Senti minha cabeça latejando, literalmente. –  Abri os olhos devagar,  fitei o teto que obviamente não era o do meu quarto. –  Senti mãos agarradas a minha cintura, engoli em seco. Virei meu rosto e encontrei Tommy dormindo. – Levei um susto e literalmente pulei da cama, levando um tombo.

— O que porra é isso? – Tommy gritou levantando-se rapidamente.

Notei que ele estava sem camisa, congelei por alguns segundos admirando seu corpo. Seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal.

— O que aconteceu aqui? – levei minha mão a cabeça, pois doía muito.

— Não se lembra? – vi um sorriso safado em seu rosto.

— A gente não? Não né? Eu e você… – seu sorriso alargou-se mais, ao ver meu desespero.

— Sabe como é, Charlie... – ele sorriu malicioso. – A gente só tava curtindo um pouquinho…

— Seu desgraçado! – pulei em cima da cama enchendo-o de tapas. – Você se aproveitou de mim! – ele gargalhava alto. – Eu estava bêbada! – gritei estapeando ele. Tommy segurou meus braços.

— Para Charlie! – tentei me soltar para bater nele de novo. – Você não se lembra de ontem? – Tommy me fitou com curiosidade.

Soltei meus braços de suas mãos, com um pouco de dificuldade.

— Eu… – fiz um esforço para tentar me lembrar, já que ontem eu estava sobre o efeito do álcool. As cenas vieram na minha mente. Eu dançando com Katie, vindo para o quarto com Tommy e tentando beija-lo. –Ah meu Deus! – tapei o rosto com as mãos.

Eu devia estar mais vermelha do que um tomate.

— Charlie... – Tommy veio até mim, tirando minhas mãos do meu rosto. – Não aconteceu nada!

— Mas… que vergonha! – ele sorriu pra mim, sem deboche. Apenas sorriu.

— Eu prometo que não vou contar pra ninguém, até porque você estava bêbada. – olhei-o e ele colocava sua blusa.

— Sério?– ele balançou a cabeça afirmando que sim.

Sentei na cama para colocar meus sapatos.

— Mas foi porque eu não quis! – encarei-o irritada. – Porque se fosse por você… – joguei meu tênis em sua direção, ele desviou e soltou uma gargalhada.

Andamos pela enorme casa, encontrando Cody e Jas em um dos quartos. Eles dormiam abraçados igual aqueles casais apaixonados. Pareciam só dormir, até porque Jas estava vestida e meu irmão também.

— Hora de acordar casal! – Tommy gritou sem cerimonias.

Cody se assustou e levantou subitamente, Tommy ria da cara dele. – Jas abrirá os olhos mais não se levantou.

— Temos que ir! – falei – Precisamos chegar antes que a nossa mãe chegue do plantão.

— É mesmo. – Cody bufou. – Se ela souber que vocês duas ficaram chapadas, ela me mata.

— Eu não fiquei chapada! – revirei os olhos.

— Não ficou pouco! – Tommy sorria debochado.

— Vamos Jas. – Cody tirava um pouco do cabelo do rosto dela, que ainda estava deitada. Ele se aproximou dela, dando um selinho que logo se transformou em um beijo que eles pareciam mais se engolirem.

— Credo, vocês nem escovaram os dentes! – falei fazendo cara de nojo.

— Nojentos! – Tommy completou.

— Invejosos! – Cody disse.

— Vamos embora logo. – Jas falou levantando-se da cama.

Não demoramos muito para saímos da casa do Noah. Cody tentava se lembrar onde havia deixado o carro ontem a noite, ele e Jas discutiam por isso, enquanto eu estava em pé na calçada com os braços cruzados.

— Você devia ajudar seu amigo a achar o carro! – falei quando Tommy parou ao meu lado.

— Ele sabe se virar. – deu de ombros.

— Você é um ótimo amigo em. – ironizei.

— Eu sou ótimo em outras coisas também... – bufei escutando suas palavras – Se quiser eu posso te mostrar…

— Prefiro tacar fogo no meu próprio corpo. – sorri irônica pra ele, que retribuiu com um sorrisinho debochado.

— Seria uma pena estragar um corpo tão bonito. – disse me fazendo corar.

Tentei prestar atenção em qualquer outra coisa quando vi na outra esquina o carro do Cody estacionado.

— Olha lá! – apontei na direção do carro.

— Cody achei seu carro. – Tommy gritou para ele que tinha parado de discutir com Jas.

— Obrigado. – meu irmão passou por nós dando um tapinha no ombro do Tommy.

— Na verdade foi eu que achei! – falei indignada.

Bufei quando vi que não tinha obtido atenção.

(…)

Passei o dia na cama sofrendo do mal da ressaca. Minha mãe perguntará o que eu tinha. Eu falei que era uma enxaqueca. Ela pareceu acreditar, desacreditando.

Decidi que já era hora de sair do quarto, devia ser por volta das oito horas da noite. –  Eu descia as escadas sem pressa. Vi Tommy deitado no sofá, ele usava apenas uma bermuda, deixando a mostra seu tórax e abdômen definidos. Eu mordi os lábios observando-o da escada.

— Charlie tô indo na casa da Jas. – escutei Cody dizer, não deu tempo de virar, pois ele já havia passado por mim, correndo pelos degraus.

— Novidade. – falei sem animação – Manda um beijo pra ela.

— Pode deixar! – gritou passando por Tommy, eles fizeram um toque com as mãos.

Eu segui para cozinha. Comecei a preparar um sanduíche de presunto e queijo. Coloquei-o em um prato, deixando em cima do balcão. Me virei, abrindo a geladeira e me servindo com um pouco de suco.

— Faz um desse ai pra mim. – escutei a voz rouca de Tommy, virei para ele que me olhava.

— Faz você, folgado! – coloquei o copo em cima do balcão, perto do meu sanduíche, virei para fechar a geladeira.

Quando voltei minha atenção para Tommy, ele estava com meu sanduíche na mão, e tinha acabado de dar uma mordida.

— Fala sério! – revirei os olhos.

Ele deixou o sanduíche em cima do prato.

Fitou-me

— Eu já disse pra você… – interrompi.

— Não revirar os olhos! – bufei – O que você vai fazer em?

— O que eu vou fazer? – um sorriso malicioso rapidamente apareceu em seus lábios. Ele deu um passo a frente se aproximando de mim, fiquei imóvel. Ele mordeu os lábios, parecia pensar no que faria comigo…

A campainha tocou, e eu não sei se agradecia ou praguejava a pessoa.

Sai rapidamente de perto dele, passei pela sala, logo depois abri a porta.

— Katie? –  ela estava usando óculos escuros, devia está de ressaca também.

— Oi Charlie. – sorriu e eu retribui. – Não vai me convidar pra entrar?

— Ah, claro! – dei passagem, assim que Katie entrou, fechei a porta.

— O que você está fazendo aqui? – Tommy vinha caminhando da cozinha comendo meu sanduíche e tomando o meu suco.

— Vim ver a Charlie. – olhei-a surpresa.

— Katie, não é por nada não… Mas como você descobriu meu endereço? –  ela voltou sua atenção para mim.

— Com o Jeff. – falou jogando os cabelos para trás.

— Ele é o da vez? – Tommy se intrometeu na nossa conversa.

— Que foi, você está com ciúmes? –  perguntei com uma sobrancelha levantada.

— Dela? – um sorriso debochado apareceu em seus lábios. – Eu não tinha nem quando nós namoravamos, imagina agora! Sem ofensas Katie.

— Não me importo! –  deu de ombros e tirou seus óculos.

— Nossa. – Tommy a olhou. – Você está horrível!

— Cala boca Tommy! – Katie fez uma cara feia.

— Vem, vamos para o meu quarto. – puxei-a pela mão. – Aqui ele vai ficar se intrometendo na nossa conversa.

— Eu queria me intrometer em outra coisa! – virei-me e dei o dedo do meio para ele  – Que coisa feia, Charlie! – escutei sua gargalhada debochada.

Bati a porta do quarto com força.

— Ele me tira do sério! – bufei, sentando-me na cama.

— Percebi... – Katie tinha um sorrisinho sarcástico no rosto. – É essa ligação de vocês…

— De novo isso? A única ligação que nós temos é a de ódio… –  Katie levantou uma sobrancelha.

— Ah claro! – sorriu irônica – Vocês não me enganam, Charlie!

— É mesmo? –  ironizei.

— É! Eu sei que tem uma atração ai... – olhei incrédula para ela. – Atração fatal.

— Katie, não! – comecei a rir das coisas que ela estava falando.

— Ta bom. – deu de ombros – Você pode mentir pra mim, mas pra você não.

Revirei os olhos.

— Vamos parar de falar de mim? –tentei mudar de assunto. – E você e o Jeff…? Eu vi vocês se beijando.

— É… – Katie pareceu meio triste.

— O que foi? – perguntei preocupada – o que ele fez?

— Nada, é só que… – fez uma pausa e soltou o ar – Eu sei que o Jeff não me leva a sério e que ele acha que eu não presto…

— Não, ele não acha isso! – tentei anima-lá.

— Eu sei que ele acha. – bufou desanimada.

Eu e Katie continuamos conversando por horas. Mudei totalmente minha opinião sobre ela, vi o quanto ela era legal e percebi que a única coisa que fazia nós não nos gostarmos era Tommy.

Meu celular começou a tocar, olhei no visor para saber quem era. Me surpreendi ao ver escrito Scott.

— Alô? – falei

— Oi Charlie, sou eu Scott…

— Eu sei – interrompi ele – Achei que não me ligaria mais…

— Eu disse que não ia desistir de você, não é?!

— Foi! – sorri feito boba. Katie me olhava atenta.

— Então… – escutei ele rindo do outro lado da linha. – Queria te chamar pra sair, pode ser amanhã?

— Pode! – Katie grudou seu ouvido no meu celular. – Mas amanhã é domingo… dificilmente vai ter algo aberto…

— A gente pode ficar na pracinha, só queria te ver mesmo Charlie. – Katie deu um sorriso e pelo o que pude entender ela disse “ai que fofo” apenas mexendo os lábios.

— Ta bom. – falei – tá marcado…

— Tenho que desligar, até amanhã.

— Beijos..

— Beijos Charlie – e ele desligou.

— Você tem um encontro! – Katie gritou e deu pulinhos de alegria – A gente precisa escolher sua roupa porque já é amanhã…