Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 5
Capítulo 5




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Nefertari e Karoma conversavam sobre algo cujo não dou importância alguma. Eu apenas penso sobre o sonho assustador que Ramsés teve. Paser poderia ajudar a desvendar este sonho, mas ele recusa. Se este sonho se realizar, não será a primeira vez que uma princesa egípcia governa o Egito após a morte do rei. Mas de qualquer forma eu prefiro não ficar na expectativa da morte de Ramsés e seu primogênito para que eu possa governar o Egito. Aliás, eu não consigo imaginar o dia que eu irei "governar" o Egito.

—Henutmire? —Ouço Nefertari me chamar. Todo o harém parecia esperar eu falar algo. —Voltem a seus afazeres. —Ela ordena e volta suas atenções para mim. —Está preocupada com Hur por causa de Gab?

—Não. —Respondo secamente.

—Se ainda pensa que Ramsés pretende separar você de Hur... —Minha cunhada para de falar assim que me vê acenar em sinal de negação. —Então...?

—É sobre o futuro. —Falo e volto as minhas atenções para o meu ventre crescido.

—Não devemos nos preocupar. —Nefertari fala com tranquilidade. Entre o seu ventre e o meu, me parece que meu filho nascerá antes. —Nossos filhos serão príncipes da maior e mais poderosa nação entre todas as nações, Henutmire. —Ao escutar tal coisa, lembro-me de meu pai.

O rei esperava que seu primeiro filho fosse um homem, todavia não se desapontou ao me receber como filha. Ele não se importava com as críticas sobre seu único herdeiro ser mulher. Mas se o tão estrondoso sonho de Ramsés se tornar realidade, será muita ironia.

—Com toda a certeza o seu filho nascerá primeiro. —Nefertari fala ao olhar para a minha barriga. —Já imagino os dois aprendendo arco e flecha com Ramsés. —Nefertari fala ao fechar os olhos e acariciar o seu ventre.

—Quem sabe. —Falo pensativa. Eu ainda me preocupo com a ideia de ter um filho homem, algo me diz que eu devo me preocupar.

—Não acredito... —Nefertari fala ao olhar para a entrada do harém. —Gab se aproxima, Henutmire. —Ela me alerta.

—Minha rainha... —Gab faz uma reverência à Nefertari. Desvio o meu olhar de Gab e me afasto para que ele não tenha o cabimento de falar comigo. —O rei pediu que a chamasse para ir até a sala do trono. —Senti o olhar preocupado de Nefertari ser lançado em minha direção.

—Ah, Leila. —Nefertari fala aliviada ao ver a minha dama de companhia chegar. —Você e Karoma podem fazer companhia para Henutmire. Ramsés me aguarda na sala do trono.

—Não acha melhor eu acompanhar a senhora? —Karoma questiona a vontade de Nefertari.

—Henutmire precisa mais de você do que de mim, Karoma. —Nefertari fala. —Podemos ir. —Ela fala ao olhar para Gab. Noto que ele pretendia ficar e me atormentar com sua presença, mas é praticamente obrigado à acompanhar Nefertari.

—Até mesmo a rainha Nefertari percebeu o atrevimento do príncipe Gab, princesa. —Leila sussurra ao ver Nefertari e Gab se distanciarem.

—Seja um pouco mais discreta. —Peço ao ver o interesse de Karoma na conversa. —Este harém têm ouvidos...—Ao falar isso Karoma se afasta de nós com descrição.

—Fico feliz que tenha se afastado dele, princesa. Pedi tanto isso à Deus. —Leila fala. De imediato olho para Leila, surpresa ao ouvir a própria falar sobre o Deus dos hebreus. —Perdão.

Talvez o pedido de Leila tenha sido mais eficaz ao ser atendido pelo Deus invisível dos hebreus do que todas as preces que fiz aos meus deuses durante toda a minha vida. Chego a pensar que esse Deus sem nome e sem rosto seja o responsável pelo milagre que aconteceu sobre mim...

— Não estou lhe censurando, Leila. —Falo.

—Não? —Leila pergunta assustada.

—Eu nunca faria isso, Leila. Mas procure não falar muito do seu Deus em voz alta, não é adequado. —Aconselho. Se Ramsés ouvisse Leila falar deste Deus com certeza a castigaria.

Moisés abriu mão de todos os deuses egípcios para adorar somente um Deus, mas até hoje não se sabe sobre o paradeiro de Moisés.
Hur e Uri são casos completamente diferentes, ambos abandonaram suas crenças para se tornarem egípcios. Mas e o filho que espero? Ele será um príncipe, mas terá sangue hebreu nas veias.

Não gosto de me recordar sobre a conversa que tive na sala do trono com Ramsés. Aquela conversa me deixa atormentada todas as vezes que desperto de manhã e vejo que está ainda mais perto o nascimento do meu filho.

—A senhora ainda não me disse os nomes que têm em mente. —Leila fala com curiosidade. Ela me fez ficar empolgada ao tocar no assunto. —Não vejo a hora de ver a senhora com sua filha nos braços.

—Filha? Então concorda comigo que será uma menina? —Pergunto contente.

—Apesar de todos no palácio desejarem que seja um menino. —Ela fala me desapontando. —Se for mesmo uma menina, qual será o nome dela?

—Anippe. —Respondo. —Que os deuses me dêem uma filha ao invés de um filho.

—Por que tem essa preferência por uma menina? —Leila pergunta preocupada. —Se for um menino irá se parecer com a senhora.

—Como?—Pergunto assustada.

—Quero dizer que todo filho homem se parece mais com a mãe. Da mesma forma que toda filha mulher se parece com o pai. —Leila explica. Eu devo ter terras escutado algo sobre isso enquanto minha mãe estava grávida de Ramsés...—Imagine um rapaz com os olhos da mesma tonalidade que os seus, princesa. —Leila acaba me fazendo rir com seu comentário. —É verdade que teremos um cortejo? —Leila pergunta mudando de assunto. Cortejo? Eu não estou sabendo de nada...

—Quem falou isso? —Pergunto.

—Há boatos sobre o rei estar preocupado com a proteção dos deuses, e por isso fará um cortejo onde todos os egípcios e nobres do palácio irão homenagear os deuses. —Ela fala. Eu não sabia de nada sobre isso até agora, mas com certeza isso deve ser verdade. Ramsés está perturbado com o sonho que havia me contado.

—Pode ser que seja verdade. —Falo com dúvida.

—E a senhora vai? —Leila pergunta assustada. —Nem a senhora nem a rainha deveriam sair do palácio.

—Você por acaso tem medo que os deuses me façam mal ao sair do palácio? —Pergunto e recebo um olhar temeroso como reposta. —Nada de mal vai acontecer.

—Acho inadequado de qualquer forma. —Leila insiste. —Falta muito pouco para o bebê nascer, senhora.

—Eu já enfrentei coisas piores. —Falo. —Quem podia me fazer mal não está mais aqui. —Leila entende o que falo e resolve se calar. Se bem que Gab é um perigo neste palácio, pelo menos para mim!

Gab poderia antecipar a sua volta para a Núbia o mais rápido possível, assim eu poderia me sentir mais a vontade em minha própria casa.

—O cortejo será amanhã. —Ouço Nefertari falar. Então teremos um cortejo de fato. —Prepare tudo...—Ela começa a instruir Karoma.

—Meu sogro não vai concordar, princesa. —Leila me avisa. —Sabe bem como ele é. —Não dou a mínima importância para o Leila fala, minhas atenções são levadas até Gab, ele se aproxima novamente.

—E ele sabe como eu sou. —Surpreendo a minha dama com tal resposta. A simples presença de Gab me faz mudar de comportamento, a sua presença está me fazendo agir de maneira inadequada.

—Podemos conversar? —Gab pergunta e Leila se retira. —Me perdoe pela forma grotesca que me comportei.

—Deve ser mais sensato... —Falo. Eu mal conseguia olhar para Gab, e ele conseguia perceber o meu incômodo.

—Por favor, princesa. Olhe para mim... —Gab pede. —Por favor... —Ele suplica. Não olho para ele, e ele não se atreve em me tocar.

—Algo de errado? —Hur pergunta fazendo surpresa. Ao escutar sua voz sinto meu coração disparar, mas percebo que Gab está mais assustado. Eu olho desafiadora para Gab, esperando a sua resposta.

—Eu estava apenas comentando sobre o cortejo. —Gab mente receoso com a minha reação.

—Não acho uma boa ideia você ir. —Hur ressalta. Sinto seu braço me envolver, no entanto seu olhar estava em Gab. —Mas a escolha é sua. —Suas palavras me fazem desconhecer Hur. Olho para Hur surpresa, mas ele e Gab se enfrentavam apenas com os olhos.

Por Ísis! Isso me faz lembrar da vez que Disebek me encontrou com Hur nas margens do Nilo. Me lembro bem a forma que Disebek olhava para Hur, mas agora é Hur quem tem razão em em defender. Gab não se deixa intimidar com a presença de Hur, e eu fico com o coração apertado ao imaginar um possível desentendimento entre eles.

Os belos olhos azuis de Gab se encontram com os meus no momento em que ele se deixa intimidar por Hur. Meu corpo é puxado para mais perto de Hur assim que Gab se aproxima.

—Eu os aguardo amanhã no cortejo. —Gab fala olhando para Hur.

—Digo o mesmo. —Hur responde, Gab permanece calado e se retira do harém. —O que ele estava fazendo com você?

—Apenas perguntas. —Falo brevemente. Se eu falar a verdade para Hur com certeza haverá uma discussão, por isso prefiro mentir. Não gosto de mentiras, mas ultimamente eu preciso delas.

—Esse homem não me agrada. —Hur fala sério, mas sua expressão muda ao olhar para o meu ventre. —Falta tão pouco. —Sinto sua mão repousar com delicadeza em meu ventre e, novamente, sinto meu filho se movimentar.

—Ele parece gostar do seu toque. —Falo. Todas as vezes que Hur toca em mim, meu filho se movimenta, é como se ele e Hur tivessem uma conexão. Todas as vezes que toco em meu ventre o meu filho não me responde com seus chutes fortes, ele permanece calmo, mas ao sentir Hur próximo à nós, ele sempre se move.

—Então você tem razão. —Hur fala e retira a sua mão do meu ventre, no entanto o nosso filho permanece inquieto. —Pode ser uma menina como você deseja... —Resolvo não dar atenção para o que Hur fala, até por que meu filho permanece inquieto e passa a me incomodar. —Henutmire? —Ele me chama.

—Não me sinto bem. —Falo. Minhas palavras causaram espanto em Hur, mas não é para menos. De todos os incômodos que sofro em consequência da gravidez, este parece ser o pior de todos.

—O que você tem? —Ele pergunta preocupado.

—Seu filho resolveu se agitar... —Respondo com ironia. Acabo por me sentar em uma das poltronas macias do harém, talvez em dentro de pouco tempo o meu filho pare de se movimentar tanto.

—Mal nasceu e já está dando trabalho... —Hur fala. Ele se senta ao meu lado e coloca sua mão sobre a minha barriga novamente, sua intenção ao me acariciar para acalmar o nosso filho não funciona, o bebê se agita ainda mais. —Está menos agitado? —Hur pergunta sorridente.

—Não. —Respondo. Minha mão se encontra com a mão de Hur, então sentimos juntos um chute forte. Não conseguimos evitar nossas risadas, afinal o bebê reconhece quem somos.

—Ele te ama. — Hur fala de repente. — E eu amo vocês dois. —Suas palavras me emocionam.

—Hur... —É a única coisa que consigo falar. Ele me abraça e continua a acariciar a minha gigante barriga.

—Você já devia se acostumar com o que falo, meu amor. —Ele fala me fazendo sorrir.

—Eu não vou me acostumar nunca. —Respondo. Eu me fico mais próxima de seu rosto e repouso minha cabeça em seu ombro. —Talvez eu consiga entender quando olhar para o nosso filho.

—Todos os dias que eu olhar para ele irei me lembrar de você. —Hur fala e me abraça mais forte.

—Um filho nosso. Apenas nosso. —Minhas palavras fazem o meu filho se acalmar.

Eu sinto que está cada vez mais perto o nascimento do meu filho, sinto que sua inquietação é porquê ele já deseja nascer. Não vejo a hora de conhecer o rostinho do meu filho e saber se ele realmente se parece comigo ou com Hur.


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Notas finais do capítulo

Alguém deseja nascer



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