Mamãe, eu sou gay escrita por Caroline Dos Santos


Capítulo 8
7.5 — Natal de um garoto homossexual


Notas iniciais do capítulo

ENTÃO É NATAL, E O QUE VOCÊ FEZ ♪♫
O ANO TERMINA ♪♫
E COMEÇA OUTRA VEZ ♪♫
ENTÃO É NATAL ♪♫
A FESTA CRISTÃ (que atualmente serve apenas para comer, comer, e comer mais, porque ninguém mais se importa com um carinha que nasceu há sabe-se lá quando anos atrás numa manjedoura, isso é, quem acredita no tio Jesus.) ♪♫

HOJE A FESTA É SUA ♪♫
HOJE A FESTA É NOSSA ♪♫
É DE QUEM QUISER ♪♫
QUEM VIER (mas que você não pode entrar porque é pobre) ♪♫

Olá moçada, tudo bem? Vocês devem estar se perguntando "affe, essa vadia louca aqui de novo?" pois é minha gente, estou postando mais um capítulo, e dessa vez um especial de natal ♥ Esse é o meu presente para vocês, meus leitores maravilhosos ♥

Eu gostaria de agradecer, primeiramente, a todas as pessoas que comentaram nos últimos sete capítulos. Vocês não sabem quanta força me deram para continuar com essa história, que na minha cabeça teria apenas um capítulo, mas que olha, já estamos no sete ponto cinco (ou oito, se preferir).

Também agradeço as pessoas que colocaram "Mamãe, eu sou gay" em seus favoritos e acompanhamentos! Já são 40 acompanhando e 10 favoritando. Sério, eu não esperava um feedback assim, mesmo a maioria sendo fantasminhas, rsrsrsr :v

Não imaginei que fosse chegar tão longe assim, mas estou aqui graças a vocês, com 40 comentários (não dá para citar todos os nomes aqui, mas vou fazer isso no ano novo) e uma recomendação (Mapa, obrigadinha ♥). SÉRIO, VOCÊS SÃO DEMAIS ♥♥♥♥

Então esse será seu presente de natal. O presente pelo um mês, um dia, quatro horas e doze minutos (sabe-se lá quantos segundos).

Obrigada por tudo, e até lá em baixo ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660881/chapter/8

Mamãe, eu sou gay

Natal de um garoto homossexual

Esse natal aconteceu há três anos, quando eu era apenas um garotinho de treze anos, e Mr. Mime, meu amado cachorro, ainda estava vivo — pois é minha gente,seu protagonista é fã de Pokémon, aqueles bichinho lá que tretam entre si e ninguém se pega —, apesar de velhinho. Íamos passar desta vez na casa da vó Nanda, em uma pequena cidadezinha do interior de outro estado. A vó Nanda e o vô Bento haviam se mudado para lá quando eu era ainda mais novo.

Nessa época Thainara mal tinha entrado na faculdade, e quase não conseguiu deixar os estudos de lado para nos acompanhar, Vitor e Sara estavam em crise após o nascimento do mais novo, para variar. E mamãe estava completamente atarefada com com seu trabalho como psicóloga infantil. Não sei como conseguiram tirar um tempo para viajarmos todos juntos, como uma família feliz.

E eu? Bem, que não queria ir. Nunca me sentia bem nessas reuniões de família, onde as mulheres e as meninas não me queriam por perto por "ser um menino", e os meninos não me queriam por perto por "agir como uma menina". Os homens? Ficavam bêbados e faziam piadas sobre mulheres e "viados", ou seja, sobre mim, por mais que não soubessem da minha sexualidade. Ou fingissem não saber.

Me restava apenas ficar na minha como a Thainá, que também não se misturava muito. Ficar seis horas dentro de um carro para chegar e ficar isolado em um canto. Só o viadinho enrustido do Gabriel, porque não pode ser. Eu não devo ser normal, e nem o resto desse povo.

— Nossa, como você cesrceu! Já está um homenzinho! — essa é a minha avó me apertando com força num abraço. Tu quer quebrar meus ossos, mulher? — Gabriel, meu Deus! Dá última vez que veio aqui aqui você era tão pequenininho!

Só para constar: isso foi no meio do ano. Alguém avisa pra essa velha que eu não cresci nem três centímetros inteiros? Foram dois vírgula oito, bem.

Já meu avô era bem mais calado, me abraçou e disse que sentia saudades, que me tornei um homem bonito. Báh, ele diz isso para todos os netos e todos os sobrinhos netos. Meus tios não fizeram diferente, não. Nem minhas tias, aquele bando de fofoqueiras. Uma delas até elogiou minhas unhas, dizendo que eram muito bem cuidadas para um menino.

Por que acho que isso foi pura ironia?

Mas não importa. Eu vou ficar sozinho jogando no celular mesmo, já que meus primos vão simplesmente virar a cara para mim porque "papai disse que ele é mau exemplo". Sabe por que seu pai disse isso, criança? Porque suspeita que eu gosto de pênis. Parabéns, seu pai é muito inteligente.

— Gabriel, vem cá — tia Yanca chamou. Ela é a irmã mas nova da minha mãe, e também a pessoas que mais se parece comigo em questão de personalidade. Ela também tem certeza de sua beleza arrasadora. — vai jogar bola com seus primos, menino. Não fica aí sozinho.

Ah tia, quem dera eles quisessem me ter por perto.

— Não estou com vontade. — menti. Minto mesmo. — Posso ficar aqui com vocês?

Ela sorriu, já tia Brenda arregalou aqueles olhos de burca dela e pareceu desconfortável. É claro, né? É a bicha adotada que tá aqui.

— Não... — limpou a garganta, colocando um pouco do que bebia para dentro. — Não acha melhor ir com a sua irmã, querido? Ela deve estar lá sozinha, e vocês são tão parecidos.

Traduzindo: ambos não são bem-vindos aqui, são estranhos e não se encaixam nessa família, por isso deviam ficar afastados. Ah, e também são adotados, não tem o nosso sangue. Quem quer dois pirralhos adotados aqui?

— Já eu acho melhor trazermos a Thainara pra cá também, Brenda. — mamãe lacrante como sempre, enquanto olhava séria para a prima que eu chamo de tia e para mim. Querida, isso é puro recalque porque sendo um homem eu brilho mais que tu. Beijinhos. — Filho, vai chamar a sua irmã, ela deve estar muito sozinha.

Assenti e saí dali, ouvindo Brenda ainda comentar algo com minha mãe e com a tia Yanca que murmurou algo que creio ser uma tirada. Ai, como eu amo essa mulher. Fui com toda a alegria, lindo e belo. E se fosse um viado assumido naquela época, teria ido rebolando.

Mas fazer o que? Eu ainda não tinha saido do armário.

Durante meu caminho até Thainá, que provavelmente estava no fundo da segunda casa, passei pelo lugar onde estavam a maioria dos homens daqui. Deviam ter uns dez, e ainda havia os que precisavam chegar. Esses viriam apenas mais a noite. Tentei passar despercebidos por eles, mas não consegui. Fui chamado por mais um dos primos da mamãe, que chamo de dio também: Vagner.

— Vem cá garoto! — disse alto e riu para algo que ouviu que algum parante aleatório. Respirei fundo e fui. Não vai dar merda tão cedo, não é? Não é? Não é? Gente digam que não. — Esse é o Gabriel, o último menino que a Manu adotou, Ruan. — espera, por que ele está me apresentando pra esse... Ui, que nego lindo. Tá afim de conhecer minha boca, gato? — E as namoradinhas, como vão?

E se eu te dissesse que todas tem o cromossomo xy, tio? Ah, é. Você é um semi-analfabete que não entende muito de biologia, não é?

— Não penso em namorar agora. — menos você Ruan, quero namorar você sim. — Acho que ainda sou muito novo pra.

— Cedo? — arqueou uma sobrancelha, e riu alto de novo. — Bah, isso é coisa de viadinho! Homem de verdade tem que pegar mesmo!

Ah, claro. Até porque as mulheres são objetos. Aham. Certinho tio. Muito certo! Respira Gabriel, respira...

— Eu... Vou procurar a Thainara. — respondi, não muito alegre. Minha vontadade era mandar ele tomar naquele orifício anal, mas não iria valer a pena. — Com licença.

Sai dali sem deixa-lo terminar. Não queria me irritar com certos comentários homofóbicos e machistas. Gente, eu não sou obrigado nem agora, e nem naquela época. Sempre fui uma bicha revoltada. Por isso eu me amo muito, beijos pra mim, que além de maravilhoso aindo sou simpático e não respondo essas coisas.

Agora, continuando minha emocionante narração sobre como encontrei minha irmã mais velha nos fundos. Não demorei muito para chegar até o lugar onde a garota estava, agachada e vendo alguns patinhos seguindo sua mãe. Thainara sorria, algo não muito normal para ela nos fins de ano em família.

Hesitei um pouco para chama-la, mas o fiz. A estudante de direito fez uma careta e se levantou para me seguir. Na volta, alguns primos ficaram olhando para a gente. Comendo. Minha. Irmã. Com. Os. Olhos. Principalmente o Lucas.

— Hm... — ele murmurou, passando a lingua nos lábios. N-o-j-o. — tá ficando gostosa, hein Thainá?

Que ousadia!

— Eu não sou carne para estar gostosa, Lucas. Aliás, eu nem sabia que porcos comem carne.

Já disse que amo essa diva anti-social? Pois é, eu amo essa diva anti-social. Lucas sequer teve coragem de abrir o bico para responde-la. Aliás, quem não enfiaria a língua no orifício anal com uma resposta dessa?

Acompanhei minha civa de cachos maravilhosos até as mulheres, que não cansaram de elogiar o cabelo dela — bando de falsas, até pouco tempo estavam dizendo que parecia um bucha e que mamãe devia obriga-la a avisar. O gay tá vendo tudo isso aí, viu? — teve tia/prima que perguntou dos namoradinho se levou uma tirada, pra variar. Amo o jeito "não sou obrigada a nada" da minha querida irmã mais velha.

Ah, antes que eu me esqueça dos dois, Vitor e Sara estavam quabrando o pau lá fora, mas eles não sem nenhum um pouco importantes, eu sou, então prestem a atenção em mim.

Enfim, estavam todas conversando numa boa, interagindo, mas mainha e tia Yanca estavam mais na delas, contando umas fofocas aí. Se tem algo que eu gosto nessas duas é que elas não falam mal dos próprios filhos, como a maioria aqui, que não se decide e se exibe com eles, ou se xinga. Mereço.

Aliás, eu estava esperando alguém, um dos meus primos. Alexandre, ou apenas Xande. Quatro anos mais velho que eu e tem um tanquinho maravilhoso, em meus treze anos de vida foi a primeira pessoa que eu beijei — cof, cof agarrei, cof, cof —. Um negro muito delicioso, só para constar.

E como é só falar no diabo que o diabo aparece, ele chegou com a mãe, tia Juliana, e a irmã mais nova, a chatinha metida da Melissa — tem minha idade e... Acha que eu sou hétero, iludida — que insiste em querer me pegar todo santo natal. Queria, hello, acorda, gosto de pinto.

Para completar, ainda veio me abraçar e dizer o quanto estava morrendo de saudades porque fazia muito tempo que não nos viamos. Amor, nos vimos em Novembro. N-O-V-E-M-B-R-O.

E eu quero é a boca do seu irmão, saí.

— Biel, tudo bem? — melhor agora, gato. Tu tá gostoso esse ano, hein? Ai lá em casa. — Nossa, como você cresceu.

— Estou do mesmo tamanho que da última vez. — revirei os olhos. Xande faz isso de propósito porque sabe que eu odeio.

Diferente de mim, Xande se mistura bastante com os familiares, sejam homens, mulheres, crianças ou Thainara. Ou seja, é um viado bastante sociavel, diferente do primo mais novo. E nem me deu atenção.

Mentira, o moreno seu sim, depois de um tempinho. Conversamos sobre algumas coisas que aconteceram no nosso ano, e naquele uma mês que ficamos sem nos ver. E como sou bem sincero disse que queria pegá-lo. De novo. Para variar. O filho da puta riu como se eu estivesse brincando, me fazendo bufar. Mas aí beijou a ponta do meu nariz quando ninguém estava olhando.

Jesus, como eu adorava esse cara.

Então, sem que eu percebesse, chegou a hora de ir comer. Na família Silva não tem essa de meia-noite, a vó Nanda gosta se alimentar esse bando de mortos de fome lá para as nove ou dez horas. Ainda bem, já estava começando a fazer birra para a dona Manu para comer logo. Pois é, eu sou dos mortos de fome.

E coco nas melhores — ou nas piores, depende do ponto de vista — famílias, o tio Josinei tinha que fazer a clássica pergunta quando a vó serviu o pavê:

— Mas é pavê ou pacumê?

É para enfiar no cu, velho chato.

Ao menos a comida estava muito boa, tirando umas uvas passas no arroz e uns... Pedaços de maçã... Na maionese? Gente, pessoas de um intelecto superior que sabem cozinhar, me digam, pra quê isso? Maçã e uva passa são coisas boas, mas não no arroz e nem na maioneses. E para completar eu virei o "neto enjoado" por tirar essas coisas do que eu comia. Vão cuidar das suas vidas, por favor.

Ah, quase me esqueço de dizer: tem coisas que eu odeio na ceia de natal — e de ano novo também — que são as conversas desse povo. O que eles diziam dessa vez? Dilma vai foder com o Brasil, coisas machistas, coisas homofóbicas, cuidavam da vida dos vizinhos, mais machismo e mais homofobia... Só resmunindo.

Me esforcei para enguentar tudo aquilo até o fim, e me esforcei mais ainda quando deu meia noite: aquela corja toda que fala mal do enrustido aqui no ano todo me dando feliz natal e desejando felicidades. Amigas, amigos, parem que tá muito feio. Falsidade não.

Principalmente você Igor, me odeia desde criança porque eu "parecia ser uma menina" — segundo as paalvras dele, como se ser menina fosse algo ruim — e depois vinha me dizer que eu me adorava — e quem não adora, bem? —, ah, me poupe das suas mentiras.

No entanto, havia uma coisa boa nisso tudo, conforme todo mundo se distraia nessa hora e esquecia de minha maravilhosa existência, eu podia dar uma escapadinha até os unfos da casa, tanto para ver aqueles lindos fogos de artifício, quando para beijar um certo primo mais velho que já me esperava. Fazer o que? Ataquei aquela boca divina logo.

— Eu estava com saudades de você... — murmurei, meio que nas pontas dos pés para ficar na altura do rosto dele. Malditos quatro anos a menos. — E do seu beijo.

O outro gargalhou. Ué, tenho cara de idiota por acaso?

— Eu também, pirralho — pirralho é o teu pai, aquele cara de pinto pequeno — feliz natal, Biel.

Sorri, né? O que posso fazer?

— Feliz natal, Xande.

Atualmente...

Isso aconteceu há três anos, eu era um pirralho com apenas treze aninhos e o Leo só entrou na minha vida no seguinte, então não me julgem, na época eu era livre... Mas claro, não contem isso para o meu boymagia atual, por favor.

— Gabriel! — ouvi mainha chamar. A voz do Leo e da tia dele ecoavam em risadas na cozinha. — Vem comer!

— Já vou mãe. — gritei de volta. É maravilhoso passar o natal com a família, com o namorado e com a tia dele, que acho que posso chamar de sogra.

Fechei o notebook e fui até, cantarolando alguma musiquinha de natal, e assim que cheguei ouvi o barulho dos fogos de artifício. Não evitei sorrir para aquele pequeno pedaço de família que havia ali. Me joguei nos braços de Leo, de surpresa mesmo, e o beijei. Esse seria o primeiro de muitos natais que passaríamos lado a lado.

E para vocês, um feliz natal também.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado de presente, e gostaria de dizer que: gente, não matem a mim nem ao Gabriel. Com treze anos ele estava solteiro, livre, e completamente atirado :v

Enfim, esse foi meu presente, e estou aceitando comentários e recomendações como presentes de natal também, viram? kkkk

Mas agora façam outra coisa, vão abraçar seus pais, seus irmãos, ficar com a sua família. Vão comemorar o natal ao lado deles. E se você não comemora, vai encher o bucho, aproveita que é uma ou duas vezes por ano ♥

BEIJOS E FELIZ NATAL ♥