Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 3
Capitulo 3




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As semanas foram se passando, e com ela minha barriga foi criando volume pouco a pouco. Desde que discuti com Hur, não troco mais que duas ou três palavras com ele. Trato de ser mais paciente e cuidadosa comigo mesma, tento não me lembrar de nada que me irrite. Mas me sinto mal todas as vezes que me lembro do nome "Miriã" .

O palácio está agitado com a festa que Ramsés prometeu dar. Todos festejam a minha gravidez e a de Nefertari. Mas me sinto incomodada e com muito pouca disposição para comemorar.

—Pronta? —Hur pergunta curioso. Eu aceno que estou pronta e ele me "ajuda" a levantar.

—Não precisa. —Falo virando o rosto. Eu ainda não consigo olhar para Hur, não depois de saber que ele deu falsas esperanças para Miriã.

—Até quando vai me tratar assim? —Hur questiona com a voz alterada. —Eu não aguento mais ser maltratado por você.

—Maltratado? —Pergunto com ironia.

—Desprezado seria a palavra certa, Henutmire. —Hur fala com razão. —Vamos ter um filho e você se deixa levar por uma história que já esta mais do que enterrada...

—Me dê tempo. —Falo o fazendo sorrir de nervoso.

—Não tenho. —Hur fala com o semblante sério.

—Então se afaste.

(...)

—Não tive tempo de parabeniza-la, alteza. —Jahi fala. —Estou feliz em saber que muito em breve a senhora será mãe novamente.

—É uma pena Moisés não conhecer o irmão. —Falo pensativa. Eu vou me torturar com essa duvida para sempre!

—Eles são seus filhos, princesa. Se conhecem de alguma forma, afinal nasceram da mesma mulher. —Jahi fala me deixando incomodada. Jahi, como muitos outros de fora, pensam que Moisés é de fato meu filho e que dei a luz à ele. —E esse príncipe que está para nascer? Já escolheu o nome?

—Ainda não. Até por que não tenho como saber se é menino ou menina. —Assim que falo escuto a risada de Jahi.

—Espero que seja um menino. Assim quando se tornar um homem, lutará ao lado de Ramsés e do futuro rei. —Jahi fala com alegria. O sorriso que estava estampado em meu rosto se desfaz assim que imagino meu filho em uma guerra.

—Que Isis faça com que seja uma menina. —Sussurro.

—O que disse, alteza? —Jahi pergunta, mas sua atenção é levada para um homem que se aproxima de nós. —Princesa, este é meu primo Gab.

—Muito prazer, alteza. —Gab faz uma reverência e prende seu olhar no meu. —A fama de sua beleza atravessa as fronteiras do Egito, princesa. —Ele fala me deixando envergonhada.

—Atrapalho? —Hur pergunta com a voz elevada. Eu sorrio tentando aliviar a forma grosseira com que Hur se pronuncia na conversa, e isso parece funcionar.

—Este é meu marido Hur, principe Gab. —Apresento Hur. Gab engole um seco ao ver Hur, talvez pela forma grossa com que Hur se apresentou.

—Você tem uma bela esposa. Parabéns. —Gab elogia. Sinto Hur me puxar para mais perto dele, e tento esconder o meu incômodo.

—E em breve terei um belo filho com ela. —Hur fala com ironia. Sinto que minha garganta está irritada, talvez seja consequência do tempo extremamente quente.

—Estou com cede. —Falo mudando de assunto. —Com licença, vou falar com os outros convidados. —Falo me distanciando de Jahi e Gab. Hur me oferece a sua taça, mas eu exito em aceitar.

—Suco de tâmara. —Hur fala. —Está bem doce. —Ele ressalta. —Nunca me falou sobre Gab.

—Acabei de conhecer ele, Hur. —Respondo. Ao beber o suco de tâmaras, sinto uma tontura mais forte que eu.

—Está tonta? —Hur pergunta ao me segurar pelo braço.

—Estou. —Falo me apoiando nos braços de Hur. —Me leva pro quarto, Hur. —Assim que falo minha visão começa a ficar turva.

—O que ela tem? —Simut pergunta.

O medo me corrói a alma. Começo a transpirar excessivamente, como das vezes em que eu perdi meus outros bebês. Estaria eu perdendo mais um filho?

—Não me deixa perder o nosso filho, Hur. Não deixa eu estragar tudo. —Falo me deixando ser levada pelos braços de Hur.

(...)

—Estou enjoada. —Falo e olho para Paser. —Muito enjoada.

—O que ela tem? —Hur pergunta preocupado. Sinto as minhas forças se esvaziaram do meu corpo, e o meu choro só ajuda.

—Não se preocupe, princesa. —Paser fala com alguma fórmula na mão. —Beba isto, alteza.

—Eu não quero nada. —Falo negando a taça. O cheiro da fórmula me deixa enjoada e sinto a cólica aumentar todas as vezes que enjôou.

—Beba, por favor. —Paser fala aproximando a taça do meu rosto, mas eu nego mais uma vez.

—Por favor, meu amor. —Hur pede e toma a taça da mão de Paser. —Beba... —Hur pede me fazendo sentar na cama e beber a fórmula de Paser.

—Isso fará com que as dores passem e que a senhora se acalme. —Paser fala. —A gravidez é delicada, princesa. A senhora não pode passar por grandes emoções. —Ao escutar a advertência, olho para Hur, então volto minha atenção para Paser. —Descanse. —Ele pede por último e se retira.

O silêncio toma de conta e eu olho para Hur, ou melhor, para as suas costas. Eu quase perdi o meu filho como das outras vezes, quase coloquei tudo a perder. Sinto que Hur teme em falar comigo. Medo? Preocupação? Não sei. Eu que comecei com tudo isso ao interrogar Leila.

—Me desculpe. —Hur pede ao se deitar do meu lado. —Mas tendo você ao meu lado eu não poderia me lembrar de ter dado falsas esperanças para outra mulher. Sei que fui covarde, mas mais covarde fui em não ter dado explicação para ela e ter mentido para você. —Ele fala com lágrimas nos olhos.

—Não se preocupe mais. —Falo dando as costas para ele. Hur se aninha na cama após eu ter dado as costas para ele.

—Por que ainda me evita? —Hur pergunta com a voz calma. —Você fala muito pouco e demonstra muito mais o que sente com o olhar...

Não o escutei mais. Em minha mente passava lembranças... Lembranças que me fazem chorar, mas choro tentando esconder as lágrimas. Me lembro de todas as vezes que perdi os filhos que carreguei no ventre por culpa de Yunet. Me lembro de todas as vezes que Disebek me olhou confuso, mas tudo isso aconteceu por causa dele.

"Não chore, Henutmire. A culpa de não termos filhos não é sua."

"Eu não consigo gerar eles em meu ventre, Disebek. Por que os deuses não me deram um filho?"

"Não sei. Mas tudo vai ficar bem, Henutmire."

"Você pode me devolver ao meu pai..."

"Jamais."

—Eu jamais vou te abandonar. Mas você não se importa. —Hur fala e eu volto a realidade. Hur estava de costas para mim, mas falava mesmo assim. —E quando... —Ele para de falar ao sentir meu corpo se aproximar do dele.

—Eu te amo. —Falo o fazendo se virar e olhar nos meus olhos.

—Eu te amo mais. —Hur fala ao me abraçar. —Te amo tanto... —Ele repete várias vezes ao beijar minhas bochechas e o topo da minha cabeça. —Quando te vi perder as forças na sala do trono... —Ele fala emocionado. —Pensei que fosse te perder.

—Eu quase coloquei tudo a perder. —Falo com remorso. —Eu estou com medo de falhar com essa criança, Hur. —As minhas lágrimas caem assim que termino de falar.

—A culpa não é sua, meu amor. A culpa é minha. De certa forma eu quem te deixei transtornada. —Hur fala levando toda a culpa. —Vamos esquecer essa história e nos concentrar apenas em Djoser...

—Djoser? —Pergunto confusa. Djoser é o nome de um dos maiores faraós do Egito, governou faz muitos anos, bem antes de meu pai.

—Sim, Henutmire. Eu escolhi o nome do nosso filho. —Fala me fazendo rir.

—E se for menina? —Pergunto. —Moisés e Uri precisam de uma irmã, Hur.

—Ela virá depois de Djoser. —Ele fala com um sorriso bobo no rosto.

—Bobo. —Falo ao achar graça na possibilidade de dar mais um filho para Hur.

—Você fala isso agora. Mas quando ver Djoser e a irmã brincando na beira do rio Nilo vai me dar razão. —Hur fala abraçado à mim.

—Não sei se poderei te dar a filha que tanto quer, Hur. —Falo tocando em seus lábios. —Tão pouco sei se essa criança que carrego no ventre chegará a nascer...

—Mas é claro que vai, meu amor. Claro que vai! —Ele fala me confortando. —O que aconteceu hoje foi um mal passageiro, um mal presságio. —Ele fala me fazendo chorar. Eu me aconchego ainda mais em seus braços e choro. Choro para desabafar todo o medo que sinto.

Hur permanece abraçado à mim, enxugando todas as minhas lágrimas. Aos poucos, como consequência do choro e da fórmula calmante de Paser, adormeço nos braços do meu amado.


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