Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 64
Velhos Rostos... Novas Verdades


Notas iniciais do capítulo

Chegamos! É oficial, o fim dessa fic começa aqui. Então preparem o coração, respirem fundo e vamos lá.



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Fazia quatro anos que a Kenway havia chegado naquela colônia fria e esquecida pelos franceses e ingleses que se afundavam cada vez mais na guerra. A urgência de a filha de Edward diminuiu quando em 1756 descobriu que os Assassinos de Achiles estavam separados, cada um cumprindo certa obrigação, sendo a de Liam permanecer junto ao mentor. A ideia de ver seu amado como cão de guarda de Davenport não lhe agradava nem um pouco, mas ao menos significava que ele estava vivo.

 

Hope permanecia em Nova York, liderando alguns tolos que achavam ser Assassinos apenas porque alguém havia dito. O nativo mal encarado estava mais ao norte, procurando reforços com as tribos locais. Adewale e Chavalier estavam envolvidos em qualquer coisa que pudesse lhes gerar lucros nos mares, mas não era claro o que exatamente vaziam. A inglesa tinha lá suas suspeitas, mas intrigava-se ainda mais em nunca ler o nome Shay nas correspondências copiadas. Teria seu amigo perdido a vida?

Ao longo desses anos, Pierre cresceu e ficou até mais alto que a loira, aprendeu a escalar de maneira veloz, caminhar silenciosamente, a caçar animais variados e há dois anos ela passou a lhe ensinar esgrima, assim como a mirar e atirar. Delphine, por outro lado, não expulsava a Assassina de sua casa devido ao risco de perder o filho junto, visto que o jovem era quase uma sombra dela. A pobre francesa perdeu seu único filho para uma mulher estranha que ela nem ao menos conhecia as intenções.

Ver a mãe do rapaz triste e angustiada daquele jeito incomodava demais a Kenway que mal se mantinha na casa, ás vezes até dormindo em meio à floresta, quando não estava muito frio ou quando tinha certeza que não iria chover. Todavia naquele dia, ela havia reservado a tarde pera escaldar e limpar suas presas na simplória casa de madeira, preenchendo como podia o estoque de comida de mãe e filho para o inverno que se aproximava.

Jenny estava despelando uma lebre cinzenta, uma vítima inocente das armadilhas que agora eram feitas pelo seu jovem aprendiz. A pelagem macia iria render um bom dinheiro, desde que os Assassinos não descobrissem das negociações secretas que Bellec estava fazendo no porto. O acordo entre eles e Morris ia de vento em polpa. A Kenway trazia na calada da noite as presas capturadas ao longo do dia e as escondia na casa de Delphine. Pouco a pouco o rapaz levava as peles até Morris no porto e em troca ele tinha acesso a toda correspondência Assassina enquanto o fiscal portuário ficava com os lucros.

Contudo, as notícias do sul estavam cada vez mais escassas e ela não sabia o real motivo por trás disso. Seu descontentamento não era único, visto que os Assassinos locais já não recebiam suprimentos como antes e exigiam cada vez mais impostos dos cidadãos locais para bancar seus gastos. Uma grande mancha de vergonha para o credo que ela escolheu servir.

De repente uma explosão ecoou e Delphine surgiu do interior da cozinha para a sala com a expressão alarmada.

— O que foi isso?

Jenny deixou a lebre parcialmente sem pele no chão e se ergueu com os olhos fixos para além da janela. Algumas pessoas se movimentavam de pressa pelas ruas para o abrigo de suas casas.

— Pierre ainda está no porto.

— Fique aqui. – Dizia a loira ao recolher seu par de armas de trás de uma cesta de verduras. – Eu irei buscá-lo.

Delphine lhe assentiu meneando levemente a cabeça, em seus olhos estava nítido o pavor de quem já havia visto os horrores da guerra.

A Kenway pegou seu manto e o vestiu antes de deixar o casebre de madeira e rumar para o centro da cidade. Alguns barris encostados ao lado de outra casa lhe serviram para auxiliar sua subida até os telhado desta e pelo alto ela viu fumaça subindo para os céus. Imediatamente seus pés se apressaram em uma corrida intercalada com saltos por sobre as casinhas humildes até ela chegar ao galho de uma árvore que lhe fornecia uma posição de melhor visão. Poucos metros a sua frente, a base Assassina encontrava-se em pleno caos.

Dedos cinzentos de fumaça deixavam o armazém bélico, elevando-se até os céus. No chão ela contou quatro Assassinos caídos com sangue a lhes manchar as vestes e na entrada da base uma fumaça branca lhe impedia de ver qualquer coisa. Sua atenção se voltou para às ruas, onde as pessoas corriam para longe da desordem.

Neste instante ela encontrou Pierre correndo e tossindo, afastando-se como podia o local. A princípio parecia bem, mas Jenny não teve tempo para sentir alívio ao ver um homem deixar a fumaça branca, ele não corria, mas seus passos rumavam em direção ao rapaz, tal qual um puma silencioso atrás de sua presa.

Com um pouco de paciência, o homem de vestes vermelhas entrou em sua área de alcance antes de alcançar Bellec e a Kenway não teve dúvidas quando saltou por sobre ele. Na trajetória até seu alvo, sua Hidden Blade foi acionada, mas está não foi eficaz como deveria. No mesmo instante o homem ergueu a cabeça e a viu em tempo suficiente para se defender, evitando ser golpeado mortalmente.

O tempo havia ensinado à aquela Assassina a sempre manter uma alternativa caso o plano inicial falhasse. Foi devido a isso que mesmo ao rolar no solo de terra, Jenny enfiou a mão no interior de seu manto, na pequena bolsa de couro, e pegou uma bomba de fumaça.

— Corra Pierre! Fuja! Fuja para longe!

Ela gritou tão alto quanto pôde, sem saber em qual direção deveria estar o rapaz. Sem saber onde estava seu inimigo em meio aquela cegueira branca. Mas isso logo foi resolvido.

— Jenny?

A loira olhou para a origem daquela voz, não era Pierre, pois era madura e grave. Era a voz de um homem. Uma que lhe parecia familiar. Por entre a fumaça, pouco a pouco a silhueta ganhava forma e ela se preparou para um ataque, seus olhos ardiam e seus pulmões clamavam para que deixassem aquele local, contudo a curiosidade dentro de si falava mais alto.

Olhos negros, roupas vermelhas, cabelos negros e uma Hidden Blade. Em suas costas uma arma de longo alcance e seu rosto era parcialmente encoberto por uma máscara. A pergunta se repetiu.

— Jenny?

— Quem és tu?

Ele não lhe respondeu com palavras e sim com atitudes, pois seu punho esquerdo ergueu-se até á máscara e esta foi retirada lentamente. O bigode não estava mais lá e os cabelos soltos e bagunçados já não serviam de molde para aquele rosto, mas este ainda era o mesmo Shay Patrick Cormac.

— Shay... O que está acontecendo?

— Muitas coisas aconteceram desde que tu partiste.

— Matou esses Assassinos?

Os olhos deles desviaram-se dela, dando leve vislumbre para sua retaguarda e após um breve momento reflexivo tornou a encará-la. - Venha comigo. Há alguém que gostaria de lhe ver.

Jenny olhou para trás e não viu Pierre em canto algum, o que era bom. Então para manter Shay longe dele, ela lhe anuiu. Seu velho amigo e companheiro de jogos seguiu por entre as vielas em direção ao cais. Mesmo da cidade era possível ver seu brigue de velas vermelhas. Seu coração se acelerou e sua respiração tornou-se pesada. Seus sentimentos lhe cegaram os olhos a ponto que a Kenway não se atentou a meros detalhes.

Já no solário de madeira do porto ela procurou por entre os rostos do convés aquele que ela mais ansiava ver. O que mais lhe fazia falta, mas ele não estava lá. Eles subiram pela rampa de embarque e os olhares dos marujos recaíram sobre Jenny, alguns ali já lhe viram antes, mas ainda sim havia surpresa em suas expressões. Então eles seguiram até a cabine mestre, Shay abriu lentamente as portas e cada segundo pareceu ser uma eternidade para ela. Até que a loira estava novamente diante do dormitório do capitão.

Olhando pela janelinha estava alguém de pé, mãos atrás das costas, cabelos negros, vestes azuis e um chapéu de três pontas sobre a cabeça. Ela entrou com passos cautelosos, contornando a mesa de mapas, passando ao lado do baú até ficar com menos de dois metros de distância daquele homem. Vagarosamente, Haytham se virou e encarou a irmã frente a frente após tantos anos.

— Jenny...

Qualquer coisa que o Kenway tivesse em mente para dizer à sua irmã, foi deixado de lado quando Jenny ejetou sua Hidden Blade e partiu para cima do irmão com tamanha fúria que o Templário não se viu com escolhas melhores que o uso de força bruta. Ela mirou seu tórax sem qualquer piedade no olhar, mas seu irmão não era qualquer um e conseguiu desviar-se e segurar o pulso dela, com mais força do que ele desejaria usar contra uma mulher, principalmente uma de sua família.

Haytham manteve o pulso dela no alto, mas ela estava fazendo tanta força que seus dedos deixaram marcas em sua pele. Os cinzentos olhos dele questionaram os dela, porém Jenny parecia fora de si. Sua irmã não desistiu e logo ela visualizou a espada presa na lateral da cintura do Templário e tentou alcançá-la com a mão esquerda. Ele a impediu de retirar a espada da bainha e agora estavam um diante do outro. Apenas alguns centímetros o separavam quando Haytham teve enfim outra oportunidade de falar.

— Eu ia dizer que estava surpreso de encontrá-la aqui, mas agora estou mais do que isso.

— Shay, por que ele está aqui?

Apesar de Cormac estar ainda próximo da porta, catatônico demais ao assistir tal cena, ela não tirou os olhos do irmão por um segundo. O ex-Assassino se aproximou a passos lentos, quase temorosos, por de trás dela.

— Estamos em uma busca, pode por gentileza de acalmar, minha irmã. – Haytham ainda muito intrigado a respondeu calmamente.

— Teu sobrenome não te faz mais meu irmão do que qualquer outro bastardo que meu pai fez pelos portos das Bahamas.

A feição de Haytham ficou rígida feito uma pedra. - O que aconteceu para que me trates assim?

Foi quando os olhos dela acharam um cordão no pescoço dele e com puxão libertou a mão esquerda para segurar o item recém-achado por entre os próprios dedos. Desta vez, o mais novo dos Kenway ficou intrigado com a atitude dela e fitou o amuleto antes de tornar a encarar a irmã.

— Isso aconteceu.

— O que você sabe desse amuleto? – A cada instante ele ficava mais curioso. Sua sobrancelha se arqueou e ela a libertou, mas não sem se afastar dela.

— Não muito mais que seu antigo portador sabia.

— Você o conhecia...

— Miko fez de mim o que sou hoje, ele me deu esse manto e essa lâmina que um dia foi do meu pai. E você o matou por um amuleto. – Os orbes dela estavam marejados e sua respiração um pouco mais calma.

— Não é um ordinário amuleto.

— Eu sei muito bem o que é. Estive meses a fio procurando informações dele junto aos Mohawk e não encontrei nada. Absolutamente nada.

— Então estava aqui nas Colônias desde sua partida da França?

— Não. Retornei para Londres, para Miko e nossa simples irmandade. Então ele me incumbiu-me de achar os segredos desse amuleto. Mas o que eu fiz não tem importância agora. Não posso permitir que fique com isso, não és merecedor.

— Então esse é o motivo de seu ataque de fúria ainda pouco? Pois saiba que seu estimado Miko não hesitou em tentar me matar durante uma missão dele.

— Como tu deves ter percebido, eu também não. Tu escolheste seguir nessa Ordem mesmo depois de descobrir a respeito de Birch e sobre a morte de nosso pai.

— Não podes me acusar desse jeito, não podes pedir que eu jogue fora anos de aprendizado e convicções que eu moldei ao longo de minha vida. Eu não fugi em busca de tolos sonhos de se aventurar pelo mar feito alguém irresponsável como tu.

— Agora és tu a me acusar.

— Certamente, afinal o que esperavas que fizesse com dez anos? Sem um terço do conhecimento que tu tinhas. Ao menos uma vez já parou pra pensar como eu me senti? Como fiquei triste e solitário depois da morte do papai? Eu pensei por anos que os Assassinos haviam lhe levado e então quando descobri a verdade, também percebi que não somente Reginald Birch me enganou, mas também que tu me deixaste para trás sem pensar duas vezes.

Jenny desviou o olhar até então furioso de cima do irmão para o chão de madeira. A verdade é que nunca ela havia se colocado no lugar dele em todos esses anos. Sempre o acusando de todo seu sofrimento desde o nascimento, Jenny só alimentava seu rancor por não ser escolhida pelo seu pai. Ela não o odiava por nada que Haytham havia feito, ela o odiava apenas por ter nascido um menino.

O mais novo então se aproximou dela e parou ao lado dela, agora sem temer qualquer ataque por parte da irmã. – No fim foste tu quem seguiu os passos dele e eu não acho que ele seria mais orgulhoso se você tivesse nascido um homem.

Haytham seguiu em frente e passou por um Shay deslocado em meio aquela discussão familiar, até chegar às portas de madeira que levavam ao exterior e antes de partir o Grão Mestre do Rito Colonial se pronunciou.

— Prenda-a.

Cormac o olhou suplicante para não ter que fazer isso, mas o Kenway já havia partido e sua atenção estava sobre sua velha amiga. Ele se adiantou e pegou os pulsos da loira por trás das costas.

— Vais mesmo fazer isso? – Jenny o questionou em baixo tom.

— O que aconteceu com você?

— Ele matou Miko.

— Ele não sabia o que Miko significava a ti. E até onde sei você matou o mentor dele também.

— Foi diferente.

— Ele é seu irmão, sangue do seu sangue.

A Assassina se calou e com as mãos amarradas firmemente, Shay a conduziu sem maiores problemas para fora até à portinhola localizada a meia nau. Ela desceu na frente e seguiu convés abaixo até a área reservada às celas. Não eram muitas e todas estavam vazias.

Parados diante da porta de um delas, Cormac tirou a Hidden Blade do pulso direito dela. – Com todo o respeito. – De seguida ele a revistou até encontrar o par de pistolas presas às costas, por debaixo do manto cinzento. Ele também confiscou a bolsa de couro com dinheiro e munição.

Jenny não mostrou nenhuma resistência, mas quando a mão de Shay dirigiu-se até à fechadura da prisão ela tornou e expor a voz.

— Onde ele está?

Mas o Templário não respondeu antes de lhe dar um pequeno impulso cela à dentro e a loira deu poucos passos a frente antes de ouvir o som das chaves trancando-a.

— Temos muito que conversar. – Ele pendurou as chaves em um gancho na viga de madeira localizada no centro daquele espaço e suspirou. – Eu não esperava encontrá-la agindo junto aos Assassinos subordinados de Achilles.

— Eu não estava junto a eles. Eu apenas fui buscar um amigo. – A Kenway se virou e foi até às grades de ferro, sua feição era imparcial, parecia ate receosa. – Tu não respondeste a minha pergunta

Agora, sem ter para onde ir e sem o irmão por perto, ela deu uma boa olhada em seu antigo amigo. Dos pés a cabeça, Shay estava completamente vestido de negro e vermelho e como uma cereja no topo do bolo, a cruz vermelha brilhava solene em suas vestes. Intrigada demais, ela arqueou a sobrancelha e o mais novo pareceu perceber sua confusão.

— Deves ter escutado a respeito do terremoto que atingiu Portugal há poucos anos.

— Sim. Mas qual a relação de Liam com isso?

— Toda. Depois que você partiu, encontramos a caixa precursora e com alguma ajuda descobrimos a respeito de uma Peça do Éden escondida em Portugal.

Jenny desviou seus olhos até então atentos de Shay para o chão e uma súbita vontade de chorar lhe acometeu. Seu coração de acelerou e com muito esforço ela o questionou.

— Ele estava lá? O que aconteceu com ele?

— Não. Se acalme, ele está vivo. - A Assassina lhe voltou à atenção aliviada. – Ele não foi comigo, Achilles não correria o risco de perder seu melhor Assassino, por isso a missão de pegar tal artefato recaiu somente sobre mim. A peça estava abaixo de uma catedral, debaixo da terra e quando eu a retirei tudo começou a ruir ao meu redor. Eu escapei por muito pouco, mas centenas de pessoas não tiveram tanta sorte.

— Achilles sabia disso? Sabia que isso aconteceria?

— Talvez. O mesmo ocorreu no Haiti anteriormente, mas ainda sim ele me enviou. Eu sobrevivi para retornar para as Colônias e questionar a mesma coisa a ele, mas tu deves lembrar que Achilles não permitia questionamentos quanto à suas ordens. Tu tinhas razão Jenny. Ele ficou cego nessa corrida insana por poder a ponto de ignorar perigos que ele não compreende. – Shay suspirou uma vez mais e desviou o olhar para um ponto insignificante na parede, perdido em suas lembranças. – Eu parti, não podia mais tolerar aquela loucura. Liam e Hope tentaram me impedir. Ficaram ao lado de Davenport e os outros Assassinos... Eles me atacaram.

— Liam não faria isso, ele não seria capaz de te machucar.

Cormac esboçou um leve sorriso e a encarou. – O seu marido certamente não seria, mas depois de sua partida ele não me dava mais ouvidos, apenas seguindo as ordens de Achilles. Ocupando-se a cada instante na busca pelos artefatos e na guerra que vivemos. Jenny... Ele não se permite espaço para pensar em tu e eu sei o quanto ele sente tua falta. Eu gostaria que tu nunca tivesses partido, queria que ainda estivesse ao lado dele.

— Eu precisava partir, precisava proteger o meu mentor.

O moreno a observou por alguns instantes, avaliando suas palavras e sua sinceridade. A loira nunca antes havia mentido para ele, mesmo a respeito de suas pesquisas para o credo e agora a tristeza eminente em sua voz provava que ela dizia a verdade.

— Tu te arrependes? Afinal, não conseguiste chegar a tempo, Chevalier nos disse a respeito do seu ataque. Ele gostava de importunar o Liam com isso. Chamando-a de traidora.

— Foi no que Achilles me transformou, uma mentirosa. – Ela abaixou os olhos e o chão fétido de madeira parecia refletir sua alma. Um pedaço velho e podre esquecido no interior de uma casca.

— Eu nunca acreditei nisso.

— E ele?

— Jenny... – Houve uma pausa antes de completar sua resposta. - Liam te perdoaria mesmo se tentasse matá-lo. O mesmo já não pode ser dito de mim, creio eu.

A Kenway tornou sua atenção de volta para ele, intrigada com tal comentário. – O que queres dizer?

— Eu tentei lhe explicar, fazê-los entender. Mas nem Achilles e nem ninguém quis me ouvir. Eu não podia simplesmente deixar aquela Irmandade livre para sacrificar mais inocentes em busca de mais artefatos e eu sei que eles o fariam na primeira oportunidade. Foi quando vi os Templários de um modo diferente. Há bons homens na Ordem, como o seu irmão. Então eu deixei o credo dos Assassinos para me unir à Ordem Templária.

— Antes tu matavas sob as ordens de Achilles e agora matas sob as ordens do meu irmão. Qual. A diferença?

— O conhecimento. Fator totalmente ignorado por Achilles e sua Irmandade. Seu irmão se provou a mim como um alguém mais sensato do que meu antigo mentor. Por isso não posso permitir que seguisse em frente com seu plano de vingança.

— Ele não pode ficar impune pela morte de Miko.

— Acredito que ver a própria irmã disposta a matá-lo sem o pingo de remorso já conta como uma dura punição.

— Não. Nunca fomos próximos. Está enganado quanto a isso.

— Ele poderia ter revidado lá em cima, poderia ter te matado. Mas ele não o fez e tu sabes que não estou enganado. Matar-te seria como matar o último suspiro de seu pai. Ele estaria matando o sonho de seu pai que ele nunca realizará.

— Não acredito que o esteja protegendo. – Ela o encarou com desgosto e desviou o olhar para o interior de sua cela.

— Seu irmão não precisa de proteção. Estou protegendo a ti de se tornar uma fraticida. – Jenny não lhe respondeu nada e virou-se de costas para o jovem. – Eu matei Kesegowaase, Hope e até o sangue de Adewale mancha as minhas mãos. Não quero perder vocês dois. – Shay deu alguns passos a frente e segurou-se nas grades de ferro. – Estamos indo para o norte, atrás de Achilles e Liam para impedir que eles causem um novo desastre catastrófico. E... – Ele respirou fundo antes de concluir. – Eu tenho certeza que Liam lhe ouviria.

— Ele não ouviu antes.

— E ainda sim ele lamentou sua partida quando encontrou sua casa vazia em Nova York. E assim como tu, ele ainda esse anel Irlandês. – A Kenway acariciou o anel dado por seu marido. – Pense nisso. Se tu voltar, tenho certeza que nunca mais ele a deixará partir para longe.

Os passos do Templário foram os únicos sons do recinto em seguida enquanto a Assassina se encolheu em um canto de sua prisão, abraçou os joelhos e chorou. Um choro cansado, um choro acumulado por meses e meses.

Apesar da imagem de Shay Cormac impor respeito sob seus subalternos, quando ele retornou ao convés superior, muitos o olharam pelo canto dos olhos, mas nenhuma palavra foi dita. Havia um ar de curiosidade do motivo para o capitão manter uma prisioneira, principalmente entre aqueles que viram o rosto de Jenny em outras épocas.

Há não muitos anos, os mais antigos na tripulação conheceram a Assassina quando Shay e seu amigo Liam a levaram até lá, sendo ela especialmente próxima de O'Brien. Mas agora Liam não era mais um amigo e restava a dúvida se o mesmo se aplicaria para sua amante.

Haytham estava novamente na cabine mestra, tentando se concentrar na missão que tinham na frente e afastar a irmã dos pensamentos, o que estava sendo deveras difícil. E Shay não o ajudou muito ao entrar abruptamente no recinto e fechar imediatamente as portas atrás de si.

— O que pretende fazer com ela?

O Kenway se virou para encará-lo com sua sempre expressão séria, seus olhos cinzentos se estreitaram e suas mãos foram postas para trás.

— Eu não sabia que conhecias a minha irmã.

— Eu muito menos, ela nunca havia falado de ti antes. – Shay manteve-se ereto ainda próximo ao par de portas.

— Posso imaginar. Mas estou curioso para saber como a conheceu. Reparei que ela carregava um anel típico de Irlandeses, foi você quem o deu a ela?

O Grão-Mestre arqueou uma de suas sobrancelhas e o mais novo percebeu que havia ali algum tipo de sentimento familiar, zelo típico entre irmãos.

— Não. Liam deu a ela quando se casaram em Nova York.

— Liam? Seu antigo amigo Assassino? – A expressão de Haytham se transformou de desgostosa para curiosa.

— O próprio.

O Kenway bufou e se virou de frente para a mesa com os mapas náuticos que Shay usava para organizar sua frota particular.

— Eles se conheceram quando ela foi à fazenda pedir ajuda para descobrir mais a respeito desse amuleto que tu carregas. Achilles não a reconheceu como uma Assassina e lhe negou qualquer ajuda, mas Liam... Bem, Liam a levou até Boston e conseguiu ajuda com uma Mohawk. Quando ele percebeu, passava mais tempo com sua irmã do que com a Irmandade.

— Por que não me contou isso antes?

— Como eu poderia esperar que houvesse apenas dois Kenways no mundo? E ainda que fossem irmãos.

— O que aconteceu depois?

— Eu não sabia até o dia de hoje. Um dia ela simplesmente havia partido e Liam não gostava de tocar no assunto. Pensei que ela estava descontente por vê-lo mais tempo longe do que perto e seguindo as ordens de Achilles, o que a desagradava bastante. Mas hoje ela me disse que partiu para proteger Miko. Proteger de ti.

Haytham fechou os olhos e revivia em sua mente o momento em que Miko o percebeu atrás de si. O Assassino não reagiu, nem ao menos tentou. A princípio o Templário julgou que o mesmo não fizera nada por não ver alternativas de combate como em Corsica. Porém, agora, mais do que nunca as palavras dele fizeram sentindo. Deveria ter sido diferente...

— Eu tenho um plano. – A voz de Shay soou distante em meio à suas lembranças, mas foram o suficiente para lhe despertar do transe momentâneo. – Sua irmã pode nos ajudar. - O Kenway se virou e encarou-o ainda em silêncio. – Se há uma pessoa no mundo capaz de fazer Liam ouvir, essa pessoa é a Jenny.

A voz do Grão-Mestre permanecia retilínea quando lhe respondeu. - Eles não estão mais juntos agora, não creio que possamos confiar na profundidade de um relacionamento já encerrado.

— Jenny o deixou para proteger o próprio mentor e o fato dela ainda usar o anel significa que Liam continua a ser importante para ela.

Porém, o mais velho sinalizou negativamente e brevemente com a cabeça. – A ideia de usar a minha irmã não me agrada e, além disso, não posso simplesmente ignorar seu ataque. Jenny sempre foi explosiva e muito temperamental.

— Diz isso, pois nunca os viu antes juntos.

Haytham se aproximou de Cormac e ficando há poucos centímetros deste cessou seus passos. – Entendo que gostaria de encontrar outros meios, menos fatais para seu amigo, mas minha irmã não é uma opção confiável.

O Kenway se virou para partir, porém seu subordinado lhe respondeu antes que o fizesse. – Posso estar enganado, mas parece que a ideia de ver sua irmã casada com um Assassino que agora é seu alvo lhe incomoda ainda mais.

— Diga para seus homens levantarem âncora, já reabastecemos com tudo que esses Assassinos tinham. Devemos partir o mais rápido possível.

O Mestre Templário deixou o recinto e um Shay bufando insatisfeito.


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Notas finais do capítulo

Eu não posso dizer nada do próximo capítulo... Desculpem-me por isso. Mas tiraria toda a graça da surpresa né?

Agradeço quem já leu até aqui e nos vemos no próximo! Beijos ;)



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