Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 33
Capítulo 25 – Cedo ou Tarde.


Notas iniciais do capítulo

Hoje, originalmente, faz um ano que Waking Up existe. Um ano que estamos juntos nessa linda e emocionante história. Quero agradecer a todas as leitoras que passaram e continuam passando por aqui! A cada novo review é um novo incentivo. Até agora são 609 palavras de incentivo. Eu agradeço a cada uma delas com todo meu amor! Em um ano eu conheci pessoas maravilhosas e aprendi muitas lições com vocês! Cada linha que dou a vocês certamente é recompensada com o carinho que vem de volta! Por isso: MUITO OBRIGADA A CADA PESSOA QUE LÊ WAKING UP! OBRIGADA A CADA PESSOA QUE SE EMOCIONA COMIGO E NÃO ME DEIXA DESISTIR. E como o show deve continuar: BOA LEITURA!



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Narração: Amber Moore.

            Todos sabiam o quanto aquilo significava para mim. Foram anos e mais anos me olhando nos espelhos dos hospitais e vendo minha cabeça nua ou com fios que mal a cobriam. Detestava pensar em cabelos curtos… principalmente os meus. Aquilo era aterrorizante!

Lembro-me, como se fosse ontem, do dia em que cortaram meus cabelos pela primeira vez na clínica em que estava internada. Vi cacho por cacho de meus fios caindo no chão branco e cinza. O vermelho dele contrastava. Duas semanas depois eles começaram a cair. Minha avó dizia que era bom tê-los curtos, que logo eles cresceriam novamente, mas eles nunca tinham tempo. Eu tinha cinco anos e não entendia, só desejava ter meus cabelos para ostentar as tranças que mamãe me fazia. Quando fui para a escola – depois de muita teimosia – chorava vendo as meninas rindo de mim e de minha “calvície”, chorei quando minha quimioterapia foi substituída, e mais ainda quando recebi meu transplante. Depois disso apenas cortava as pontas dos cabelos.

Suspirei, secando uma lágrima que saiu. Doía reviver aquilo, mesmo agora eu sabendo a diferença. Jake estava abraçado comigo, me protegendo como se a louca fosse invadir minha casa. Alice tinha saído fazia vinte minutos, e com ela a cabeleireira que tinha ido junto. Nós tentamos de tudo, mas nada resolveu. Água, gelo, farinha, coca-cola… nada! O que resolveu foi a tesoura. Não conseguia sentir raiva de Jane, estava péssima demais para isso. Suspirei me lembrando da maldita hora que resolvi deixar de ignorá-la e comecei a me defender.

[FLASHBACK ON]

Aquilo estava me irritando mais que tudo! O dia inteiro ela estava me provocando e falando gracinhas. Cochichava coisas intimas dela e de Jacob, quando não de Edward, sempre ao meu redor. Infelizmente eu tinha um milhão de aulas com ela e achei que poderia agüentar, já que faltava tão pouco tempo para o colégio acabar.

Estávamos no vestiário feminino depois da aula de Educação Física. Precisava correr, tinha marcado com Jacob de passar na biblioteca antes de irmos embora, e o professor tinha me segurado alguns minutos a mais. Jane parecia uma vaca pastando com aquelas duas bolas de chicletes na boca. E pior era o barulho que fazia. Ela estava no corredor de armários atrás do meu e eu a ouvia. Calcei meus tênis correndo e corri. Virei na ponta do corredor e esbarrei com a infame. Com o impacto, ela foi para o chão. Não sei o que deu em mim, mas eu tentei ajudá-la a se levantar. Penso que é bondade demais. Jane bateu em minha mão que oferecia para ela.

“GROSSA!” Disse revoltada. Ela se levantou e apertou meu braço.

“Pede desculpas.” Ela falou tentando me obrigar. Claro que eu fiz um sorriso bem falso para ela.

“Claro! Jane, por favor… Vá se ferrar?” Ri na cara dela. Por tudo que ela aprontou, pedir desculpas seria o cúmulo.

“Você se acha demais, não é? Coitadinha. Aposto que Jacob deve meter chifres em você todos os dias.”

“Olha, se ele faz isso, sem dúvida não é com você queridinha.” Puxei meu braço com força a fazendo me largar. Dei minhas costas para ela.

“Pobre Amber! Tão sem sal que só lesma quer por perto!” Revirei meus olhos, e voltei-me para ela.

“Que problema. Melhor ser sem sal do que um rato… Rato tipo você! Daqueles que são sujos, nojentos e vivem em latas de lixo e esgotos, e que vai sobreviver o resto da vida com os restos. Sinceramente Jane? Tenho pena de você.” Mais uma vez dei minhas costas para ela.

“Ei eu não acabei com você otariazinha!” Ela falou e antes que eu pudesse erguer meu dedo do meio para ela, senti o puxão em minha cabeça. Suas mãos estavam em meus cabelos, arrastando-me para trás. Ela mexeu e o embolou com fúria, e quando consegui me virar, nós brigamos como duas idiotas. Dei-lhe uns bons tapas e pouco deixei que ela encostasse-se a mim. Ela insistia em pegar em meus cabelos. A joguei contra um armário com força e dei um fim naquilo. Separei-me dela e saí.

Ela nem sequer veio atrás. Na saída do ginásio Jake se assustou quando me viu. Ele até tentou começar a falar, mas não deixei.

“Jane! Só isso a dizer! Nós… brigamos!”

“Tipo, brigaram… brigaram?”

“Sim Jake! Brigamos! Tapas e tudo mais! Ela é louca!” Respirei fundo. “Vem, vamos embora antes que isso chegue até os ouvidos do diretor.”

“Vamos. Só ajeita seu cabelo… tá uma maçaroca!” Imediatamente passei minhas mãos para tentar dar um jeito. Congelei quando senti algo, no mínimo nojento, junto de meus fios.

“Merda! Jake olha aqui atrás?” Pedi a ele, me virando para mostrar-lhe meus cabelos. “O que tem ai?”

“Ahn… chicletes.”

[FLASHBACK OFF]

O que me consolava é que dessa vez ele cresceria sem interrupções. Mas demoraria. Seria tempo demais até estar como gosto. Isso me atingia e me deixava insegura e já tinha me decidido. Não iria ao baile e nem ao restante dos dias daquela semana à escola. Minha mãe chegaria no dia seguinte e talvez eu ficasse um pouco melhor.

Bella quis matar Jane e Eddie teve que controlar ela. Não queria que eles brigassem por algo que aquela louca tinha feito a mim. Eles já tinham tido a cota deles. Não queria causar alarde sobre o que tinha acontecido. Se bem que quando minha mãe chegasse, ela iria querer – tanto quanto Bella – a morte de Jane. Toda essa história só servia para termos certeza que ela não tinha limites, e que dificilmente pararia com essas insanidades.

Já era um pouco tarde da noite quando ouvimos a campanhinha soar. Jacob agradeceu a Deus, porque só assim eu levantaria e comeria alguma coisa. Ele saiu em minha frente. Antes de descer me fitei no espelho e vi o quão inchada eu estava do choro. Olhei para meus cabelos e tive mais vontade de chorar ainda, mas engoli. Eles estavam curtos como os de um garoto – Jane tinha feito o favor de grudar aquela droga perto de minha raiz – e penteados para frente, de alguma forma a cabeleireira tinha o deixado no mínimo bonito. Não me detive ali e desci de uma vez. Era Edward e Bella.

“O que houve?” Jake perguntou vendo a mesma cara de desespero dos dois.

“Nós vamos à polícia!” Edward disse irritado.

“Meu Deus o que foi agora?” Quis saber de uma vez. Os dois estavam quase explodindo.

“Ela destruiu a cabana.” Disse Bella com a voz baixa e sombria. Ninguém soube o que dizer.

Narração: Bella Swan.

            Nós fomos à delegacia de Forks e por pouco não conseguimos falar com o chefe de polícia, que já saia de lá. O homem não se espantou quando viu Edward, sendo filho de quem era, procurando a polícia. Era até engraçado como reagiam, fosse quem fosse, eles tratavam da mesma forma. Em New Orleans quanto mais dinheiro, mais atenção.

Insistimos que não era necessário e que só desejávamos prestar queixa, no entanto o homem desejou ir ver a cabana. Lá ele não entendia como conseguíamos freqüentar o lugar. Edward nunca me contou sobre as histórias que a cabana tinha, mas todos tinham, pelo visto, certo receio de ir até lá. Como se houvessem fantasmas! Ridículo. Eu sei. Era impossível que um lugar como aquele fosse “mal assombrado”. Não havia lugar que nos trouxesse mais paz quanto aquele. Talvez fosse para ser assim somente conosco, de todo jeito.

O Chefe O’Connor registrou os detalhes sobre o vandalismo e ainda solicitou um policial para tirar fotos. Nós entregamos o bilhete que Jane tinha deixado lá e lhe contamos sobre nossas suspeitas. A princípio achamos que ele riria da nossa cara, mas pelo visto ele sabia de quem se tratava e muito bem. Contou-nos que diversas vezes houve denúncias dos desmandos da garota. Muitas vezes os pais dela estiveram na delegacia desde o início de sua adolescência, e que as coisas só pioraram com o passar dos anos. O homem foi muito discreto e não se demorou na delegacia, o registro foi feito e logo fomos liberados.

Quando chegamos em casa já era tarde. Pensei em Amber e seu rosto desolado pelo que Jane tinha feito. Aquilo acabou com ela… e bem, comigo também! Era quase incontrolável a vontade de acabar com a louca. Ainda mais com o estrago na cabana. Edward parecia simplesmente derrotado. Aquele lugar era um bom pedaço do que o Ediota era, de sua alma. Muito mais dele do que meu. Nunca tinha visto aquela expressão tão triste que cobria a sua face… bom talvez sim. Apenas uma vez. Quando ambos nos machucamos deliberadamente.

Esme, que já havia sido informada por telefone, nos aguardava na sala de televisão com dois sanduíches bem reforçados e suco. Enquanto comíamos conversamos com ela sobre tudo o que estava acontecendo com Jane desde sempre e que nunca havíamos contado. Ela ficou revoltada, mas não apoiou minha atitude violenta quando falei da briga. Isso era visto. Esme sempre foi muito pacífica. A maior dúvida de Edward era o que fazer com a casa. Isso o atormentava.

“Esme, seja sincera comigo. É possível fazer alguma coisa pela cabana?” Perguntei a ela assim que ele nos deixou para tomar banho.

“Ah Bella! Eu não vi o estado em que a cabana está. Pode ser que sim, mas também pode ser que não! Depende muito se ela deixou o fogo corroer muito a madeira ou não.”

“Edward vai ficar arrasado se não conseguir ajeitar a cabana! Você sabe o quanto ele ama aquilo! Nós tivemos sempre bons momentos lá! Ele até deixou que fizéssemos um encontro lá… sabe? Uma janta com todos nós… seria divertido!” Ela riu baixinho.

“Aposto que sim. Edward tem seus momentos… mas se não conseguirmos salvar o lugar, sei que ele vai ficar bem. Ele sempre fica.”

“Pode até ser que ele fique bem Esme, mas não é assim para esquecer o que aconteceu lá… e não me refiro só as coisas ruins.” Ela pegou em minhas mãos, as segurando e olhando-me com ternura.

“Meu bem, entendo que vocês tenham motivos para amar a casa! Entendo que vocês têm momentos inesquecíveis lá… já fui jovem e pensava exatamente assim como vocês. Claro que ter um lugar para ir e recordar do início de tudo é incrível, mas Bella, isso tudo você guarda em sua memória. Não é necessária a cabana para lembrá-los!”

            “Você tem razão. Agora convença seu filho sobre isso!”

            “Acho que você tem um poder de persuasão muito maior sobre ele!” Esme disse rindo.

            “Mas você sempre será a mãe dele!” Rebati.

            “E você a mulher que vai guiá-lo querida. Pense nisso: homens precisam de alguém para liderá-los emocionalmente. Carlisle sempre foi correto, mas já perdi o número de vezes que o fiz ver melhores saídas. Você tem que aprender a controlar Edward… quer dizer, mais do que já faz!”

            “Esme? Que conversa é essa que estamos tendo?” Ela riu.

            “Não sei querida. Acho que é porque eu sinto que logo vocês vão sair de minha vista. Preciso ter certeza que irão cuidar um dos outros, e Edward é uma criança birrenta quando quer!”

            “O que vocês estão falando de mim?” Ele apareceu na porta escovando os dentes.

            “Que você vai ficar arrasado se a cabana não tiver salvação.” Falei sem medo, e a cara de dor dele cortou meu coração em mil pedaços. Esme sussurrou um “boa sorte” para mim e se retirou dando um beijo no Ediota. Ele me olhava como se seu mundo tivesse se desfeito em partículas. “Vamos.” Fui até ele pegando em sua mão. “Vamos conversar sobre isso. Você está muito sensível.”

            Narração: Edward Cullen.

            Foram horas conversando com Bella. Era sempre engraçado ver como ela agia em situações como aquela. Sabia que ela estava tão derrotada quanto eu, mas ela estava – mais uma vez – sendo forte por mim. Sendo o que eu precisava. De alguma forma ela conseguiu me acalmar.

            Não tínhamos certeza de muita coisa. Se a cabana teria jeito ou não. Se Jane seria de alguma forma punida. Se Amber conseguiria se olhar no espelho e voltar a sorrir para si mesma. Se Jake seguraria a pressão com a mãe de Amber chegando. A única coisa de que Bella e eu estávamos certos, era que devíamos levantar nossa cabeça e enfrentar o que fosse.

            “Você ainda quer ir ao baile?” Perguntei antes que ela dormisse. Deitamos em sua cama e ela estava aconchegada em meus braços.

            “Claro. Por que não iria?”

            “Sem dúvida Jane vai estar lá. Não quero mais complicações e brigas! As aulas já estão no fim. Nós logo vamos partir e deixar ela para trás.”

            “Mais um motivo para eu ir. Quem tem que se esconder é ela, não nós. Temos que aproveitar cada minuto que temos juntos… com nossos amigos! Não é Jane quem vai nos tirar isso logo agora!”

            “Será que Amber vai? Eu não sei se devemos…”

            “Bom…” Bella hesitou suspirando. “Nada que eu e Alice não podemos dar um jeito. Amor?”

            “Sim?”

            “Eu estou aqui com você. Esqueça o que passou ok? E daí que ela destruiu a cabana? Você tem Jake… Emmett! Tem a todos nós, seus amigos… você tem a mim. Sua, e só sua, Monstrenga.”

            “Meu lugar preferido na terra.”

            “A cabana?”

            “Não. Você.”

            (***)

            “Vai ter que lixar muito! As paredes vão ficar mais finas! Não vai dar certo!”

            “Não me importo! A madeira que restar, vai resistir?”

            “Algumas partes sim! Outras não!”

            “MÃE! SEJA MAIS ESPECIFICA!” Minha mãe, Bella e eu estávamos na cabana. Era cedo da manhã e queria resolver aquilo logo. Bella se mantinha quieta assistindo.

            “Edward, eu estou dizendo que A MAIOR PARTE DESSA CASA pode ter algum concerto, MAS não vai ficar como deve ser! EU tenho que pensar na sua segurança!”

            “ÓTIMO! Se tem concerto está ótimo! Não interessa mais nada!”

            “Edward?!” Bella exclamou comigo. “Você só pode estar louco! Ou ficou burro? Você sabe que aqui é no meio da floresta e a beira de um penhasco propenso a furacões! Pensa um pouco querido!”

            “Pensar no que Bella?”

            “Pensa em nós dois! Aqui! Sozinhos e com a tempestade do século caindo lá fora!” Ela mostrava a cena com os braços, como se apresentasse uma pintura. “Entenda: não é seguro.”

            “E se duplicarmos as paredes?” Eu não desistiria.

            “Isso seria o mesmo que fazer uma cabana nova!” Esme analisava as paredes e os móveis destruídos. “Meu Deus… o que essa garota tem na cabeça?” Segurei minha língua para não dar uma resposta mal educada para minha mãe.

            “Pergunto-me isso diariamente Esme.” Bella respondeu e nos silenciamos. Nas paredes as marcas de madeira carbonizada. Colchão em cinzas… as plumas queimadas. O aparelho de som quebrado… nada fora poupado. Aquela destruição nos causava uma nostalgia que seria possível tocar se fosse visível. Bella chegou calmamente ao meu lado e abraçou-me, envolvendo-se a minha cintura e afundando a cabeça em meu peito. Era ali que éramos tudo o que sentíamos. A abracei de volta.

            “Vou falar com Carlisle.” Minha mãe se virou para nós e sorriu. “Ele não vai negar isso para mim ou para vocês. Vamos fazer da cabana um bom lugar novamente.”

            Narração: Alice Cullen.

            Amber que não ficasse de graça. Eu tinha tido muito trabalho para ela desistir assim. Ela queria ficar em casa e não ir ao baile. Ok que ela estava desolada com a merda que aquela pirigueti sem noção e mascadora de chiclete de quinta fez. Mas o que era de Jane estava guardadinho para ela. Bem junto de mim.

            Enquanto todos pensavam que eu estava na aula, eu estava impaciente em frente ao balcão de uma loja de doces em Port Angeles. O que? Achou que era algo muito importante? Sim. Sim. Sim. Isso também, mas antes tenho que tratar a ansiedade. Peguei um pote tamanho família de gomas e jujubas e comecei a devorá-las uma a uma delicadamente… OK! É mentira! Eu as comia como pipocas. Um punhado cheio de cada vez!

            Cheguei cinco minutos antes de a loja fechar para o almoço. Vesti minha melhor cara de santa e encarnei a boa moça que Esme tanto me ensinou a ser, mas que eu só a deixava vir à tona de tempos em tempos ou, no caso, quando eu precisava convencer. Olhei a moça com cara de sono do caixa. Sorri abertamente para ela.

            “Olá, eu vim buscar uma encomenda. Disseram que estaria pronta esta manhã.”

            “Certo, e como é o nome?” Perguntou sem vontade e um pouco desconfiada. Certamente ela não se lembrava de mim! Nunca tinha ido àquele muquifo, aquilo era ralé demais para qualquer pessoa que gostaria de ser descente.

            “Oh, sim! Está no nome de Jane.”

            “E a senhorita quem é?”

            “Sou a prima dela… ela está em aula e não agüentaria até sábado para vir buscá-lo. A minha tia estava ocupada no trabalho e o pai dela… sabe como são os homens! Isso é de menos para eles! Minha tia pediu para que eu viesse. Só para Jane ficar mais tranqüila.” Disse sempre sorrindo e o mais convincente que podia ser.

            “Claro! Homens! Ruim com eles, pior sem eles! Vou buscar sua encomenda, só um minuto.” Esperei pacientemente ela buscar a caixa fechada por uma fita chinfrim vermelha de TNT. Ela me entregou e jogou a bomba. “Bom ainda resta metade do pagamento. Como a senhorita vai acertar? Cheque, cartão… dinheiro?”

            “Oh! Pagamento? Claro! Entregaram-me o dinheiro para isso!” Pensei um segundo. Era tudo ou nada. Mexi em minha bolsa um instante. “Ah sim! Deixei o cheque no carro, vou buscar e já volto!” Pequei a caixa em mãos e a atendente nem protestou. Atravessei a rua calmamente. Caminhei até o carro estacionado uma quadra adiante. Entrei, sentei-me em paz. Coloquei a caixa no banco do motorista e joguei minha bolsa em cima dela. Coloquei a chave na ignição. Ponderei sobre o que estava fazendo e suspirei profundamente. Mandei a merda o certo e o errado. Parti rumo a Forks.

            Jane não media conseqüências de certo e errado. Não seria eu a ter crises de moral a essa altura do campeonato. Ela estava destruindo com vidas e sentimentos de pessoas preciosas ao meu redor. Pessoas que sempre seriam minha família. Até mesmo Jacob Black. O que eu pudesse fazer para fazê-la se sentir tão mal ou pior, eu faria.

            Narração: Bella Swan.

            “Como vai Renée?” Perguntei quando nossos assuntos banais morreram.

            “Está bem! O psiquiatra da clínica não vê motivos para ela ficar internada muito mais tempo. Não que ela esteja curada da depressão, mas tomando os remédios certos, ela vai conseguir ter uma vida normal.”

            “Pai? Quando Renée vai ter uma vida normal? Você sabe que ela nunca funcionou da mesma maneira que os demais!”

            “Eu sei Bella, eu sei! Mas veja, agora ela gosta de fazer jardinagem, e pensa em trabalhar com isso! Santo Deus! Sua mãe nunca trabalhou na vida! Isso significa que algo mudou dentro dela.”

            “Acredito que sim. Mas ela quer sair?” Se tratando de minha mãe, as coisas nunca saiam como o restante desejava, e sim apenas como ela queria.

            “Ela não reluta com a idéia. Está bem lúcida agora. Não se escuta mais tantas lamúrias sobre seu irmão.”

            “Uhm… e você acha que ela vai sair daqui quanto tempo?” Havia dias que aquela idéia me batia na cabeça e não existia pessoa melhor do que meu pai para me aconselhar.

            “Não tenho nem idéia. Por que minha filha?” Me joguei no sofá da sala ao lado de Edward e fitei o teto.

            “Bem, eu gostaria que você e ela estivessem na minha graduação.” O silêncio foi tocável do outro lado da linha. Senti os olhos do Ediota sobre mim. Suspirei. “Ok. Esqueça. Se puder venha você.”

            “Não! Não!” Ele protestou imediatamente ouvindo a minha decepção. “Eu vou falar com Renée, Bella. Prometo que vou conversar.”

            “Obrigada pai.”

            Logo me despedi de Charlie. Nos falávamos quase diariamente, e Edward sempre que podia conversava com ele também. Meu Ediota ainda conseguia ser mais encantador a cada dia que passava, mesmo conhecendo seus defeitos, suas manias e seus pontos fracos, ele não deixava de ser um mundo novo a cada manhã.

            Podia passar cem, duzentos, até quinhentos anos com ele – se fosse possível – e nem por um dia deixaria de descobrir um novo sorriso, um estilo desigual de olhar… uma maneira estranha de falar palavras simples ou até mesmo a forma diferente como toca meus lábios nos seus. E não há nada que eu possa fazer a respeito de suas mudanças. É a inconstância de nossos gestos que nos levam a constância de nosso relacionamento.

            Edward podia não ser o último dos românticos todos os dias, mas ele sabia ser o melhor para mim quando eu precisava. Quando preciso ser amada como a única e mais delicada mulher na face da terra, ele me ama. Assim como quando eu necessito de um amante amigo, ele é. Edward sabia me ler, me decifrar e acalmar meus anseios. Era o que ele fazia naquele momento. Não precisava de alguém questionando o porquê de ter chamado Renée para a formatura. Ela era minha mãe, e o sentimento que eu carregava por ela, transpunha toda e qualquer mágoa do passado.

            Encostei minha cabeça em seu ombro e imediatamente ganhei o carinho mais gostoso e agradável em meus cabelos. Aos poucos fui deslizando por seu tronco e acabei deitada, com a cabeça em suas pernas, lhe olhando de baixo. Nossos olhos se encontravam como magnetos fortes e impetuosos. Fitávamos-nos querendo um ao outro, mostrando o quanto de amor carregávamos. E era incrível o que aqueles olhos verdes me diziam. Era verdade acima de verdade. Sentimento acima de sentimento. Uma paixão cruel e animada, que vivia por vontade própria e sem receios, e era mantida sob o calor de nossos corpos. Bastou um de seus sorrisos tímidos para me fazer perder o contato visual. Fechei meus olhos e me guiei até sua boca.

            Trocamos um beijo delicado e doce. Não tinha motivos para pressa e sua língua sabia bem aproveitar o tempo. Firme, ele me segurou pela cintura. Minhas mãos enfiaram-se ao redor de sua nuca. O estalar do beijo e o quente de sua boca faziam a nossa realidade parecer fantasia. Era aconchegante o toque macio de sua língua na minha e as caricias que trocávamos com elas eram eloqüentes por cada centímetro de nossos corpos. A pele de sua nuca eriçava-se enquanto sentia meu corpo colar-se ao dele. Os lábios amansaram-se na calmaria e se dedicavam a beijos estalados e macios. A plenitude de momentos como aquele (momentos onde nenhuma palavra é necessária, e um olhar pode dizer tudo o que sua mente deseja expressar) ecoa por longos anos.  Se não, até o fim de nossas vidas e mais além.

            “Você merece o mundo.” Ele me disse deitando novamente minha cabeça em suas pernas.

            “Meu amor.” Peguei sua mão, enrolando nossos dedos. “Meu mundo é você.” Era como eu sentia. Tudo o que eu tinha, vida e morte, tudo estava com ele.

            “Isso não torna seu mudo pequeno e restrito demais?” Ele beijou nossas mãos.

            “Não quando tudo que eu preciso está ao redor desse mundo. Bons amigos, família… vida! Está tudo girando junto e em volta de meu mundo.” Edward sorriu mais um daqueles sorrisos que fazia meu coração ir a duzentos e voltar em segundos.

            “Acho que para você um ‘te amo’ nunca será suficiente.” Eu ri baixinho.

            “Está tudo bem. Não precisa dizer, só faça o que sempre faz. É o bastante para mim.” Fui puxada para mais um beijo depois disso. E diferente do que veio antes, esse era carregado de fogo e pólvora. Explodiu com meus hormônios me fazendo queimar e querer sumir como fumaça com ele dali.

            (***)

            Na tarde seguinte conhecemos a mãe de Amber. A semelhança era impossível negar. Tanto nas características físicas, como na personalidade um pouco explosiva e sincera. A simpatia era um pouco arredia, mas a mulher não deixava de ser amável. Bem como Amm. Barbara, como preferia ser chamada já que o primeiro nome lhe fazia se sentir velha, estava irritadíssima com Jane. Amber não queria que ela fosse até a escola, só queria que a mãe ficasse por perto e lhe desse carinho, e o resto nada importava.

            Amm estava irredutível na escolha de não ir ao baile. E Jacob não gostava da idéia. Ele compartilhava do mesmo pensamento que não éramos nós que devíamos nos esconder e sim ela. Nosso amigo também estava contente que a mãe de Amber não tinha criado problemas por sua presença ali. Ela parecia bastante feliz por sua filha.

            Os observei, e escutei suas conversas. Via como Amber e a mãe eram cúmplices e como sentiam saudade uma da outra. Nunca houve em minha vida um carinho como aquele. Mesmo com Esme sendo uma mãe para mim, não era a mesma coisa. Ela era minha madrinha e sogra, mas não minha mãe. Sentia falta de algo que não tive, e por mais que eu negasse, era algo que me faria bem. Pensei nos sonhos e planos que Edward e eu fazíamos na calada da noite ou no final de nossas noites de amor e mais uma vez a promessa que tinha feito a mim mesma veio em minha mente. Ter um filho custe o que custar. Podia demorar 10… 15 anos. Eu o teria e seriamos uma família feliz.

            Me puxei para a realidade e busquei Amber para uma conversa em seu quarto. Não queria dizer, mas o cabelo curto tinha ficado bom para ela. Se eu falasse a ruiva era capaz de me matar. Tinha que convencê-la a ir aquele baile a todo custo.

            “Você acha que merece ficar em casa trancada enquanto todos estão se divertindo?!” Disse assim que fechei a porta.

            “Bella era isso o assunto importante? O baile? Eu já disse: não! Não vou! Todos vão rir de mim!”

            “Ninguém vai rir de você Amber! Por que alguém riria?”

            “Bella! Meus cabelos! Não está vendo, não?” Ela passou as mãos nos fios ralos e baixos os desarrumando irritada.

            “Ah! Sim, estou vendo. E daí? Quantas mulheres usam cabelos assim e não deixam de ser sensuais ou bonitas?” Fui olhada com reprovação por ela. “Qual é Amm? É tão difícil assim entender que Jane não merece isso? Não merece que você se esconda dela. Não merece que fique com vergonha. Não é digna que você se encolha diante das infantilidades e inconseqüências dela! Amber, ela não merece a sua tristeza! Você é boa demais para dar todo esse gostinho de vitória a ela!”

            “Eu sei disso Bells! Mas não dá!”

            “Dá sim! Sempre deu! Ela destruiu com a cabana! Edward e eu iríamos dar um jantar para vocês… sabe? Nossos amigos! Eu já tinha o convencido! Mas agora aquilo é carvão! Você acha que nós vamos nos intimidar com isso? NUNCA. Ela fez tudo de caso pensado Amm, você não vê?” Minha amiga suspirou.

            “Vejo. Eu não tenho argumentos para discutir isso com você Bella. Só me sinto insegura para ir lá e desfilar com um vestido lindo, sorrir e fingir que está tudo bem aqui dentro!” Ela bateu no peito de leve. “Sabe quantas coisas ruins ter que cortar meu cabelo me traz? Tem noção de quantas vezes eu chorei quando eu via as meninas nos parques ou com outras doenças no hospital com cabelos lindos e brilhantes?” Calei-me por um instante. Sabia de toda sua luta e de como tinha sido difícil para Amm. Porém, eu não desistiria dela. Jamais.

            “Sabe do que mais Amm?” Ela fez um gesto de cabeça para eu falar. “Você deveria pensar nas coisas boas que cortar seu cabelo te lembram.”

            “E como o que, por exemplo?”

            “Que você sobreviveu… por exemplo.” Ela lutou com uma resposta que não saiu. Se jogou na cama olhando para o teto. “Você lutou contra uma doença e não se abateu, e mesmo nos momentos que te disseram que não havia saída, tenho certeza que nunca deixou de acreditar que cedo ou tarde você sairia daquela.” Me deitei ao seu lado. “Você vai lutar contra essa doença que é Jane, de cabeça erguida, assim como eu faço. Ela vai ter o que merece. Não por nossas mãos, porque essa não é nossa tarefa. Mas pelas mãos de Deus. Ele vê o que passa aqui.” Apoiei minha mão em seu coração. “E ele vai te fazer justiça. Cedo… ou tarde.”

            Saí dali sem ter uma resposta de Amber, apenas a promessa que pensaria a respeito. As minhas palavras a ela tinham surtido efeito sobre mim. Será mesmo que algum dia, custasse o tempo que fosse, Jane seria punida de alguma forma por suas maluquices? Ela não tinha uma boa alma, quem dirá um bom coração! Estamos tão acostumados com essas crueldades no mundo, onde tantos saem impunes, que em certos momentos a dúvida sobrepõe a certeza.

            Assim que chegamos em casa naquela tarde corri para ver Alice. A encontrei no quarto admirando um vestido rosa Pink, ridículo, cheio de babados, paetês, miçangas brilhando furta-cor. Ela o olhava intrigada e com cara séria, batendo o dedo na boca.

            “Mas que merda é essa?” Até eu que não tinha um bom gosto para roupas via que aquela coisa era terrível.

            “Como alguém consegue usar… isso?” A nanica disse com repúdio.

            “Er… isso é seu?” Ela virou para mim com uma cara de dar medo!

            “Isabella Swan, eu, Alice Cullen, tenho cara de quem usa um chiclete de tuti-fruti com babados e purpurinas cintilantes como vestido? TENHO CARA? EIN?”

            “Não tem mesmo! Por isso que estou perguntando! De quem é?”

            “Jane.”

            “O… O QUE?” Engasguei.

            “É surda?” Cerrei meus olhos ainda tossindo. A nanica revirou os olhos. “Ok. Desculpa. Eu fiz o favor de pegar para ela na loja, de quinta, em que mandou fazer.”

            “Ahãm. E você, o que está fazendo com ele?”

            “Estou me decidindo.” Ela disse simplesmente.

            “E pelo que, devo saber?”

            “Por pó de mico ou um vestido picotado.”

            “Você não está pensando em…”

            “Sim! Estou pensando e vou fazer! Olhe…” Ela pegou em minha mão e me levou para seu lado. “Ela está fora de si! Brinca com todos e ninguém faz nada! Olha a que ponto isso chegou Bella! Uma cabana destruída e os cabelos de Amber picotados! Vou brincar um pouquinho com Jane também. Ela merece sentir o gosto do próprio veneno.”

            “Alice?”

            “Eu aqui!”

            “Você é má.” Ela riu. Riu como uma boa bruxa má faz.

           

            Dois segundos depois o meu celular tocou. Era Amber e sua frase foi: É bom que Alice consiga me deixar bonita o suficiente para me sentir como tal! Jane vai ver que ela não é nada para mim.

            Narração: Jane – A Louca.

            Acordei com a idiota da minha mãe gritando que havia uma encomenda para mim. Fui me arrastando até a sala onde ela, com aquela cara de paspalha, me fitava sorridente.

            “Qual é? Papai compareceu essa noite?”

            “Jane!”

            “Ah mãe! Todo mundo sabe que tu adora dar uma bem gritadinha.” Ela fitou-me com raiva.

            “É talvez tenha se saído a mim.” Ela veio até mim e encarou-me de cima. “Com essa idade já é mais rodada que todas as mulheres da cidade… afinal você adora dar uma, não importa o jeito, não é… filhinha?” Terminou dando-me três tapas leves na cara. “Tenha um bom dia sua mal agradecida.”

            Olhei para o relógio da sala. Três horas da tarde. Estava atrasada para o salão. Peguei a caixa e o emblema da loja chamou minha atenção. Em cima um pequeno bilhete que dizia: “Uma Cortesia da Dress & Dress para a senhorita.” Fiquei feliz porque aquilo já me adiantaria um bom tempo.

            Corri para meu quarto, escovei meus dentes, joguei a caixa na cama, coloquei uma roupa e voei para o salão. Aquela seria uma grande noite. Certamente seria coroada rainha do colégio e mostraria aquelas amebinhas inúteis que sempre estão no meu caminho, quem realmente é a melhor.

            Narração: Amber Moore.

           

            Minha mãe não veio de mãos abanando. Quando chegamos à casa dos Cullen, Alice quase teve um AVC ao saber que minha mãe era dirigente de uma das maiores e melhores empresas de cosméticos do país e que de quebra tinha trazido uma porção de produtos para nós.

            Alice e Esme nos vestiram, e eu que não sabia dos dons artísticos da mãe de meus amigos, surpreendi-me com suas habilidades. Ela trabalhou nos cabelos de Bella os deixando perfeitos em grandes cachos que pendiam de seu ombro esquerdo disfarçando o decote generoso que Alice tinha escolhido para ela. Em mim elas não tiveram grande trabalho com os cabelos, uma vez que eles quase não existiam mais.

            Vesti-me com um vestido preto, liso, com brilhos da mesma cor que brilhavam discretos contra a luz. Ele descia justo até meus joelhos e de lá para baixo ele se abria em gomos que se balançavam leves com o caminhar. Era confortável. Olhei-me no espelho uma última vez. Não podia dizer que estava bonita, me senti linda. Perdi-me em minha própria visão por um segundo até que Alice brincou comigo que já não era sem tempo que tinha alguém para lhe fazer companhia com os cabelos curtos.

            Bells usava um longo feito de seda sem um único ponto de brilho. Ele descia com um grande decote em suas costas em “u” parando um palmo abaixo de sua lombar. A cor escura do verde esmeralda realçava sua pele, a deixando com um tom de porcelana.  Alice vestia o mais delicado, mas não menos belo. Era em um tom cinza claríssimo, cheio de gomos e largo do corpo desde o busto, ajustado a sua cintura apenas por um cinto de corrente dourada. Poderia dizer que ela tinha se inspirado em uma Deusa para fazer aquele vestido.

            Quando cheguei à ponta da escada minha respiração sumiu ao chocar meus olhos em Jake. Em seu terno preto alinhado ao corpo ele estava maravilhoso. Respirei fundo quando ele olhou para mim. Seu sorriso iluminou qualquer nuvem que estivesse em meu coração.

            Narração: Bella Swan.

            A troca de olhares entre Jake e Amber foi algo que por muitos passaria despercebido, mas não por mim. Eu sabia o que aqueles olhos diziam. Sabia o que eles sentiam. Conhecia as sensações que eles transmitiam. Eu os vivia diariamente a cada manhã quando acordava ou em um encontro casual na cozinha. Vi que os olhos que eu mais desejava encontrar não esperavam por mim no andar debaixo. Perguntei-me onde ele estaria que não estava ali como de costume esperando por mim junto com os outros rapazes.

            Na base de minhas costas nuas, os dedos frios e úmidos que eu conhecia cada traço de digital tocaram-me, deslizando suavemente o polegar, dando-me um carinho que me fazia arrepiar. Virei para Edward que era sério e intenso. Seus olhos verdes brilhavam com uma excitação permanente que vibrava para mim como se me chamasse para uma vida nova e completamente livre.

            Sem saber de onde veio um buquê de rosas creme com suas pontas rosa surgiu diante de mim. Eram tão puras e delicadas que me fizeram hesitar em dizer o quão magníficas eram. Ele as entregou em minhas mãos e sorriu pensando um momento.

            “Eu vi que nunca lhe dei flores antes.” Disse Edward tímido.

            “Bom, para tudo há uma primeira vez.” Ele riu. “Obrigada, elas são lindas.” Dei-lhe um beijo afagando seu rosto. “E não poderiam ser mais cheirosas.”

            “Não se comparam a você.” O fitei afastando meu rosto do dele. Ele mantinha sua mão em minhas costas me dizendo que ele queria invadir o decote em minhas costas.

            “O que é isso, Edward? Esse romantismo?”

            “Definitivamente você é diferente de todas!” Exclamou brincando. “Não é nada demais… só não sei se você lembra, nós estamos a seis meses juntos, e sabe, bem… não sou bom com datas, então seu diário me deu uma pequena ajuda…” Confessou deixando morrer sua voz ao final.

            “Oh meu Deus!” Desesperei-me por um segundo. “É hoje não é?! Seis meses? Ah Deus! Eu esqueci Edward!” Imediatamente levei meu dedo para a boca, ele não o deixou chegar lá. Beijou minha mão e colocou sobre seu coração.

            “Adoro quando você fica assim… com essa carinha de apavorada.” Ele acariciou meu rosto com seu polegar. “Sim Monstrenga, é hoje. Eu também não lembrava o dia certo, mas o tempo… esse é impossível não saber.”

            “Ah Edward!” Sussurrei para ele confabulando e chegando perto. “Eu sou tão diferente assim das outras meninas? Normalmente somos nós que lembramos isso!”

            “Quer saber a verdade?” Ele veio mais perto. Balancei a cabeça em um sim. “Eu não me importo com as outras. Você é perfeita para mim assim.” Então me beijou envolvendo meu corpo em seus braços. Meu coração ainda batia acelerado quando nossas línguas se encontravam. Acho que seria sempre assim.

            Pois então, para sempre eu agradeceria.

            Narração: Jane – A louca.

            AQUILO SÓ PODIA SER PIADA. De muito mau gosto. Meu vestido estava em pedaços! Esfarrapado e destruído. Gritei com minha mãe, xinguei meu pai e quebrei os vasos que eles tanto adoravam da sala. Aquilo era uma afronta! Era minha noite! Eu tinha que brilhar e ser a mais bonita! Não que eu não fosse sempre.

            Mas eu tinha que me recuperar, estava na hora de ir, seria o fim chegar com aquele asno que era Paul. O que me consolava eram os músculos dele. Dava pro gasto, o que tinha de burro tinha de gostoso.

            Suspirei. Não poderia ficar para trás. Descobriria quem tinha feito aquilo. Pensei por um tempo e vi o mais lógico a fazer. Claro que não me agradava em nada, mas aquele fim de mundo era Forks. Uma cidadezinha com amnésia e cheia de caipiras.

            Narração: Bella Swan.

            “Bella. Veja.” Alice cochichou para mim apontando com a cabeça para Jane em um vestido dourado e curto com lantejoulas bregas cintilantes da mesma cor e mais justo que cinta de compressão. “É o mesmo que ela usou no baile de primavera. Olhe como ela age? Se achando acima de Deus. Não passa de pó e escória humana.”

            “Já disse que você é má Allie?”

            “Sim, diversas vezes. Mas se quiser pode repetir. Adoro ouvir isso.”

            “Você é muito má.” Nós rimos. “Falando sério, eu tenho pena de Jane. Ela sempre vai ser uma perdida na vida. Não creio que um dia ela mude.”

            “Ela é de dar pena mesmo. Todas as maldades que ela já fez… sabe? Eu acredito em Deus e tudo mais. Tenho pena da alma dela. Quando a morte chegar para ela será dolorosa e nada fácil.”

            “Que horror Alice!”

            “É dia de festa garotas!” Disse Edward. Jasper nos entregou copos de ponche. “Coloquei vodka para vocês!” Bebi com muito mais vontade. “Parem de falar desse encosto, se divirtam! Vem vamos dançar Bella!” Ele me puxou contente, nos rodopiando pelo salão.

            Narração: Jacob Black.

            Dançava abraçado a Amber e vendo o sorriso de desgosto de Jane ao fundo. Eu só conseguia pensar que a odiava mais que qualquer outra coisa no mundo. Não importava se algum dia ela nos pedisse perdão. Eu jamais esqueceria cada coisa que ela fez para acabar com a felicidade daqueles que estão ao meu redor.

            Amber estava divina. Seus olhos azuis destacados pela maquiagem preta combinavam com sua pele e dava a ela um ar misterioso que me seduzia como nunca havia sido seduzido antes. Ela tinha sua cabeça em meu peito e os braços ao redor de meu pescoço. A segurava pela cintura e dançávamos nos embalando com a música lenta e melosa que a banda tocava até os últimos acordes.

            Assim que o último toque ecoou pelo salão, batidas de dedos nos microfones nos chamaram atenção. Era o diretor Greene. Nossos amigos pararam ao nosso redor. Nos olhamos e Alice parecia querer pular.

            “Vão anunciar o rei e a rainha!” Disse ela batendo palminhas. O diretor começou a falar.

            “Então caros alunos! Esse foi um grande ano para vocês! Muitos estão deixando a vida de adolescente e partirão para um novo mundo, com muitas responsabilidades, mas que não deixa de ser encantador! Ok ok. Eu prometo não enrolar! Aqui em minha mão o que vocês mais esperam essa noite! Vamos lá…” Ele abriu o envelope e deu uma risadinha. “Bom talvez uma surpresa aqui…” Ele olhou para nós e todo aquele suspense fez Amber apertar minha mão. Para mim, tinha sido Alice e Jasper a ganhar.

            “O rei e rainha deste ano são…” O baterista fez batidas de suspense. “JACOB BLACK e JANE VOLTURI!” Nunca um lugar tão cheio como aquele pode ser mais silencioso. Em frente ao palco Jane deu uma risada e fingiu surpresa. Alguém começou a salva de palmas.

            Narração: Amber Moore.

Goo Goo Dolls - Notbroken.

            Estava fria desde a ponta de meus pés até os fios de minha cabeça. Larguei a mão de Jacob que me fitou triste. Não sabia o que faria se ele subisse naquele palco para pegar a coroa maldita. Ele estava dividido em fazer o que eu desejava ou o que a escola queria. A escola queria um rei e esse rei era meu namorado, mas sua rainha, naquele momento e para todos, nunca seria eu.

            Aquele era Jake. Popular e cheio de gente ao seu redor. Mesmo odiando que seria Jane lá em cima com ele, não podia tirar esse momento de Jacob. Suspirei e lhe dei um beijo nos lábios.

            “Vá.” Ele me olhou fundo nos olhos.

            “É você quem eu amo.”

            “Apenas vá.” Disse sem sentimentos. Quando nos viramos para o palco onde o esperavam, Jane estava em nossa frente. Ela pegou em sua mão e tentou o arrastar para longe de mim. Ele largou a mão dela com força e violência e saiu caminhando em sua frente.

            Virei-me de costas. Não queria ver. Não estava preparada. Ela era a minha destruição. Acabava com todo e qualquer momento feliz que eu tinha. Bella abraçou meus ombros e também ficou de costas. Ouvi o patético discurso de Jane, bufando e batendo o pé no chão. Então chegou a vez de Jacob falar. Ele começou bem menos histérico e afobado.

            “Bom, primeiro quero agradecer para quem me deu essa coroa! Obrigada pelos votos galera! Mas devo dizer que não me sinto feliz por estar usando essa coroa. Não com essa rainha.” Ouve um grande som de “Oh”. “Jane não merece essa coroa, talvez nem eu mereça. Existem pessoas aqui que são muito melhores e que são verdadeiros reis e rainhas. Porém eu aceito meu título, mas não o dela.” Virei-me para o palco, ele tinha os olhos em mim. “Como rei da escola digo que Jane não passa de uma… boba da corte! Só uma trouxa que adora dar showzinhos! A minha verdadeira rainha está no meio de vocês e posso ver daqui seus olhos azuis cheios de verdade. Verdade que ninguém mais quis me dar, apenas ela. E é ela que merece estar com essa coroa.” Ele tirou a coroa da cabeça de Jane que lutou com ele. Jake apenas lhe olhou com olhos furiosos e ela se colocou em seu lugar. Jurei que por um momento ele bateria nela.

            “Amber, você é a minha rainha. E mesmo que não tenha sido você a escolhida pela escola para ser a rainha, eu não ligo para o que eles querem. Só ligo para você.” Então ele saiu de lá, por entre as pessoas abriu caminho até mim. Parou de frente para mim e fixou delicadamente a coroa em minha cabeça e se curvou em reverência a mim. Senti minha pele pegar fogo de vergonha. Então ele se virou para todos e disse em alto e bom som para todos lhe ouvirem.

            “Amber é a pessoa que merecemos chamar de rainha. Quem conhece seu coração sabe o quão nobre ela é. Essa garota lutou pela vida como os reis lutam em batalhas. Defende os seus como rainhas defendem a vida de seus herdeiros. E Jane o que é? O que ela fez para vocês votarem nela? Distribuiu falsidade, falou mal da escola inteira. Não disse nem um muito obrigada para as pessoas que salvaram ela de uma overdose. Ela espalhou raiva e dor, como sempre fez. Tenho nojo de pensar que já estive ao lado dela. Ela é cruel. Digam não para ela uma vez e para sempre serão infernizados. Ela é podre. Ela é escória. Cedo ou tarde vocês verão.”

            “EU VOU TE MATAR BLACK!” Ela rosnou no palco pelo microfone.

            “Licencinha ai gata!” O vocalista da banda pegou o microfone a escanteando. “Rei, beije sua rainha sim?” Imediatamente Jake virou-se para mim e sorriu, encontrando seus lábios nos meus. Ouvi as pessoas assoviarem, baterem palmas, comemorarem e a música animada começar. No entanto não me ative mais que um único segundo. Depois era toda de Jake.

            Narração: Bella Swan.

            Já amanhecia o dia quando saíamos de La Push. Alice e Jasper tinham ido para casa e fariam uma festa particular dentro do quarto. Ele tinha comprado champanhe e tinha deixado gelando. E eu ainda me perguntava como Esme e Carlisle não se importavam por seus filhos – não só Jasper e Alice, mas todos nós – terem uma vida tão… ativa, sob seu olhar. Jake tinha levado Amber para sua casa pela primeira vez havia poucos minutos. Aproveitou que Billy tinha saído de viagem com alguns amigos para pescar.

            “Juntou as coisas Edward?” Pedi a ele. Tínhamos consumido algumas latas de energético e uma garrafa de vodka. Não gostávamos de deixar a praia suja.

            “Não! Deixa, eu volto lá.” O Ediota pegou uma sacola de pano no porta malas do Volvo e me deu um beijo rápido. Encostei-me no lado de fora e fiquei o vendo correr até a praia novamente. Me distraí em sua visão admirando o homem que só sabia me fazer feliz.

            Uma cantada de pneus me assustou e quando vi, Jane entrava no estacionamento que tinha na beira da praia, a mil por hora, queimando borracha e totalmente insana. Por sorte ela parou alguns poucos metros longe de onde estava. E quando ela saiu do carro eu podia ver o fogo que queimava em seus olhos.

            “Cadê aquele maldito?”

            “Não te interessa.” Nós tínhamos saído do baile assim que Jake recebera a coroa. Um momento épico, sem dúvida.

            “ONDE ELE ESTÁ SUA RIDÍCULA?!” Ri na cara dela.

            “Jane querida, me poupe. Eu não sei onde ele está, e mesmo que soubesse acha mesmo que te diria?” Se via nitidamente que ela estava alterada e bêbada, talvez até drogada. Seus olhos pareciam duas bolas de gude azuis saltando de seu rosto.

            “QUER SABER, VAI TE FUDER ISABELLA! Eu não agüento essa tua cara de santa coitadinha que ai ai ai, tentou se matar! FRUSTRADA! É ISSO QUE VOCÊ É! UMA POBRE COITADA!”

            “O que está acontecendo aqui Bella?” Edward chegou largando a sacola no chão. Estava pronta para falar quando ela fez a coisa mais ridícula.

            “Ah Edward!” E se jogou em cima de Edward tentando o abraçar. Edward sequer se moveu e me olhou com olhos impacientes. Eu apenas assisti. “Sua namorada é tão cruel! Ela me disse coisas terríveis! Como você pode estar com…” Soluçou. “Ela?”

            “Olha que engraçado…” Ele jogou a garota longe de si, ela quase caiu. “Minha namorada não chama Jane.”

            “Mas pode chamar gostosão.” Ela veio para cima dele.

            “Ok! Agora chega! Vaza daqui! Some Jane! Vai ser mal amada assim em outra vizinhança!” Coloquei a mão em seu peito e a afastei de Edward. “Olha ninguém te suporta mais! Ou você pensa que sim? É triste ver alguém como você se destruindo. Você poderia ter o mundo! Mas se prende a tanta coisa pequena que não consegue ver o quanto está perdendo. Eu já rezei por você Jane! Mas não sei se um dia você vai mudar. E sinto por seu futuro, ele vai ser tão frio e só! Por que insiste nisso? Nós vamos embora e você nunca mais vai nos ver. Se não fosse por nós você estaria morta. Nem por isso nos deu um muito obrigado!” Ela me olhou melancólica e ainda assim não perdia aquele ar de superior que ela insistia em manter.

            “Preferia morrer do que ver tudo o que eu sempre sonhei ser tirado de minhas mãos por você.”

            “Sinto por Edward não lhe amar. Entendo como se sente. Se me tirassem ele não sei se conseguiria seguir em diante. Mas Jane, eu nunca lhe tirei nada. Foi você quem o deixou escapar, muito antes de eu entrar na vida dele…”  Olhei para Edward e sussurrei para irmos. Antes de eu entrar no carro dei mais uma olhada em Jane. “Você pode se curar disse Jane. Basta querer.”

            Posso dizer que chorei por ela no caminho para casa. Podia ver tanta dor em seus olhos quanto já tive nos meus. Ela diferentemente de mim não tinha ao que se apegar para ser melhor. Uma vida toda de irresponsabilidades e maldades acarreta em um futuro sombrio e triste. Não era algo que desejaria a alguém. Nem mesmo a Jane.

           

            Narração: Jane.

James Blunt - Tears and Rain.

            Vi mais uma vez ele partir com ela.

            E aquilo mais uma vez me feriu. Como sempre feria. Minha vida sempre foi assim desde que chegamos a Forks. Parecia sempre haver alguém mais bonito e engraçado que eu. Meus pais se mudaram porque tínhamos acabado de perder minha irmã. Minha irmã gêmea. Isso foi quando tinha cinco anos. Faz muito tempo.

            Quando conheci Edward eu soube que sempre o amaria, mas no fundo, depois que cresci se tornou essa obsessão doentia. Eu o amava acima de tudo, faria tudo para ficar com ele. Seria capaz de matar Isabella. Iria até o fim. Porém no fim, ainda estaria machucada. Isabella não podia prever um futuro só para mim. Eu já era só.

            Matar. Morrer. O que importa a essa altura? Sei que ele é um Deus inalcançável para mim. Entrei no carro e dei um gole grande do whisky que tinha quase no fim ali. E bebi mais um. E mais um e mais alguns… Lutei para não chorar. Outra coisa que não consegui. Precisava me desligar. Sair do ar. Ia a Port Angeles conseguir alguma heroína.

            120. 140. 170 km por hora. Via entre as lágrimas de ódio o ponteiro subir conforme eu pisava mais fundo. Dei o último gole na bebida e fui a 180. Passei pela frente da casa de Jacob e lá estava ele e a maldita ruiva que tinha tirado minha coroa. A cólera me dominou. Sem pensar muito decidi voltar. Girei a direção com força demais, os pneus cantaram, atravessei para a outra pista, e foi quando eu vi as enormes luzes, brilhando próximas demais para eu fugir, perto demais para elas pararem. Ouvi a explosão e senti a dor do impacto. Só pude ver a grande parede de pedras, vindo em minha direção.

            As luzes me cegaram. Pisquei algumas vezes. Meu corpo ardia em dor. Parecia que estava em pedaços. Ao longe vi dois rostos conhecidos e naquele momento eu quis pedir perdão.

            Narração: Amber Moore.

            Ouvimos o som alto do impacto e a buzina do caminhão. O barulho de metal amassado e vidros quebrados jamais sairiam da minha memória. Corremos para a rodovia. Jake e eu. Aquele era um dia que nunca conseguiríamos esquecer.

            Ficamos chocados com a cena a nossa frente. Aquilo tinha sido feio. O caminhão tinha acertado e arrastado o carro contra a muralha de rochas das encostas de La Push. O metal estava retorcido e era como um compensado contra as pedras. Jake me segurou pelos ombros e disse com um fio de voz embargado.

            “É o carro de Jane.” Meus joelhos cederam. Então como se já não fosse ruim o bastante, veio a explosão seguida da explosão. Gritei chorando. Pude ouvir os gritos dela. Dor e sofrimento. Gritos que ficariam impregnados a mim para sempre.

            Narração: Bella Swan.

            Quando chegamos em casa Carlisle nos esperava em seu roupão com os braços cruzados e com o telefone na mão. Ele o entregou a Edward. Suas expressões pareciam trinta anos mais velhas. Seu rosto era derrotado e sofrido. Aquele não era Carlisle.

            “Ligue para Jacob.” Ele disse simplesmente. “No celular.” Sem esperar e vendo a cara de seu pai, o fez imediatamente. E eu esperei ouvindo uma breve e angustiante conversa. A cor branca de Edward pareceu se tornar tão pálida quanto a de um fantasma. Seus olhos pareciam desesperados e culpados. A agonia em sua voz se revelava em poucas palavras. Fale… não… não pode ser! Falas fracas e que resumiram a conversa. Algo ruim tinha acontecido. Podia sentir aquele frio em minha espinha. A conversa durou menos de um minuto então ele me olhou e disse com uma voz triste e nada aliviada.

            “É Jane.”

            “O que tem?” Seus olhos se encheram de um vermelho que ele tentou conter.

            “Ela…” Edward não conseguia dizer.

            “Ela…?” Peguei em suas mãos.

            “Ela morreu.”

            Continua…


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Notas finais do capítulo

HOJE EU NÃO TENHO NOTINHAS PARA VOCÊS, SÓ QUERO SABER O QUE VOCÊS SENTIRAM COM ESSE CAPÍTULO. POR ISSO COMENTEM.
Em mim ele doeu. Muito fundo. Beijos e até o proximo!