Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 53
Capitulo 53


Notas iniciais do capítulo

Hoje vamos começar com uma briguinha tipica entre irmãos hehehe



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Dias depois...

Lua após lua eu esperei Moisés anunciar uma nova praga, mas pelo o que vejo meu filho parece estar esperando apenas um momento certo para voltar ao palácio. Enquanto isso Ramsés fala aos quatro ventos que derrotou Deus e que agora nenhuma praga irá mais nos atingir. Eu sei bem que Deus está apenas dando tempo e também sei que a próxima praga virá ainda mais tenebrosa que as outras. Pelo menos a visita de Amun e Oritia está fazendo bem ao palácio. Pensei que Amun fosse um perigo neste palácio pelo o que aconteceu com nós dois no passado, mas pelo o que vejo ele foi capaz de me esquecer.

O que apenas me deixa intrigada é o fato de Ramsés planejar o casamento de Djoser e Yaffa, claro que ele ainda não oficializou isso para todos, mas de qualquer maneira eu me aborreço. Mesmo Yaffa tendo uma boa relação com Anippe, eu não a quero como nora. Talvez eu esteja dando créditos para Halima já que ela se mostrou ser uma moça nobre mesmo com o pouco tempo que tivemos juntas.

—Pensando em algo em especial, Henutmire? —Ramsés pergunta e então eu volto a realidade. Sorrio ao lado de meu irmão no trono e tento esquecer Halima.

—Não. —É a minha única resposta.

—E Amenhotep? —Ramsés pergunta preocupado com o filho.

—Está com Djoser treinando arco e flecha. —Falo e então meu irmão acha graça.

—Se lembra de quando eu e você estávamos treinando arco e flecha e nosso pai nos proibiu? —Ramsés pergunta nostálgico. —Eu também fazia isso com Moisés...

—Vocês dois eram muito unidos. —Falo e então vejo o quanto meu irmão está infeliz por ter Moisés como inimigo.

—Agora já não pode mais ser assim. —Ramsés fala e então se levanta do trono rapidamente. Somos interrompidos com a entrada de Ikeni. E ao olhar melhor vejo Arão e Moisés. —Moisés...

Meu filho sorriu forçadamente para Ramsés e em seguida me lançou um olhar carinhoso. Seus olhos brilharam ao me ver no trono, mas nada ele falou sobre isso. Eu então olhei para Arão que, ainda incrédulo ao me ver como rainha, apenas sorriu orgulhoso.

—Vim aqui lhe pedir o que já venho pedindo faz muito tempo, Ramsés. —Moisés fala e então Arão me olha apreensivo.

—Minha resposta é a mesma de sempre. Não! —Ramsés se mostra resoluto ao pedido de meu filho.

—Ramsés... —Paro de falar imediatamente ao ver Moisés acenar para mim para que eu não fale nada.

—Pois então saiba Ramsés que amanhã Deus enviará uma nova praga. —Moisés então fala a verdade e olha para Arão.

—Basta! —Ramsés pede sendo tomado pela fúria.

—Deus não vai parar até que você reconheça que ele é mais poderoso que todos os seus deuses. —Moisés acaba por desafiar Ramsés e eu fico desesperada ao ouvir as palavras de meu filho.

—Eu sou o deus-rei! Nada irá acontecer com o Egito! —Ramsés esbraveja e então os dois hebreus se olham. —Fora daqui! —Ramsés ordena e então meu filho me olha. Moisés sabe o quanto estou infeliz por tudo o que está acontecendo, mas ele apenas me conforta com a sua postura firme e fiel. Moisés e Arão se retiram fracassados, porém confiantes da praga que Deus enviará. —Maldita hora que você trouxe Moisés para este palácio, Henutmire!

—Não sabe o quanto fico orgulhosa por eu mesma ter abalado a ordem cósmica, Ramsés. —Falo plena de deboche e ironia. Eu então desço os degraus do trono para então poder sair.

—Não sei como pode se orgulhar de ter dado um neto hebreu ao nosso pai!

—Eu não orgulho apenas por ter dado apenas um neto hebreu. Eu dei três! —Esbravejo ao mencionar Anippe e Djoser. —Você não deve me censurar já que se casou com a filha da assassina de nosso pai!

—Nefertari não tinha culpa! —Ramsés esbraveja infeliz.

—Meus filhos também não tem. Hur também não tem culpa por ser hebreu. Mas se tem algo que Hur é... É ser honrado e não ter as mãos sujas de sangue! —Rebato enfurecida. —Se você não gosta de tê-lo como cunhado, imagine eu que tive como cunhada a minha enteada bastarda! —Ramsés então sentou no trono sem argumentos. Eu então dei as costas para meu irmão e saio da sala do trono.

(...)

—Você não devia discutir tanto com Ramsés. —Hur aconselha preocupado. —Ele já foi capaz de prender você!

—Mas agora é diferente. Ramsés não tem mais ninguém além de mim mesma. —Falo. —Ele tem apenas o filho, mas a morte de Nefertari ainda está muito recente.

—O Egito de luto e hoje é o casamento de meu neto. —Hur fala animado.

—Mesmo assim você deveria ir. —Incentivo Hur. —Eu gostaria tanto de ir até a vila ver Moisés e meus netos novamente.

—Você tem netos adoráveis. Os garotos se parecem muito com Moisés. —Hur fala e então eu fico ainda mais orgulhosa pelos meus netos. —Eles me fazem lembrar Bezalel quando criança.

—Bezalel era uma criança encantadora. Ficou um pouco acanhado ao chegar no palácio... —Falo nostálgica. —Como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que Bezalel estava aprendendo a confeccionar joias neste palácio e agora está na vila.

—Eu sinto muito a falta dele. —Hur fala entristecido. —Mas eu sinto mais por Uri não se importar com o futuro de meu neto. Nem mesmo ao lembrar da mãe meu filho se deixa levar pelos sentimentos.

—Léia não é capaz de ajudar em nada, Hur. Aliás, ela está morta. Mas mesmo assim Uri deveria sentir algo. —Falo indignada. —Bezalel é filho de Uri, não é possível que ele não sinta nada ao saber que o filho vai casar!

—Uri está com o coração amargurado. Não vai até a vila ver o filho casar por puro orgulho. —Hur deixa claro o seu descontentamento.

—Então vá até a vila que represente Uri no casamento de Bezalel. —Insisto mais uma vez.

—E a nova praga? —Hur pergunta preocupado. —Não vou ter ânimo para festa sabendo que algo irá acontecer com você. —Ele insiste. Nós dois então olhamos para o céu que está escurecendo aos poucos.

—O que é isso? —Pergunto assustada ao ver o dia virar noite. Hur então segura em minha mão ao ver que o fogo das lamparinas está se apagando. Ou melhor dizendo, apenas as lamparinas que estão próximas a mim.

Ao passar por Hur e pelas lamparinas, noto que sou capaz de apagar todo o fogo. Ao contrário de Hur, que ao segurar uma pequena lamparina em suas mãos, deixa claro que essa escuridão é uma praga. —Lágrimas brotam de meus olhos ao saber que mesmo acreditando em Deus, eu ainda sou punida com a praga. —Hur então toca em meu rosto para enxugar minhas lágrimas, mas eu me afasto de súbito.

—É a nova praga. —Falo angustiada ao ver todo o céu escurecer. Estou tão desapontada comigo mesmo que não sei se choro pelo meu medo ou por que estou me sentindo desamparada por Deus.

Uma angústia toma conta de meu peito e invade minha alma.  É como se alguém tocasse a arpa e deixasse claro que a serenata da minha vida será apenas lágrimas e medos. Até porquê isso é verdade, minha vida é feita por altos e baixos desde que nasci. Mas ultimamente eu venho chorando excessivamente.

(...)

—Fique atrás de mim. —Hur pede ao ficar em minha frente e então andamos pelo palácio. Diferente de mim, Hur consegue manter a tocha acesa.

—Hur, hoje é o casamento de Bezalel. —Falo e então meu marido me olha assustado. —Como você irá?

—Não irei. —Hur responde e então voltamos a andar. Não nego que estou assustada com a escuridão, nem mesmo as estrelas e a lua estão presentes no céu. Mas parece que o mundo irá desaparecer e o Egito irá ruir.

—O fogo se apaga assim que passo pelas lamparinas. —Falo infeliz ao notar que de certa forma sou amaldiçoada.

—Isso ocorre porque você é egípcia. —Hur fala e então fica de frente para mim. Começo a chorar ao sabe o quanto inútil sou por não manter nenhuma lamparina acesa ou até mesmo uma tocha. —Henutmire... —Hur chama por mim escutar o meu choro. —Você não tem culpa de nada.

—Eu não consigo interceder em tudo isso, Hur. Do que adianta eu ser a rainha se não posso salvar o Egito e libertar os hebreus? —Minha pergunta faz por onde eu chorar ainda mais.

—Quem deve fazer isso é Ramsés e não você. Me ouça com atenção, Henutmire. Me ouça como fez por todos esses anos até mesmo quando perdi a paciência... —Hur pede aflito pelo meu estado. —Você não está nada bem. Vive chorando, passando mal, você não está com uma aparência nada boa por conta da sua preocupação. Deixe que Moisés e Ramsés se entendam! —Hur pede, mas eu nego. —Você já fez o que tinha que fazer. Se continuar assim vai acabar adoecendo.

—Eu acho que já estou doente. —Falo por conta dos maus estares que venho tendo ultimamente. —Mas tudo está tão confuso neste palácio que eu não sei nem por onde começar a ajudar Moisés...

—O que você tinha que fazer por Moisés você já fez. Agora ele tem Deus para guiar seus passos e não precisa de mais ninguém. —Hur insiste em me fazer mudar de ideia. —Olhe para você. Mal sabe o que é felicidade desde a primeira praga.

—Mãe, pai... —Djoser fala ao nos ver e então eu enxugo minhas lágrimas rapidamente. —Não vamos até a vila?

—Você e seu pai deveriam ir. Bezalel precisa de vocês. —Falo.

—E deixar você aqui? —Hur pergunta aflito.

—Ficarei com Anippe...

—Minha irmã não está no palácio, mãe. —Djoser fala pausadamente e então eu olho para meu filho totalmente confusa. —Zion à levou para a vila.

—Pelo o que vejo Anippe é mais imprevisível do que pensei. —Hur fala ainda magoado com nossa filha.

—Como ele ousa levar minha filha para a vila sem pedir minha permissão? —Pergunto furiosa. —Anippe é apenas uma menina!

—Eu e Uri permitimos no seu lugar. —Djoser revela e então engole um seco ao me ver furiosa em sua frente. —Aliás, eu também iria, mas Yaffa quis ir e então...

—Yaffa? —Pergunto incrédula. —O que é isso agora? Vocês se tornaram um grupo de adolescentes rebeldes?

—Calma, Henutmire. —Hur pede ao me ver furiosa. —Djoser quer apenas ir até a festa.

—E Yaffa também. —Djoser ressalta. —Os pais dela já sabem que ela crê apenas no nosso Deus desde a primeira praga.

—Era só o que me faltava. —Falo brava e então meu filho me olha assustado. —Você não vai para aquela vila, Djoser. Aliás, sua irmã não deveria ter ido também!

—A senhora sabe como Anippe é. Não liga para o que vai acontecer... —Djoser fala na defensiva. —Posso ir? —Djoser insiste e seus olhos brilham de emoção.

—Não! —Falo e o decepciono. —Eu mesma deveria ir atrás de Anippe.

—Eu mesmo posso fazer isso. —Djoser fala sugestivo, mas sua real intenção é ir até a vila acompanhado por Yaffa.

—Minha filha perdeu completamente o juízo...

—Ela nunca teve. —Hur provoca.

—Não comece, por favor. —Peço indignada com a amargura de Hur. Eu então volto minhas atenções para Djoser. —Deixe sua irmã na vila. Quando a praga cessar...

—Se essa nona praga for como a primeira que durou dias e dias, Anippe passará muito tempo fora do palácio. —Djoser acaba me deixando ainda mais aflita. —E meu tio vai saber que ela saiu do palácio. Essa seria uma boa oportunidade para minha irmã permanecer na vila já que pretende ir para Canaã.

—Eu deixei sua irmã ir para Canaã. Mas agora eu acho que essa não é uma boa ideia. —Falo para espanto de Hur e Djoser. —Anippe só vai sair do Egito com o perdão do seu pai.

—Então ela nunca irá sair daqui, Henutmire. Por que o que Anippe me fez é imperdoável...

—E ela precisa do seu perdão, pai. —Djoser fala e então Hur abaixa o olhar. —O senhor quase bateu nela duas vezes.

—Perdi a cabeça. Anippe tem esse dom... —Hur fala envergonhado.

—Quando eu lembro que já levantei minha mão para minha filha, me arrependo. Bater em um filho é sinal que tudo o você ensinou não tem valor algum. —Falo desapontada. —Mas Anippe me perdoou.

—Eu não preciso do perdão dela. —Hur fala e deixa claro o quanto seu orgulho está ferido.

—Seja lá o que estiver acontecendo entre o senhor e minha irmã, eu acho bom resolverem logo. Essa praga não tem hora para acabar e talvez hoje seja a última vez que vocês dois se vejam. —Djoser fala e então eu vejo uma mentira nos olhos dele.

—Você fala como se soubesse de algo mais. —Falo desconfiada.

—Zion tem planos de se casar com Anippe assim que chegarem em Canaã e minha irmã atingir a major idade. —Djoser fala contente. Eu então olho apreensiva para Hur. —Anippe não pretende ficar no Egito já que tem planos de fazer uma família.

—E você ainda pretende partir? —Hur pergunta  encarando o nosso filho.

—Eu não posso partir deixando minha mãe aqui já que ela é a rainha. —Djoser me deixa um pouco aliviada.

—Muito menos eu. —Hur deixa claro que o único impedimento seu de partir sou eu.

—Eu de certa forma estou impossibilitando vocês à realizarem seus desejos. —Falo com uma boa parcela de culpa. —Não quero que parem suas vidas por minha causa.

—Não é questão de parar a minha vida. Mas sim de saber que Moisés e Anippe irão partir. Vai ser duro demais para a senhora ver seus filhos partirem... —Djoser fala carinhosamente.

—Nosso filho tem razão. —Hur concorda orgulhoso. —Não podemos deixar você aqui.

—Além do mais, eu acho que não terei ânimo para ir para o deserto. —Djoser brinca e então olha radiante para Hur.

—Eu não sei bem o que dizer ao te ver agora. —Hur fala emotivo ao saber que nosso filho se preocupa comigo. —Eu vi você crescer no ventre de sua mãe e chorar todas as noites pedindo colo. Mas agora eu vejo um adolescente que não exita em se sacrificar pela mãe. —Djoser então olhou para mim. —Eu era assim com minha mãe. E você não sabe o quanto estou orgulhoso de você...

—Eu sempre deixei claro o quanto amo a minha mãe, mas eu nunca tive a oportunidade de falar o mesmo para o senhor. —Djoser então se aproximou de Hur. —Mesmo que meus irmãos estejam deixando o senhor assim, deprimido e desapontado, saiba que eu estou aqui para cuidar do senhor. Estou aqui para suprir a falta que eles fazem, ou pelo menos tentar...

—Nenhum filho pode ocupar o lugar de outro. Mas você, Djoser, é o meu filho que... Eu não sei o que dizer! —Hur fala se deixando levar pela emoção. Lágrimas rolaram pela minha face ao ver os dois homens da minha vida unidos.

—Me abrace, vamos! —Djoser pede e então eu vejo os dois se abraçarem emociondos. Djoser então olha para mim e me lança um sorriso que conforta a minha alma.

Meu coração transborda de felicidade ao ver que Djoser está disposto a se sacrificar por mim e por Hur. Não que eu me sinta envergonhada por Anippe, mas Djoser sempre será aquele filho que mais se dá aos pais. Eu vejo que Djoser irá se tornar um homem de boa índole assim como Hur, vejo que tudo o que passei foi o suficiente para fazer se meu filho uma pessoa benigna. Cada dor, cada lágrima foi mais que o suficiente para isso. E somente Deus pode saber o quanto estou feliz por ter Hur e Djoser. Graças aos dois homens de minha vida eu estou criando coragem para seguir em frente.

(...)

—Você está tão calada... —Hur fala ao olhar para mim deitada em nossa cama.

—Estou entediada. —Falo e então tento olhar para Hur. —Essa escuridão me deixa mal. Não posso sequer me separar de você e saber como meu irmão está.

—Essa praga vai acabar assim como todas as outras. —Hur tenta me consolar. —Não vai durar para sempre.

—Mas vai  durar o bastante para fazer estragos. —Falo. —Ninguém trouxe nada para comermos?

—Gahiji não pode se locomover com toda essa escuridão. —Hur ressalta. —Vamos, eu levo você até a cozinha.

—Isso me faz lembrar que já passei fome quando estive presa. —Falo entristecida.

—Não vamos lembrar disso agora, Henutmire. —Hur pede ao me ver triste. —Tudo isso já passou.

—Mas ainda é recente. Tudo isso é muito recente para mim, Hur. Veja o que tem acontecido desse que me tornei rainha. Yunet e Jahi foram mortos, Anippe quase morreu por minha causa e eu não posso evitar o confronto de Ramsés e Moisés. —Minha angústia se tornou ainda maior. —E você? Quase morreu para me defender...

—E Anippe nos defendeu. —Hur fala mais angustiado. —Nisso eu devo ficar orgulhoso.

—Eu estou colocando vocês em risco. Eu não quero ver nenhum de vocês machucados por minha causa, Hur. Seria doloroso demais para mim ver você...

—Não diga mais nada. —Hur pede e então eu vou até ele. Meu marido e eu ficamos nos olhando por alguns instantes até nos abraçarmos.

Hur me conhece melhor do que ninguém, ele sabe como eu estou me sentindo agora. Desolada, mas não abandona. Ah se Hur não tivesse revelado seus sentimentos naquela noite, tudo seria tão diferente e ao mesmo tempo sem sentido. Mas Deus esteve ali por nós dois e então o amor falou mais alto. Desde aquele momento eu passei a sentir algo que nunca senti antes, amor verdadeiro. Me casei tão jovem com Disebek que mal pude saber e notar como um homem é quando está apaixonado, mas com Hur foi diferente. Eu sempre notei que ele ficava nervoso quando eu estava por perto, mas eu achava que isso era por conta da minha posição. Mas eu estava enganada sobre meu futuro marido.

Todos neste palácio e na vila já sabiam que Hur vivia suspirando por mim, mas eu não consiguia ver isso. Hur é a minha alma gêmea, ou talvez até mais que alma, talvez coração. Sim... Ao sentir o coração de Hur tão próximo ao meu, posso sentir que eles batem na mesma frequência.

—Mãe... —Ouço Anippe me chamar da porta. Eu então me separo de Hur e vou até a minha filha. Noto o quanto desconfortável meu marido está por ter nossa filha estar no mesmo ambiente depois do que aconteceu. —Eu tenho algo para a senhora. —Minha filha então chama por alguém. Vejo meus netos entrarem em meu quarto contentes em ver e então os abraço.

—Vovó! —Eles falam ao me ver e então nos beijo.

—Seus pais sabem que estão aqui? —Pergunto assustada. Gérson então olha para o irmão e em seguida ambos olham para mim.

—Eles nos deixou vir até aqui ver a senhora. —Eliezer responde.

—Pelo o que vejo seus netos gostam mesmo de você. —Hur fala orgulhoso e então olha para meus netos.

—A tia Anippe disse que a senhora estava triste e então a vovó Joquebede pediu para meu pai que deixássemos vir ao palácio. —Gérson fala docemente e então eu beijo a sua testa. —A gente gosta da senhora como o papai também gosta.

—E como ele está? —Pergunto.

—Meu irmão está bem, mãe. Apenas preocupado com a senhora. —Anippe responde no lugar de meus netos.

—Eu trouxe isso para a senhora. —Gérson fala e então me entrega uma flor. Eu olho emotiva para Hur, que ao ver o gesto de meu neto, passa a sorrir.

—Ela é linda, meu querido. —Falo ao olhar para a rosa. Meu nego então olha para Anippe e sorri. —Obrigada.

—Precisamos ir. —Eliezer fala entristecido. —Nos veremos de novo?

—Talvez no meu aniversário. —Anippe fala e então eu sorrio por saber que faltam poucas luas para o aniversário de minha filha.

—Pode nos levar de volta, tia? —Um dos meus netos pergunta. —Já está tarde.

—Não acha arriscado voltar para a vila agora? Você dois podem ficar aqui até amanhã de manhã. —Anippe fala sugestiva.

—Não haverá luz amanhã. Aliás, já estou perdida no tempo. —Falo. —É melhor você e Djoser levarem os dois agora.

—Por que a senhora não vem com a gente? O pai vai ficar feliz. —Gérson pede e então eu olho assustada para Hur.

—A avó de vocês não pode ir para a vila agora. Mas depois que a praga acabar ela irá ver vocês. —Hur mente para as duas crianças e então eu sorrio ao ver que de certa forma meus netos acreditam nisso.

—Quando tudo isso acabar a senhora irá com a gente para terra prometida e então vamos ficar juntos, não é? —Eliezer pergunta esperançoso.  Sinto um nó em minha garganta se formar com a pergunta de meu neto.

—Vamos, crianças. Moisés e Zípora devem estar preocupados. —Anippe fala com a plena intenção de desviar a conversa. Até porque eu não tenho como responder o meu neto.

—Até mais, meus queridos. —Falo e em seguida beijo o topo da cabeça dos meus netos.

—Shalom. —Os dois falam antes de me olharem pela última vez e darem suas mãos para Anippe.

—Shalom. —Falo. Subitamente lágrimas molharam o meu rosto por ver meus netos partirem. —Essa é a última vez que os vejo, não é? —Pergunto para Hur. Nós dois sabemos que será impossível a minha ida até a vila, assim como a minha ida para Canaã.

—Eu sinto muito. —Hur lamenta e então sou acolhida pelos seus braços. —Eu sinto muito por você não ter os seus netos com você.

—Eu não vou vê-los crescer como pensei que fosse fazer. Não vou ver mais Moisés neste palácio, muito menos irei ver Anippe já que ela quer partir... —Meus soluços se tornaram ainda mais intensos ao imaginar Djoser e Hur longe de mim. Mas eu me sinto tranquila por saber que nenhum dos dois irá partir.

—Pedirei para Anippe ficar. —Hur me surpreende com sua ideia. —Ela vai ter que me ouvir agora.

—Ela não vai te ouvir. —Falo. —Você quase bateu nela duas vezes e mal se falam...

—Isso não importa. Anippe terá que me ouvir pelo menos uma vez na vida. —Hur deixa claro que está decidido a convencer Anippe. —Se Anippe sair do Egito, ela nunca mais irá voltar, Henutmire. Ela ficará em Canaã! Você já imaginou nos conflitos que isso pode ocasionar?

—Do quê está falando? —Pergunto assustada.

—Imagine se um rei de qualquer reino souber que a filha da rainha do Egito está em Canaã. Por que Moisés irá entrar em conflito com outros povos que certamente tomaram as nossas terras, Henutmire. E então Anippe estará lá como garantia de que você ajudará os inimigos de Moisés. —Hur me deixa aflita ao imaginar uma guerra. —E então você terá que escolher entre ajudar Moisés ou salvar Anippe.

—E o que vamos fazer para impedir que Anippe saia do Egito, Hur? Você sabe como ela é! —Falo angustiada. —Anippe não vai abrir mão de ir até Canaã. Precisamos fazer com que ela fique aqui no palácio!

—Como? —Hur pergunta é então uma ideia se passa pela minha mente.

—Prendendo Anippe...


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Notas finais do capítulo

Acho que Anippe corre perigo...



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