me desculpa! – falei engolindo em seco.

— Eu respeito sua decisão querida. – falou compreensiva.

— Charlie? Já estamos indo... – Jas disse entrando no meu quarto.

— Preciso desligar, até mais. — falei recebendo um “beijos, se cuide querida”. – Você está linda! – elogiei Jas que me olhava.

— Você ainda não está pronta? – indagou indignada.

— Eu não vou...

— O que? Fala sério! – ela revirou os olhos – A Katie vai matar você, Char.

— Não me importo! – dei de ombros rindo.

— Tem certeza que não vai? A gente pode te esperar.

— Pode ir Jas! – sorri – E divirtam-se, mas não a ponto de fazer bebês. – falei para irrita-la.

— Cala boca Charlie! – falou rindo – Então eu vou indo.

— Até mais. – acenei quando ela saiu pela porta do meu quarto.

Me joguei na cama, pensando se aquela era a decisão certa a ser tomada.

— Espero não ter feito besteira. – falei pra mim mesma.

Fechei os olhos e acabei me entregando ao sono.