Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Cheguei oo/



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Eu me preparava sozinha para o cortejo, Leila estava atrasada por algum motivo e eu não quero me atrasar também. Ao me olhar no espelho, percebo que Hur me observava durante muito tempo. Coloco o espelho em seu devido lugar, mas sinto o olhar de Hur na minha direção. Quando volto a me olhar no espelho novamente, vejo que Hur ainda me observava.

—Pare de me olhar assim. —Falo sem graça. Não é a primeira vez que pego Hur me observando, já percebi o quanto ele me olhava em outras ocasiões.

—Não consigo. —Hur responde ainda olhando para mim. Somos interrompidos por Leila e Bezalel, ambos já estavam devidamente arrumados para o cortejo. Diferente de mim que ainda não estou com a maquiagem dos olhos pronta.

—Vovô! —Bezalel fala ao ver Hur.

—Me desculpe, tive problemas. —Leila fala ao se aproximar de mim. Me alegro ao ver Hur e Bezalel brincarem e acabo imaginando Hur fazendo a mesma coisa com nosso filho. —Se sente bem?

—Ansiosa. —Ao falar sinto meu filho se mexer no meu ventre novamente.

—Todos os nobres já se posicionam para o cortejo, princesa. —Leila me avisa e se apressa o mais rápido que pode para preparar a pintura. Minha veste é levemente macia, por causa da gravidez eu evito vestes justas e jóias pesadas. —Feche os olhos. —Leila pede e começa a pintura dos olhos.

Ultimamente venho usando um azul mais escuro, porém não abro mal de usar a cor que mais tenho apreço. Me lembro bem o forte motivo de sempre usar essa cor, parece que foi ontem que meu pai e eu falamos sobre isso...

Flash Back On

Meu pai observava todo o Egito enquanto estava no terraço. Notei que minha mãe não estava nos aposentos e então resolvi surpreender o meu pai. O Egito estava em guerra, mas eu tinha apenas dez anos quando vi meu pai temer pela sua própria queda, todavia ele conseguiu fazer que um momento de medo se tornasse um dos mais belos e raros momentos entre pai e filha.

—Henutmire! —Meu pai exclama ao sentir o meu abraço. —Não devia estar no harém?—Ele pergunta preocupado.

—Deveria, pai. Mas eu prefiro ficar ao seu lado. —Ele se calou ao ouvir minhas palavras. Passamos uma curta fração de segundos nos observando, talvez "conversando" apenas com os olhos.

—Veja, minha filha. —Meu pai fala e olha para a paisagem. Meu olhar segue o dele e logo me deparo com todo o Egito.
—Tudo isso é seu. —Ele fala e segura a minha mão. —O céu também é seu. —Me assusto ao ouvir tais palavras.

—Ele é azul. Os deuses assim o fez. —Respondo.

—Ele é azul, assim como seus olhos. —Ele ressalta. —Por isso ele é seu. —Meu pai gesticula com as mãos ao me explicar. —Os deuses arrancaram um pouco deste azul para dar cor aos seus olhos. —Suas mãos pousaram em meus ombros. Senti que meu pai queria falar algo, mas nada falou, ele apenas me olhou e sorriu.

—O senhor nunca mais jogou Senet comigo, eu agora vivo dançando no harém. —Me queixo e ele dá a sua gargalhada de sempre.

—Você está crescendo. —Ele fala na defensiva. —E vai poder me orgulhar de outra forma. —Ele ressalta. Sou surpreendida por suas mãos fortes em minha cintura, rapidamente sou suspendida para o alto.

Era a melhor sensação que eu poderia viver e sentir. Eu me sentia dona do mundo, soberana do Egito, a favorita de meu pai. Eu sorria todas as vezes que abria os olhos e me deparava com uma paisagem diferente. Antes era o Egito, agora vejo as cortinas brancas sendo jogadas contra si próprias e minha mãe na entrada dos aposentos me reprovando com seu olhar, mas sorrindo ao me ver nos braços de meu pai.

Flash Back Off

—Princesa? —Leila chama por mim. —Já terminei. —Ela fala e eu abro meus olhos.

—Ficou linda. —Bezalel ressalta envergonhado.

—Ele está envergonhado... —Leila começa a falar enquanto Hur e Bezalel conversavam. —Mas ele já considera a senhora como avó.. —Me surpreendo ao ouvir Leila. —Vai usar alguma jóia em especial? —Ela pergunta.

—O bracelete de pedras coloridas. —Respondo.

—Ele estava prestes a entrar quando cheguei. —Leila fala me deixando confusa. Ele? —Ele... —Ela ressalta e eu entendo. Se trata de Gab, o príncipe inoportuno. —Mas eu pedi que ele não incomodasse.

—Fez bem. —Coloco o bracelete e noto todos os olhares em mim. —Como estou? —Pergunto de pé.

—Mais bela que a própria Ísis, vovô. —Bezalel fala tímido.

—Bezalel tem razão. —Hur ressalta ao me olhar por completo.

—Eu já estou pronta para ser cortejada. —Falo para Leila após suspirar. Além de me emocionar com Bezalel, sinto meu filho se agitar novamente. O que será que está acontecendo com meu filho?

(...)

—Pronta? —Escuto Hur perguntar enquanto estou na liteira sendo carregada por quatro homens.

—Sim. —Respondo. Ao olhar para o lado vejo Gab, ele me observava como se me esperasse olhar para ele.

—Princesa... —Gab fala. Eu não respondo, apenas o olho tentando me controlar. A vontade que eu tenho é de gritar alto o que ele realmente é, mas agora não é o momento.

Enquanto Paser falava, eu tentava esquivar o meu olhar de Gab. Mas ele parecia me vigiar, então resolvi olhar para Hur, mas ele não estava mais ao meu lado. Vejo apenas Leila e Bezalel ao meu lado, nem mesmo Uri estava estava por perto. Para onde Hur foi?

—Tirem essa louca daqui! —Ouço Ramsés falar bravo. Tento entender o que pode estar acontecendo, mas não consigo ver nada.

—O que aconteceu? —Pergunto para Leila. Rapidamente vejo dois guardas retirando Yunet do cortejo. O que ela está fazendo aqui?

Senti todos os olhares se voltando para mim, todos temiam pela minha reação. Yunet olhou para a minha barriga e soltou um sorriso diabólico para mim. Procurei por Hur novamente, mas não o encontro em lugar algum.

—TIREM ELA DAQUI! —Ramsés ordena bravo. Seu grito só não foi mais alto que o meu, o grito de dor que avisa o nascimento do meu filho. Todos me olham assustado e rapidamente os escravos descem a minha liteira.

—O que aconteceu?—Paser pergunta enquanto respiro fundo.

—Aconteceu que o príncipe quer nascer, mestre. —Simut fala nervoso. —Pelos deuses, nascer justo no cortejo.

—Precisamos voltar para o palácio. —Ouço Leila falar. Sinto um líquido quente escorrer por entre minhas pernas, então é agora, meu filho realmente irá nascer.

—Onde Hur está? —Pergunto assustada. Hur despareceu repentinamente da minha vista, o que aconteceu com ele? —Procure por Hur, Leila. —Peço angustiada.

—Meu sogro não vai ajudar a senhora agora, princesa. —Leila fala a verdade. Ela tem razão, Hur não poderá ficar ao meu lado na hora que nosso filho nascer.

(...)

Paser pedia para que todos saíssem do caminho enquanto Ramsés me carregava em seus braços. Eu posso sentir minha veste azul molhada em minha pele me fazendo temer as dores que sempre se vão e voltam.

—Leila? —Chamo por minha dama. Ela aparece rapidamente e eu seguro a sua mão. —Procure Hur. Eu não o vejo desde o cortejo. —Ela não me responde, mas me olha preocupada.

—Serei mais útil ao seu lado, princesa. —Ela tem razão ao falar isso. Não tenho ninguém para me dar apoio além da parteira e da própria Leila.

Quando Ramsés entrou comigo em meus aposentos e me colocou em minha cama, rapidamente senti Leila retirar minhas jóias. Vi Paser falar algo para Ramsés, e isso fez com que ele saísse rapidamente dos meus aposentos. Algo aconteceu com Hur, mas ninguém ousa em me falar.

—Faça força no momento certo. —Ouço a parteira falar.

—Quando é o momento certo? —Pergunto para Leila. Eu me senti uma criança perguntando algo para sua mãe, mas rapidamente me esqueço disso ao sentir uma dor ainda maior.

—Agora. —Leila responde. Fechei os meus olhos ao fazer força, mas logo noto que nada mudou, a dor ainda me atormenta. —Respire, princesa... —Leila pede ao passar um lenço em meu rosto por causa do suor.

Algo me diz que Hur está passando por algum constrangimento, sinto que ele está precisando de mim. Mas eu não posso ajudar ele... Pela primeira vez não poderei defender Hur, mas defender de que?

—Seu filho é ousado, princesa. —Leila argumenta sorridente. —Ele interrompeu um cortejo.

—Isso me parece um bom sinal enviado pelos deuses, senhora. —A parteira fala plena de orgulho. —Essa criança é uma obra prima enviada pelos deuses. —Ao ouvir tais palavras, sinto uma lágrima de dor e orgulho traçar o seu caminho em meu rosto.

A dor voltava aos poucos, mas desta vez com mais intensidade. Agora eu sei bem o que Joquebede sentiu ao dar a luz aos seus três filhos. Seus três filhos... Miriã é filha de Joquebede, irmã de Moisés. Sinto medo ao lembrar o que Hur fez com Miriã, mas mais medo tenho ao não saber onde ele está. Seria possível Hur fugir do palácio para ficar ao lado de Miriã?
Ouço a parteira me falar algo, mas eu não consigo entender muito bem o que ela fala.

—Agora!—Ouço Leila pedir. O meu gemido de dor fez Leila me olhar com pena, algo está dando errado e esse algo impede que meu filho nasça.

Leila e a parteira me deixam sozinha e vão conversar privadamente próximo a janela do meu quarto. Suspiro pesadamente ao imaginar o assunto da conversa, talvez a criança nasça morta e elas têm medo em me revelarem isso. Vi o semblante sério de Leila ganhar um sorriso forçado.

—Eu sinto muito, princesa. —Suas palavras fizeram meu coração acelerar, apenas esperando o pior. —Mas a criança... —Leila olha para a parteira como se pedisse alguma autorização. —Está atravessada. —Ela finaliza. —Precisaríamos esperar a criança ficar na posição correta...

—Isso demora? —Pergunto para a parteira.

—Sim. —É a única palavra que sai de sua boca.

—Mas e se ela não ficar na posição correta? —Pergunto ao imaginar o pior. Não foi preciso ninguém responder, o silêncio respondeu o que eu precisava saber. —Leila...—Falo com a voz embargada. —Avise para Hur que nosso filho não nascerá hoje. —Foram as únicas palavras que consegui falar.

—Mas, princesa... —A parteira interfere penosa.

—Avise à Ramsés também. —Falo sem se quer olhar para Leila. Com as dores que sinto e a decepção em saber que não terei meu filho com vida em meus braços me fazem chorar ao ponto de fazer Leila dar as costas para não me ver sofrer.

—Vamos tentar. —A parteira tenta me convencer, mas ela se cala ao ouvirmos fortes batidas na porta. —O que foi isso?

—HENUTMIRE! —O grito de Hur me deixa assustada, mas ao mesmo tempo aliviada.

—O que eu faço? —Leila pergunta assustada. Eu faço um sinal positivo para a parteira e ela entende o que peço. Eu vou dar para Hur o filho que ele tanto deseja, eu vou dar ao Egito o príncipe que ele precisa.

Flash Back On

—O rei não vê a hora de vê-la se tornar uma mulher. —Paser fala me fazendo sorrir de felicidade.

—O desejo do rei foi realizado. —Minhas palavras causaram espanto em Paser, mas fez Disebek sorrir.

—Quer dizer então que...—Paser não termina a frase.

—Estou grávida. —Revelo.

Flash Back Off

A lembrança me fez fazer força como Leila pediu. Eu não devo dar atenção para os filhos que perdi, mas devo me esforçar para trazer este que espero ao mundo. Toda a minha raiva e medo de falhar novamente me faz criar força, força a qual preciso para dar a luz.

—Quanto tempo ela está aqui? —Ouço Hur perguntar. Em seguida ele bate novamente contra a porta com desespero.

—Você não pode entrar! —Ouço Nefertari falar, mas seu aviso só faz Hur bater contra a porta novamente.

—Eu prometi que cuidaria dela. —Hur relembra os nossos votos de casamento.

Flash Back On

—Que os deuses protejam esse matrimônio. —Ramsés deseja com as mãos sobre nós.

—A minha proteção será o suficiente para nós dois. —Ele fala ao entrelaçar nossas mãos. —Eu irei te proteger como Ísis protege Osíris.

—E eu te amarei pelo resto da minha vida. —Falo.

Flash Back Off

O meu grito de dor cessou após ouvir um choro forte e estridente ser dado. Era o choro de meu filho, o seu primeiro choro. As batidas fortes na porta e a conversa do lado de fora cessaram ao ouvir o choro do meu filho, todos já sabiam que, por fim, ele nasceu.

—É um menino. —Leila revela com lágrimas nos olhos. A parteira por fim me entregou o meu filho. Eu tremo ao sentir meu filho em meus braços, choro de alegria ao ver o quanto ele é forte.
Eu beijei a sua minúscula mão e me sorri ao ver dobrinhas pelo seu corpo simbolizando o quanto ele é forte, o quanto ele é grande.

—Por acaso era você quem me chutava todos os dias?—Pergunto ao me lembrar de todas as vezes que o senti de mexer dentro de mim. —Você se parece tanto comigo...

—Foi como eu disse. —Leila relembra a nossa conversa no harém. —Como ele vai se chamar?

—Djoser. —Respondo.—Príncipe Djoser...


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Notas finais do capítulo

Chora não bebê



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