A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 7
Capítulo 7




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Felizmente, em poucos dias, Bena foi liberada pelo curador real, Mestre Óin. Para celebrar a sua recuperação, todos foram convidados para um jantar nos aposentos de Lady Dís.

Nessas ocasiões, Bena ficaria sentada junto a pessoas menos importantes, enquanto Lobélia e Bilbo se sentariam perto do rei, de sua irmã e dos rapazes. Nesse jantar, porém, só estavam eles sete e ninguém mais. Só havia uma mesa grande para acomodar todos.

Os arranjos, como sempre, foram bem pensados. O rei e Lady Dís indagaram sobre a saúde de Bena, felizes que a garota estivesse de volta e bem de saúde. Rei Thorin parecia muito satisfeito e deixou claro que se ela precisasse de qualquer coisa era só falar. Na verdade, Bena tentava com afinco NÃO pensar no que ela mais queria: ver o sorriso do rei.

Lady Dís indagou Lobélia:

— Diga, querida, gostaria de me acompanhar na inspeção das cozinhas amanhã?

— Cozinhas? — repetiu Lobélia.

— As cozinhas reais ficam sob a responsabilidade da Rainha — Dís explicou. — É minha função hoje, mas é claro que você será a encarregada depois que se casar com meu irmão.

Os olhos de Bena se arregalaram de alegria. Cozinhar era sua paixão e a oportunidade de visitar as cozinhas reais era uma grande aventura. Antes mesmo que ela fizesse qualquer comentário, Lady Dís se virou para ela e convidou:

— Talvez queira se juntar a nós, Senhorita Verbena — se não for um abuso para sua saúde, claro.

— Não, claro que não — ela respondeu, ansiosa, para logo em seguida acrescentar: — Adoraria ir também, obrigada por me convidar.

Bilbo indagou:

— Então a Rainha tem outras responsabilidades?

— Sim, certamente. A Rainha Sob a Montanha também é uma governante. Ela governa a vida privada e o bem-estar de seus súditos, resolvendo disputas de família, supervisionando as cozinhas e o dispensário.

Bena indagou:

— É o que a senhora faz?

— Sim, mas eu também lido com todos os aspectos do Tesouro de Erebor. Meu irmão acha prudente centralizar as finanças em apenas uma pessoa.

Bena assentiu, mas ela sabia a verdadeira razão pela qual o rei não lidava com o tesouro de seu povo. A família de Thorin sofria de uma doença: uma moléstia do ouro, um amor por riquezas tão feroz e possessivo que eles enlouqueciam por causa disso. Bilbo disse que aquilo quase arruinara Thorin quando eles retomaram Erebor do dragão Smaug.

Bena deve ter deixado transparecer de algum modo que ela sabia da história, pois ela instintivamente se voltou para Thorin. Ele a encarou e simplesmente corou.

O rei envergonhado parecia tão adorável que o coração de Bena se acelerou e num impulso ela bebeu todo seu copo num gole só. Só quando era tarde demais ela descobriu que havia esvaziado não seu copo d’água, mas a taça de vinho de Bilbo.

Ela tossiu, engasgou e perdeu a respiração; e um grande alvoroço se formou quando todos pensaram que Bena estava sofrendo de uma recaída. Levou um tempo até tudo se esclarecer, e então foi a vez de Bena enrubescer. Felizmente, seu rubor foi comemorado como “a cor está voltando à mocinha”. O rei sorriu e Bena ficou ainda mais vermelha.

Amante de doces, Lobélia logo sugeriu sobremesa, no que teve a aprovação de Bilbo e os príncipes. Um pouco tonta após o vinho, Bena comeu apenas por educação, e elogiou o cozinheiro. Então Dís pegou Lobélia pela mão e levou-a até uma imensa lareira onde o fogo era alto e feroz.

Bilbo e Bena foram atrás, e da estante da lareira a irmã do rei tirou um retrato para mostrar a eles. Bena reconheceu Fíli, ainda menino; uma criancinha de cabelos pretos que certamente era Kíli, e Lady Dís, ao lado de um anão que Bena nunca conhecera, mas que estava claro ser o pai dos príncipes. Eles estavam todos muito bem vestidos e pareciam muito alegres. A pintura era extremamente bem-feita, e todos estavam muito elegantes.

Bilbo indagou:

— Então esta é sua família, senhora?

— Isso mesmo, Mestre Baggins. Kíli era um garotinho quando esse retrato foi pintado; ele não conseguia ficar quieto.

Bena estava admirada e comentou:

— Que linda família, minha senhora.

A dama sorriu para a garota hobbit e acariciou a figura, concordando:

— É mesmo, não é? Linda.

Bena viu os olhos dela se umedeceram e os dedos acariciaram a figura do falecido marido no retrato. A moça ficou desesperada para mudar de assunto. Felizmente, Bilbo teve a mesma ideia:

— Então, Thorin – ele indagou –, você tem retratos seus?

— Antes eu tinha muitos – respondeu o rei sobriamente. – Agora tem apenas um. Foi feito para a coroação.

“O dragão!” lembrou-se Bena. “O dragão deve ter destruído tudo. Que pena.” Ela quase desejou ver os retratos de um jovem Thorin, seu cabelo preto sem traços de grisalho e um rosto sem rugas.

— O meu foi feito nas Montanhas Azuis – disse Dís. – Eu tive tanta sorte de fazê-lo. Meu marido morreu poucos anos depois dele.

Lobélia observou:

— Esta pintura é um tesouro.

— Meu bem mais valioso — confirmou Dís, e ela se aproximou da noiva de maneira conspiratória. — Devo lhe mostrar uma relíquia de família. Afinal, você estará nela.

A hobbit mais velha ficou confusa, e Bena sugeriu:

— É uma tapeçaria de família?

Dís ergueu uma sobrancelha:

— Não, não é, mas é uma ideia muito boa. Devo chamar um tapeceiro. Mas eu falava do Machado de Durin.

— Machado de…?

— O Machado de Durin é uma relíquia importante de nossa família. Todas as ocasiões memoráveis estão marcadas nele: nascimentos, casamentos, coroações, e coisas assim.

Bena exclamou:

— Deve ser muito antigo, então.

— Está na nossa família há gerações — disse o rei. — Nunca deixou Erebor, e nós o recuperamos quando a montanha foi retomada.

Fíli disse:

— Precisou ser atualizado. Extensivamente.

Dís sorriu:

— E mais atualizações serão feita em breve. Quando você se casar com Thorin, querida Lobélia, será acrescentada ao machado.

Kíli completou, sorrindo:

— E você oficialmente fará parte da família!

Lobélia conseguiu dar um sorriso, mas Bena podia dizer que era forçado e falso. Seu coração ficou pesado, sentindo que a prima começava a repensar seriamente o casamento com o rei.

— E onde está este machado? — quis saber Bilbo.

— Aqui. Deixe-me mostrar.

A Senhora de Durin foi a uma parede de pedra e retirou um pesado instrumento pregado nela. O Machado de Durin era feito totalmente de metal, e ele fez um barulho alto ao ser posto na mesa de jantar.

O grupo se reuniu em torno do objeto para observá-lo de perto. O design anão já era familiar para Bena.

Lady Dís mostrou as marcas no machado:

— Este é o símbolo da Linhagem de Durin, e essas são marcações são mais antigas, como a vitória de minha mãe num duelo e meu casamento. Aqui está o nascimento de Thorin. E esses aqui são mais recentes, o nascimento de meus filhos: primeiro Fíli e aqui Kíli.

Bena se arrepiou de frio, sentindo falta do calor da lareira. Bilbo notou:

— Está tudo bem, Bena?

— Sim, só tenho um pouco de frio... e cansaço.

Rei Thorin ofereceu:

— Venha se sentar perto do fogo. É mais quente.

— Incomoda-se se eu for, tio?

— Claro que não. Deve se cuidar, Bena.

O rei se prontificou:

— Eu lhe farei companhia.

— Obrigada, Majestade, mas não quero privá-lo da companhia de seus convidados.

Ele sorriu para ela e indagou:

— A senhorita também não é uma convidada?

E Bena não tinha resposta para aquilo. Ele tomou seu braço e ofereceu uma poltrona perto do fogo. A moça indagou:

— Tudo bem se eu sentar no tapete em frente à lareira? Eu gosto mais assim.

Rei Thorin a encarou, o rosto com uma interrogação clara. Bena enrubesceu e explicou:

— Eu me acostumei a isso desde que era pequena. Tio Bilbo costumava me colocar em frente à lareira e contar uma história. Eu dormia no tapete e ele me carregava para cama. Então eu cresci e nós dois continuamos sentados perto do fogo, cada um com seu livro.

O olhar que ele lançou foi simplesmente adorável. Ele indagou:

— E você ainda se deitava no tapete?

— Sim, virou um hábito. — Ela corou de novo. — Estou mesmo acostumada.

— Gostou dos livros da biblioteca?

— Sim, Ori me mandou alguns enquanto eu estava de cama. A maior parte era sobre histórias e lendas de seu povo. Eu adorei.

— Qual você gostou mais?

— Acho que foi aquela sobre a anã chamada Ragni, que se recusou a usar seus talentos de ourivesaria para ajudar o feiticeiro malvado. Aquele homem era muito mau!

— Só porque ele a transformou em um dragão?

— Não, ele era mau porque disse a todos que o dragão guardava um tesouro e uma linda dama, e o homem que matasse o dragão poderia ficar com os dois. Então Ragni matou muitos homens até...

— Até ela conhecer o Príncipe Nerfin — completou o rei.

— Ela se apaixonou por ele e falou da terrível maldição que o feiticeiro tinha posto nela. Ele correspondeu ao seu amor.

— Então ele decidiu matar o mago malvado para libertá-la, assim os dois poderiam ficar juntos.

Bena exclamou:

— Pobre Nerfin! Ele não sabia que o feiticeiro tinha posto um feitiço em seu próprio corpo para transformar qualquer um que tentasse matá-lo em um dragão. O malvado morreu, mas o príncipe virou um dragão. Só então ele percebeu que podia ficar com sua amada. Então os dois dragões viveram felizes para sempre. Adorei essa história!

— Por quê? Posso ver que você é uma romântica.

— Bom, eu sou uma garota. Mas gostei principalmente porque ela fala muito sobre seu povo: persistência, perspicácia e resiliência.

Rei Thorin a encarou com admiração:

— É uma observação de grande profundidade.

— Acho seu povo fascinante. É bem verdade que escuto histórias da sua gente desde que eu era uma garotinha.

— Espero que não tenha matado seu namorado de tédio.

Bena corou:

— Eu não tenho namorado.

O rei franziu o cenho:

— Mas Bilbo disse…

Ela tentou agir como se estivesse divertida:

— Oh, titio!... Ele diz ter medo que eu termine virando uma solteirona, sem casamento ou filhos. Ele acha que tem um garoto interessado em mim.

Com cuidado, o rei quis saber:

— E tem?

— Talvez tenha, mas eu não estou interessada em nenhum garoto, Majestade.

E era verdade. Ela queria um homem, um específico, embora ela não pudesse falar isso, claro.

O monarca parecia intrigado:

— Então, não tem ninguém esperando por você no Shire?

— Sem contar família? Não.

— Nesse caso, você não consideraria viver aqui?

A oferta pegou Bena completamente de surpresa.

— Quem, eu? Oh, eu não poderia...! Digo, eu poderia, mas—

— Você poderia ajudar sua prima, sabendo tanto sobre cultura de meu povo. E as refeições são mais do seu agrado, sendo apenas três ou quatro vezes ao dia.

— Eu não poderia abandonar titio.

— Talvez eu consiga convencer Bilbo a ficar em Erebor.

— Desejo boa sorte com isso, Majestade — Bena sorriu. — Titio adora Bag End. E o jardim. E seu grande carvalho.

O rei admitiu:

— Durante nossa jornada, ele não se furtava a mencionar como sentia falta de seu lar.

Bena disse:

— Titio sempre diz que ajudar seu povo a recuperar seu lar foi a segunda maior proeza da sua vida que o enchia de orgulho.

— A segunda? Qual é a primeira?

Bena enrubesceu e respondeu:

— Ele diz que é ter me criado.

O sorriso do rei foi nada menos do que adorável, e sua voz parecia ainda mais profunda:

— Ele tem razão. Ele deveria se orgulhar, e se orgulhar muito.

Bena sentiu suas bochechas se esquentar em, e calculou que estava vermelha feito um pimentão. Ela tentou mudar de assunto:

— Poderia me contar sobre a jornada, por favor? Titio me contou tantas coisas... Eu gostaria de ouvir uma segunda opinião.

— Não acredita no seu tio?

— É claro que acredito! Eu só queria ouvir de outra pessoa. Por exemplo, os trolls. E o dragão! E os elfos da floresta, a fuga em barris...

— Então vai ser uma história bem longa. Tem certeza de que quer ouvir tudo?

Bena se sentou confortavelmente, como se estivesse de volta em Bag End, e respondeu:

— Claro que sim! Fale-me sobre os trolls. Titio realmente os enganou?

— Certamente que sim. E isso nos salvou a nós todos. Veja, Dwalin já estava no espeto, e eles estavam discutindo a melhor maneira de nos cozinhar. Bilbo até sugeriu que os trolls tirassem nossa pele.

Embora cansada, Bena ouviu com cuidado as histórias que conhecia tão bem, agora contadas de um ponto de vista diferente. A voz do Rei Thorin era surpreendentemente doce e viciante, e a moça estava hipnotizada. Bena não soube dizer por quanto tempo eles conversaram, mas poderia ter sido por horas, porque eles estavam se divertindo muito.

Ambos estavam tão envolvidos no que faziam que nem notaram a sala se tornando silenciosa. Eventualmente, eles se deram conta que todos os demais estavam observando a interação dos dois. Bena ficou surpresa quando seu tio disse como estava tarde.

Naquela noite, ela foi dormir muito feliz. Não apenas ela conseguira ter a atenção indisputada do Rei Thorin, mas também conseguira não soar tão boba. Era um progresso.


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