A Vingança II escrita por mazu


Capítulo 12
Fim?




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Recupero a consciência e me levanto num pulo. Estou cercado de médicos e enfermeiros que me encaram preocupados.
–O que eu perdi? -Pergunto os encarando.
Um dos enfermeiros pega uma lanterninha, verifica os meus olhos e depois me encara sorrindo.
–É... Bem vindo de volta à vida, Senhor Maruyama.
–O quê? Como assim?
–Você teve um desmaio e bateu a cabeça muito forte. -Um médico explica e eu olho ao redor, estou em uma ambulância, ela está parada e com as portas abertas.
Levo alguns segundos pra me lembrar do que estava acontecendo antes do meu desmaio. Me apresso pra tentar sair dali mas fico zonzo e uma enfermeira me segura para que eu não caia.
–Calma, está de volta à vida mas isso não quer dizer que possa fazer tanto esforço.
–Desculpe mas estou preocupado com meus amigos.
–Não precisa! Deixe-me lembrar os nomes... Ren Sakamoto e a esposa Mina Nomura foram pro hospital, Shinji Hasegawa está pronto pra ir na ambulância ao lado, sua esposa e seu filho foram levados para casa pelos polícias, Erin Black continua aqui e Austin McWhite também foi para o hospital.
–Certo... E Seiji Yamada? Alguém sabe dele?
–Ele foi encontrado sangrando muito então o atendimento teve que ser por aqui mesmo. Só não sei se ele foi levado ao hospital, se ficou por aqui... Realmente não sei, desculpe. -O médico responde e eu balanço a cabeça positivamente.
Que bom que tudo acabou, pelo menos agora vamos ter um pouco de paz. Só não sei como explicarei isso pra Ryo e pra Victoria.
É nesse momento que cai a ficha. Não sei onde Seiji está, se está vivo ou morto. Elizabeth morreu, um dos meus melhores amigos foi torturado, levou facadas e teve um de seus braços quebrados, o outro amigo foi possuído por um Anjo, que desconfio ser o meu irmão... Também morto. Meu filho... Que foi possuído não sei pelo o quê... Sinceramente. Não dá mais!
Saio da ambulância bem devagarzinho pra evitar outra crise de tontura. Haviam 3 ambulâncias e 6 carros de polícia na frente do salão de festas. Erin estava encostada numa das ambulâncias, com um cobertor jogado por cima dela. Me aproximo de mansinho e ela me abraça.
–Que bom que está bem! Que bom mesmo. -Ela começa a chorar.
–Calma... Se acalma, eu tô bem. E o Shinji? Como ele está?
–Não muito bem mas... Vai ficar melhor.
–O que aconteceu depois que apaguei? Cadê Miya?
–Ela se foi... Olha eu gostaria muito de te explicar tudo mas agora não é hora. Você claramente não está bem, não preciso encher a sua cabeça com isso.
Encher minha cabeça? Ainda mais? Impossível.
–Por favor, Erin! Me conte.
–Não! Se quiser outro dia eu conto, mas hoje eu quero que você descanse.
–Senhorita Black, estamos partindo! -Uma enfermeira ao nosso lado avisa e ela me abraça de novo.
–Tenho que ir, vou acompanhar o Shinji. Vá pra casa e se cuide, viu?
–Tem certeza que não quer que eu vá com vocês?
–Tenho, pode ir pra sua casa. Se não conseguir peça a um dos policiais para que te levem.
–Certo, tchau. Me mande notícias.
–Pode deixar, tchauzinho!
Ela entra na ambulância e a enfermeira fecha a porta.
Não há nada mais que eu precise fazer por aqui.
Quando estava prestes a ir embora um dos policiais me para.
–Olá senhor Maruyama, gostaria de uma carona?
–Não, muito obrigado mas meu carro está logo ali na frente.
–Certeza? Parece cansado.
–Tenho, obrigado por se preocupar... Precisa de algo?
–Ah não... Agora não! Vá pra casa, descanse e amanhã resolvemos isso, certo?
–Certo então! Boa noite.
–Boa noite.
Sigo o meu caminho até o carro, entro nele e o ligo.
Tiro os sapatos que estão apertando meus pés, vejo que neles há ataduras. Meus pés pararam de doer, pelo menos isso.
Pego a rua à esquerda e aos poucos vou me afastando daquele lugar.
Sigo a reta até minha casa porém, no último minuto eu mudo a rota. Atravesso a rodovia e vou pelo primeiro caminho que vejo. O que estou fazendo? Não sei! Nunca estive tão perdido mentalmente.
Vejo meu celular sobre o banco do carona, o pego e ligo para o contato de nome "Casa".
–Alô? -Ryo atende e eu dou um sorriso.
–Oi filho, sou eu. Tudo bem?
–Oi papai, tudo. Cadê você?
–Eu... é... Ryo, onde está sua mãe?
–Ela tá conversando com um policial.
–Entendi... Ela está bem?
–Sim.
Vejo no meu relógio que já passou da meia noite. Hoje, é aniversário de Ryo.
–Então... Feliz aniversário, parceiro. Eu te amo tá?
–Papai você não vai vir pra festa?
–Eu... -As lágrimas começam a rolar pelo meu rosto mas eu tento disfarçar ao máximo para que ele não escute a minha voz chorosa. -Eu... Não sei se vou chegar à tempo.
–Por favor, tenta! Eu quero você na minha festa.
–Pode deixar filho, agora vai dormir, viu? Tá muito tarde, não é hora de criança estar acordada.
–Tá bom, boa noite pai.
–Boa noite filho.
–Eu te amo.
–Também te amo... Fala pra mamãe que eu também amo ela e que sinto muito.
–Porque?
–Não posso falar agora, estou na estrada. Tchau tampinha.
Encerro a chamada e permito que as lágrimas desçam com sua intensidade normal.
Eu estou tão perdido.
Só vejo um fim pra isso.
Uma pressão no meu peito torna-se esmagadora, sufocante. Eu, desajeitadamente, tiro a blusa branca que um dos médicos vestiu em mim e a jogo no banco de trás. Não adianta, a pressão continua a me sufocar e tudo que consigo fazer é chorar.

Depois de bastante tempo dirigindo finalmente paro o carro. O estaciono em baixo de uma árvore e desço dele.
Agora são 1 da manhã, está frio e não escuto nenhum barulho sem ser o da mata e dos animais.
Eu estou no meio do nada, literalmente. Não há casas, nem luz, nada por perto. Só uma enorme ponte logo à minha frente, tudo o que preciso.
Me aproximo dela e aos poucos começo a reconhecer esse lugar. Já o vi várias vezes na televisão, muitos banhistas morrem aqui por causa da profundidade e da correnteza do rio, tanto que ele já foi considerado extremamente perigoso e impróprio para banho.
Aproveito que o lugar está praticamente abandonado, me deito no meio da ponte com a barriga pra cima e fico observando as estrelas.
Começo a lembrar aos poucos de tudo o que aconteceu. Desde que nasci minha vida é uma série de desastres. A morte me persegue aonde quer que eu vá, toma de mim todos que amo e parece sempre dizer "você é o próximo". Isso nunca vai acabar? Eu nunca vou ter sossego?
Volto a chorar.
Lembro do pesadelo que tenho quase todos os dias, na verdade não é um pesadelo e sim uma lembrança. Eu e meus pais indo passear... Eu não sabia aonde, eles queriam me fazer surpresa. Eu só reclamava o tempo inteiro, queria chegar logo e isso estava irritando meu pai. Teve uma hora na qual ele se virou para brigar comigo, como ele estava dirigindo não estava prestando atenção na pista e sim na minha bobeira. Quando se virou novamente pra estrada outro carro estava vindo na nossa direção e não deu tempo de desviarmos. Batemos com tudo no outro carro.
Eu desmaiei e quando acordei meu pai estava com a cabeça caída pro lado e minha mãe me encarando pra saber se estou bem. Eu era pequeno naquela época, não tinha noção do que havia acontecido, não tinha noção de que meu pai já estava morto.
Alguma coisa havia atravessado o corpo da minha mãe mas ela não me deixava ver. Ela ficou ali, lutando pra permanecer acordada e não me deixar sozinho. Eu só via o sangue dela escorrendo e aquilo estava me assustando.
Minha mãe disse que íamos ficar bem. Ela era uma péssima mentirosa, mas eu acreditei.
Quando os bombeiros chegaram eu fui o primeiro a ser resgatado dos escombros do carro. Eu e minha mãe estávamos de mãos dadas e quando o bombeiro me puxou nossas mãos se soltaram. Só vi a minha mãe apagar. Ela havia morrido. Aguentou até os últimos segundos, ela não me deixou sozinho nem quando estava por um fio.

O bombeiro ficou me distraindo, fazendo perguntas e brincando comigo enquanto retiravam os corpos sem vida dos meus pais. Ele não queria me deixar ver aquilo, disse que eu não precisava ver. Também disse que tudo ia ficar bem, dessa vez... Não acreditei.

A morte do meu tio (e pai adotivo) Takashi também foi horrível. Eu e Seiji estávamos jogando um jogo de cartas na sala, tio Takashi estava assistindo televisão e Ryo dormia no quarto.
Me lembro de Seiji dizer que havia ganhado e o pai dele começou a reclamar de uma dor no peito.
Eu e Seiji não sabíamos o que fazer, eramos pequenos. Nos aproximamos dele e ele pediu para ligarmos para a ambulância. Seiji começou a chorar e eu fui correndo procurar o telefone. Corri pela casa inteira mas não achei a droga do telefone. Entrei no quarto de Ryo batendo a porta e acendendo as luzes, o que acabou o assustando. Não tinha tempo de tranqulizá-lo, precisava achar o telefone. O achei em cima de uma das cômodas do quarto e corri pra sala enquanto discava o número da emergência.
Quando atenderam eu disse que precisava de ajuda e o endereço. Mas foi muito tarde, quando a ambulância chegou meu tio já estava morto. Eu chorava, Seiji também.

Parando pra analisar eu tive culpa em todas as mortes. Se não fosse a minha birra e nem minha incompetência em procurar um simples telefone, hoje meus pais e meu tio estariam vivos.
Isso acaba comigo.
Se eu estivesse cuidando de Ryo como era pra estar ele não teria se afogado.
Seiji agora não estaria desaparecido se eu não tivesse ido embora... Eu sou um fracasso de ser humano.
Consegui milhões de fãs mas mesmo assim me sinto solitário. Um dos escritores mais bem sucedidos do mundo, mas mesmo assim um perdedor.
Apenas um perdedor.

Minhas brigas com a Victoria se tornam cada vez mais constantes. Ela não merece isso, a droga de um casamento infeliz com um marido fracassado. Não importa o que eu faça, o quanto eu conquista. O fracasso está grudado na minha pele, me corroendo como um ácido.
Todos ficarão bem melhores sem mim, eu só trago tristeza, morte e sofrimento.
Tiro o telefone do bolso e verifico as horas pela última vez. Uma e quarenta e cinco da manhã. Vejo que há uma mensagem então resolvo abrí-la.
"Hiroshi,

Cadê você? Por favor, venha pra casa. Precisamos de você... Eu preciso de você."
A mensagem é da Victoria.
"Desculpa, mas eu não posso. Eu nunca me encaixei nesse mundo, a morte e a tristeza me acompanham aonde quer quer eu vá. Você, Ryo e nem ninguém merece isso."
Respondo e largo o celular no chão.
Me levanto, sento na beirada da ponte e fico encarando aquela água escura cheia de pedras enormes.
Se eu soubesse que esse seria o resultado de tudo talvez eu tivesse feito diferente... Maldito tempo que não dá pra se voltar atrás.
Dou um grito tão alto que a minha garganta dói. Grito de dor, de agonia. Simplesmente não aguento mais.

Balanço a cabeça para afastar os pensamentos, não é hora de pensar, é hora de agir.
Fico de pé e me viro para ficar de costas para esse lado do rio. Não quero ver, apenas sentir.
Eu realmente vou fazer isso?

Vou.

Aos poucos vou me inclinando para trás até que perco de vez o equilíbrio e me vejo em queda livre.
A sensação, por mais estranho que pareça, é revigorante. Aquele frio na barriga... É bom se sentir um pouco vivo quando se está pra morrer.
Finalmente meu corpo se choca com a água. Ela está gelada então sinto uma espécie de choque.
Dou um grito em baixo d'água, isso foi extremamente incrível.
Como previ, o invés de ser puxado pra cima eu continuo a afundar cada vez mais. Como está de noite a água está escura e não consigo ver nada.
Aquela pressão no meu peito volta e eu começo a chorar em baixo d'água. Aqui estou sozinho por completo, ninguém me vê, ninguém me escuta.
Depois de alguns segundos a água começa a inundar meus pulmões. É a hora.
Eu só espero que um dia todos possam me perdoar...


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