Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 49
Capitulo 49


Notas iniciais do capítulo

Se preparem para mais um capitulo repleto de emoções, meus amores e amoras.



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Yunet será executada hoje? —Paser pergunta surpreso com a minha notícia. —Eu não esperava por isso. Não agora...

—Então quer dizer que a cobra vai virar pó? —Simut pergunta e então eu começo a rir com a graça do aprendiz de Paser.

—Pelos deuses, Simut! —Paser repreende Simut.

—Não brigue com ele, Paser. —Peço então Simut agradece. —Eu vim apenas avisá-lo já que Yunet é mãe de Nefertari.

—Minha filha ficaria muito envergonhada com tudo isso. —Paser fala entristecido. —Mas Yunet traçou seu próprio destino.

—Sim, e agora vai pagar por tudo de ruim que fez. —Falo. —Mas nem mesmo morrendo queimada ela vai se arrepender.

—Certamente que não, soberana. Yunet não sabe o que é se arrepender. —Paser fala um pouco entristecido, mas rapidamente muda de assunto. —A princesa Anippe mostrou alguma melhora?

—Ela passa a maior parte do tempo dormindo e quando acorda reclama da dor que sente. —Falo. —Seja sincero comigo, Paser. Minha filha não vai sobreviver, não é?

—Uma vez eu pensei que a senhora também não fosse se salvar daquela vez que perdeu um dos filhos que esperava. Fiz de tudo para salvá-la, mas o que a salvou foi o Deus de Moisés. —Me surpreendo ao ouvir Paser falar de Deus. Quem diria que o sumo sacerdote também está reconhecendo o poder de Deus. —Acho que ele tinha outros planos para a senhora. Tinha os planos de fazê-la mãe do libertador e rainha do Egito.

—Mas quais são os planos de Deus para Anippe? —Pergunto confusa. Moisés é o libertador assim como Djoser poderá se tornar um rei um dia, mas e Anippe? O que minha filha será?

—Só o tempo dirá. —Paser responde esperançoso. —Anippe ainda é muito jovem e tem muito o que viver e aprender, majestade.

—E é exatamente isso que preocupa. Anippe é muito teimosa e vive de nariz em pé, sem se preocupar se alguém vai se machucar ou não com o que ela faz e fala. As vezes eu penso que minha filha não teme nada ou ninguém! —Minhas palavras fazem Paser rir. —Qual a graça?

—O faraó Seti falava a mesma coisa sobre a senhora. E com todo respeito, eu concordo assim como também concordo que a senhora e a princesa são muito parecidas. —Paser fala e então me faz rir. —A única diferença é que Anippe não achou um bebê no rio Nilo.

—Acho que isso não vai se repetir...

—Ou talvez vá, minha rainha. Olhe para a senhora mesma...—Paser fala orgulhoso. —Eu daria a minha vida para ver o faraó Seti falar o quanto está orgulhoso por ter uma filha que agora é rainha da nação mais poderosa da terra.

—Da terra mesmo, mestre. Até porque a rainha é mãe do homem que foi escolhido por Deus para libertar todo um povo que é escravizado. E que também é mão do futuro rei...—Simut fala orgulhoso.

—O príncipe Djoser pode ocupar o lugar de meu neto.—Paser fala e passa a sorrir. 

—Eu não tenho a absoluta certeza disso, Paser...

—Esse Deus de Moisés é poderoso demais, senhora. Se ele concebeu o milagre da senhora ser mãe de Djoser e Anippe, algo ele esta planejando. —Paser fala sorridente. —Eu não posso acreditar que, mesmo em meio as pragas, o equilíbrio cósmico esteja sendo concebido para as suas mãos.

—Agora sim o Egito irá ser governado corretamente. —Simut brinca e me faz rir. 

—Você tem toda razão, Simut. —Paser fala e então eu vejo lágrimas brotarem em seus olhos.—A rainha Tuya e o faraó Seti estão orgulhosos da filha que hoje é rainha.

—Não sei o que meu pai poderia falar ao me ver assim. —Falo.

—Pense um pouco, senhora. Se não existisse o faraó Ramsés, a senhora seria a única herdeira de Seti. —Paser me fez ter medo. —Esteja preparada para tudo. Porque caso os deuses queiram levar Ramsés para o mundo dos mortos, a senhora será a pessoa que irá governar o Egito.

—Ela e Hur, certo?—Simut pergunta e Paser nega.

—Como parentes proximos o rei tem apenas a rainha e meu neto, Simut. E sabemos bem que se caso algo de ruim leve o nosso rei, a rainha Henutmire será a única a governar. E então, a partir dela, outros irão governar. —Lágrimas rolaram em minha face ao escutar Paser falar. —Amenhotep seria esquecido assim como o filho morto do rei Seti com a rainha Tuya. —Paser abaixou seu olhar ao lembrar de meu irmãozinho. —E então o príncipe Djoser passaria a governar após a morte de Henutmire.

—Mas meu irmão não morrerá, Paser. Nada de ruim irá acontecer com Ramsés. —Falo amedrontada por mim e meu irmão. —Ou vai?

—A loucura e a tristeza pode matar qualquer um, senhora. —Paser alerta e então eu sinto o medo se estabelecer em meu peito.  —Esteja preparada para tudo.

(...)

—Para onde você vai? —Hur pergunta ao me ver sair da sala de Paser.

—Vou ver a execução de Yunet. —Hur então me olha surpreso. —Algum problema?

—Acho que você não deveria ir. —Hur aconselha e então eu reviro os olhos entediada. —Você não vai se sentir bem.

—Eu não quero me sentir bem, eu quero justiça. —Falo antes de dar as costas para Hur. Mas segundo depois eu sinto uma de suas mãos me segurar pelo braço.

—Você me disse que queria vingança, Henutmire. —Hur fala preocupado. —Esqueça Yunet.

—Não posso, Hur. Eu quero ir ver a execução de Yunet, o que tem de mal nisso? —Pergunto e então ele me solta. —Eu não vou me aterrorizar em vê-la queimada.

—Não é com isso que eu me preocupo e sim com o que você vai sentir no momento que Yunet estiver sendo queimada. —Hur fala já alterado.

—Vou me sentir em paz e feliz em saber que a mulher que matou meu pai e todas as crianças que carreguei em meu ventre!

—Ela não matou todas as crianças que você carregou no ventre! Anippe e Djoser estão como prova de que Yunet falhou! —Hur fala tentando me abrir os olhos.

—O que você tem afinal? —Pergunto ao ver que Hur insiste em fazer com que eu não vá ver a execução de Yunet.

—Quero que você dê prioridade ao que você dava antes ao invés de se preocupar com Yunet. —Eu então abaixo o olhar por saber que Hur tem razão. —Nossa filha está morrendo e precisa de você. Deixe Yunet para que Ramsés saiba o que fazer com ela!

—Eu não vou discutir sobre isso. —Falo exausta. —Ver Yunet ser executada não vai me fazer uma pessoa má!

—Vai fazer dependendo do que você sinta. —Hur então me deixa sem palavras mais uma vez. —Não vá, Henutmire...

—Ela matou o meu pai e os bebês que mal se geraram em meu ventre, Hur. Matou Disebek. Você sabe o quanto ele era importante para Moisés? —Lágrimas brotaram de meus olhos ao lembrar do pedido de Moisés.

Flash Back On

—Vão com cuidado. —Disebek fala para mim e Ramsés. —O rei não ficará nada satisfeito em saber que os filhos saíram do palácio de noite.

—Por que não vem junto? Assim você se despede de Moisés. —Ramsés fala ao lembrar que Moisés está fugindo.

—Não posso. Levantaria suspeitas. —Disebek fala nervoso e então olha para mim. —Diga para Moisés que não pude ir vê-lo e me despedir.

—Eu direi. —Falo nervosa.

—Diga ao meu filho que estarei ansioso pela sua volta...

Flash Back Off

—Moisés pensou que ao voltar para o Egito fosse reencontrar o pai e isso não aconteceu graças á Yunet. —Falo ao lembrar de cada momento que Moisés viveu ao ter Disebek por perto. —Nesse ponto eu tenho que admitir que ele foi perfeito. Ele enfrentou meu pai para poder fazer com que Moisés fugisse, Hur. Ele salvou a vida do meu filho e eu não posso deixar a mulher que o matou livre.

—Você sabe que Yunet vai pagar caro por isso. O que eu não consigo entender é porquê você quer tanto ir vê-la sendo executada... —A voz de Hur foi tão zelosa que eu então me dei conta de que estou dando espaço ao ódio em meu coração. —Não vá ver a execução de Yunet, Henutmire. —Meu marido pede e então me abraça. —Você agora é uma rainha e deve se preocupar com coisas mais importantes.

—Me desculpe, Hur. Mas eu não vou fazer o que me pede. —Falo e desaponto o meu marido ao ponto dele levantar a sua voz para comigo.

—Henutmire, eu sei que agora você é a soberana do alto e baixo Egito. Mas como seu marido e, pela primeira vez em nossos vinte anos de casados, eu exijo que faça o que estou mandando! —Hur foi brando demais comigo. Senti algo dentro de mim tremer ao ponto de me fazer gaguejar perante a irritação de Hur.

—Mas eu não vou fazer o que me pede ou manda. —Falo nervosa perante o olhar negro de Hur. —Eu tenho esse direito, não tenho?

—Também tem o direito de não me ouvir. —Hur fala ainda mais irritado. 

—Hur... —Chamo-o entristecida ao vê-lo me dar as costas totalmente enfurecido. Lágrimas brigaram com o meu orgulho e então senti meus olhos arderem. —Não me deixe... —Peço ao vê-lo sumir de minha vista.

—Soberana? —Leila chama por mim e então me deparo com ela e Karoma. —Está pronta para ver a execução?

—Claro. —Respondo. —Karoma, cuide de Anippe enquanto estou ausente.

—Como quiser, minha rainha. —Karoma fala antes de retirar. Eu então olho fixamente para Leila.

—Eu soube que você queria partir do palácio. —Falo e então Leila me olha assustada. —Saiba que te dou a minha permissão.

—Está falando sério? —Leila pergunta assustada e então fica calma ao me ver sorrir.

—Você quer apenas ficar ao lado de seu filho e ser fiel á Deus. Diferente de mim, você não é obrigada á ficar no Egito. —Falo. —Vá para Canaã, minha querida Leila.

—Mas e a senhora? E meu sogro? Não posso deixá-los. —Leila fala sendo preocupada como sempre.

—Faça o que seu coração pede. —Falo. —Pode ir quando quiser, Leila. Você não precisa viver com a censura do palácio.

—Muito obrigada, senhora! —Leila agradece e então seus olhos brilham de felicidade. —Que Deus a abençoe em tudo o que fizer e desejar fazer em sua vida.

—Não precisa me agradecer nada, Leila. Apenas vá e se junte ao seu povo... —Leila então me abraçou carinhosamente. Sinto o quanto Leila me admira pela forma em que me abraça e então sei o quanto importante ela é para mim. Lágrimas brotaram de meus olhos imaginar a felicidade que minha amiga terá ao sair do Egito. Felicidade essa que eu nunca terei.

Aqui eu começo a ser uma pessoa pior que muitas poderiam imaginar. Talvez eu me torne pior que meu pai, talvez igual. Sei bem o quanto é difícil ter o poder nas mãos e não se corromper como muitos fazem, e sei também que eu não irei resistir a ambição. Vou perder tudo o que construí durante esses últimos anos, mas isso não será minha culpa. Ou melhor dizendo, será minha culpa sim. —Mas eu não me importo com isso, não quero saber o que irei perder sendo rainha. —Sei que nunca vou conseguir sair do Egito e ser feliz, serei prisoneira da coroa real pelo resto de minha vida.

—Soberana. —Ikeni chama por mim. —O rei está a sua espera para a execução de Yunet.

—Já começou? —Pergunto assustada e então enxugo minhas lágrimas. —Pode me acompanhar, Leila?

—Claro que sim, senhora. —Leila responde um pouco assustada. Ikeni e Leila então me levam até a entrada principal do palácio onde todos estão aguardando a minha chegada.

(...)

—Henutmire. —Ramsés chamou por mim ao me ver sair do portão principal do palácio.

—Estou aqui como pediu. —Falo e então dou as mãos para Ramsés.

—Tem algo a dizer? —Ramsés pergunta e  então meu olhar vai até Yunet que está presa em várias cordas e cercada de palha, totalmente inerte e presa á um tronco de madeira.

—Não preciso dizer com palavras o que você vê em meu olhar. —Ódio, vingança e justiça era o que estavam em meu olhar. —Mas poderia eu mesma queimá-la?

—Faremos isso. —Ramsés fala e então nos é entregue duas tochas, uma para cada um. Meus olhos pairam sobre o fogo, mas em seguida eu vejo os olhos de Yunet brilharem de medo.

—Malditos! Malditos sejam os filhos de Seti! —Yunet gritou desesperada. Não me manifestei ao ouvir Yunet falar, apenas sorri vitoriosa para a assassina de meu pai e de meus filhos.

—Não colocamos a venda nos olhos dela, soberano. —Bakenmut fala e então Ramsés passa a sorrir.

—Ela matou meu pai, matou Maya, matou os descendentes de Henutmire e Disebek sem mesmo as crianças terem nascido e matou o próprio Disebek. Envenenou minha irmã, a rainha. E foi culpada pela tristeza que matou Nefertari. —A voz de Ramsés é plena de ódio. Eu então vejo Yunet se desdobrar para se soltar das cordas que a prendem e ferem sua pele.

Usurpadora! Roubo o lugar de minha filha no trono apenas para me atingir! —Yunet grita e então os súditos começam a falar. —Maldita seja! Maldita seja Henutmire!

—COMO OUSA? —Ramsés gritou e então o silêncio ganhou espaço. —Henutmire é filha de um rei. Rei esse que você matou!

—Assassina! Assassina! —Os súditos gritavam e pediam a morte de Yunet. O pavor nos olhos da mulher era notável assim como o meu ápice de vitoria. 

—Acabe logo com isso. —Falo e então eu e Ramsés vamos para perto de Yunet. Meu olhar então fixou-se no olhar da mulher que matou meu pai, e então um sorriso se formou nos meus lábios.

—Está feliz, princesa?

—Eu sou sua rainha, Yunet. Para a sua infelicidade eu apenas ganho mais poder com o passar do tempo enquanto você se afunda na lama... —Uma lágrima de ódio escorreu na face de Yunet ao me ver soberana e acima  dela. —Espero que sua alma vague e que nunca encontre a paz que você tanto pensou em ter. Porque você foi a culpada pelos piores anos de minha vida, Yunet. Mas eu sou responsável pela sua morte e desgraça eterna... —Fechei os olhos e em minha mente veio todas as minhas lembranças. Cada dia que passei me lamentando por não dar filhos á Disebek, pela morte de meu pai, pela minha dor fisica e meu trauma. E também me lembro de quando toda a verdade foi revelada no casamento de Nefertari e Ramsés. 

Meus olhos azuis da cor do céu e do mar então abriram-se rapidamente, como se eu estivesse ressurgindo das cinzas. Meu olhar fixou-se enfurecido em Yunet, na mulher que me envenenou durante trinta anos de minha vida. —Posso ouvir meu coração bater, quase rasgar minha carne ao ver Yunet tão fragilizada. —Agora eu posso sentir o prazer que meu pai sentia ao executar um delinquente. Agora sim eu posso entender o meu pai...

—Não se preocupe, Yunet. A dor logo vai passar. —Ramsés sorriu ao me ver falar ironicamente com Yunet. —Apenas feche os olhos e tenha lindos sonhos com todas as pessoas que você matou, minha querida Yunet.

—NÃO! —Yunet deu seu último grito de desespero e então eu lancei minha tocha nas palhas que cercavam Yunet. Logo em seguida Ramsés fez o mesmo e então Yunet passou a gritar de dor por sentir o fogo derreter a sua pele lentamente. 

Arqueio a sobrancelha enquanto meu par de olhos azuis marfim observam o fogo consumir Yunet a cada momento em que também me lembro da imensa vergonha que passei ao saber que ela e Disebek eram amantes. Cada lágrima que derramei porquê perdi cada filho meu ainda no ventre secou em meu rosto dando um lugar a um sorriso. Como eu queria fazer isso com Disebek também, mas a própria Yunet o matou. Cada grito de dor e pavor que sai da garganta de Yunet me faz rir, mas ao mesmo tempo eu sinto uma lágrima brotar. Meu choro não é de piedade, mas sim de justiça.

—Enfim a justiça foi feita. —Falo e então sorrio ao ver Yunet queimar aos poucos. Seus gritos então cessaram dando o sinal de que Yunet está morta.

—Se sente melhor? —Ramsés pergunta com um sorriso nos lábios. —Henutmire? —Ramsés chama por mim ao ver o quanto estou centrada no fogo e no corpo que ele consome. Meus olhos brilharam ainda mais ao ver que o corpo de Yunet já não tinha mais forma, o fogo tomou conta de todo seu corpo.

—Me sinto leve, Ramsés. —Falo e de certa forma assusto o meu irmão mais novo. —Que isso sirva de lição...

(...)

—Yunet morreu queimada? —Djoser pergunta assustado. —Que horror.

—Vamos parar de falar nela, meu querido. —Falo e então abraço o meu filho amado. Djoser então começa a se aninhar em meus braços como fazia quando era pequeno. —Anippe ainda dorme?

—Ela acordou chamando por Zion, o nosso amigo da vila. —Djoser fala e então eu me surpreendo. Anippe de fato está apaixonada por Zion. —Mas eu fiz com que ela se acalmasse.

—Eu temo pela vida de sua irmã, meu filho. —Falo exausta e então interrompo o nosso abraço.

—Eu temo por tudo, mãe. Não faço a mínima ideia do que será de nós. —Meu filho fala preocupado.

—Eu estou aqui, meu amor. —Falo e então o abraço novamente. —Eu vou proteger você e sua irmã. —Beijo o topo da cabeça de meu filho e então ele passa a sorrir. —Eu te amo muito, Djoser. Mais que á mim mesma.

—Eu sei, mãe. —Djoser fala e então me abraça ainda mais forte. —Eu tenho uma coisa para a senhora.

—E o que é? —Pergunto. Djoser então me entrega um papiro. O papiro que ele tanto evitou em me entregar. —Quando sentir minha falta um dia, leia este papiro.

—Eu não vou sentir sua falta porque você sempre estará comigo. —Falo e toco no rosto de meu primogênito.

—Apenas faça o que estou pedindo. —Djoser fala e então beija a minha face e se retira de meu quarto. Eu então guardo o papiro com carinho e sorrio orgulhosa pelo filho que tenho.

—Senhora. —Leila fala ao entrar em meu quarto com seus pertences. —Eu vim me despedir. —Ela fala e então vem ao meu encontro me abraçar.

—E Uri? —Minha pergunta deixa Leila ainda mais entristecida.

—Ele não vai comigo. —Leila fala infeliz. —Uri não tem fé.

—Um dia ele terá. —Dou esperança para Leila e então ela passa a sorrir. —Diga para Bezalel que estou com saudades dele.

—Darei o recado. —Leila fala sorridente.

—E também fale para Moisés que irei continuar tentando convencer Ramsés. —Falo. —Não vou desistir.

—A senhora sempre com esse seu coração de seda, não muda nunca. —Leila fala orgulhosa de mim.

—Porque seda, Leila?

—Por que a seda é nobre, cara e inacessível para muitos. É valiosa demais, mas diferente do seu coração, ela pode ser comprada. —Leila fala e então beija minhas mãos. —Deus está habitando neste coração, senhora. —Ela fala feliz. —Shalom, soberana.

—Shalom, Leila. —Surpreendo Leila e então ela vai embora com um belo sorriso em seus lábios. —Espero que Deus te guie, minha amiga...

(...)

Passei o resto do dia pensando em como Leila deve estar feliz por estar perto do filho. —Agora que estou com Anippe aninhada em meus braços como uma criança, começo a pensar em como Leila esteve certa sobre ser mãe. —Bezalel muito em breve estará casado e então Leila poderá ter a vida que sempre desejou ter. Eu apenas me entristeço por saber que Uri não está disposto a abrir mão de todo o luxo do palácio para viver ao lado da família. Meu enteado parece não sentir nenhum remorso em deixar a família na vila e viver aqui sozinho. Sei bem que ele tem á Hur e meus filhos, mas Bezalel é filho dele!

—Mãe? —Anippe indaga sonolenta ao me ver. —Já é noite? —Ela pergunta confusa.

—Ainda é tarde.—Falo ao acariciar o rosto da minha filha.

—Eu ainda sinto dor. —Anippe reclamava e então põe a mão em seu abdômen. —Parece que o fogo toma conta do meu corpo toda vez que eu acordo. —Com o que Anippe fala eu não deixo de me lembrar de que Yunet virou cinzas.

—Eu vou pedir outra fórmula para Paser. —Falo. —Talvez assim você melhore.

—Ele já me deu várias fórmulas, mãe. Mas essa dor não vai embora. —Anippe fala entristecida. —Acho que eu vou morre...

—Não diga isso nunca mais! —Repreendo a minha filha e então ela se esforça para me abraçar. —Não diga que vai morrer, Anippe. Você ainda é tão jovem para pensar nisso...

—Mas a senhora não perdeu um irmão ainda criança? —Anippe pergunta e então me faz lembrar do maldito capítulo de minha vida. —Não temos como saber quando vamos partir.

—Mas você não vai agora. De forma alguma eu vou permitir que você morra. —Falo angustiada. —Não posso permitir que mais um filho meu morra.

—A senhora terá Djoser. —Anippe argumenta. —E terá o papai também...

—Você e o seu pai precisam se perdoar. Não é certo o que está acontecendo entre vocês dois. —Falo e então minha filha abaixa o olhar. —Eu não quero que você e o seu pai fiquem brigados para o resto da vida, Anippe.

—E como a senhora consegue falar disso sendo que ainda não deu o perdão para o meu avô? —Anippe me deixa sem resposta com a sua pergunta. —Ele já morreu e a senhora não consegue perdoá-lo, mãe!

—O que seu avô fez não tem perdão.

—Moisés já voltou, mamãe. —Anippe rebate. —A senhora construiu uma família, tem o meu pai e agora é rainha do Egito. Por favor, perdoe o meu avô antes que seja tarde demais e o rancor tome conta da alma da senhora.

—Isso não vai acontecer porque eu sei que o amor que existe em mim não vai permitir que o rancor me faça mal. —Falo segura. —Seu avô não mereceu o título de rei que tinha, Anippe.

—E nem a senhora vai merece título de rainha se continuar assim, mãe. —Anippe, mas uma vez, me deixa sem palavras. Talvez isso aconteça porque eu sei que minha filha está certa. —A senhora também está renegando o sangue do meu avô como eu fiz com meu pai, mãe. Mas a senhora faz isso tem mais de vinte anos!

—E vou continuar até esquecer o seu avô de uma vez por todas, Anippe.

—Nem mesmo com a morte a senhora vai conseguir esquecer que é filha dele. —Anippe fala segura e então passa a me observar.

—Com licença, soberana. —Ikeni entra nos aposentos de Anippe totalmente eufórico. —O rei exige sua presença na sala do trono.

—Aconteceu algo grave? —Pergunto assustada.

—Venha a senhora mesmo ver com seus próprios olhos o que está para acontecer.

(...)

—O que pode ser isso? —Pergunto apavorada para Ramsés. Ikeni então se põe em nossa frente nos protegendo de algum mal.

—Não adianta, Henutmire. Moisés não vai ceder. Nem eu vou! —Ramsés esbraveja do alto do terraço.

—Vamos entrar. —Peço apavorada ao lembrar que meus filhos estão longe de mim. Anippe está no quarto e Djoser está com Hur na sala do trono.

—O que aconteceu? —Hur perguntou ao me ver voltar para a sala do trono.

—Pai? —Amenhotep pergunta ao ouvir o barulho invadir o palácio. As portas da sala do trono então foram abertas violentamente e então Ramsés e Amenhotep me abraçaram.

—MALDIÇÃO! —Ramsés grita ao ver milhares de gafanhotos invadirem a sala do trono. Meu irmão me protege e também faz o mesmo com Amenhotep, ele usa seu corpo como um escudo para que nenhum inseto chegue em mim ou em Amenhotep.

—Henutmire! —Hur chama por mim ao ver os gafanhotos em minha volta, atacando as vestes de Ramsés e fazendo Amenhotep ter medo.

Nenhum gafanhoto ficou no caminho de Hur e Djoser, certamente isso também deve estar acontecendo com Anippe. —Senti meu sobrinho me abraçar ainda mais forte ao ver que os insetos estão cobrindo todo o corpo de Ramsés. —Sinto medo pelo o que pode acontecer com meu irmão já que os gafanhotos devoram tudo o que possa existir, toda a plantação, todo alimento e tecidos.

—Faça alguma coisa, Ramsés! —Peço aflita. 

—Ikeni! —Ramsés chama pelo homem que rapidamente se põe ao seu lado. Ramsés então me põe sentada no trono, mas não deixa de me proteger com sua capa acinzentada. —Vamos até a vila!

—O que? —Pergunto assustada. —O que pretende fazer?

—Eu ainda não sei. —Ramsés fala confuso. Eu então vejo que Hur e Djoser me olham amedrontados por causa da quantidade de gafanhotos que cobrem o corpo de Ramsés que de fato está sendo o meu escudo. —O que será de nós, Henutmire? —Meu irmão me pergunta aflito ao ver a quantidade de gafanhotos que vem em nossa direção. Sinto meu sobrinho se ajoelhar e prender seus braços em meu corpo tentando se defender. Ao contrário de Hur e Djoser, eu e meu sobrinho não estamos salvos da praga.

—Venha comigo, mãe. —Djoser fala e então me envolve em seus braços frágeis. Ramsés então permanece abraçado á Amenhotep, a oitava praga promete ser ainda pior que as anteriores.

—Cubra-se! —Hur pede ao me envolver em uma capa branca e então me envolve em seus braços para que nenhum gafanhoto chegue até mim. De fato nenhum inseto pousa em meu corpo já que tenho Hur e Djoser por perto.

(...)

—Gafanhotos?—Anippe pergunta assustada ao receber a noticia de que uma oitava praga açoita o Egito. Eu então vou até a janela do quarto de minha filha ao ver que pontos negros pousam na cortina branca.

—Henutmire! —Hur chama por mim, mas assim que retiro a cortina de minha frente, centenas de gafanhotos partem em minha direção. Eu acabo me desequilibrando com a quantidade absurda de gafanhotos que me envolvem e caio no chão. Bato a minha cabeça contra o chão e então ouço meus filhos chamarem por mim desesperados e clamarem negando a minha queda. Mas logo em seguida fecho os meus olhos...

 


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Notas finais do capítulo

Henutmire está desmaiada, chamem o Samu!
Quem ai gostou da Yunet sendo morta? heheheheh gente eu mesma amei ao imaginar a cena! Tá certo que Henutmire tá dando medo e isso pode custar o seu casamento, mas quem ai não gostou de presenciar a Yunet morta ushauhsauhs



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