Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 66
Promessas São Eternas


Notas iniciais do capítulo

*Suspira* Nossa, enfim chegamos ao último capítulo da saga dessa Kenway. Nos falamos mais lá embaixo...



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O inverno já se encarregava de cobrir as ruas de Londres com seu branco que se tornava impuro ao primeiro contato com o solo sujo de lama. As janelas ganharam cortinas brancas naturais, impedindo visualizar qualquer coisa do lado externo. Os minutos pareciam se arrastar dentro da loja de vestidos de Amy, desde que seu sobrinho partira para servir na igreja, a senhora se via só ao despertar e adormecer. Seu trabalho com costura era tudo que ainda a mantinha ocupada e sua arte era também sua única alegria. Miko deixou em sua vida um espaço que nunca mais seria ocupado por outro alguém.

Por isso, foi com certa estranheza que ela ouviu batidas na porta da frente. Era quase noite e a movimentação nas ruas era mínima, uma dama ou lady não deixaria o calor de sua residência atrás de vestidos à aquela hora. Contudo as batidas se repetiram e Amy deixou alguns tecidos sobre o balcão de madeira para que pudesse seguir até a porta.

Um sopro frio remexeu suas vestes quando ela abriu uma pequena brecha e viu um garotinho vestindo um casaco deveras grande para seu tamanho e salpicado de pontos branco por toda sua extensão. Ele lhe estendeu a mão coberta por uma luva furada e uma carta entre os dedos.

— Espere um instante, por favor.

Amy voltou para dentro e o menino aguardou no frio castigador daquela noite, até que a senhora gentil apareceu novamente, com um xale de lã em uma das mãos.

— Pode aceitar essa peça como pagamento?

Não foi preciso resposta verbal, pois os olhos do garoto se arregalaram com tamanho brilho que faz a costureira sorrir. O pequeno jogou o xale verde por sobre os ombros, dando um rápido aceno ele partiu e sumiu de vista antes que ela pudesse se dar conta.

A viúva olhou o envelope onde de um lado estava seu nome com endereço e no outro havia escrito apenas Caroline. Confusa, ela arqueou a sobrancelha e bateu a porta antes de se dirigir até uma cadeira confortável e pegar a pequena faca utilizada para rasgar sua correspondência. Seus dedos desdobraram o pedaço de papel e somente então ela pôde reconhecer aquela caligrafia, era de Jenny.

Amy se sentiu um pouco estúpida por não ter percebido logo de imediato, Caroline era o nome que a jovem havia escolhido para usar enquanto se passou por filha de Miko e consequentemente sua enteada.

Querida Amy

Gostaria de ir pessoalmente ter contigo uma longa conversa, mas temo não ser seguro retornar à Londres. Meu irmão provavelmente descobriria quando eu colocasse um pé na capital. A propósito, espero que me perdoe pelo meu rude comportamento em minha última visita. Sempre tão bondosa comigo e eu nem ao menos fui gentil com seu luto, me arrependo disso. Ao menos saiba que eu encontrei Haytham e não nos matamos como Miko temia.... Eu recuperei a lâmina oculta dele e a enviarei para ti em breve, eu não terei melhor utilidade para ela.

A irmandade de Londres se acabou, não tenho mais motivos para me manter nessa guerra e tenho o mais importante deles para sair. Eu reencontrei Liam e tenho certeza que está sorrindo agora. Não posso culpá-la, eu também estou. Infelizmente eu tive que quase perdê-lo para enxergar que não havia mais nada para mim nessa vida. Bom, talvez Pierre...

Quando retornei para as colônias ajudei um pobre menino a recuperar alguns coelhos e quando vi já o havia ensinado a escalar e lutar. Arrependo-me disso também... Ensinei a ele o que Miko havia me ensinado, mas minha determinação em ir atrás de meu irmão em busca de uma tola vingança foi decepcionante para ele no fim.

Quando vi Liam caído, sangrando e machucado. Condenado a uma morte horrível naquele lugar, senti que estava morrendo com ele. Senti que todas as nossas lembranças seriam eternamente apenas lembranças. Sua respiração estava tão lenta que tive medo que ele partisse em meus braços quando o levantamos. Os marujos de um navio chamado Áquila nos levaram até uma pequena aldeia nas proximidades e partiriam logo depois.

Antes de partirem Pierre veio até a mim e perguntou-me por que eu não havia matado meu irmão. Por que desisti no último instante quando poderia ter atirado nele? E quando eu disse que não poderia deixar Liam para trás senti o julgamento de seus olhos sobre mim. Ele disse: Seu irmão foi capaz de matar um homem velho sem pensar duas vezes, o que te faz pensar que ele não o fará novamente no futuro?

Infelizmente eu não soube o quê responder. Teria eu salvado algumas vidas se tivesse dado cabo de meu irmão? Talvez. Mas isso implicaria em sacrificar minha própria vida para isso e eu sempre fui egoísta demais. A imagem que passei à Pierre de minha determinação e força converteu-se na imagem de alguém fraco e ele se foi sem se despedir, embarcado no Áquila, rumo ao sul.

Fiquei sozinha por dias enquanto Liam lutava contra a febre e algumas pessoas gentis cuidavam de seus ossos quebrados e o alimentavam. Eu não tive forças para ficar ao seu lado e segurar sua mão como uma boa esposa. Não, eu me mantive distante, evitando olhar para ele em tal estado, temendo que ele partisse diante de meus olhos.

Até que chegou o dia que ele abriu os olhos, confuso e ainda com dores por todo o corpo. Eu ainda assim não tive coragem de ir vê-lo. Mais alguns dias e a febre cedeu por fim, mas seus ossos ainda se recuperam da guerra e ele precisa de mais repouso. Apesar do risco de perdê-lo ter se dissipado eu ainda não o tenho comigo. Muitos anos se passaram desde que parti de Nova York e eu não poderia culpá-lo se não me perdoasse.

Eu estou bem Amy, longe de Assassinos e Templários. Longe da guerra e procurando um lugar nesse mundo para viver o que ainda me resta de vida. Espero um dia poder vê-la novamente.

Com carinho, Jenny.

 

Alguns meses antes...

 

A loira releu suas palavras antes de dobrar o papel e o guardar dentro de um envelope velho. Contudo, antes mesmo de finalizar o processo, um rapaz bateu na porta de madeira e a abriu mesmo sem uma resposta permissiva dela. Levantando-se do simplório banco de madeira, ela deixou o envelope sobre a mesa e fitou o jovem.

— Ele insiste em saber quem o trouxe aqui, pergunta por pessoas e se recusa a comer sem uma resposta.

— Teimoso até o fim... – Ela resmungou mais para si do que para o rapaz. - Está bem, eu já irei. Obrigada.

O mensageiro se foi enquanto borboletas dançavam dentro do estômago Kenway, havia enfim chego a hora da verdade, a hora de encarar Liam lúcido.

Tal qual o garoto, ela ganhou o exterior que nevava e a obrigava usar um espesso casaco de pele por sobre suas vestes comuns. Pierre tinha razão, fazia um frio da porra ali. Seus cabelos estavam escondidos abaixo do capuz cinzento, protegendo suas orelhas do vento gélido. Suas mãos ainda pareciam geladas sob o par de luvas de foca e seu nariz iria congelar a qualquer instante.

Suas pegadas eram apagadas quase que instantaneamente da neve enquanto ela vencia a pequena distância entre a casa que a abrigava até o recinto onde O'Brien recebia cuidados médicos. Tão logo sua mão abriu a porta da construção, seu corpo pôde sentiu o calor do fogo da lareira e seus músculos relaxaram. O Assassino estava à sua esquerda, deitado por debaixo de algumas camadas de pele. Ela se aproximou e abaixou o capuz quando seus olhos encontraram os dele.

Não houve mudança em sua expressão, seus olhos piscaram algumas vezes e mais seriamente do que ela gostaria, ouviu uma vez mais sua voz.

— Jenny? É você ou estou delirando?

— Sou eu. Como se sente?

— Quebrado. – Com muito esforço para resistir à dor, ele ajeitou-se sobre o quadril e sentou-se. – Como me encontrou?

Ela o encarou por um instante, perdida em suas palavras até que viu o anel na mão esquerda dele, mas não se demorou observando a aliança e tornou a fitar seu rosto que já acumulava um pouco de barba por fazer.

— Shay me disse onde estava.

— Shay... – Os olhos azuis dele desviaram-se para a janela completamente branca. – Eu atirei nele e caímos.

— Sim.

— Como sabia que estaríamos no Ártico? E como chegou lá? – Sua testa se enrugou ao sentir uma pontada de dor em suas costelas quebradas.

— Eu estava presa no Morrigan. Meu irmão mandou prender-me depois que tentei matá-lo. Mas com alguma ajuda eu conseguir sair e o encontrei.

Liam parecia absorver toda aquela história com um olhar perdido. Tudo ainda estava muito confuso em sua mente e ele tentava alinhar seus sentimentos. - Eu vi seu irmão. Ele não se parece contigo.

— Não há nada entre nós que possa nos identificar como irmãos se não o nosso sobrenome.

Novamente silêncio. Jenny sentia suas mãos suarem e as borboletas continuam a revirar seu estômago.

— E quanto Achilles? Shay o matou?

— Ele tomou um tiro, mas não foi Shay quem disparou.

— Seu irmão?

— Não. Fui eu.

— Não estou surpreso.

 E parecia ainda menos aturdido do que ela imaginou que ficaria. O'Brien mantinha-se tão sério que nem ao menos parecia aquele jovem que outrora ela conheceu em Boston.

— E o artefato?

— Seguro. – A loira engoliu a seco e desviou seus olhos dele, antes que estes a denunciassem. – Agora já sabe quem o trouxe até aqui, pode tornar a comer. Precisa se alimentar.

A inglesa se virou e caminhou até a porta, mas subitamente parou quando Liam lhe respondeu de forma tranquila e inesperada.

— Não veio aqui apenas para me fazer comer. Ou não teria procurado pelo anel em meu dedo. Eu não deixaria de perceber.

Seu coração parou e seus olhos arregalaram-se, mas por sorte ela estava de costas para ele e após hesitar um pouco lhe respondeu da maneira mais serena que conseguiu. - Apenas fiquei surpresa de ver que ainda o usava.

— Então suponho que tenha se desfeito do seu.

Lentamente, a Kenway retirou a luva que protegia sua mão esquerda, olhou para seu anel e voltou para próximo dele, expondo seu anelar aos olhos do Assassino. Liam segurou delicadamente o punho dela e sorriu discretamente, quase que de forma imperceptível.

— Eu pensei que nunca mais voltaria ou que estava morta.

— Acreditou em Achilles? Chevalier chamou-me de traidora quando o encontrei a caminho de Londres.

O'Brien riu um pouco mais descontraído, seus perfeitos dentes brancos brindaram a loira que se sentiu um pouco mais confortável. – É... Ele disse-nos que o enganou e somente por isso conseguiu vencê-lo. É verdade?

Jenny deu de ombros e fez pouco caso do assunto ao desviar a atenção para a vela apagada ao lado da cama. – Meu pai era um pirata, ele não deveria esperar outra coisa de mim se não um pouco de trapaça.

— Tem razão. Ele era um idiota de qualquer jeito.

— E um preconceituoso de merda.

— Shay ficou muito contente em saber do ocorrido, na época é claro.

— E eu fico feliz que homens como ele não estejam mais vivos para manchar o nome dos Assassinos. – Pelo canto dos olhos ela procurou pela expressão dele, achando que o viria ficar aborrecido, mas nada no sorriso faceiro dele havia mudado. Absolutamente nada.

— Se esse é caso, então por que não me deixou para morrer?

— Tu és diferente.

— Por que éramos casados?

— Ainda somos casados.

Sua resposta veio tão instantaneamente que somente depois de desferir tais palavras ela se atentou ao que havia acabado de dizer. Todavia, Liam não insistiu no ponto em questão.

— Voltará para Londres?

— Não... Perdi meus dois pais lá e Caleb certamente insistiria para que juntos criemos uma nova Irmandade Inglesa.

— Caleb?

O Assassino nunca fora de demonstrar ciúmes, mesmo quando Jenny bebia entre marujos e jogava cartas com bêbados nas noites sempre animadas dentro dos bairros Irlandeses de Nova York, mas sua expressão transformou-se de pacífica para intrigada quando ele arqueou a sobrancelha e franziu o cenho. Jenny se apercebeu e achou um pouco de graça, mesmo sem demonstrar.

— Um Assassino de fora da capital, outro aluno de Miko. Provavelmente o único além de mim.

— Então, e agora? Continuará atrás de seu irmão?

— Não. – Ela riu e o encarou os olhos de azul vívido dele. – Não sou mais uma jovem e meu corpo pede descanso. Ainda não sei para onde irei, talvez Bristol ou quem sabe eu vá para o Caribe. Gosto do clima daquelas ilhas.

— Lembra-se de quando me disse que gostaria de conhecer a Irlanda? – Liam soltou sua mão e acariciou suavemente a face de Jenny que se permitiu desfrutar da carícia. – Já parou para pensar que nunca velejamos juntos?

— Não quero que faças nada por mim achando mereço algo por ter te tirado daquele túmulo branco.

— Você sabe que prometi a minha tia que a levaria para conhecer minha mãe e eu não sou homem de quebrar promessas.

— Isso foi quando vivíamos em Nova York, Liam.

— Ora Jenny, e o que mudou entre nós? - Ele sorriu como na primeira vez que foram juntos para Boston.


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Notas finais do capítulo

Sim, acabou. Eu quase não acredito . Nem sei o que dizer para ser sincera, além de agradecer a quem leu, quem comentou e um obrigada muito especial à BadWolf que foi certamente a principal responsável por tirar essa fic do hiatus e me ajudar incontáveis vezes.

Ainda temos um epílogo, pequeno, pela frente e depois entro na minha aposentadoria de long fics.

Espero do fundo do meu coração que tenham gostado de toada a saga de Jenny aos olhos dessa player que julgou o destino dela sendo tão injusto nos livros e nos jogos.

Um beijo a todos!



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