Mamãe, eu sou gay escrita por Caroline Dos Santos


Capítulo 1
01 — Como contar a sua mãe sobre sua sexualidade


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas!

Sejam todos bem-vindos e bem-vindas a minha querida original ♥ E espero que não tenham me achado muito grossa ou rígida lá atrás :3

Para ser bem sincera, eu estou bastante animada com essa história, que simplesmente me surgiu de repente quando estávamos conversando sobre como seriam nossa reação se tivéssemos um filho gay. Então fui BOOM! Veio a ideia.

O Gabriel eu fiz pensado em vários homossexuais que conheço (pensem numa pessoa cercada por gays. Essa sou eu. ADORO ♥), enquanto a Manu é uma eu da vida. O Gabe também é bastante dramático, como vocês vão perceber, e tem um jeito bastante despojado de falar da própria vida. Eu realmente espero que vocês gostem dele ♥

Enfim, sem mais enrolações, vamos lá :3



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Mamãe, eu sou gay

Como contar a sua mãe sobre sua sexualidade

17 de Março de 2016

Sabe aquele momento que você fica entre a cruz e a espada, sem saber o fazer quando alguém te intima a algo? Pois é, eu estou assim agora graças ao meu amadíssimo e queridíssimo namorado — sintam a ironia —, Leonardo. Essa pessoa a quem amo muito está ameaçando uma separação há exatamente sete dias, caso eu não conte para minha mãe sobre nosso relacionamento.

Você, nobre leitor, deve estar pensando "então por que não conta logo? Deixa de frescura!", e eu realmente desejava que fosse fácil assim, mas o problema aqui é, que assim como o Leo, eu sou um homem. BOMBA! Pois é minha gente, eu sou gayhomossexual, bicha, viado, como quiserem chamar. Logo, se contar para minha mãe sobre o boymagia terei de contar sobre minha sexualidade também.

Não faço a mínima ideia de como dizer a ela sobre isso, tenho medo de sua reação. Porém também não quero perder o garoto que roubou meu pequeno o confuso coração. É nessas horas que você pensa seriamente em se matar e não ter que fazer nenhum dos dois... Tá, isso não fez sentido nenhum.

Mas, voltando aos meus problemas pessoais, faz uma semana que ele não fala comigo. Disse que não me diria uma palavra enquanto não soubesse que falei com mainha, e... Eu sinto falta pra caralho dele. O Leo não está nem mesmo atendendo as minhas ligações. Tudo bem, eu entendo os sentimentos dele, que não quer continuar com um relacionamento em segredo, só que se esquece que nem todos os pais aceitam numa boa o orientação do filho. Os dele não aceitaram.

E tem outro detalhe que quase esqueço de contar: sou adotado. Aliás, como todos os filhos da dona Emanuelle da Silva — ou apenas Manu —, Vitor, Thainara, e o caçulinha. Vulgo eu, como dezesseis aninhos. Isso torna tudo ainda mais difícil, já que ainda não falei nada sobre isso com ninguém da minha família, que é um pouco... Conservadora.

Já tentei. Realmente tentei, uma vez com minha irmã mais velha, e digamos o seguinte: a Thainá me ignorou completamente, dizendo que tinha mais o que fazer. Sério, quem diz esse tipo de coisa para o mais? Logo eu, o bebê da mamãe? O mais carente? Gente, eu sou gay, a sociedade me odeia, então preciso do amor de vocês. Por favor.

Foi depois disso que desisti. Eu tinha catorze anos na época e estava ficando com um garoto bonitinho da minha sala — não contem para o Leo — e queria gritar isso para o mundo. E não. Eu não faço aquele tipo bicha louca, mas adoro uma. Elas são demais.

Enfim, voltando aqui, eu continuo sem saber o que fazer em relação a situação em que me encontro. Digamos que esse não é um dilema dos melhores, e eu de certa forma que sinto obrigado a fazer o que meu namorado me pediu. Está certo: é preciso que minha mãe saiba, e é preciso que eu os apresente. Bem, rezem por mim, porque não sei se vou sair vido dessa situação.

— Mãe, eu sou gay.

Tá bom, eu sei que ensaiar uma confissão na frente dos espelho é um das coisas mais clichês que existem, mas a minha situação não é muito fora do clichê, certo? Certo? Bem, certo. E por incrível que pareça — ou não tão incrível assim — não consegui criar coragem para encarar a mulher que me acolheu com amor e carinho, que cuidou de mim como os meus verdadeiros pais não fizeram.

A situação em que me encontro é extremamente critica, e há quem fala mal de nós, homossexuais, adultos que sentem vergonha quando seus rebentos assumem gostar de alguém do mesmo sexo. Nós não escolhemos isso, e cagamos de medo de sermos rejeitados, por conta dessa sociedade extremamente machista e preconceituosa.

Comecei a dar voltas e mais voltas pelo quarto, sempre olhando para a minha imagem refletida no vidro do espelho. Cara, eu estou muito gostoso hoje. Porém esse singelo detalhe não importa nesse momento.

— Mãe... — disse novamente, encarando meu reflexo. — Eu preciso falar algo com a senhora... Algo muito importante...

— E o que seria tão importante assim, Gabriel?

Sabe aquele momento em que você congela onde está e sente cada mínimo pelinho do seu corpo se levantando lentamente com o leve arrepio que sobe por suas costas? Agora eleve isso ao cubo e vai conseguir imaginar como me senti ao ouvir a voz da minha criadora logo atrás de mim, de forma bastante calma. Comecei a me perguntar freneticamente há quanto tempo ela estaria ali, ouvindo tudo.

Minha respiração cessou por segundos, antes que criasse coragem pata me virar e encarar a mulher negra a poucos passos de distância de mim, com os lençóis cheirando a amaciante em seu braços, como se ela tivesse acabado de levar para o meu quarto. Encarava-me com um misto de seriedade e curiosidade, o que apenas fazia com que temesse ainda mais revelar minha sexualidade.

Confesso que pensei bem em dar meia volta e ir embora. Não seria de todo ruim. Mas ao mesmo tempo em minha cabeça aquela seria uma chance única. Uma chance que talvez não tivesse novamente, e por isso decidi por fazê-lo naquele momento, mesmo que meu pequeno coração estivesse batendo a mil por hora.

— É... É algo que talvez... A senhora não goste de ouvir.

A vi arquear uma sobrancelha com certa incredulidade, e depois se sentar em cima da minha cama. Bem, sei que isso não é hora para se comentar, mas os volumosos cachos da minha nega estavam molhados. Acho que ela acabou de sair do banho.

Mas agora chega com esses comentários desnecessários e vamos voltar a minha vida, por favor.

— Fala logo, Gabriel. — resmungou, cruzando as pernas. — Eu não tenho o dia inteiro.

Respirei fundo, pensando em todas as formas possíveis de contá-la sobre o fato de eu estar me pegando com um macho — muito bom de cama, aliás — maravilhoso. E isso se tornava ainda mais difícil pelo fato dela ter me adotado, quando ainda era menor que um banquinho de plástico, quando havia acabado de ser rejeitado por meus pais biológicos. Esse se tornava o meu maior medo, ser abandonado e rejeitado pela dona Manu também. Ela é e sempre vai ser a pessoa mais importante para mim nesse mundo.

E se ela não aceitar? E se gritar? E se me bater? E se me expulsar de casa? E se nunca mais quiser olhar na minha cara? Eram os questionamentos que se passavam em minha cabeça agora, que me faziam tremer com qualquer que pudesse ser a reação dela. Mamãe nunca comentava sobre homossexuais — bis, trans, entre outros — e sua face enigmática me amedrontava ainda mais. Sem contar que ainda tinham Thainara e o Vitor. O que iriam pensar de mim?

Agora, no entanto, não poderia voltar atrás. Se o fizesse, por quanto anos ainda iria mentir para a pessoa que me deu um teto, comida e muito amor? Isso me fazia ter forças para entreabrir meus lábios trêmulos, e falar num baixo sussurro que a dona Emanuelle poderia muito bem nem ter ouvido.

— Mamãe, eu sou gay.

Para falar bem a verdade, sequer sei quando comecei a chorar, só notei quando senti mais e mais gotas quentes escorrendo por minhas bochechas, mesclando seu gosto salgado com o do suor que descia por minha testa. Estava tremendo, tremendo tanto que me vi obrigado a encostar em minha cômoda.

Um soluço escapou por minha garganta. O medo mesclado ao sentimento de ansiedade não uma boa combinação, crianças. Só avisando. E isso fazia a minha pessoa imaginar quantas coisas ruins estavam e passando pela cabeça da mamãe. Não consegui levantar meus olhos azuis para a encarar, temendo ver uma expressão se repreensão e espanto naquele rosto tão bonito.

Esfreguei minha face com a mão, tentando conter as lágrimas que desciam sem minha permissão. O tempo parece parar em momentos como esses, como uma lenta tortura aos que tem uma grande sensibilidade. E o silêncio da parte da mulher não me ajudava muito, me fazendo desejar secretamente voltar no tempo, para um ponto onde nunca tivesse aberto a boca para lhe dizer algo.

Isto é, até ela resolver me responder:

— Tá bom, e daí?

Levantei a cabeça de tal forma, que a senti latejar depois, mas acabei por ignorar essa leve dor ao fitá-la, com descrença. A mamãe simplesmente se levantou e foi até meu guarda-roupa, guardar os lençóis.

— Oi? — a pergunta soou de forma fraca, só preciso saber se o que ouvi foi real ou não.

— Gabriel — virou-se para mim, com uma das mãos na cintura, olhava-me como se eu fosse idiota e estivesse me explicando o óbvio. — está na cara, não é? Você quis beijar o Vitor assim que chegou aqui.

Eu quis o que? E como assim eu fiz todo esse drama para a reação dela ter sido simplesmente dessa maneira tão simplista?

— A senhora... — funguei, ainda sem conseguir acreditar completamente na palavra da negra. — Não vê problema nenhum nisso?

Um singelo sorriso brincou por aqueles lábios avermelhados quando perguntei isso, como se, mais uma vez, a resposta fosse mais que óbvia.

— Nenhum. — e se voltou mais uma vez para o móvel. — A propósito... O seu amiguinho, Leonardo... É o seu namorado?

Como é que é?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, amores ♥ E se puderem deixar um comentário, eu agradeceria ♥ Beijos, e até o próximo.