Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 12
Capitulo 12


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI HAHAAHHA Quem ai foi na estreia do filme? *___*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661291/chapter/12

 

Muitos anos depois...

 

 

 

Anos se passaram e Djoser deixou de ser criança e agora se torna um belo rapaz forte e leal ao reino, cada dia que se passa se torna ainda mais parecido comigo, mas tem como herança do pai a personalidade benevolente.
A criança que carreguei em meu ventre após Djoser completar seu segundo mês de vida, nasceu e hoje se chama Anippe.
Anippe, Djoser e Amenhotep crescem juntos, apesar do meu sobrinho ser temperamental e não ter noção do perigo de duas brincadeiras, ele e meus filhos são unidos.

—Vejam só. —Amenhotep fala ao me ver acompanhada de Anippe. Djoser sorri ao nos ver, todavia não solta a espada que está em suas mãos. —Minha tia e minha prima vieram nos ver treinar, Peppy. —Amenhotep fala presunçoso e olha para o filho da dama de companhia de Nefertari.

—Meu primo não se cansa mesmo. Ele chega a humilhar o filho de Karoma em todos os treinamentos. —Anippe fala indignada e Djoser se aproxima.

—Amenhotep está se tornando egocêntrico, mamãe. —Djoser reclama enquanto Ikeni acompanha o treinamento de Peppy e Amenhotep. —Perdi as contas de quantas vezes ele humilhou o filho de Karoma.

—Se eu pudesse eu mesma o enfrentava com uma espada. —Anippe fala alterada ao ver Amenhotep empurrar Peppy.

—Jamais você irá pegar em uma espada, Anippe. —Repreendo a minha filha e ela me olha irritada.

—Você nasceu para ser ajudante de cozinha, Peppy. —Ouvimos Amenhotep zombar do pequeno menino, meu sobrinho se afasta enquanto Ikeni leva Peppy para longe.

—Já chega. —Djoser fala bravo.

—Djoser! —Chamo por ele, mas ele não me dá atenção. Vejo Nefertari se levantar para mimar Amenhotep, mas Djoser acaba interrompendo o momento entre mãe e filho.

—Amenhotep! —Djoser grita e faz Nefertari se irritar. —Agora, seremos eu e você.

—Estou cansado, Djoser. —Amenhotep reclama. —O futuro rei do Egito precisa descansar. —As palavras de meu sobrinho fizeram com que Peppy e Ikeni permanecessem longe para observar a conversa.

—Você está com medo. —Anippe fala euforicamente e dá risada como Djoser também dá. —Eu quero assistir vocês dois treinando, Amenhotep.

—Enfente alguém do seu tamanho. —Djoser fala e joga a espada para Amenhotep e o mesmo parte para cima de meu filho.

—Eu não quero ver isso. —Falo dando as costas para meu filho e meu sobrinho.

—Não deveria se preocupar tanto, mãe. —Anippe fala se divertindo ao ver os dois príncipes duelando. —Veja o quanto meu irmão é forte. —Ela pede e eu vejo Djoser desarmar Amenhotep. Meu filho empurra Amenhotep da mesma forma que ele empurrou Peppy e coloca seu pé no abdômen dele.

—Já chega. Quem você pensa que é para fazer o que fez com o futuro rei do Egito? —Nefertari pergunta irritadiça após ver o filho perder.

—Ele é meu filho. —Respondo por Djoser e Nefertari se surpreende.

—Amenhotep é o futuro rei do Egito, Henutmire. —Nefertari fala com orgulho.

—Um rei que deixa ser desarmado pelo primo? Que belo soberano iremos ter. —Anippe enfrenta Nefertari com sua ironia de sempre.

—Como ousa me enfrentar dessa maneira, Anippe? Eu sou a grande esposa real, soberana do alto e do baixo Egito...

—E eu sou neta do faraó Seti, filha da princesa Henutmire, sobrinha do faraó Ramsés e irmã do príncipe que acabou de vencer o seu filho em um duelo. —Anippe piora a situação e faz Nefertari perder a compostura.

—É essa a educação que você dá aos seus filhos, Henutmire? —A pergunta de Nefertari me faz perder a paciência.

—Eu quem lhe faço esta pergunta, Nefertari. Amenhotep está se tornando um rapaz mimado e sem limites! Você não pode mimar meu sobrinho desta maneira...

—Eu posso fazer o que eu bem quiser. —Nefertari fala de frente comigo. Amenhotep se levanta do chão e vai embora com su mãe. Quando vi que Nefertari e Amenhotep não estavam mais ao alcance da minha vista, repreendo Djoser com meu olhar

—Djoser! —Ouço Peppy chamar pelo meu filho. O pequeno menino corre e abraça Djoser. —Quando eu crescer quero ser que nem você.

—Não seja. —Falo irritada e Anippe me olha desconfiada. Peppy e Djoser se despedem enquanto dou as costas para ele e Anippe.

—Mãe? —Anippe me chama.

—Está brava por quê coloquei Amenhotep no lugar dele? —Djoser pergunta fazendo Anippe rir.

—A mamãe não gosta de violência, Djoser. —Anippe fala com sarcasmo, mas rapidamente muda de expressão ao me ver brava. Senti que minha filha desejou que sua capa alaranjada a escondesse de mim no momento que meus olhos "falaram" o quanto brava eu estava.  Talvez ela tenha desejado que sua peruca e os adornos que a enfeitam escondessem seu constrangimento.

—Vocês dois vão acabar me enlouquecendo. —Falo e ambos abaixam suas cabeças.  —Não enfrentem Nefertari, muito menos na minha frente.

—Mas, mamãe, eu não vou me calar e me oprimir por causa dela! —Anippe me enfrenta. —Só por quê ela é a rainha não quer dizer que ela seja maior e melhor que eu.

—Não se trata de ser melhor, se trata de você ser minha filha. —Minhas palavras foram o suficiente para Anippe se calar. —Enquanto eu estiver falando você não deve falar. —Repreendo Anippe e ela bate o pé e me dá as costas. —Anippe!

—Deixa ela, mãe. Ela é rebelde pela própria natureza. A senhora sabe que minha irmã é orgulhosa demais para entender isso. —Djoser defende Anippe. —Não fique brava com ela, mamãe.

—Não vai adiantar de nada eu repreende sua irmã e você, seu pai e Uri passarem a mão na cabeça dela. —Reclamo e ele cruza os braços. —Anippe não pode ser assim para sempre.

—Eu coloco a minha coroa como garantia de que Anippe foi para os braços de meu pai. —Djoser fala e me abraça, ele me suja com seu suor e eu o repreendo. —Amanhã iremos para Abul Simbel?

—Sim. —Respondo. —Não sei se devo ir.

—E por quê não iria? —Djoser pergunta assustado.

—Por que da última vez que fui em um cortejo, você resolveu nascer. —Falo nostálgica e Djoser se diverte com isso.

—Eu sempre fui ousado. —Djoser fala com orgulho. —Mas eu não fui o único a atrapalhar o cortejo, não foi? —Ele pergunta com curiosidade. Eu nunca falo sobre Yunet para Djoser e Anippe, eu não quero que eles saibam o quanto eu sofri nas mãos daquela mulher. —A senhora quase nunca fala sobre Yunet.

—Não vale a pena perder tempo com ela, Djoser.

—Mas ela é mãe de Nefertari, minha mãe. Acha mesmo que é certo esconder isso de Amenhotep? —Djoser me pergunta indignado. —Eu e Anippe já sabemos quem Yunet é, mas Amenhotep não.

—Querendo ou não Yunet é avó de Amenhotep, mas seria muito constrangedor para ele descobrir isso.

—Mas ele precisa saber de onde veio, Amenhotep querendo ou não vai ter que entender que, mesmo eu tendo sangue hebreu, o que corre nas veias dele é de Yunet, a maldita mulher que fez a senhora sofrer. —As palavras plenas de ódio de Djoser me fazem chorar, me fazem chorar por saber que ele tem razão. —Por um lado Anippe tem razão, mãe.

—Eu não quero que você e sua irmã tenham ódio de Yunet. Ela não está mais aqui, não vale a pena perder a paz que temos lembrando dela. —Falo firme e faço Djoser concordar comigo. —A única que pessoa que pode sentir ódio de Yunet sou eu, quando vocês nasceram ela já não estava mais aqui...

—A senhora tem razão. —Djoser concorda. —Mas de uns tempos para cá Amenhotep faz questão de humilhar os hebreus na minha frente.

—Amenhotep faz isso por quê não te considera um hebreu, Djoser. —Tento apaziguar a situação.

—Não me preocupo com ele, mãe. É Anippe, é com ela que me preocupo!

—Anippe e Amenhotep brigaram por causa disso? —Pergunto. Será possível que minha filha e Amenhotep estejam brigando por causa disso?

—Não, mãe. É bem pior. —Djoser fala me assustando. —Anippe também humilha os hebreus, ela sente nojo mesmo sabendo que é filha de um hebreu. —Meu coração disparou ao escutar a revelação de Djoser, por um lado sinto vergonha, mas por outro sinto raiva de Anippe.

—Minha filha não pode estar se deixando levar por uma hipocrisia dessa... —Falo indignada. —Eu não estou educando Anippe para isso.

—É uma revolta passageira, ela deve falar isso da boca para fora... —Djoser tenta defender a irmã.

—Anippe tem o mesmo preconceito que seu avô tinha, Djoser. —Pelos deuses, eu estou sendo castigada por não ter perdoado o meu pai quando ele me pediu perdão. A minha filha está se comportando como Seti... —Meu pai era prepotente com os hebreus por quê era um rei, mas Anippe não. Anippe está rejeitando as suas origens.

—A senhora querendo ou não, eu e Anippe não somos escravos por quê somos seus filhos. —Djoser fala cabisbaixo e me dá as costas, me deixa sozinha com minha indignação ao saber que Anippe está fora do meu controle. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde um dos meus filhos se revoltaria por causa de suas origens.

(...)

Eu caminhava acompanhada por Leila pelo palácio á procura de Hur, mas penso eu que ele esteja nos aposentos de Anippe. Todas as vezes que eu e Anippe discutimos, Hur interfere e sempre protege nossa filha, mesmo sabendo que ela está errada.

—Eu acho melhor a senhora conversar com a princesa Anippe somente quando estiver mais calma. —Leila sugere.

—Mas eu estou calma, Leila. —Falo procurando Anippe e Hur. —Estou um pouco envergonhada por saber que Anippe odeia os hebreus.

—Ela tem um motivo. —Leila fala e para de me acompanhar. —Anippe me perguntou sobre Moisés.

—Moisés é o motivo de Anippe odiar os hebreus? —Pergunto sem entender.

—Anippe me perguntou se Moisés tinha irmãos. —Leila fala me deixando nervosa. —Ela me disse que uma vez, quando era pequena, me ouviu conversar com Uri sobre Miriã.

—Mas tanto que eu pedi para vocês não falarem mais no nome desta mulher! —Esbravejo irritada e faço Leila abaixar a cabeça. —Anippe sabe da história de Hur e Miriã?

—Ela tirou suas próprias conclusões, senhora. —Leila fala.

—Eu não acredito nisso... —Falo indignada. —Anippe perguntou algo para Hur? Ele contou algo para ela?

—Eu não sei, princesa. —Leila fala e me deixa ainda mais aborrecida.

—Henutmire... —Ouço Ramsés me chamar. —Preciso lhe avisar que Jahi virá para o Egito acompanhado por...

—Radina? —Questiono.

—Ela mesma. Mas ele também virá acompanhado por Gab. —Ramsés revela e me deixa desnorteada. Eu não acredito que Gab voltará para o Egito justo agora que estou tendo problemas com Anippe.

—Pelos deuses...

—Não se preocupe. Gab não passará muito tempo no Egito.  —Ramsés tenta me tranquilizar. —O que está acontecendo com você? Parece inquieta.

—Anippe. —Falo e Ramsés passa a sorrir. —Ela e Nefertari se desentenderam.

—Eu soube, mas eu pedi para Nefertari não se deixar levar pela rebeldia de Anippe. —Ramsés fala com calma. —Mas eu até aprovo a personalidade forte de Anippe, ela não se cala, ela não se deixa intimidar.

—Eu não aprovo.

—Mas deveria. Anippe é uma princesa do Egito que não deixa ser guiada pelas emoções como você. —Ramsés reprova meu comportamento e se orgulho do de Anippe como sempre. —Anippe não nega o sangue, ela é neta do maior e temido faraó de todos os tempos.

—Faraó este que matou vários bebês inocentes, Ramsés. —Desafio meu irmão.

—Faraó este que é nosso pai, seu pai, Henutmire. —Ramsés fala com o tom de voz provocativo. —Mas voltando ao assunto, você deveria se orgulhar de Anippe e de Djoser. Até por que meu sobrinho mostra ter mais habilidade do que Amenhotep que será meu sucessor.

—Eu não estou educando dois crocodilos, Ramsés. Eu não vou admitir que Djoser e Anippe tratem os hebreus como se fossem vermes. —Minhas palavras fizeram Leila se sentir e Ramsés sorri ironicamente.

—Meus sobrinhos pertencem a realeza, Henutmire. Você querendo ou não, eles são melhores que os escravos. —Eu resolvo me calar diante da irrelevância de Ramsés, não aguento mais as provocações dele. —Se Anippe prefere colocar os hebreus em seus devidos lugares, saiba que dou total apoio para ela.

Ele dá a sua palavra final e me deixa sozinha com Leila. —Eu não acredito nisso. —Falo e Leila me olha com um olhar preocupado.

—Muito menos eu. —Leila fala angustiada. —Se Anippe odeia os hebreus, ela me odeia também.

—Anippe não pode odiar os hebreus, Leila. Ela é filha de um...

—Mas ela finge não ver isso, princesa. Anippe tem essa personalidade desde pequena. —Leila tem razão, Anippe nunca deu valor aos meus ensinamentos assim como eu também nunca dei valor as palavras de meu pai. Talvez eu esteja sendo castigada pelos deuses através de Anippe, castigada por sempre julgar o meu pai e não ter dado o perdão que ele me pediu.

—Avise á Anippe que estou esperando por ela no santuário, Leila.

(...)

Ao olhar para os deuses no santuário real, chego a me assustar com a possibilidade de não ter sido abençoada por gerar dois filhos. Talvez se tudo fosse diferente, talvez se Anippe e Djoser não tivessem nascido a minha vida seria monótona e sempre com uma interrogação no final do dia. Talvez eu mais vivesse preocupada com Moisés do que comigo mesma.

—Se vocês pudessem trazer meu filho de volta. —Falo em meio a lágrimas de soluços. Por onde andará Moisés? —Por quê meu pai teve que banir o meu filho? Por quê não posso ter o meu Moisés comigo?

—Mamãe? —Anippe me chama assustada. —Está pensando em Moisés, não é?

—Eu penso no seu irmão todos os dias, Anippe. —Falo melancólica. —Moisés foi o filho que os deuses me deram para suprir a falta de todos os filhos que perdi ao ser envenenada.

—Eu sei. —Anippe se aproxima aos poucos. —Se lembra de quando eu perguntava sobre Moisés?

—Eu dizia que ele estava no deserto. E você, ingênua como toda criança, dizia que eu era má por quê não queria trazer o seu irmão de volta para o palácio. —Falo emocionada ao me lembrar do dia em que Anippe me perguntou por Moisés pela primeira vez.

Flash Back On

—O que você tem, filha? —Pergunto para a pequena menina franzina que está a beira da piscina com o irmão.

—Mãe, eu tenho um irmão que já é grande? —Anippe me pergunta, e eu, sem entender respondo pensando que ela está falando sobre Uri.

—Não fala sobre o nosso irmão, Anippe. Ele tá no deserto. —Djoser fala me fazendo entender a dúvida de Anippe.

—Eu ouvi o tio Ramsés falar que eu tinha um irmão chamado Moisés. —Anippe fala. —Ele tá no deserto?

—Ele está no deserto. —Respondo.

—E por quê a senhora não vai buscar ele para mim? Eu quero saber como ele é, mamãe. —Anippe pede segurando a minha mão.

—Eu não posso buscar ele, Anippe. Eu não sei onde ele está...

—A senhora disse que ele estava no deserto, vai buscar ele para mim, mãe. —Anippe insiste e eu fico sem tem o que fazer. Anippe tem apenas sete anos e não entenderia o motivo de Moisés estar tão longe...

—Eu não posso, filha... —Falo magoada.

—A senhora é má, mãe. A senhora não quer trazer o meu irmão de volta por quê a senhora não gosta dele! E muito menos de mim! —Anippe reclama e sai correndo. Minha única alternativa foi chorar e olhar para Djoser. Quando me dei conta de que estava chorando na frente do meu filho, tentei disfarçar.

—Não chora, mãe. Anippe pode não entender a senhora, mas eu entendo. —Djoser fala segurando nas minhas mãos. O belo par de olhos azuis passou a me observar com cautela e nervosismo, nervosismo ao me ver chorar. —Um dia Moisés vai voltar e todos nós iremos ser feliz neste palácio.

—Você ainda é muito novo para entender tudo isso...

—Se eu posso ver minha mãe chorar, eu também posso entender o que aconteceu com meu irmão...

Flash Back Off

—Eu era ingênua. —Anippe fala nostálgica. —Todas as noites eu pedia para Uri me contar sobre Moisés, mas ele nunca falava nada.

—Moisés deve ter morrido após ir embora do Egito, Anippe. —Minhas palavras fazem meu coração pesar. —Ou talvez esteja muito longe.

—Se o deus dos hebreus existir,  talvez tenha ajudado o meu irmão...

—Se ele existir, ele também é seu deus.

—Eu não sou hebréia. —Anippe fala por entre os dentes e com toda a sua revolta. —Posso ser filha de um hebreu, irmã de hebreus, mas sou uma nobre egípcia.

—Egípcia e hebréia, Anippe. Quem nega as próprias origens nega a si mesmo! —Exclamo brava. —Você não é melhor que ninguém.

—Eu não sou melhor! —Anippe fala e se afasta. —Mas eu também não sou pior, entende?

—Não, eu não entendo. —Falo um pouco mais calma. —Você está fora de controle!

—Pelos deuses, mãe. Eu não sou Djoser para aturar seus sermões!  —Anippe me enfrenta pela primeira vez em toda sua vida. —Eu não preciso que a senhora viva me dizendo o que sou ou o que faço...

—Eu sou sua mãe, Anippe. —Falo. —Eu vivi mais tempo nesse mundo do que você, sei mais do que você e por isso vivo lhe dando sermões.

—A senhora pode ter vivido mais do que eu, mas não caminha por mim ou tropeça por mim. —Anippe fala desconfiada e eu resolvo me aproximar dela. Quando eu fiquei frente a frente com a minha filha, resolvi falar.

—Eu caminhei por você durante nove meses, vivi por você durante nove meses. —Vejo que minhas palavras atingiram em cheio o orgulho de Anippe. —E cai na sala do trono por você, quando soube que você crescia dentro de mim. —Ela não falava, apenas me ouvia. O que era o certo. —E faço isso novamente se for preciso.

—Não será mais preciso. Eu sei bem para onde vou e como vou. —Minha filha fala antes de se retirar sem minha permissão. Vejo Paser surgir no santuário após Anippe se retirar, sua expressão era de total susto. Talvez ele tenha visto a forma inadequada de Anippe se comportar, ou talvez tenha escutado algo.
Simut o acompanhava como sempre.

—Princesa...

—Sacerdote...

—Notei que sua filha saiu transtornada do santuário... —Paser comenta preocupado. —Saiba que nesta idade o comportamento tende a piorar. —Paser fala em tom de brincadeira. —Mas isso depende de cada adolescente.

—Eu não me lembro de ter dado trabalho para os meus pais quando tive essa idade.

—Isso faz tempo, princesa... —Simut fala e sorri extrovertido.

—SIMUT!—Paser repreende o aprendiz. Eu tento conter o riso, mas não consigo.

—Eu não me incomodo com isso, Paser. Mas Simut deve entender que outras pessoas podem levar suas piadas como um comentário maldoso. —Alerto o aprendiz de Paser.

—Me desculpe pelo atrevimento de Simut, princesa. Ele não sabe pensar antes de falar. —Paser fala envergonhado.

—A princesa é tão boa, mas tão boa que deveria ser a nossa soberana. —As palavras de Simut me deixam envergonhada ao ponto de meu rosto corar.

—Eu me contento com o papel  de "quase rainha"...

(...)

"A princesa é tão boa, mas tão boa que deveria ser a nossa soberana."

As palavras de Simut me deixa sem chão, sem fôlego. Nunca ouvi tais palavras saírem da boca de algum nobre egípcio, talvez Simut estivesse brincando como sempre. A profecia do sonho de Ramsés não se cumpriu, e eu não sei se fico feliz ou ainda mais receosa pelo o que ainda pode estar por vir.
Ramsés se torna uma cópia fiel de nosso pai a cada dia que se passa, ele não nega o sangue e Anippe muito menos. Eu sinto pavor ao ver que meu irmão e minha filha estão indo pelo mesmo caminho que meu pai, o caminho do orgulho e da cobiça. Se meu pai massacrava os hebreus por diversão, Ramsés faz isso por prazer.
Durante todos os anos de minha vida nunca vi um povo ser tão massacrado como eles, os hebreus.
Nasci nos tempos de escravidão, e quem sabe eu morra e não veja os hebreus serem livres. Liberdade é uma palavra que não existe no vocabulário dos escravos, eles nem são tratados como pessoas normais, são tratados como animais que só entendem a linguagem do chicote que lhe fere as costas.

—Eu me apaixonei pela sua mãe desde o primeiro dia em que a vi. —Ouço Hur falar na oficina. Vejo que ele está conversando com Djoser, mas me escondo atrás da porta para ouvir a conversa. —Mas porquê me pergunta isso?

—Eu escrevi um declaração para a minha mãe em um papiro. —Djoser revela me fazendo sentir orgulho. —Era meu presente de aniversário para ela, mas no final resolvi não dar para ela.

—Sua mãe iria adorar, Djoser. Sabe que ela ama tudo o que você faz. —Hur incentiva Djoser.

—Anippe disse a mesma coisa, pai. Eu tento fazer a mamãe sorrir todos os dias desde o dia em que ela chorou com saudades de Moisés. —Djoser fala nostálgico e eu seguro as lágrimas. Djoser era tão pequeno quando me viu chorar pela primeira vez. —Os olhos dela não merecem chorar como choram.

—Os olhos dela são os seus olhos, Djoser.

—Quando Anippe era pequena, ela sempre me perguntava por que tínhamos os olhos da mesma cor que o da nossa mãe e Uri não. —A lembrança de Djoser me faz rir.

—Anippe sempre tinha uma pergunta na ponta da língua, Djoser. Ela sempre queria saber o motivo de tudo ser como era. —Hur fala fazendo Djoser rir. —Ao contrário de você.

—Eu era calmo e esperava que as pessoas me dessem explicações sem perguntar nada, pai.

—Como Moisés. —Sussurro e me afasto da porta dando meia volta e indo rumo aos meus aposentos.  

O que será que Djoser escreveu para mim e não teve coragem de me mostrar? Meu filho faz por onde me agradar com tanta perfeição que fica nervoso todas as vezes que tem algo para me mostrar, talvez ele esteja se sufocando e se esquecendo de sí mesmo.
Eu não quero nem imaginar o dia em que eu for me encontrar com Osíris, não gosto de imaginar a reação de Djoser. Eu sei o quanto é doloroso perder a mãe, e sei que Djoser não terá força o suficiente para suportar a minha morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Henutmire nem sabe o que vai acontecer com ela durante as pragas...
Esse capitulo teve mais de três mil palavras, pessoal. Vão se acostumando, mas se a leitura ficar cansativa, já sabem... Podem me avisar *__*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração De Seda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.