Eu abria os olhos lentamente, observei tudo ao meu redor e percebi que eu estava sozinha.
Me lembro apenas de ter desmaiado na sala do trono, nada mais. Isso me assusta, até por quê tempos atrás permaneci duas luas desacordada. Talvez os deuses estejam brincando com minha sanidade ou com minha saúde, existe explicação para isso? Não, não existe. —Que estranho. —Balbucio ao ver que nem mesmo Djoser está nos aposentos.

"Djoser irá comigo."

Me lembro da ameaça que Hur me fez. Talvez este meu desmaio tenha sido a chance de Hur ir embora com Djoser, mas ele não teria coragem, ele sabe que eu seria capaz de ir pessoalmente até a vila dos hebreus para trazer meu filho de volta. Tudo entre nós mudou desde que soube de Miriã, vivemos em conflitos momentâneos, nem mesmo Gab me trouxe tantos problemas como Miriã me trouxe.

Sinto um alívio enorme ao lembrar que Gab, assim como Miriã, está a milhas de distância de mim. Eu não irei mais viver com censura e incômodo em meu próprio lar, Gab agora voltou para o seu devido lugar. Eu agora preciso me reconciliar com Hur, se isso for possível...
Preciso ser como antes e também preciso esquecer Miriã, ela não pode intervir entre mim e Hur estando tão longe.

Quando vi Nefertari adentrar em meus aposentos com Amenhotep no colo, a primeira pessoa que me veio em mente foi Djoser. Eu preciso saber onde o meu filho está e com quem está, a mãe de Djoser sou eu, sou a única pessoa que tem autoridade maior sobre ele.

—Pelos deuses, você despertou. —Nefertari fala com a voz mansa.

—Não fiquei muito tempo desacordada? —Pergunto ao ver Amenhotep se manifestar nos braços de Nefertari.

—Você permaneceu desacordada por todo o dia. —Nefertari fala com ar de riso e tenta disfarçar.

—Qual o motivo de tanta graça? —Pergunto desconfiada e então, ela sorri.

—Não é nada demais. Djoser está com Karoma e Leila no harém. —Ela me avisa entregando Amenhotep. —Amenhotep e Djoser são tão diferentes, você não acha? —Nefertari pergunta.

—Sempre pensei isso. —Falo aí sentir as mãos indelicadas de Amenhotep em meu rosto. —Meu sobrinho ainda não sabe ser delicado. —Falo com uma certa ironia. —O que está acontecendo comigo, Nefertari? —Pergunto atordoada.

—Você não precisa temer, Henutmire. —Nefertari fala se acomodando em meu leito. —Eu suspeito que você...

—Que eu...? —Pergunto nervosa. Nefertari parece se divertir ao me ver sofrer, mas rapidamente trata de falar sobre sua suspeita.

—Não, não é nada. É apenas uma bobagem minha. —Nefertari desconversa me deixando mais aflita. —Eu só acho que você deve se cuidar mais, até por quê você tem um filho agora...

Nefertari tem razão, eu preciso me cuidar mais. Antes qualquer enfermidade não me deixava preocupada, a dor que eu sentia por não ter Moisés comigo me fazia procurar por motivos, motivos para viver. Somente eu sei o que sinto até hoje por não saber o paradeiro de Moisés, talvez meu filho esteja morto e eu esteja criando expectativas insanas supondo que talvez ele esteja vivo. Moisés não conseguiria sobreviver no deserto...

—Você tem razão. Eu posso ter perdido Moisés, mas agora tenho Djoser e terei que educar e amar meu filho. —Falo e olho orgulhosa de Nefertari. —Parece que foi um dia desses que encontrei Moisés e que faltava pouco para você nascer. Ramsés já estava um pouco crescido...

—Me parece que a história vai se repetir. —Nefertari fala por causa de Djoser e Amenhotep crescerem juntos como Ramsés e Nefertari. Ela me toma Amenhotep dos braços e ergue seu olhar para mim.—E quem sabe agora uma menina chegue á família real para crescer e envelhecer ao lado de Amenhotep e Djoser... —As palavras de Nefertari são jogadas diretamente para mim, mas penso eu que sua expectativa caía sobre ela mesma. —A última vez que você desmaiou se passou poucas luas e logo se soube que você gerava uma criança no ventre.

—É impossível. —É a única coisa que falo ao me imaginar grávida novamente.

—Disse a mesma coisa quando soube que estava grávida de Djoser. —Nefertari fala e começa a rir. —Não acha estranho esse seu desmaio? —Ela pergunta me deixando com dúvida. —Djoser é tão novo para você engravidar novamente... —Minha mãos foram levadas á minha cabeça ao saber que é possível sim que eu esteja grávida novamente.

—Pelos deuses. —Sussurro e vejo os olhos de Nefertari brilharem de alegria. —Eu estou grávida. —Falo espantada.

(...)

Rá voltou a brilhar como faz todas as manhãs, mas para mim o que está mais radiante é a presença do meu filho. Eu não me canso de olhar para Djoser, perco a noção do tempo olhando para ele, mas quando eu vejo que ele passa a me observar, sinto uma sensação inexplicável. Pode uma criança prender uma pessoa com um simples olhar inocente e puro? Sim, pode, Djoser é a prova disso.
Enquanto eu observava Djoser, Hur me observava silencioso e imóvel, presumo que ele tenha se admirado com o tempo que permaneci sem desviar o olhar de Djoser.

—Ele é perfeito, não é? —Hur pergunta sorridente e se aproxima de mim. Eu tento não me lembrar da ameaça que me foi feita a várias luas atrás por Hur, ele não toca mais no assunto de levar Djoser para a vila dos hebreus, mas eu tenho medo de que ele me engane e cumpra com sua ameaça. —Precisamos conversar.

—Qual o assunto? —Pergunto esperando Hur me incomodar ao falar de Miriã.

—Quando eu disse que levaria Djoser comigo, eu falei sem pensar. —As palavras dele me aliviam, todavia não deixo claro o meu alivio. —Me perdoe por todas as vezes que te feri, eu não estou agindo da maneira correta com você.

Permaneci calada por alguns segundos fazendo Hur se martirizar. —Vamos esquecer tudo isso. —Falo e olho para ele, vi um sorriso amarelo se formar em seu rosto, definitivamente não estamos nos tratando da maneira correta.

—A partir de agora iremos viver sem que nada nos atrapalhe. —Hur fala esperançoso e eu vou até ele para lhe abraçar e o abraço, mas o choro de Djoser nos separa.

—Ou não. —Falo com ironia. Eu preciso contar para Hur que em breve teremos outro filho, mas tenho quase certeza de que ele ficará mais incrédulo do que feliz. Djoser está com apenas dois meses de vida e ganhará um irmão, talvez irmã...

—O que aconteceu com você na sala do trono? Por quê desmaiou? —Hur me questiona com Djoser nos braços.

—Hur... —Começo a falar e sorrio ao ver Djoser se inquietar nos braços do pai. Hur me olha com atenção, esperando uma explicação e tentando acomodar Djoser em seus braços. —Os deuses nos favorecerem novamente.

—Como assim? Seja mais clara, eu não entendo. —Ele fala com grande curiosidade. —O que isso significa?

—Significa que carrego um filho seu em meu ventre. —Revelo deixando Hur sem reação. Temi pela sua reação, cheguei a pensar que ele deixaria Djoser cair de seus braços com tamanho impacto da notícia. Hur me abraçou e entre nós dois ficou Djoser, nenhuma palavra foi dita, neste momento eu apenas sou acolhida por Hur.

—Você escutou, filho? —Hur pergunta para Djoser. —Você não é mais o caçula, Djoser. Você vai ter um irmão. —Djoser tocou no rosto de Hur e olhava atencioso para mim.

—Agora você e Amenhotep terão que dividir tudo com seu irmão...