Este era um dia especial. O conselho tutelar visitaria nossa casa e veria como estão as coisas com Lorenzo. Havia algumas visitas fora de horário e sem marcação, para nos pegar “de surpresa”, mas havia uma visita semestral marcada para acompanhar a adoção. Deixava a casa bonita e limpa para recebê-los, havia pedido o dia de folga para poder organizar tudo, e como sempre havia sido uma funcionária exemplar, eles me davam folga quando eu necessitava e poderia cobrir em outro dia, ou tirar de minhas férias.

Dei banho primeiramente em Julia, minha princesinha, e em seguida Lorenzo. Ele já tomava banho sozinho, mas eu sempre conferia, para ter certeza que estava cheiroso. A casa estava arrumada e Gil chegaria ainda antes dos fiscais do conselho tutelar. Separei as notas de Lorenzo na escola, inclusive os bilhetes de avisos quando Lorenzo aprontava. Tinha de ser sincera sobre sua educação e adaptação.

Estava terminando de me arrumar, em frente ao espelho, prendendo meu cabelo quando ouvi uma batida na porta do quarto.

– Pode entrar. – Deveria ser Julia ou Lorenzo já que Gil ainda não havia chego.

– Mamãe. – Lorenzo entrou acanhado, abrindo a porta.

– Entre meu amor. – Sorri para ele.

– Tem alguma coisa que eu tenha que dizer para o moço do conselho tutelar?

– Como assim? – Disse sem entender.

– Quando fui adotado da primeira vez, meus tutores disseram que eu tinha de falar coisas boas sobre eles, e mentir algumas coisas.

Apavorei-me ao ouvir isto. Chamei-o para sentar em minha cama, e fitei aqueles pequenos olhos infantis e confusos.

– Nunca meu amor. Eu quero que diga a eles a verdade, exatamente o que você sente.

Neste momento Gilbert havia chego, Julia brincava em seu cercadinho e ele estava acompanhado de dois fiscais do conselho tutelar. Eles chegaram em silêncio, falando baixo, o suficiente para que eu não os ouvisse.

– Desculpe se chegamos mais cedo. – Disse uma das fiscais, uma mulher de quarenta e poucos anos, de cabelos curtos que vinha com uma prancheta na mão e uma bolsa, vestia uma roupa formal. Chamava-se Elizabeth.

O outro fiscal, Roberto, era um homem alto, com seus trinta anos, e vinha vestido com um terno e nos pés calçava calçados formais.

– Não há problema. Vou chamar Sar e Lorenzo. – Ele pegou Julia no colo e lhe deu um beijo longo, e logo foi até o quarto.

A fiscal o seguiu até o quarto. Elizabeth ao ouvir-me conversando com Lorenzo pediu para que não interrompesse, e ouviu a conversa. Eu, que até então não sabia que havia alguém escutando atrás da porta, continuava a conversar com Lorenzo.

– E por que eles o faziam mentir para os fiscais?